Ilustração Marco Joel Santos |
Quatro anos
volvidos, estamos à espera das Legislativas e, naturalmente, do que os partidos
têm para nos dizer. Chamam a isso Programas Eleitorais. A arte da programação
nunca foi o meu forte. Sempre detestei programar, quer fosse em Pascal, em C++ ou SQL. Nunca percebi para que é que um gestor industrial
precisava de aprender a programar. E confirmei que não era necessário, mas – há
sempre um mas – a arte de fazer algoritmos por vezes dá jeito. Em teoria, pelo
menos.
O PS
apresentou o seu algoritmo. Ainda não é um programa, é apenas um rudimento de
um programa. O que lá vem é da responsabilidade exclusiva do PS, não da
esquerda. Coisa que dificilmente está a ser entendida. Confundir o PS com a
esquerda é como confundir o Mosteiro dos Jerónimos com o Centro Cultural de
Belém só porque aparentemente partilham o mesmo espaço. As aparências iludem e
as iludências aparudem.
As iniciativas
que o PS decidiu apresentar são de atroz desilusão para quem olhava o partido
como uma alternativa à coligação que agora ocupa o lugar de governo do país. As
políticas são exactamente as mesmas, e dificilmente um socialista qualquer que
o seja pelos ideais reconhecerá qualquer das iniciativas como de cariz
socialista. Duas destas iniciativas (acabem lá com a palavra medidas, está mal
empregue) são particularmente significativas. A obrigatoriedade de obter uma
maioria qualificada de dois terços na AR para aprovar obras públicas (qual o
limite do valor da obra que determina esta aprovação?) não passa de uma ponte
para um primeiro pacto de regime com a coligação, um dos tais “consensos” de
que fala o presidente da República. PS com um olho no burro e outro no cigano,
e deixo à imaginação de cada um decidir quem será o burro e quem será o cigano,
mas penso que nem burros nem ciganos mereciam tal sorte.
A segunda
iniciativa que destaco é a intenção do PS, caso venha a ser governo, de
utilizar 1400 milhões do Fundo de Estabilização da Segurança Social para a
reabilitação urbana. Ora, estou farto disto, sinceramente! Já há muitos anos,
desde os malfadados governos do actual presidente da República, que não há
respeito pelo beneficiário. Mexe-se nos dinheiros descontados por entidades
patronais e trabalhadores para assegurar prestações sociais para os mais
diversos fins como se fosse dinheiro de impostos. Ainda recentemente, e pela mão da actual ministra das Finanças,
foram estes dinheiros absolutamente depenados em perdas com Credit Default
Swaps. Outros governos lançaram estes fundos na bolsa para salvar empresas e
fundear aquisições de empresas por outras empresas. Aquilo que foi criado para
apenas ser movimentado para pagar reformas e subsídios de desemprego, de forma
redistributiva, parece ser agora o dinheiro de bolso de qualquer governo. E se
fossem brincar com as pilinhas deles, era bem melhor. Com o meu dinheiro é que
acho mal. E se o PS acha muito bem mexer no último dos últimos dos dinheiros
dos reformados deste país, presentes e futuros, para novamente financiar meia
dúzia de amigos de grandes construtoras… Olhem, eu acho mal.
Muito mais
diz o programa do PS. Liberaliza ainda mais, à boa maneira liberal, o “mercado”
de trabalho, ignorando totalmente que desde que as leis do trabalho se
começaram a liberalizar, ainda no tempo do actual presidente da República,
nunca o desemprego parou de subir. Mas como o PS pretende mais emprego, penso
que deve querer seguir a política da coligação e arranjar emprego aos
portugueses, desde que seja no estrangeiro. Os cortes são para repor, mas de
forma gradual e se calhar. Eu até penso que devemos levar a expressão à letra e
que o PS deve querer repor cortes e não salários.
Por sua
vez, o PSD vai reagindo com a indignação habitual das suas gentes, sempre ao
lado dos bons usos e costumes, e dos pobrezinhos mas honrados. Quer o PSD que o
PS sujeite o seu programa à Unidade Técnica para que o povo português saiba que
o PS está a prometer flores e vai dar espinhos. Para um partido que foi eleito
com as promessas com que foi eleito, nenhuma delas cumpridas, e que nunca teve
um programa sujeito a qualquer escrutínio, digamos que é preciso ter não lata,
mas um grande bidão na cara. Talvez até um contentor do Porto de Leixões na
tromba não seja mal pensado. Mas o PSD aprende, e a coligação também… não é que
a ministra das Finanças até já adiou a apresentação de grande parte do programa
da coligação para… depois das eleições? Sim, é melhor não prometer nada, é até
melhor que nos passem um cheque em branco, porque o nosso trabalho fala por
nós. E fala. Não fala é o que imaginam. Mas a capacidade de muita gente de
descer à terra e ver a realidade miserável, ao nível do terceiro mundo, em que
se encontra este país não é existente. Até a Isabel Jonet, prevendo mudança de ares por
S.Bento, agora diz que se calhar a fome em Portugal é alarmante… Pensem nisto.
Outro
sinal do mais puro desnorte que grassa no governo (que já vi que partilham com
o PS) é o facto de pôr a ministra das Finanças a falar de um assunto com que
nada tem a ver: Segurança Social. A esfera de decisão de uma ministra das
Finanças, em Portugal, pode incidir sobre tudo e mais alguma coisa nas decisões
do Governo, menos numa: Segurança Social. Os fundos da Segurança Social não
fazem tecnicamente e deviam nunca fazer parte do que gere qualquer ministério.
A Segurança Social gere os fundos de forma redistributiva, nada mais. Mas
sabemos que, tristemente, se faltar dinheiro em qualquer lado, a Segurança
Social cobre. Além de imoral é, pela Lei vigente, ilegal. Mas ninguém vai
preso, e quem se arrisca a perder milhões da Segurança Social no casino
financeiro arrisca-se também a ser ministra das Finanças.
Em suma: mais do mesmo. Entre PS e PSD a
diferença é uma letra, o D. O que quer dizer o D? Não sei, quer-me parecer que
PSD deve querer dizer Partido do Seu Dinheiro e PS deve querer dizer Partido
dos Seus. Quanto ao CDS, bem, já há muito que não existe, ou pensavam de outra
forma? A extrema direita portuguesa foi englobada pelo PSD, nem faz sentido
haver um partido de extrema direita em Portugal… Extrema direita no sentido
parlamentar, bem entendido…
Embora eu não concorde com tudo o que é dito pelo Dr. Medina Carreira, há uma coisa que ele disse com que eu concordo em absoluto:
ResponderEliminarOs partidos são bordeis - acho que ele só utilizou a expressão "casas de mulheres de má vida" mas tb deve ter sido porque dizer casas de putas ficava mal na televisão.
Temos os políticos que são as putas que se alinham na parede para que os bancos, as grandes empresas, etc... (acho que não vale a pena estar aqui exaustivamente a dizer quem são os clientes, que todos já sabemos) possam escolher à vontade. Depois paga-se-lhes e eles fazem o serviço, dão uma comissão à casa e ficam com o resto para eles.
E este é só o começo dos problemas. Neste momento não acredito que algum governo em Portugal, a não ser que adopte uma linha de rotura com com todas as instituições internacionais, consiga ter autonomia para implementar seja o que for, uma vez que, independentemente da vontade dos constituintes, a verdade é que grandes parcelas da nossa soberania já foram transferidas para fora daqui. O governo Português é uma espécie de governo da Madeira. Existe, toma algumas decisões, mas tem que se sujeitar às decisões que o resto do país toma, quer concorde, quer não. Somos portanto um governo de uma região semi-autonoma da Europa sem as regalias de podermos ter transferência de fundos do governo central quando as coisas não batem bem, uma vez que é precisamente ao centro que vão parar todos os tostões que ganhamos.
Quer isto dizer que, no fundo, os partidos tornaram-se irrelevantes. Mais coisa, menos coisa, os programas vão ser os mesmos, havendo, quanto muito, pequenas alterações de pormenor que mais não são que ossitos sem carne atiradas aos cachorros, que somos nós, e que ficamos tão entretidos a roer o osso que nem vemos que a carne já se foi...
A principal questão que se me colocou há uma carrada de anos atrás foi: Se são irrelevantes, porquê validá-los? Se são irrelevantes, porquê votar neles? Se os votos não vão fazer nada senão dar alguma ilusão de que ainda temos uma palavra a dizer, porquê usá-lo?
Acho que, simplesmente, temos medo de chamar as coisas pelos nomes. Não temos uma democracia, temos uma ditadura disfarçada. Deixam-nos dizer o que queremos, desde que não perturbemos demais o sistema, para nos poderem roubar, e se alguém reclama ouve-se um "mas foi a vontade da maioria, portanto temos legitimidade!". Será que "a maioria" queria aquilo que se passou nos últimos 4 anos?
Falta à classe politica Portuguesa, mais do que a honestidade pura e simples, honestidade intelectual!
E aquilo que falta mesmo a este país era um novo Marquês de Pombal. Mas um que, em vez de carregar um barco com Jesuítas, carregasse um barco com a classe política e o afundasse bem, bem longe (que, chatos como eles são ainda conseguiam voltar a nado, xiça!)!
:)
A ler atentamente último texto de Jorge Bateira desta sexta no jornal i...E o pior do PS é que não é dito... Baixar TSU? Contrato único? Subsídio para quem tenha ordenado menor que SMN.? Isto podia ser defendido pelo PS(D)...e algumas coisas até já o foram... estamos lixados com f durante muitos anos...
ResponderEliminarA mania que o povo português tem de votar mal!!!
ResponderEliminarBeijos, Cirrus. :)
Olá Malena, passei por aqui para 'ver' o teu novo Cirrus Minor ( novo nome do blog? )
ResponderEliminarBom fim-de-semana ... Beijos ou abraços, conforme a preferência :)