Foto Google |
Ontem, para quem assistiu ao Festival RTP da Canção, ou lá como se chama, deu-se um acontecimento estranho. Ora eu não assisti, nem sei bem qual a qualidade das canções a concurso. O que sei é que a qualidade da canção vencedora, que já tive oportunidade de ouvir, não é lá aquela coisa de primor artístico. Para quem assistiu, penso que o mais estranho foi a reviravolta nas votações, a favor dos Homens da Luta, quando se começaram a contabilizar votos do público lá de casa.
Como já disse, penso que a canção em si, do ponto de vista técnico, não é grande coisa. Então o que a fez ganhar? Porque será que o público presente na sala a assobiou, quando foi dada como vencedora? Se não é uma boa canção, porque ganhou, ainda por cima contra a vontade daqueles que ali se encontravam que, à partida, são mais entendidos no assunto?
O país real, o país dos portugueses que andam na rua e que sentem a vida portuguesa, essa estranha forma de vida, não estranhou. Eu já sabia que os Homens da Luta iriam ganhar. Não pelo primor técnico ou pela inovação. Ganhariam sempre – pelo protesto. Porque o português real, aquele que não se senta confortavelmente nas cadeiras de jurados de programas de TV ou nos teatros onde decorrem cerimónias com “convites” pagos a peso de ouro, para o português que trabalha para (sobre)viver e que não tem as mordomias desta gente aparentemente entendida em tanta coisa, só poderia haver um vencedor. E esse vencedor é conotado com essas pessoas, são consideradas pessoas do povo. São incómodos, corajosos e não se importam de levar no focinho de vez em quando só para que a sua mensagem passe.
No fundo, o país real sabe que não é como os Homens da Luta. O país real não é corajoso, nem se sacrifica da mesma forma, nem é activista como eles demonstram ser. Ainda não é. Mas farta-se de avisar que a tal pode chegar. E perante as revoltas que nos rodeiam, em países árabes e europeus, como a Irlanda e a Grécia, pergunto-me o que pensarão aqueles que governam o país acerca disto. Aparentemente, não pensam nada. É certo que não são pagos para pensar e todos já sabemos disso. Estão mais preocupados em discutir as culpas das desgraças, como agora se vê no caso das portagens das CCUTs do interior. O resto passa-lhes ao lado, tão confiantes estão na passividade e bonacheirice do povo, que tem permitido a pilhagem do país aos governantes e seus lambe cus. Talvez um dia acordem. Os sinais estão aí. Este foi mais um.
Camarada, "avante" não devia ser apenas uma festa de um partido político. Estou à espera que este povo passe da acção telefónica à acção na rua, com pedras e aqueles coquetéis (será assim que se escreve em bom "portugueis") nas mãos, se preciso for.
ResponderEliminarExtrapolemos o que os "homens da luta" são e passemos a verdadeiros homens e mulheres da luta, reivindicando, chamando a si a responsabilidade da construção de um país melhor.
Sejamos ambientalistas: acabemos com os germes e parasitas que nos governam!
De alguém cada vez mais arreliado.
Há mais de 15 anos que não acompanho o Festival da Canção. Este ano confesso que estava a torcer pelos Homens da Luta. Não pela música, mas pelo significado se ganhassem.
ResponderEliminarFui jantar fora e quando cheguei liguei a TV para ver como estava a coisa. Apanhei os resumos das canções (todas elas fracas, muito fracas). Vi a votação e estava com pena por os HL não ganharem (era uma pedrada no charco, um gozo fininho a um festival que é cada vez mais uma treta).
Quando chegou a votação do público e eles ganharam, confesso que adorei...
É como tu dizes, no fundo é um sinal de que os portugueses começam a "protestar"... de mansinho, devagarinho, em coisas sem importância (o festival não aquece nem arrefece), mas é um sinal. É assim que o entendo e quero entender.
Cat, já somos dois...
É mais um grãozinho de areia contra a engrenagem. Pena que não haja vontade para lhe pôr uns pedregulhos!!
ResponderEliminarCat, a luta pode fazer-se na rua. Mas a rua hoje é em muitos sítios. Lutemos, pois, antes que isto acabe mesmo mesmo mal.
ResponderEliminarPronúncia, a sociedade portuguesa é profundamente reaccionária. No entanto, todos acham mal os protestos dos outros até ser a sua vez de protestar. Tenho visto coisas abissais, como pessoas que até há poucos meses se motivavam para a luta serem contra os protestos que agora se preparam. Um dia, há-de haver convergência de interesses.
ResponderEliminarMalenas, umas fragas.
ResponderEliminar