Ilustração Marco Joel Santos |
Vi, na segunda-feira,
o debate na RTP sobre a Lei da Cópia Privada. Não que tenha um especial
interesse nisso, até porque não compro, por norma, dispositivos electrónicos em
território português. Mas antes porque estava a TV ligada no canal 1 e pronto,
assim foi. Vi o programa. Uma Lei, seja ela qual for, tem sempre apoiantes e
detractores, já desde os tempos de Moisés e dos Dez Mandamentos. Não que
compare os tempos pré-mosaicos aos tempos que vivemos hoje. Ou talvez compare. Em
todo o caso, ouvi argumentos de ambos os lados e com ambos os lados concordei e
de ambos discordei.
É dúbio
que ao comprar uma obra com direitos de autor num CD, por exemplo, não me seja
autorizado replicar o mesmo num MP3 só porque o suporte muda. Claro que se
emprestar o MP3 a alguém, já não é dúbio. Mas se for para eu ouvir, qual o mal?
Certo. Ou será errado? Mas se eu ouço o MP3 e não o CD, para que raio comprei o
CD e não a obra no iTunes ou coisa que o valha? Faz-me lembrar os tempos
antigos, no tempo das K7, em que as obras musicais eram editadas em dois
suportes: o vinil e a K7. Ninguém comprava os dois, ou se comprava o vinil ou
se comprava a K7. Também é certo que ninguém andava por aí a ouvir música e a
fazer jogging ao mesmo tempo. Acho que agora não lhe chamam jogging, já lhe
chamam running mesmo. Se o comprador do vinil queria uma K7, comprava uma K7
virgem e gravava a obra. Para ele e para os amigos todos. Já na altura havia
pirataria.
O que me
custou no debate foi ter começado com a sensação de ser contra a Lei e ter
acabado com muitas dúvidas. Não porque duvide dos argumentos contra a Lei, que
acho válidos. Mas sim porque toda a gente sabe que não é por causa desses
argumentos que todos são contra a Lei e a nova taxa. Na verdade, nem toda a
gente é contra. Os artistas, pelo menos uma boa maioria, é a favor. Estranho. Adiante,
sabemos bem que não é por causa de não sabermos se o dinheiro chega aos
artistas, ou porque compramos um disco rígido para guardar fotos que cabem numa
pen de há dez anos atrás, ou sequer porque vamos pagar mais 15 euros num
telemóvel que custa 1000 euros à partida, que toda a gente é contra esta Lei.
Toda a
gente é contra a Lei porque toda a gente a infringe de todas as formas e feitios.
E porque toda a gente compra dispositivos para a infringir, e agora toda a
gente vai pagar mais para poder continuar a infringir a Lei. Uma cópia só é
privada enquanto não é pública, e se assim não fosse, não haveria sites de
partilha de ficheiros nem Youtubes nem streamings. Ou acham que quando ouvem
streamings grátis, o dono do site pagou todos os álbuns que lá passam? Bem,
para além disso, o secretário de estado da Cultura, para além de o ser (e não
Ministro), tem cara de parvo (ia dizer calhau com dois olhos – o que não anda
longe da verdade). Mas da aparência do secretário de estado não posso, em
rigor, determinar o seu carácter, ao contrário de alguns colegas de Governo.
Tem o meu benefício da dúvida.
Mas o
que mais me chocou no debate foi a discrepância na representação. É certo que estava
o mesmo número de pessoas falantes de um lado e do outro. Mas do lado do apoio
à Lei, estavam os editores, o secretário de estado e… muitos artistas. Até
falou o Miguel Ângelo, e isso até seria bem percebido por mim se fosse o
italiano, mas não, afinal era o de Cascais. Do outro lado, e por muito que me
custe dizer isto, não cheguei a perceber quem falava e em que qualidade falava.
Eram bloggers, especialistas em não sei bem o quê… enfim, pessoal. Muito bem-intencionado,
com toda a certeza, mas, e perdoe-me quem ali falou, com “pirata” escrito na
testa.
A ausência que notei mais, no entanto, foi na
parte dos artistas. Havia músicos, actores dramáticos, actores satíricos,
escritores, artistas plásticos… enfim, poderíamos dizer que todos os ramos da
arte pirateada (ou copiada “privadamente”) ali estavam representados. Pura
mentira. Faltou o ramo da arte que mais é pirateado, “streamado”, copiado,
visto e revisto e até outras coisas que não me atrevo a dizer, de toda a world
wide web. Os conteúdos que enchem largas dezenas percentuais do espaço
disponível em toda a memória virtual em todo o mundo: ONDE ESTAVA O PORNO?
Confesso que ainda não tenho opinião formada. Informação demasiado "contaminada"!
ResponderEliminarO porno? O porno estava escondido na cabeça do gajo dos óculos pequeninos, não sabias?? ;)
Boa noite, Cirrus! :)