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Ilustração Marco Joel Santos |
Assim penso eu
do estado de espírito que por aí vejo, por esse país, por esse
mundo fora. Tornou-se tão corrente ver gente deprimida por todos os
cantos que sinceramente esse passou a ser o estado normal humano.
Sou, pois, um anormal. Como alguém me diz de vez em quando, o melhor
ainda está para vir.
A depressão
não é a grande doença da humanidade do século XXI. Eu penso que
essa ainda será o cancro, ou a sida, ou outra qualquer dessas coisas
a que chamamos “malzinhos ruins”. Como se um houvesse “malzinhos
bons”... Bem, a meu ver, a depressão nunca poderia ser a grande
doença do século XXI. Porque, para mim, a depressão não existe. É
apenas mais uma invenção de quem nada tem mais que fazer do que
inventar doenças. E doenças do foro psicológico ou psiquiátrico,
essas então, são muito fáceis de inventar.
O ser humano
alterou-se com o tempo. Passou por muitas fases. Melhores, piores...
Agora está na fase da negação absoluta. As pessoas negam. As
pessoas fogem. As pessoas não querem sofrer. Sem perceberem que são
bebés grandes. Sem perceberem que o sofrimento faz parte da vida, é
necessário acarinhá-lo, é necessário aceitá-lo, é necessário
nutri-lo. O que fazem os pais aos filhos? Não é libertá-los para o
mundo, depois de os nutrirem? Pois o sofrimento é nosso filho. E,
para o libertar para o mundo, temos de o aceitar, nutri-lo,
alimentá-lo, enfim, aguentá-lo. Só assim, fazendo parte intrínseca
da nossa vida, o podemos compreender, aceitar e diminuir o seu
impacto nessa vida. Enfim, libertar-nos dele. Fugir de nada adianta.
Mas é em
fugir que a espécie humana se tornou perita. São os livros de
auto-ajuda, são as citações de autores de vacuidades que
supostamente inspiram vidas, são os Xanax e os Prozac, são as
depressões. Há gente que consulta o mesmo psiquiatra há 20 anos!
Se eu consultasse um médico há 20 anos e não ficasse curado,
começava a desconfiar – ou do médico ou da doença. Ninguém quer
falhar, ninguém quer sofrer, todos fogem.
Talvez seja da
pressão desta libertina forma liberal de vida que agora nos impõem.
Sei que o falhanço não é admitido. Ser normal não basta. Tem de
se vencer, a todo o custo. Mas não a custo do sofrimento. Para esse
há umas pastilhas, uns comprimidos, umas consultas. Ninguém aceita
a sua própria condição de ser humano igual aos outros. É
necessário vencer! É necessário ser o melhor, é necessário ser
excelente! Acontece que 99,999% dos seres humanos não são
excelentes. São normais. E sofrem. Ou deviam. Não sofrem porque se
afogam em drogas, se refugiam em consultórios esconsos ou alegam a
mais esfarrapada das desculpas para o facto de serem normais e de nem
sempre serem os melhores exemplos de trabalho, de competição ou de,
sequer, seres humanos – a depressão.
Porque será
que ninguém aceita ser humano? Porque será que já ninguém está
pronto a sujeitar-se às leis da vida? Porque será que todos anseiam
por aquilo que nunca poderão ter? Não porque não tenham aquilo por
que ansiavam ontem, mas antes porque hoje já anseiam mais. E mais! E
mais! E depois falham. Inevitavelmente, falham. Não aceitam a mágoa,
não a podem aceitar – porque, afinal, são excelentes! Não podem
falhar. Até quando um ente querido morre, se refugiam nos Xanax e
Prozac, consultam médicos inúteis ou apenas alegam depressão...
Aceitem! A nossa vida é aquilo que vai acontecer até morrermos.
Nada mais. Não somos melhores, não somos piores. Somos o que somos.
Falhamos, caímos, erramos. Aprender com o erro não é levantar-se
de imediato, é chorar porque doeu, compreender que vai doer de cada
vez que acontecer e... viver com isso!