Ilustração Marco Joel Santos |
Confesso
que o meu nível de desencanto com os resultados eleitorais foi tal que me
mantive apenas dormente e sem dar grandes opiniões sobre as deambulações de
Passos e Costa para formarem um governo. Mas tenho uma opinião. E é apenas uma
opinião e é minha.
Enquadrando
a opinião, tenho de começar por dizer que sou comunista. Sou marxista, embora
pouco leninista. Votei nesta eleição como já votei em muitas eleições, na
Coligação Democrática Unitária, liderada, como se sabe, pelo Partido Comunista
Português. Não sou comunista porque é moda, nem porque me convém nem porque sou
“comodista e não comunista”, como dizem algumas bestas fascistas que por aí
andam. Sou marxista porque li Smith, li Landes, li Marx. E preferi, de longe,
Marx. Por isso, sou comunista por convicção ideológica e não por qualquer
capricho momentâneo da política portuguesa ou comportamento de cata-vento. Este
é o enquadramento pessoal.
Quanto ao
enquadramento institucional, lembrem-se das palavras de Cavaco. Só daria posse
a um governo maioritário. São palavras dele, não estou a inventar nada. SÓ dá
posse a um governo estável e maioritário – relembro. Tudo o resto é o que
conhecemos.
Antes de
mais, quem ganhou as eleições foi quem teve mais votos. A coligação Portugal à
Frente, que deve ser chamada a formar governo (se consegue ou não formar
governo maioritário, logo se verá). Quem perdeu as eleições foram todos os
outros. Claro que isto dito desta forma parece a coisa mais simples do mundo. Mas
não é. Na verdade, a coligação Portugal à Frente perdeu uma maioria clara que
detinha antes das eleições (52%) e detém agora cerca de 38% dos votos e menos uma
catrefada de deputados. O PS foi o principal derrotado das eleições, que seriam
as mais fáceis de vencer desde sempre em Portugal. Não conseguiu vencer nem
chegar perto sequer e, aliás, perderia para o PSD se este concorresse
isoladamente. Mesmo assim, ganhou votos e deputados face às eleições de há
quatro anos e meio. O BE perdeu as eleições mas duplicou tudo o que tinha ganho
(ou perdido) há quatro anos. Ameaça tornar-se um partido de verdadeira vocação
governativa. O partido em que votei manteve os deputados que já tinha e ganhou
meia dúzia de votos.
Perante
este cenário, o que fazer? Bem, Cavaco não pode dar posse a um governo PaF.
Devemos lembrar-nos que para se ser mais honesto que Cavaco tem de se nascer
duas vezes. Se der posse a um governo PaF, fica afinal provado que Cavaco é
apenas mais um desonesto, um mentiroso como muitos que grassam no seu partido,
o BPN, ou outros partidos. Mas pode Cavaco dar posse a um governo de esquerda? Na
minha opinião, pode. A um GOVERNO de esquerda, não a um governo do PS com
acordos à esquerda. Isso seria o mesmo que dizer que hoje temos governo, amanhã
pode ser que não. Lembram-se do irrevogável Portas? Pois, pode acontecer de
novo, mas desta vez quem roer a corda não precisa de não ser irrevogável, pois
não precisa, se não estiver no Governo, de ter um cargo mais importante do que
o “daquela vaca loura arrogante de merda”. E neste caso pode não ser nem uma vaca
nem loura nem arrogante de merda. Basta uma das três.
O que
vai acontecer? Na minha opinião, Cavaco vai dar posse ao governo minoritário de
Passos Coelho. O quê? Faltar com a palavra? Quem, Cavaco? Pois, isso da palavra
era antes das eleições e antes de saber que o Costa afinal é um bocado de
esquerda a mais para os gostos cavaquistas. É que a ideia cavacóide era a de
empossar um governo PSD/CDS/PS. Que é lá isso de BE e CDU?! A seguir, o governo
cai no Parlamento, por força da maioria contra de toda a esquerda. Marcam-se
novas eleições, ou agora ou daqui a seis meses, sem problemas. E Cavaco espera
dar a maioria absoluta a Passos, com a conivência do burro povo português, que
sempre teve e sempre vai ter peninha dos “que querem fazer mas não os deixam”.
Vide Sá Carneiro, o próprio Cavaco ou até, em larga medida, Guterres e Sócrates…
Ora, a
esquerda, perante este caminho de destruição da validade eleitoral por parte da
presidência da República, só pode avançar com a sua proposta de governo, não
com uma proposta de governo PS apoiado pela esquerda, como já disse. Isto
porque sabe que o eleitorado premeia quem cai com maiorias absolutas,
principalmente o eleitorado mais idoso. E, adivinhe-se, há bué de idosos em
Portugal. Só que Cavaco não dará nunca posse a um governo de esquerda que
integre elementos do PCP. Do BE, ainda vá que não vá… Agora do PCP, que é lá
isso?
Os argumentos
da direita portuguesa contra a presença do PCP num governo de esquerda são do
mais engraçado que há. Primeiro, não são um partido democrático! Claro que não,
são comunistas. Aliás, devem lembrar-se dessa grande comunista Manuela Ferreira
Leite, a que ameaçou suspender a democracia por seis meses. Provado. Depois, os
comunistas querem é o poleiro! Estranho, para um partido que foi acusado vezes
sem conta de nunca assumir responsabilidades de governação… Aliás, acho
peregrino que se diga que “o que Costa quer é ser Primeiro-Ministro”. Passos
não quer ser Primeiro-Ministro. Nem sequer concorreram às eleições, nem nada.
Além disso, os comunistas dão injecções atrás das orelhas aos velhinhos para
eles morrerem. Os comunistas, toda a gente sabe, comem criancinhas ao
pequeno-almoço! Ao almoço comem as mães das criancinhas e ao jantar, para não
ser indigesto, comem os pais. Depois, se os comunistas estiverem no governo,
com quem vão protestar os sindicatos? Ora, a preocupação com os direitos
sindicais e laborais dos trabalhadores portugueses, por parte da direita,
toca-me profundamente. Descobriram que afinal há sindicatos em Portugal!
Sabem que
mais? O Cavaco vai ter de engolir o sapo. Faça o que fizer, vai ter ou de
voltar com a palavra atrás ou simplesmente empossar os inimigos de estado do
Cavaquistão no governo. Ou simplesmente, terceira opção, fazer o que faz
melhor, ou seja, uma ponta de um corno e o Marcelo que feche a porta, pois
depois de ter assassinado o Rio, não lhe falta coragem. Quanto a mim, chega de
cavaqueira. Já tenho uma criancinha no bucho, comi uma mãe pelo lanche e agora
vou para a sobremesa comer um avô a quem injectei creolina por baixo do sovaco.
Caro cirrus também eu votei CDU ( o meu blog não esconde isso), no entanto tenho algumas questões que importa refletir: é possível uma governação à esquerda com o tratado orçamental em vigor ( que o PS quer cumprir...), com as regras da moeda única, com todo este espartilho dos mercados? Dificilmente. Mas é possível amenizar a violência aplicada nos impostos, no IRS, no IVA ( da restauração e não só), ou seja criar um ambiente menos doentio. Para isso o PS de voltar à social democracia ( que largou com Sócrates) , e a CDU e BE vão ter de adiar algumas ideias, para evitar um regresso da direita, ou seja assumir que não é possível tudo e já...Mas fica outra questão? Dentro do grupo parlamentar do PS não existirão 20 e tal deputados prontos fazerem abstenções" violentas" e fazer passar um Governo PSD/CDS de novo? Ou até nove deputados que votem a favor da constituição de Governo PSD/CDS? Fica a dúvida...Quanto a Cavaco será igual a Cavaco...
ResponderEliminarNão deixa de ser curioso deixar o meu comentário já com o Costa como primeiro-ministro. Foi uma prova de como a sede de poder consome tudo, desde a lógica até à vergonha. E estou à vontade para falar, o meu voto foi para o PAN.
ResponderEliminarBem verdade. Até o Passos Coelho queria ser primeiro-ministro quando a maior parte dos portugueses o quer morto...
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