E
a grande questão da actualidade é a trasladação do meu homónimo rei da bola
para o Panteão Nacional. Sim, dizem uns, não dizem os outros e ainda há outros
que não dizem nada porque são mudos. E assim discorrem os dias primevos de
2014, para alívio do governo da República, que vê assim as atenções virarem-se
para aquilo que realmente (não) interessa.
A
questão é tão absurda que merece alguma reflexão, de facto. O homem ainda nem
tem os torrões consolidados em cima da urna e já querem mudá-lo de sítio. E o
Panteão parece ser o destino, mais tarde ou mais cedo, e por muito que a
oxigenada cabeça de preenchimento duvidoso que preside ao para lamento deste
país diga que não há dinheiro para a operação.
A
verdade é que a maior parte das pessoas que têm falado sobre o assunto nem
sequer alguma vez visitou, viu em postal ou tinha ouvido falar do Panteão
Nacional. Na verdade, é uma igreja, a célebre Igreja de S. Engrácia, e por este
nome já todos os portugueses ouviram falar da famosa obra seiscentista na
cidade de Lisboa, já que foi iniciada em 1682. Mas só foi concluída quase 300
anos depois, o que deu origem ao famoso epíteto de qualquer obra que se atrase
no tempo de “obra de Santa Engrácia”.
Por
outro lado, as pessoas julgam que apenas os grandes heróis da nação portuguesa
estão tumulados no Panteão Nacional. Mentira. Os grandes heróis nacionais não
estão no Panteão, e eu até acho que não estão porque não querem. Alguém sabe,
então, quem está tumulado em Santa Engrácia? Aí vai a lista:
- Almeida Garret –
escritor que escrevia português macarrónico, ao ponto de nem ele, por
vezes, entender o que tinha escrito;
- Amália Rodrigues –
dispensa apresentações. Tinha uma goela do catano e era fadista;
- Aquilino Ribeiro –
escritor e regicida;
- Guerra Junqueiro –
escritor de cenas e tal, que alguns ainda lêem;
- Humberto Delgado –
candidato a herói nacional, assassinado pela PIDE de Salazar;
- João de Deus –
escritor, sabe-se lá o que escreveu…
- Manuel de Arriaga –
presidente da República da I República, o período mais conturbado da nossa
história contemporânea;
- Óscar Carmona –
presidente da República responsável pelo aparecimento do Estado Novo e
depois da implantação do mesmo, até 1951;
- Sidónio Pais –
presidente da República e ditador da I República, autor do período de
ditadura chamado “sidonismo”;
- Teófilo Braga – o mesmo
que Manuel Arriaga;
Ora, se alguns são heróis
(provavelmente Humberto Delgado e pouco mais), a verdade é que o Panteão Nacional
está recheado de gente pouco recomendável ou pouco significativa. A pessoa mais
conhecida será mesmo Amália – e era fadista.
Outra coisa que pouca ou nenhuma
pessoa que tem falado deste assunto parece conhecer é que não existe um Panteão
Nacional, mas sim dois Panteões Nacionais. E estes são os assim designados.
Como verão, até há mais panteões nacionais por aí espalhados. Mas oficialmente,
há de facto dois Panteões Nacionais. Um é Santa Engrácia, como já foi referido.
Será que alguém adivinha o outro? Ora, no outro Panteão Nacional estão de facto
heróis nacionais, homens que a História de Portugal nunca mais esquecerá (ao
contrário de João de Deus, por exemplo…). E que nomes lá podemos encontrar nos
túmulos? Que homens assim tão importantes lá estarão sepultados? Bem, os nomes
de D. Afonso Henriques e D. Sancho I deve bastar para perceber porque é que o
local é Panteão Nacional. Alguém sabe onde fica? Pois, bem me parecia…
Um outro local que é um verdadeiro
panteão nacional, e que devia – esse sim – ser assim designado oficialmente é o
Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Quem está lá sepultado? Para além do nosso
mais recente santo, o Condestável, basta que esteja lá toda a Ínclita Geração,
incluindo o nosso mais poderoso soberano da História, D. João II. É mais
conhecido por Batalha. O Mosteiro de Santa Maria de Belém tem sepultado o nosso
maior herói navegante: Vasco da Gama. É mais um panteão nacional. E mais há por
esse país espalhados. Locais onde verdadeiros heróis nacionais estão sepultados
e são invocados e relembrados – celebrados.
Agora falando a sério, acham que o
Eusébio ia querer estar ao lado de Carmona? Eu não quereria, com certeza. Até
porque ainda estou vivo…
Pois...
ResponderEliminarNão me surpreendo muito com esta mania de querer levar o homem para o Panteão!
Surpreende-me que não queiram levar para lá o Aristides Sousa Mendes, por exemplo...
...mas é mais importante dar xutos numa bola do que salvar vidas...
:)
No Panteão ele estaria sub-representado. É um sítio mal frequentado.
EliminarIdeossincrasias à portuguesa..
ResponderEliminarUm dia, começam a "cromar" o pessoal e a espalhar as estátuas pelos locais públicos!!
Não é má ideia. Lembra-te que as sepulturas reais têm as estátuas dos Reis em cima...
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