- Naqueles dias, era o
tempo de Herodes sobre o povo do Senhor, e sobre Herodes era César, e os
estrangeiros dominavam na Terra prometida; e eram uns sobre os outros, e
outros sobre os uns e tudo ao molhe e fé no Senhor;
- E eis que eram estas
práticas que desgostavam ao Senhor, pois que Ele se havia esquecido do
mandamento “Não farás orgias malucas”, mas pensava que estava
subentendido; e, por isso, a fúria do Senhor se manifestou, porque o seu
povo se deixava corromper por outros;
- E o Senhor meditava no
que havia de fazer à humanidade, e não encontrava coisas originais; assim,
coisas divertidas como afogar toda a gente num dilúvio ou arrasar a Terra
com fogo vindo dos céus pareceram-lhe coisas pouco originais.
- E eis que entrou na
sala o seu Filho mais velho, derrubando uma jarra chinesa da dinastia
xung; e eis que o Senhor se decidiu: “Vou enviar este pestinha aos homens!
Assim chateio-os com mais uma série de mandamentos e cenas do género,
enquanto a casa fica arrumada cá em cima! Porra, até pode ser que ponha a
leitura em dia, há que séculos tenho o Manifesto em cima da mesinha de
cabeceira!”;
- E o Senhor chamou o
mordomo, para que este cumprisse as suas ordens. Divertido seria até
cumprir aquelas profecias malucas do Elias e fazer o puto nascer em Belém
de uma virgem, no meio de um tasco onde arruaceiros comessem sandes de
torresmos e emborcassem mines.
- “Gabriel” – disse o
Senhor – “Vai à terra de Belém e encontra lá uma virgem em idade
casadoira, e dela farei o ventre do Senhor, pois que dela nascerá o meu
Filho, sem pecado!”
- “Senhor” – respondeu o
Gabriel – “que a Tua palavra seja tornada realidade. Mas achas que em
Belém vou encontrar um tal ser tão estranho? Não seria mais fácil fazê-lo
nascer de uma velha de 90 anos na Bolívia?”
- “Não porás em causa as
ordens do Senhor teu Deus!” – trovejou a voz do Senhor, visivelmente
irritado com o puto, que agora andava atrás do gato por detrás da Meo Box –
“Olha, está aí um bom mandamento, não me lembrei deste… Como dizia, vais a
Belém encontrar uma virgem e vais mesmo! Além disso, já engravidei uma
velha, a mulher do Abraão. Não é original! E pára com essa porra de me
tratares por tu!”
- “Senhor, e qual dos
teus filhos vai enviar?” – perguntou Gabriel, ao que o Senhor respondeu: “Olha,
vai este! O outro não faz mal a uma mosca, mas também é verdade que desde
sempre se desgostou com o nome. Devia ter-lhe chamado outra coisa, tipo
Fantasma Sacro, ou Divino Espectro… Espírito Santo o gajo não aprecia… Diz
que lhe faz lembrar o Chipre, vê lá tu! Ele, que nunca esteve em Chipre!”
- E Gabriel tomou o
caminho da Terra, e apanhou o elevador junto do 4023º Esquerdo. E eis que,
chegado à terra de Belém, avistou um palácio, e não se demorou a entrar. E
lá encontrou um ancião, a quem perguntou: “Qual o teu nome, velho rei?”. O
velho ancião, que dormitava num cadeirão, abriu e fechou a boca três
vezes, com um barulho de quem come bolo-rei a seco.
- “Oh Maria, os angolanos
vieram-me matar! Oh Maria, oh Maria, olha este preto! Eu bem disse ao
Machete para não abrir o bico lá em Luanda! Catano do velho que não sabe
estar calado! Não aprendeu comigo, que só falo quando não há nada para
dizer!”
- Gabriel saiu
apressadamente do Palácio perseguido por uma anciã aos berros e dois GNR a
cavalo de paus de vassouras disparando rajadas de água de bisnagas. Não que
pudesse ser atingido por tiros ou algum mal terreno o pudesse afectar, mas
entristecia-o o estado em que Roma deixava aquela terra, onde já nem havia
cavalos nem armas que atirassem coisas a sério, bem como o facto de lá por
ser do Médio oriente logo foi apelidado de preto. Para além do mais, a
velha não parecia estar em si. Há 40 anos.
- Caindo a noite,
Gabriel, já um pouco arrependido de se fazer representar como ser humano,
lá voltou à sua forma original e voou por cima de Belém. E fez uma batota
e lá foi vendo quem se encontrava no interior daquelas casas. E dentro de
uma delas viu uma bela rapariga, e cedo se manifestou num dos sonhos dela,
daqueles sonhos que parecem tão reais que se cheira e se responde e tudo. Que
bela história esta! Depois veio o Pai Natal e o palhaço…
- E disse Gabriel à
rapariga, no sonho dela que agora também era seu, ou coisa assim mais ou
menos parecida com algo saído de um filme do Harry Potter ou do Senhor dos
Anéis: “Qual o teu nome, doce donzela?”. “Maria” – respondeu a moça – “mas
isso da donzela é medieval e é suposto estarmos em 4 a.C.”.
- “Não te armes em
esperta, ò peste do c…! És virgem, Maria?” – perguntou o enviado do
Senhor, ao que ela respondeu – “Depende da perspectiva… se as orelhas
contarem…”. O anjo ergueu os olhos para o céu, e abanou a cabeça, e
finalmente afirmou: “Está lá perto.”. E o filme transformou-se de repente
nas Sombras de Grey ou no Senhor dos Anais.
- “Pois é chegada a hora
de dares à luz o Filho do Senhor, teu Deus! E darás à luz em Belém, e não
estarás contaminada pelo pecado! Pois que o salvador do mundo será
concebido no teu ventre sem pecado!”
- Maria ouvia, submissa,
e respondeu: “Seja feita a vontade do Senhor, mas sempre ouvi dizer que
isto devia acontecer em Nazaré e não em Belém, pois só devia dar à luz em
Belém, dentro de nove meses! O que aconteceu a Nazaré?”
- Gabriel suspirou e
ficou admirado com a sapiência da jovem e docemente respondeu: “Estás
doida? Aquilo desde que o Samarra surfou a onda de trinta metros que está
cheio comó c…! Já nem chicharro se compra em condições naquela terra! Além
do mais, vê lá, poupa-se numa viagem!”
- “E José?” – perguntou a
jovem. Gabriel não se tinha lembrado do namorado, pois claro, ainda havia
de aparecer mais um cabrão para atrapalhar – “O teu namorado?” – “Sim, às
vezes é ele, outras vezes…” – “Chega, não digas mais nada... Eu falo com
ele em sonho…”
- “Olha lá, ò anjo, e
isso do concebido sem pecado não é assim um bocado forçado…? Quer-se
dizer, eu até ouvi dizer que os anjos não têm sexo, mas não é verdade,
pois não? Não queres assim… mostrar o que vales e tal…? Antes de ires
falar com o corn… o José?”
- “José!” – clamou Gabriel, acordando o
homem – “José, tua noiva dará à luz o Filho do Senhor, engendrado sem
pecado, ou lá como já foste, no seu ventre! Desposarás a Maria, e criarás
o Filho do Senhor como se teu filho fosse, e muito o amarás, e dele farás
um Homem, o Filho do Homem de que o Mundo precisa para remissão dos
pecados!”
- “Tá tudo, meu, mas comigo falas com o coiso dentro
da braguilha, que isto de me apareceres à porta a abanar o badalo não me
parece bem. Quanto a isso da Maria, tudo bem, mas só com uma condição!”
- “Fala das tuas
condições, José, mas não forces demasiado a coisa que o Gajo lá de cima
está maldisposto e pode lembrar-se de te fazer alguma…” – disse Gabriel,
ao que respondeu José: “E vai-me fazer o quê? Já me fez corno e pouco
tenho a dizer sobre isso, imagina tu…! Ao menos, que me arranjem um
daqueles apartamentos da Câmara e o RSI!”
- “Então tu não és
carpinteiro? Para que precisas de um subsídio para prover à tua família?
Não viverás feliz exercendo a tua profissão?”
- “Pois, é uma
possibilidade. Mas pelos vistos já tu vens suado o suficiente para a
história – por enquanto, lá para a frente logo se verá – e não é a fazer
cadeiras que compro um carrito para dar aquelas voltas com o puto aí pelo
Médio Oriente. Ou são assim tão forretas que me vão obrigar a andar de
burro?”
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
EVANGELHO DE CIRRUS MINOR, CAPÍTULO 1
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Cirrus is back :D :D
ResponderEliminarNão percebi.
EliminarE eu, humilde serva do Senhor, muito apreciei esta versão de escritos passados.
ResponderEliminarCirrus, servo tresmalhado, voltaste a casa! :)
De humilde tens pouco e de serva do Senhor ainda menos.
EliminarMas eu saí de casa???