Começa
a cansar e eu sinto-me cansado. Este país tem o que merece, não tenho dúvidas. E
sempre terá. É um país com palas, como aquelas que são usadas pelas mulas de
carga. Se dantes fomos governados por incompetentes e criminosos, hoje somos
governados por desenvergonhados. Não há a mínima vergonha, não há o mínimo
sentido de Estado, não há o mínimo de competência.
Este
governo pode ou não ser o pior de sempre em Portugal. Provavelmente será um dos
mais sérios candidatos. E não é preciso muito para termos essa sensação. Temos
um primeiro-ministro delirante. Não que não estivessemos habituados a tal. Não tem
coragem, no entanto, para dizer que é necessário acabar com o que pagamos com
os nossos impostos, preferindo dizer que é preciso refundar o memorando de
assalto. Tanta coisa para dizer que é necessário rasgar a Constituição e acabar
de vez com a liberdade daqueles que nada mais têm a não ser essa vã ilusão.
Temos
um ministro dos negócios estrangeiros que não concorda com nada, mas entende
que é melhor destruir tudo que deixar algo de pé. Temos um ministro da
Segurança Social que vai ao parlamento vangloriar-se de ter aumentado dez vezes o número
de sopas dos pobres, quando devia procurar reduzir o número de pobres dez
vezes. Temos um ministro dos assuntos parlamentares que simplesmente é um pato
bravo, que acha que apenas a sua vida pública deve ser escrutinada, como se no privado
pudesse andar por aí a assassinar ou a assaltar, que ninguém tem nada a ver com
isso.
Temos
um ministro da economia que é óptimo a mandar papaias do outro lado do oceano,
mas que quando chega cá demora dois anos a perceber que a economia tem de… pelo
menos não decrescer… Temos um ministro da Educação para quem a educação é
apenas uma despesa a cortar. Temos um ministro da Saúde que não entende como os
portugueses podem exigir ter hospitais. Temos uma ministra da Agricultura e
Pescas que é provavelmente a mais vívida imagem da total incompetência. Temos um
ministro da administração interna para quem a grande preocupação é o
manifestante. Por fim, temos uma ministra da Justiça que todos os dias anuncia
reformas, das quais nada vemos, mas se recusa a reformar-se.
E depois
temos o Gaspar. Porque o Gaspar é uma classe à parte. Dizia o outro ministro da
economia, o criminoso internacional António Borges, que é uma sorte o termos no
governo. Talvez seja, efectivamente. Porque a verdade é que a incompetência
gasparina é tal que isto pode dar para os dois lados: ou a agenda é clara e então
é uma desgraça, ou então a agenda é aquela que sabemos mas é tal a incompetência
que nem isso ele sabe fazer. Um homem que não acerta uma, diz agora que estamos
a correr uma maratona que acontece na sua cabeça, uma competição incessante entre
o neurónio que sobe e o que desce, e que já vamos no km 27. Quer-me parecer que
a maratona que corremos é bem mais longa que os 42 kms habituais, e quase ainda
não a começamos.
Evidentemente,
o povo assiste. O povo aceita. O povo não gosta, mas acredita. Onde se vai
buscar dinheiro para pagar aos funcionários públicos? Se não for a Troika, quem
nos dá dinheiro? Mas recusa-se a pensar. Recusa-se a pensar que paga impostos e
que estes têm de servir para pagar a funcionários públicos – enfermeiros, médicos,
professores, polícias – porque é para isso que se pagam impostos! Não para
pagar juros a uma Troika que nos empresta – empresta – dinheiro, a juros
especulativos. É uma ajuda, dizem. Mas qual ajuda? Se fosse ajuda, não nos
levariam couro e cabelo – 34 dos 78 mil milhões – em juros! Emprestar-nos-iam,
pelo menos, ao mesmo juro com que abastecem os Bancos – entre 0 e 1%!
É isto
que tem de ser refundado, não a Constituição, que é a única coisa que, neste
momento, nos separa da escravidão. Mas até isso o povo parece ignorar. Portugal
tem o que merece. Portugal está numa maratona, uma corrida de fundo, que é
preciso refundar. Porque quando se bate no fundo e se continua a escavar – é Refundar!
E ainda podemos afundar muito mais – Muito mais…