A diferença
entre um Junkers e um Juncker é um c e um s. Assim à vista desarmada. C de
corrupto e s de salafrário. É evidente que um Junkers aquece água, trata-se de
uma marca de esquentadores bastante conceituada, um “made in Germany”, como se
quer nestes produtos industriais. Não acreditem em nada disto, um Junkers é
apenas um Vulcano com outra etiqueta e são todos feitos ali em Cacia. Um Juncker
é bem diferente, é um burocrata oriundo do Luxemburgo, aquele país que vive à
custa do dinheiro dos outros países, neste particular bem acompanhado
regionalmente, aliás. Quem me souber dizer qual o grande produto de exportação
luxemburguesa leva um brinde.
A semelhança
entre os dois é mais que o nome. Um produz água quente, o outro produz paninhos
quentes. Juncker parece ter tido uma epifania, depois de ter sido
primeiro-ministro do Luxemburgo, acumulando a pasta das Finanças, ter presidido
ao Conselho Europeu e ter tido grande influência no Eurogrupo. Evidentemente que
o facto de ter perdido a oportunidade de prolongar o seu reinado no Luxemburgo
nada terá tido que ver com o escândalo financeiro em que se viu envolvido, e
nada o faz parar, sendo agora o Presidente da Comissão Europeia, lugar
burocrático europeu sem influência legislativa mas com belo efeito de jarra,
que se encontrava vago há dez anos. Este personagem veio afirmar que a Troika pecou
contra a dignidade dos povos.
Isto levava-me
tão longe… mas adiante.
Antes de
mais, quem é a famosa Troika? É um grupo de instituições que integra a Comissão
Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. Ora, se
assim é a Troika é, quando não mais, dois terços União Europeia. É por demais
interessante verificar que um dos senhores que mandava na União Europeia venha
agora falar dos excessos da Troika, quando ele próprio a terá orientado em
grande medida. Do FMI estamos conversados, é aquele fundo que está a
transformar a Ucrânia em duas regiões distintas, a República da Monsanto e o
Donbass.
Prosseguindo,
imaginemos que a troika, de facto, atentou contra a dignidade dos povos. Qual a
situação mais indigna que podemos imaginar? Muitas, com certeza, mas a mim
ocorrem-me assim de repente, duas: a indignidade do Holocausto e a indignidade
da Escravatura. Sim, já sei que as comparações são relativas, mas é apenas uma
analogia. Imagino, por exemplo, o africano vergado sobre um tronco numa
qualquer fazenda norte-americana, ou mina sul-americana, ou roça africana, a
levar chicotadas nas costas. E agora imaginemos que, depois de ter as costas
desfeitas pelos golpes de chicote, o senhor do escravo se lhe chega aos ouvidos
e murmura-lhe: “Pequei contra a tua dignidade”.
Mas agora
imaginemos que o escravo se dirige ao amo e lhe refere que o seu amo deve estar
doido e que está a ser muito infeliz nas suas palavras, pois nunca por nunca
sentiu que a sua dignidade foi sequer ameaçada, e não é por ter as costelas à
mostra e se estar a esvair em sangue que alguma vez duvidou da justeza do
castigo. Não parece ter sido o que fez o nosso infeliz primeiro-ministro, mais
o seu governo e o seu partido?
Não, nem
por sombras. As costelas à mostra por entre os rasgões na pele e na carne não
são dele. São nossas. O nosso povo foi alvo dos pecados da Troika, mas todos
nos devemos lembrar que os pecados deste governo são maiores do que os da
troika, pois era para além dela que o governo queria ir e foi. Num país
devastado, com um sistema de justiça destruído por uma louca, um sistema de
saúde devastado por um monstro funcionário dos Seguros de Saúde (que muitos
diziam ser o melhor ministro deste governo), em que a probabilidade de ser
atendido numa urgência em tempo útil é tão remota como a de o Sporting ser
campeão, um sistema educativo entregue à anarquia, à mercê de um mercenário que
só quer entregar o ensino a privados, quem é que, afinal, tem as costas
ensanguentadas?
Não é o
coelho, nem o seu pseudo-governo, nem o seu partido de extrema-direita que
sofre. Esses estão bem. Até conseguem ser os únicos assalariados com aumentos
reais de vencimento em três anos de misérias salariais. O escravo somos nós,
não são eles. Eles são apenas os capatazes da fazenda, e a Troika é apenas o
chicote. O senhor da fazenda é o Schauble. O gajo da cadeira de rodas, um deficiente
rancoroso de merda, que para além de deficiente ainda é portador de
deficiência, e que não se lembra que a Europa sempre perdeu com a presença do
seu país xenófobo e racista no seu seio. O país que começou as guerras mais
devastadoras que alguma vez o mundo já viu, o país que foi humilhado pelo resto
do Mundo que, num gesto de magnanimidade, o ajudou a erguer-se das mais
tenebrosas sombras ideológicas e das cinzas físicas. As feridas físicas
desapareceram. O resto permanece. Não confundo, no entanto, a Alemanha com os
alemães. Mas porque raio havemos nós de confundir a Grécia com os gregos? E porque
razão hei-de eu dizer mal a torto e a direito dos gregos, que nunca fizeram mal
a ninguém, e hei-de reverenciar os alemães, o povo mais genocida da História?
Não faria mais sentido odiar os alemães? Bem, seja como for, não os odeio,
apenas tenho asco pelo que o seu país representa.
Quanto ao Junckers, os seus paninhos quentes a
mim fazem pouco efeito. Mas pelo menos, não lhes ponha sal.
A Europa em contagem decrescente.
O grande problema da Europa é querer ser aquilo que nunca foi e provavelmente nunca será.
ResponderEliminarEmbora haja uma identidade cultural Europeia, esta é feita de diversos retalhos, muitos deles completamente dispares em termos de visão do mundo.
Estes retalhos provocaram, desde que há memória, serrabulho neste canto do mundo, quer por disputas territoriais, quer mesmo por diferenças ideológicas.
É impossível pedir a um Alemão que veja o mundo como um Italiano.
É impossível pedir a um Belga que veja o mundo como um Espanhol.
Não há por isso uma verdadeira identidade Europeia (por mais que nos queiram impingir a noção de que há), mas sim um história comum, frequentemente feita de conflitos e tentativas de imposição do pontos de vista do povo dominante da altura a todos os outros, umas com mais sucesso, outras com menos.
Assim de repente, e desde a antiguidade, tivemos os Gregos a dominar a Europa (ou pelo menos o que lhes interessava) mais a Ásia menor e parte do Norte de África, depois vieram os Romanos, depois foram as barafundas e os grandes impérios, depois foram os Franceses, depois os Alemães...
Todos estes conflitos e quezílias estão enraizados nas próprias culturas dos povos (Em Portugal basta ver o ditado "De Espanha nem bom vento, nem bom casamento" para perceber que por muitos anos que passem há sempre uma resistência).
Há demasiados preconceitos de uns povos para os outros o que em última instância leva a que seja impossível construir uma identidade única comum. Esses preconceitos estão patentes, por exemplo, no facto de os Alemães acusarem os portugueses de trabalhar pouco, de nos verem como uma espécie de preguiçosos que têm a sorte de ter sol a mais, ocultando a realidade que a baixa competitividade pouco tem a ver com o facto de se trabalhar mais ou menos, mas sim com o valor acrescentado que esse trabalho vale.
Claro que um alemão a produzir um mercedes tem maior produtividade que um Português a produzir uma carrinha da citroen embora os dois trabalhem o mesmo ou, provavelmente, o Português ter mais horas de trabalho em piores condições que o Alemão. No entanto, para um Alemão, uma vez que o valor do trabalho do Português é menor, este deveria trabalhar mais...
Estes preconceitos são barreiras efectivas a resolução das assimetrias dentro da Europa e em alturas em que há problemas estes preconceitos criam cisões, impedindo que a Europa possa afirmar-se com uma voz única no mundo.
Paradoxalmente, o derrubar desses preconceitos e um elevar do nível de vida no espaço Europeu para uma situação mais ou menos harmónica entre as regiões poderia potenciar o próprio crescimento Europeu numa escala sem precedentes...
...mas é impossível apagar milhares de anos de história ao longo de uma ou duas gerações!
E depois existem os políticos, essas criaturas com visões enviesadas da realidade, que não existem para se pôr ao serviço das populações mas sim cada vez mais de interesses que vão contra os desejos e aspirações dessas mesmas populações que eles deviam representar...
...interesses esses que vêm, claro, em segundo lugar, só mesmo superados pelos seus interesses pessoais!
Igualdade, liberdade e freternidade...
...ya! deve ser isso mesmo...
...isso e outras histórias da carochinha!
:)
Naturalmente que os gregos foram os primeiros a por a cabeça de fora e a votar fora do "arco da governação" que os povinhos têm votado ao longo do tempo. Por isso vão ser martelados e várias formas para não dar exemplo a outros povos...Outros povos o irão fazer com brevidade, a França será com o voto à direita na Frente Nacional ( que quer saída do euro e controlo fronteiras..), na Espanha com o PODEMOS a subir, e "arco da governação " a ficar feito num oito. Grã Bretanha a querer sair da União Europeia ( com referendo) e o puzzle está completo para o fim da moeda única inicialmente ( e ainda bem) e fim da União Europeia .Por cá como é um povo resiliente, como diz Maria Luís, ou o "melhor povo do mundo" como disse Gaspar, oliticamente nada muda. Doces portugueses....sempre atrás do centrão e agradecer as festinhas que a Europa nos faz na cabeça. Somos co-responsáveis pela forma como não agimos, e como votamos pelo estado de degradação do país e não val a pena culpar os "políticos" ...como é moda.
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