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Desenho Original de Marco Joel santos |
As reacções
de um lado e outro do Canal são do mais cómico que já vi. Tendo em conta aquilo
que se escreve todos os dias por aí em jornalecos, e se opina frequentemente em
canais televisivos de duvidosa índole, já me ri um bom par de vezes hoje. A verdade
é que fui dormir com a vitória do tá-se bem e acordei com a vitória do fuck
off.
O UK, e
que bela sigla é esta, votou pela saída da EU. Note-se – VOTOU. Não foi um
processo decidido por nenhum político, nem sequer pela rainha de Inglaterra. Foi
decidido pelo voto do povo. Que glorioso é o sentido democrático de todos
quantos acham “triste”, “racista”, “precipitada” e outras coisas até bem
piores, esta decisão do povo britânico. Que lindo, sermos nós a qualificar
aquilo que um povo inteiro decidiu. Que superiores somos, que moral elevada
temos, quão excelsa é a nossa opinião, o quanto somos os mais sábios dos
mortais! Hoje, quase toda a gente esqueceu, neste país, que mora no cu da Europa,
na latrina alemã, onde os alemães só aparecem para fazer merda, e que esta
Europa, que ainda ontem era um massivo directório pouco franco – muito alemão,
hoje é o paraíso na Terra e que os ingleses, afinal, é que são os maus da fita.
Adivinhem: provavelmente estão-se marimbando para o que deles dizem. Nós é que
somos os que estão sempre preocupados com o que de nós dizem os outros no
estrangeiro, não eles.
Qual o
receio dos britânicos? Voltar a tempos antigos? Ao isolacionismo proporcionado
pela sua insularidade? Que a sua economia baqueie e o reino mergulhe numa crise
nunca vista? Talvez. Longe vão os tempos do Império Britânico, pelo que agora
são só mais um pequeno país na pontinha de um pequeno continente chamado
Europa. Desenganem-se. Assim tivesse Portugal um décimo da influência britânica
no Mundo… e qual o receio dos europeus, afinal? Que tenha desaparecido da EU o
único país europeu que sempre pagou para a Europa mas nunca recebeu? Ou que a
economia britânica baqueie e arraste parte da sua? Desenganem-se, não há
economia europeia, só há economia alemã. Não perceber que o projecto europeu
falhou, que aprofunda diferenças, atiça ódios, lança radicalismos e tentar
agora acusar os britânicos disso não é ingénuo. É, pelo contrário, de má-fé.
Falhou. Move on.
A legitimidade
da decisão, como já referi, é do povo britânico. Não de uma comissão europeia comandada
por um luxemburguês despedido por corrupção constantemente em estado
etilicamente debilitado, em que ninguém votou e que ninguém conhece, colocado
na função por jogos de conveniência. Não foi decidido por radicais de esquerda
ou de direita, pois 52% de um povo não pode ser radical. O reino votou
massivamente na saída, enquanto Londres votou para manter a City a funcionar e
os escoceses votaram contra os ingleses. Nada de novo, vindo do país que está
de olho no petróleo do Mar do Norte, pretendendo-o como propriedade exclusiva
dos seus quatro milhões de habitantes.
Cada um tem as suas razões. Quem votou pela saída não
votou por ser racista ou xenófobo, pois a zona com mais imigrantes votou pela
permanência. Não votou porque lhe apeteceu agora dar um piparote na política
europeia. Votou porque decidiu assim, votou de acordo com aquilo que tinham e
sempre tiveram no seu país e que a UE paulatinamente tem vindo a retirar – serviço
universal de saúde, pensões, etc. Mas, mais que tudo o mais, VOTOU! Quando foi
a última vez que vocês, tristes profetas da desgraça alheia que não olham a
calamidade que se vive no vosso seio, aqui, em Portugal, quando foi essa última
vez que votaram para decidir o destino do vosso triste país? Grow up!
PS: texto para o desenho original de Marco Joel Santos
PS: texto para o desenho original de Marco Joel Santos