Impostos são tão antigos quanto o sedentarismo, e tão
certos como a morte. É daquelas coisas que nunca se desejam mas sempre
acontecem. Dito isto, há que distinguir entre impostos bons e impostos maus, do
ponto de vista do simpaticamente designado contribuinte. Assim, os impostos
maus são aqueles que temos de pagar, os bons não existem. Já do ponto de vista
da AT, impostos bons são todos os que se recebem, os maus não existem. Conciliar
estas duas posições é impossível, e está assim provado por diversos estudos de
académicos reputados que me escusarei a recitar ou sequer nomear. Mas devem
existir ou, por falta de interesses que paguem os estudos, deviam existir. Se
calhar não existem. Não sei, nem interessa.
O anúncio de um
possível novo imposto pôs o país político a ferro e fogo. O imposto sobre o
património imobiliário cujo valor seja superior a um milhão de euros, ou meio
milhão, ou qualquer outro número com muitos zeros. Indigna-me este imposto. Indigna-me
que alguém pense em tributar património. Além do mais, considerar como rico
alguém que tem uma casa de um milhão de euros é, nas palavras dos “desobrigados”,
abusivo. Porra, qualquer um de nós tem uma casa de um milhão de euros! Toda a
classe média portuguesa mora em casas de valor, pelo menos, de um milhão de
euros. E isto de tributar a classe média tem de parar!
Quer dizer, andam aqui
pessoas a poupar dinheiro para um dia ter uma casa de um milhão de euros e
agora ainda tem de pagar sobre o milhão que poupou? É uma pouca-vergonha,
senhores – é o que é! Uma vida inteira de trabalho para se ter algum conforto
e, logo a seguir, pimba, imposto! Não há direito! Como explicar ao homem do
lixo, ao pescador, ao vendedor de castanhas, ao mecânico, ao recepcionista, ao
jornaleiro, ao empregado de limpeza, ao pedreiro, ao estucador, ao cofrador, ao
atendedor de posto de combustíveis, ao operário fabril, e a tantas outras
pessoas de ambos os sexos que têm a possibilidade de juntar vários milhões de
euros ao longo da vida, que o milhão de euros que pouparam vai ser tributado na
forma de imposto sobre a sua casa, não própria nem de férias (uma 3ªcasa,
portanto)?
Haja, pois, pessoas
que defendam estas pessoas que juntam ao longo da vida uns escassos milhõezitos
de euros, esses pobres de classe média portuguesa, que além de tudo descobriram
o milagre da multiplicação dos peixes e pães que dizem ter sido preconizado por
Jesus Cristo, gente engenhosa que consegue de salários de 500 euros fazer
vários milhões! Haja quem defenda estas pessoas – e há. Provavelmente aquele
que há uns dois anos defendia que outras pessoas, os ricos, com patrimónios
acima de um milhão de euros, pagassem mais impostos – palavras que o vento
levou, pois coragem para isso sempre faltou, ou de outra forma choveu. Mas há
dois anos, pessoas com um milhão de euros eram ricas. Hoje, são pobres de
classe média e diligentes aforradores que toda a vida pouparam. Ou um outro
capítulo da “desobrigação”.
E se fossem gozar com o membro sexual masculino, significação
brejeira da palavra caralho, que antes designava o cesto da gávea das saudosas
embarcações dos Descobrimentos?