Era manhã cedo, e ele olhou e viu o homem aproximar-se.
O homem que todos os dias, desde que ele nascera, lhe vinha dar de comer.
Era o mesmo homem que para além de o alimentar, lhe limpava a pocilga onde chafurdava todo o dia, lhe mudava a palha onde se deitava, e que lhe dava de beber sem nunca lhe pedir nada em troca.
Ele nunca se interrogou porque é que tinha um tratamento diferente do dos vizinhos.
Às vacas, o homem também alimentava, limpava e mudava a palha, mas em troca elas davam-lhe leite todos os dias.
Dos cavalos, o homem também tratava, mas em troca eles puxavam-lhe a carroça e as alfaias agrícolas.
As galinhas pagavam o sustento com ovos diários.
Mas a ele, porco, o homem nunca pediu nada. E cada dia lhe dava mais comida. E, há medida que o tempo passava, era maior o fardo de palha com que lhe aconchegava a cama. E cada vez mais era a porcaria que ele porco fazia, e ele, homem limpava. E sempre sem nunca lhe pedir nada em troca.
E ele, porco, não se preocupava. Comia, dormia, chafurdava e engordava. Ele era melhor que os vizinhos. Dele, o homem, gostava mais que das vacas, que dos cavalos, que das galinhas. A ele não lhe pedia nada em troca. E assim foi sempre, e assim deveria ser sempre, porque assim, para ele, porco, é que devia ser e estava bem assim.
Hoje, o homem aproximava-se, mas vinha diferente.
A roupa não era a habitual, nas mãos não trazia a lata com a comida, nem nos braços vinha a palha e não lhe viu a enxada com que costumava limpar-lhe a pocilga.
Hoje, o homem sorria e abriu-lhe a porta da pocilga.
E ele, saiu.
Correu, e viu-se encurralado por miúdos que o tentavam apanhar. Gostou da brincadeira. Gostou das gargalhadas.
Mas, depois veio outra vez o homem, e trazia outros homens, e encurralaram-no.
E ele assustou-se.
E ataram-lhe as patas, e pegaram nele, em braços (os mesmos que lhe deram de comer e lhe limparam a pocilga e lhe mudaram a palha), e deitaram-no num banco de madeira.
E ele teve medo.
E depois veio outro homem, e ele viu a faca enorme que lhe brilhava na mão.
E depois viu a faca a aproximar-se do seu couro duro.
E ele entrou em pânico. E gritou. Gritou alto, mas ninguém fez caso dos seus gritos.
E a faca entrou-lhe no couro, passou-lhe a camada de gordura (aquela que ele acumulou desde que nascera e o homem o alimentara), e ele sentiu quando lhe chegou ao coração e o perfurou...
... E foi só nessa altura que ele percebeu, porque é que durante todo o tempo em que foi vivo o homem lhe limpou a pocilga, lhe mudou a palha, o alimento e o engordou, e sem nunca lhe pedir nada em troca... foi para aquele dia... ele valia muito mais depois de morto do que valeu enquanto foi vivo.
Era dia de festa na aldeia... era dia de matança do porco...
(À Malena calharam os cães, a mim calharam-me os porcos)
Todos cães, todos porcos... :(
ResponderEliminarSó faltam as ovelhas...
ResponderEliminargostei dos posts. dos dois aliás...
ResponderEliminarE eu gostei que gostasses, Anna... :)
ResponderEliminarQue raio... Um gajo deixa o tasco ao cuidado de duas respeitáveis senhoras... e afinal, mata-se logo o porco!...
ResponderEliminarNão são duas senhoras!! São duas mulheres do Norte, carago! ;)
ResponderEliminarLembrei-me daquela do
ResponderEliminar-"Compadre,faço anos de casado...se calhar vou matar um porco."
-"...e que culpa tem o porco,compadre?"
prontos, é isso.;)
duas mulheres fantásticas do nuorte XD
ResponderEliminarEusébio, tens o tasco bem entregue XD
Cirrus, eu avisei-te que ainda te ias arrepender por me teres dado a chave do tasco, não avisei?!... agora aguenta-te à bronca... é isso ou mudares a fechadura :D
ResponderEliminarBem, não me levem a sanita, se faz favor.
ResponderEliminarAlguém falou em sanita? :P
ResponderEliminarJá que me levam tudo da casa, deixem-me um canto onde possa fazer merda. Normalmente é a sanita. Tens mais alguma ideia em mente?
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