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No dia 22 de Agosto de 2011, o excelentíssimo director do jornal Sol escreveu mais uma das suas famosas colunas de opinião no seu próprio jornal. De quando em vez, lá leio as crónicas do referido director, e por vezes lá me deparo com algumas joias, porque de facto dali saem pérolas do humor. Com certeza todos nos lembramos dos seus célebres conselhos de poupança para a classe média, que consistiam, entre outras coisas, em trocar os Audi A6 por Audi A4 ou então comprar sapatos de oitenta euros em vez de os comprar a oitenta contos. Numa tarde apenas, fui acometido de diversos sentimentos contraditórios, pois passei do puro histerismo perante as medidas propostas, para acabar o dia a pensar que , afinal, não passo de um miserável que deve começar a pensar em pedir o tal prato de sopinha nas filas das Instituições de Caridadezinha Laranjas.
Assim sendo, de quando em vez, por lá passo os olhos e me deleito perante as capacidades cognitivas e literárias do senhor director do Sol. Devo dizer que tenho muito apreço pelo trabalho em prol da História do tio deste senhor - menos, obviamente, pelo seu trabalho em prol da política. Ora agora saiu uma crónica em volta de um artigo do DN, que tomo a liberdade de hiperligar aqui. “Dois Maridos” é como se chama a crónica, ou artigo de opinião.
O senhor director do Sol começa por achar extremamente estranho que o nome da mulher do “casal” em questão seja Carlos. Analisando a prosa, antes de mais, o autor devia ser um pouco mais polido. Já não se utiliza o termo “mulher”. Utiliza-se cônjuge ou esposa ou ainda companheira, no caso da união de facto. Vê-se que o senhor director ainda é daqueles que chega a casa e grita logo: “Ò mulher,...!”. Pois é, mas isso era no tempo dos nossos avós, senhor director. Estamos no século XXI, e o senhor director deve saber disso, pois o seu jornal até tem edição online e tudo... Logo assim, há que dizer que para o senhor director, um casal tem de ter uma mulher, senão passa imediatamente a “casal”. Ou seja, não é um casal de facto, mas sim um casal entre aspas, assim uma coisa estranha que homem nenhum que trate a esposa por mulher admite sequer conhecer.
O trocadilho feliz, dizendo que o deputado em causa (ex-deputado) agrediu a mulher, completando com a joia nunca ouvida e completamente original “(ou seria o marido?)”, é de todo um exemplo perfeito do requintadíssimo sentido de humor do senhor director. Depois, a genuína estranheza que constitui o facto de os dois cônjuges (para o senhor director, marido e mulher) estarem já separados. Uma autêntica preocupação com a possibilidade de divórcio gay. Isto denota, primeiro, que o senhor director, numa perfeita conclusão cívica, acha que o casamento é para a vida, mesmo que haja maus tratos, infelicidade ou simplesmente que o marido se refira à sua esposa como “a minha mulher”. E faz muito bem, o casamento é um sacramento de Deus, é uma representação da união de Deus com o seu povo, e não fica nada mal dizer-se que o marido é Deus e a sua “mulher” seja o povo. Além disso, realmente tem toda a razão, então os gays andaram tanto tempo a reivindicar o casamento para agora desatarem a divorciar-se? Para isso não se casavam!! Tem toda a razão!!! Como o senhor director se casou, como conseguiu enganar a “sua mulher”, é que eu não sei... É que milhões de casais hetero separam-se todos os dias. Seria melhor nem se casarem, certo, senhor director? Certo. O casamento é para a vida. Mesmo que se apanhe no focinho todos os dias.
O senhor director depois alude a um facto muito importante, que é o bilhete de identidade do marido (ou mulher? - como ele volta a referir) do deputado, apontando-o como uma das causas para a separação e violência entre os dois. Trata-se de um massagista venezuelano com menos dez anos que o marido (ou mulher? – como o senhor director gosta de dizer). Logo aqui ficamos a saber que uma pessoa dez anos mais nova, massagista e ainda por cima venezuelano não serve para ninguém. Não é pessoa de confiança, segundo a douta opinião do senhor director. Obviamente tem razão. Aliás, como bem sabemos todos, os milhões de casais com violência conjugal em Portugal têm todos em comum uma coisa: um massagista dez anos mais novo que o cônjuge, e ainda por cima venezuelano. Nada de espantar.
Depois o senhor director estabelece um paralelo interessante com a situação do assassínio de Carlos Castro, pretensamente assassinado por Renato Seabra, pois Renato Seabra atacou Carlos Castro com um plasma e este atacou o marido (ou mulher, senhor director?) com um computador e um telemóvel. Ora aqui ficamos a saber realmente coisas importantes. Primeiro, que todos os gays são violentos e se matam uns aos outros, uma conclusão óbvia das palavras do senhor director. Depois, que têm uma estranha propensão para atacar com aparelhos electrónicos, talvez numa tentativa de assim a agressão ser considerada como virtual – quem sabe, senhor director? Por fim, ficamos a saber que o senhor director afinal sabe bem mais do que os pais de Renato Seabra, pois afirma que o jovem de Cantanhede é mesmo gay e mais nada. É bom ter destas certezas, não é, senhor director?
O senhor director, depois, e estranhamente, afirma-se como sendo contra o casamento homossexual, e escrevo estranhamente porque nada nas suas afirmações anteriores nos poderia levar a tirar esta conclusão, o que eu não sabia é que o senhor director é homossexual. Não é? Ai é, é... É que eu não sou contra nem a favor do casamento homossexual, sabe porquê, senhor director? Porque não sou homossexual, por isso tanto se me dá como se me deu se os homossexuais se casam ou não. Não é nada comigo, eu só tive de decidir se estava a favor ou contra o meu casamento com a minha esposa. E estava a favor, até por razões fiscais. Mas no ano seguinte mudaram a Lei do IRS outra vez e ficamos a perder dinheiro. Fora isso... é cá comigo. Como os casamentos gay são com os gays, logo o senhor director é gay, pois tem uma opinião sobre o assunto, levando-me a crer que o pode de facto afectar de algum modo. Logo, deve ser gay. O que não tem mal nenhum, diga-se, é uma orientação como outra qualquer. Diga-nos, senhor director, já disse à “sua mulher”?
PS: o título deste post não se refere a ninguém em particular. Só o usei porque gosto da palavra, não porque pense que o senhor director do jornal Sol, o Sr.Arqº José António Saraiva é um saco de pele flácida que segura os tomates.