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Ilustração Marco Joel Santos |
Neste mundo há requisitos. É uma realidade a que muita
gente tenta escapar, mas não consegue. Neste mundo há requisitos. O mais
conhecido de todos é que para se morrer tem de se estar vivo. Quer dizer, pelo
menos convém. Um morto morrer é mau sinal, se bem que a TVI já matou mortos nas
notícias por várias vezes. Isso e descobrir pinhais de eucaliptos é das grandes
proezas da TVI. Mas voltemos à vaca fria, que é uma expressão que nunca entendi
muito bem, e não sei se temos de refrigerar a vaca antes ou basta soprar um
bocadinho. Outro requisito muito conhecido é aquele que diz que só se vai para
o céu se formos muito bonzinhos cá na terra. Ou muito católicos, o que não é
necessariamente o mesmo. Porque em outros países quem é muito católico arde no
inferno. Mas, aí está, são requisitos. Mudam de sítio para sítio, mas há sempre
requisitos. E o dos mortos nem muda de sítio para sítio, só mudam os mortos.
Já percebemos, pois, que também aqui em Portugal há
requisitos. Por exemplo, para descobrir um pinhal de eucaliptos tem de se
trabalhar na TVI. Para se ser popular, tem de sair o euromilhões. Para ir para
a praia, tem de se levar toalha. Para se ser enfermeiro tem de se tirar um
curso superior. Para se ser político também. É feio ser político sem curso. Quer
dizer, se for um político do centro ou da direita. Se for da esquerda, até é
porreiro, tipo metalúrgico do PC, não se ter curso superior. Mas, de forma
geral, é preciso ser doutor, até porque depois dá jeito nas entrevistas manter
a distância para o povinho que está a ver na TV. Um doutor ou um engenheiro dá
sempre jeito.
O problema é que a nossa juventude partidária, e quando
falo da nossa falo da da minha geração, mais arroba menos quintal (esta sim,
uma expressão que entendo), que é a que está agora no poder, não teve tempo
para tirar os cursos superiores, pois desde cedo se afadigaram nas jotas a
colar cartazes e trabalhar faz calos, não há tempo para calhamaços nem frequências.
Já tivemos um político tão ocupado, mas tão ocupado, que teve de terminar a
licenciatura num domingo! Ainda falam os merkels de produtividade! Depois temos
outro que só tirou a licenciatura quando se apercebeu que mais ninguém queria
ser presidente do partido. Nada que não o impedisse de ocupar, já antes da
licenciatura, altos cargos de administração de empresas de serviço público. E não
era doutor! Mais uma para os merkels!
Agora temos o caso de um outro grande político da nossa
praça (outra expressão que faz pouco sentido, parece que o país é uma imensa
praça e não uma imensa praia, como dizem os merkels) que, tendo até frequentado
o curso de Direito, já num longínquo ano de 1985 (ainda havia Leis, imaginem lá
o tempo que já lá vai), fez uma honrosa disciplina com 10. Depois de oral. Nada
de dramático, até porque no oral o político português é perito – é a falar que
nos f… azem pensar na vida. Depois frequentou o curso de História, no qual não
fez qualquer disciplina, e depois Relações Internacionais, onde também não obteve
qualquer aprovação. No entanto, longe de ser um caso perdido, o nosso político
faz-se o homem mais poderoso do seu partido (colou mais cartazes que os outros
jotas) e tinha de ter um curso, até porque estava farto de ir ao Brasil e ser
tratado por “seu” e “chapa”. Assim, arranjou uma universidade de qualidade universal
e faz o curso de Ciência Política num ano! Uma licenciatura de três anos em
apenas um! Está explicado porque é tão poderoso! Porque realmente é uma inteligência.
E porque parece que aproveitou uma espécie de lei que permite que as universidades
tenham cursos de Novas Oportunidades! Sim, onde é valorizada a experiência
profissional. Ora, o nosso político é um DNO – Doutor das Novas Oportunidades! Esta
cooperação entre governos deixa-me sensibilizado. O facto de um membro do
governo actual aproveitar uma iniciativa do governo anterior só mostra que há
consenso em Portugal! Acalmem-se os merkels!
Vou acabar por aqui, porque parece que tenho uma data de
lâmpadas para mudar e canos para arranjar. Seria uma enorme trabalheira, não
fosse ter contratado um enfermeiro para me fazer o trabalho mais pesado. Tenho pena
dos enfermeiros, coitados. Eu pago ao meu quatro euros por hora e ele arruma a
casa e tal… Mas a verdade é que os enfermeiros são gente muito estúpida. Quem demora
cinco ou seis anos para tirar um curso que depois paga quatro euros à hora só
pode ser estúpido. Porque se fossem inteligentes, ou pelo menos espertos,
tiravam um curso que até dá para ser ministro num ano!
No país em que a legislação e o discurso dos políticos tem vindo a integrar cada vez mais palavras como "excelência", "eficácia", "empreendedorismo", entre outras, é bom que venham a lume as falcatruas dos cursos daqueles que nos (des)governam. Pena que aqueles que trabalharam a sério sejam espezinhados pelos primeiros! Quem sabe se revoltam...
ResponderEliminarTão séria, porra...
ResponderEliminaré o país da meritocracia... só os bons filhos da puta chegam longe!
ResponderEliminarQuanto a revoltas , estamos longe, muito longe disso...infelizmente!
Tripalio, tendo a concordar. Vamos entrar numa nova forma de esclavagismo. Nada que não tivesse previsto por aqui...
ResponderEliminarAcredito sinceramente que não seja preciso uma revolta popular, muito menos com sangue ou decapitações envolvidas. Era a sociedade civil organizar-se e processar esta gentalha de merda toda - todos quantos se andaram e andam a aproveitar dos recursos do país. Acabavam-se compadrios, promiscuidades, interesses de meia dúzia de individuos.
ResponderEliminarNoya, o problema da sociedade civil é que é precisamente a sociedade civil que faz estas merdas constantemente. É o célebre "eu também fazia , se lá estivesse!". Não há volta a dar-lhe amigo, seria mesmo necessário um Campo Pequeno. Mas grande, muito grande.
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