E lá vinham os três pelo corredor fora. Não que a deslocação
fosse longa, porque as cadeiras de primeira classe são logo à frente do avião. Certificaram-se
que nada ficava por ali que deles fosse. À porta do avião as hospedeiras
esforçavam-se por ser simpáticas. Não disfarçaram, estavam de mau humor e assim
ficariam por mais uns dias. O choque de chegar a Lisboa, ainda que o interior
da manga ainda não deixasse sentir o cheiro, era intenso. Estavam realmente mal-humorados.
Do lado de fora do aeroporto eram esperados por dois
Mercedes E250. Carros mixurucas que os portugueses insistiam em enviar em busca
de tão eminentes representantes do poderio financeiro mundial. Olharam com
desprezo os taxistas que recolhiam mais uma remessa de turistas brasileiros
zombeteiros. Dividiram-se pelas viaturas.
Pelo trânsito da cidade, não entendiam como Portugal se
havia metido debaixo das suas patas. A cidade está até bem tratada e limpa, o
trânsito flui com uma rapidez impressionante. Os batedores da PSP abriam
caminho para os dois veículos. Aí vêm os homens da Troika, os homens que vêm
fazer o exame!
Primeira reunião de professores, e os três acordam nas
perguntas a incluir no exame. Como estão as receitas? Como estão as despesas?
Qual o valor da recessão? Vamos finalmente conhecer o Cristiano Ronaldo? Por unanimidade,
acordaram que o exame seria de 12 horas com 800 perguntas de desenvolvimento. Algo
os incomodava, algo os importunava. Ainda não sabiam quem iria responder, quem
seria a vítima que se iria sentar diante de cada um deles, durante quatro
penosas horas, pois iriam fazer turnos.
Os portugueses estavam loucos! Pediram que fosse Passos
Coelho a responder ao exame. Receberam como resposta deste: “Caros mestres,
recentemente passei férias no Allgarve onde a exposição solar excessiva me
deixou com a pele sensível até hoje. Receio não poder escrever durante tantas
horas. Delego, pois, a presença no exame ao Ministro das Finanças”. O problema é
que receberam outra resposta, por parte do Ministro das Finanças, Vítor Gaspar,
que rezava da seguinte forma: “Caros mestres… Eu… até ia… mas como podem…
constatar… temo que… 12 horas não sejam… digamos… suficientes… para a minha
escrita… profícua mas… algo… ponderada. Sugiro, pois, o… Ministro da Economia,
o Álvaro…”
Estavam estupefactos. Os ministros portugueses estavam a
empurrar o exame duns para os outros. O Álvaro também respondeu: “Caros
mestres, se fosse para explicar como fazer um franchisado de pastéis de nata na
Namíbia, ainda poderia ser de uso. A verdade, porém, é que seria melhor que
fosse o Ministro da Economia a responder ao vosso exame.” E ainda tinham mais a
resposta deste segundo ministro da Economia, coisa que não entendiam, como um
país que pretendiam liquidar precisava de dois ministros para uma coisa que nem
sequer existe! António Borges lá respondia, numa resposta bem manuscrita: “Caros
mestres, de bom grado iria fazer o exame em nome do governo, mas tive de me
ausentar em trabalho, para umas reuniões na sede do meu empregador, a Jerónimo
Martins. Indico, pois, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, para
o exame. Saudações de Amesterdão!”
Ora o Paulo Portas! Mas então não é que entrou uma menina
muito aperaltada na sala de reuniões, com um papel na mão? Estava-se mesmo a
ver! A resposta e escusa do Paulo Portas. Leram interessadamente o documento,
guardaram-no religiosamente dentro de uma pasta preta, levantaram-se e saíram
da sala. Entraram a grande velocidade nos automóveis e rumaram ao aeroporto, de
onde partiram para as suas origens.
O que estava escrito no papel? “O ministro indicado por
mim, Paulo Portas, para fazer o exame, é o Miguel Relvas! Vão mas é para o real
car****, seus caras de cu, que ele já pediu equivalência ao Reitor! Passamos.
Com 11!”