O cardeal D. José Policarpo é o cardeal patriarca de Portugal. Um príncipe da Igreja com maus hábitos, como fumar e beber uns canecos à mesa da sueca na terra de onde veio e onde ainda vai. E estes são os bons. Penso que o último Concílio para escolher o último Papa deve ter sido um regabofe por causa de D. José. Imaginem o fumo a sair por tudo quanto era sítio, que o homem parece que puxa bem pela beata para a meter nos queixos. Nada de segundas interpretações, por favor, beata aqui é mesmo o cigarro e não uma senhora que não desgruda dos padres, talvez por não ter mais nada que fazer ou por querer fazer algo mais que um padre mais não pode fazer – mas, vá lá, com jeitinho, até vai. Divago. Mas Habemus Papa deve ter-se ouvido tanta vez naqueles dias nos corredores do Vaticano, e vai-se a ver não, afinal era o bom do D. José e seu maço de Gigante. E penso que todos conseguimos mesmo imaginar o cardeal a convidar outros cardeais para uns bons riscos de sueca ou do chinquilho.
Ilustração Marco Joel Santos |
Pois bem, ultimamente são mais as vozes da Igreja que se levantam, ainda que mal disfarçadas, para falar das injustiças que se vão vendo por esse mundo fora, mas particularmente em Portugal, que ouvidos que as queiram escutar, e desses cada um tem um par. Os bispos do Porto, de Bragança, até o reitor do santuário de Fátima, têm vindo a lume com ilustrações daquilo que hoje alguns entendidos que de nada percebem chamam assimetrias da sociedade portuguesa. O cardeal patriarca afirma, na missa de Natal, que é necessário “sair das trevas”. Mas uma coisa é a opinião pessoal de cada um destes homens, inteligentes e muito mais versados na arte de entender a rua portuguesa que qualquer político mal amanhado que tenha acabado um curso manhoso numa universidade obscura em tempo recorde para ser presidente de um partido de fantasmas vivos, alguns presidentes da república, e poderem assim serem primeiros sinistros de uma calamidade chamada Portugal. Outra coisa é a disciplina doutrinária.
Não tenho dúvidas que muitos homens da Igreja sabem, conhecem e compreendem o que de facto se passa na sociedade portuguesa. O que se passa na governação portuguesa. Por tradição, a Igreja Católica é conotada com a direita. Se porque este ramo do regime faz da fé em Deus um dos seus pilares, se porque a esquerda se afirma, de cada vez que sobe ao poder, laica, isso já não sei. Provavelmente uma mescla das duas. Quando era criança, lembro-me perfeitamente, na minha terra o padre fazia abertamente campanha eleitoral pela direita. Mas direitas e esquerdas à parte, porque isto já lá não vai com ideologias, ao invés do que pensa o nosso governo, muitos destes homens parecem ter-se apercebido que, desta vez, a direita traz algo mais que aquilo que, tradicionalmente, defendem. E que o país, de facto, sofre. E sofre em silêncio. E apesar da imensa fé que os move, ou pelo menos assim depreendemos das suas posições, ousam falar, ainda que levemente, contra o rumo que esta coisa toda, está mais que visto, leva.
Curioso é que nunca houve na História um personagem, quer tenha sido real ou apenas uma invenção arquetípica, mais comunista, ou como dizem os entendidos do politicamente correcto, marxista-leninista, que o próprio Jesus Cristo. Isto em termos puramente filosóficos, deixemos o político de parte. Porque quando se fala de ideologias não se fala de políticas. Ideologias são ideais, políticas são reais, já sabemos dessa diferença. Tal como Jesus, que pregava o mais inveterado comunismo, enquanto os seus apóstolos, para espalharem a palavra, ainda que deturpada, do seu mestre, a politizaram. Mas se o próprio Jesus era assim, porque tem a Igreja e seus membros a atitude reservada que têm? Porque não expressam livremente a sua opinião?
Há um livro, a que alguns apropriadamente adjectivaram de manual de maus costumes. Nesse livro, a dada altura, e numa das mais simbólicas epístolas do mais esforçado seguidor de Cristo após a sua morte – de notar que, ao contrário do que se pensa, não era apóstolo – Paulo escreve assim:
“Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus.
Assim, aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação.
Em verdade, as autoridades inspiram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor.
Porque ela é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal.
Portanto, é necessário submeter-se, não somente por temor do castigo, mas também por dever de consciência.
É também por essa razão que pagais os impostos, pois os magistrados são ministros de Deus, quando exercem pontualmente esse ofício.
Pagai a cada um o que lhe compete: o imposto, a quem deveis o imposto; o tributo, a quem deveis o tributo; o temor e o respeito, a quem deveis o temor e o respeito.” - Romanos, 13, 1-7.
Que escrever mais? É óbvio que eu jamais poderia ser católico ou ser cristão. Toda a esperança que tinha de um dia juntar à mesa da sueca o bispo de Bragança, o do Porto, o cardeal patriarca e eu mesmo, jogando uns riscos bem traçados, vituperando contra os desmandos dos governos portugueses, contra os vícios do poder, contra a mentira das campanhas eleitorais e a futilidade do exercício ideológico contra toda a casta de sanguessugas que nos corroem o país até aos ossos, morreu na disciplina doutrinária. Muito gostaria de estar com estes homens, numa mesa imunda com um garrafão de cinco litros por debaixo – o vulgar Joãozinho – puxando dumas cartas e roendo sandes de torresmos, soltando uns sonoros e incontidos caralhos e foda-ses. Mas isso nunca vai acontecer – até Jesus, a determinada altura e depois de ter massacrado os especuladores financeiros do Templo, e assim “saindo das trevas”, não ousou enfrentar César - “Dai a César o que é de César”.
Sei que os tempos não estão para grandes optimismos mas o futuro pode estar nas nossas mãos se soubermos exercer os poucos direitos que ainda nos restam. Aqui deixo o meu desejo de um 2012 tão bom quanto o possível.
ResponderEliminarKaos
Wehavekaosinthegarden.blogspot.com
Kaos, que haja pelo menos boa vontade, e que essa seja a de mudar algumas coisas.
ResponderEliminarCirrus: adorei este texto! Mas não creio que os governantes deste pobre país se importem com alguma coisa, eles que são as mais bem acabadas nulidades de tudo quanto é tudo! Linda a análise , "em tom de passagem", das charutadas do nosso Cardeal Patriarca! O homem deve ter-se sentido o mais feliz dos mortais quando a chaminé do fumo branco lá pôs o ratzinger...velha ratazana de tantos "casos" que é melhor não dizer mais nada...OH,DEUS...mas como é que se vai para o céu?
ResponderEliminarBeijo de bom ano novo...
Mª ELISA
Maria, apesar de tudo nutro por alguns homens da Igreja algo respeito e mesmo admiração. E eles têm tentado, aqui e ali, chamar a atenção para o desastre social que enfrentam todos os dias.
ResponderEliminarQuanto a ir para o Céu... Depende. O caminho para o Inferno parece ser nosso conhecido.
se todos os cristãos( de diferentes religiões) agissem de acordo com a sua fé, este seria um mundo diferente... e melhor. há um problema de fundo na mensagem da igreja: no fundo dizem , sofram e não se revoltem...o que é indecente!
ResponderEliminarTripalio, não tenho tanta certeza disso. A fé cristã é, em certos pontos, maravilhosa. Mas nalguns outros, é pior que escabrosa.
ResponderEliminarAgora virem-me recomendar que coma e cale... Não haveria nunca evolução se assim fosse.
Acho que pensam em mudar alguns das rezas que a malta decora na catequese, por exemplo:
ResponderEliminar"(...) Venha a nós o vosso reino e seja feita a nossa vontade..."
Eu, como bom católico, só sigo 2 mandamentos:
"Amai-vos uns sobre os outros" e " não cobiçai a mulher do próximo quando o próximo estiver próximo".
Cat, eu estou-me marimbando para o próximo, mas a tua mulher sabe? E já agora, não será a tua mulher a mulher do próximo para o teu próximo? E quando não estiveres próximo?
ResponderEliminarCirrus, deixei-te um desafio no meu blogue. Não pode ser Pink Floyd!!!
ResponderEliminarJohnny, até te mandei seis, imagina lá tu!!!
ResponderEliminarDa-se, ó Cirrus, essa giga-joga de "próximos"...
ResponderEliminarCat, e não é verdade...?
ResponderEliminar