Tenho a felicidade ou infelicidade, dependendo do ponto
de vista de cada um, de ter uma actividade profissional que requer frequentes
viagens até diversos pontos do país, desde a Guarda até Melgaço. É sempre
difícil estar longe da família dois ou três dias por semana, passar noites
fora, por esses hotéis fora. Mas tem as suas vantagens. Escolher restaurantes,
comer bem por aí, conhecer as paisagens extasiantes de Portugal. E conhecer as
suas gentes. E esta era a melhor parte, não vai há muito tempo.
Mas a verdade é que isso já não me dá muito prazer
actualmente. Particularmente em terras do nosso interior, belíssimo, como a
região transmontana ou beirã, conhecer as gentes já não dá o prazer que
costumava dar. Onde antes encontrava uma alegria muito própria, encontro hoje
uma tristeza latente. Onde havia actividade, há letargia. Onde havia orgulho,
encontro vergonha. Há concelhos, por onde passo, que o desemprego atinge já
números assustadores, perto dos 30%. Há uma miséria muito envergonhada por esse
país fora.
Evidentemente, estas regiões têm, ainda assim, uma
vantagem, no meio de tanto infortúnio, relativamente às grandes cidades. Têm a
agricultura. Não aquela que faz mexer o país, a actividade económica, a que dá
emprego. Essa está mais parada que nunca e muitos não sabem se algum dia
voltarão a fazê-la. Falo da agricultura da paralisia do país, a de
subsistência. Aquela que provê um pouco de quem dela trata, mas que não traz
nada ao país em termos económicos. E é uma vantagem porquê? Porque se este
flagelo se abater sobre as grandes cidades, será a catástrofe.
Vem isto a propósito da notícia que dá conta de que o PSD
pretende que o Banco de Portugal – essa extraordinária instituição que
representou até não há muito tempo o cúmulo da competência e da constância
socialista – venha a medir a felicidade dos portugueses, em contraponto a
indicadores como o PIB. Seria um FIB – Felicidade Interna Bruta. Não, não é
brincadeira. Vem na edição digital do semanário Económico. Aliás, não é sequer
passível de brincadeira. Há, de facto, países que medem coisas parecidas com a
felicidade dos seus cidadãos, dentro dos limites técnicos que uma questão tão
subjectiva proporciona.
Eu compreendo a necessidade destas medições para o PSD.
Aliás, provar que a população portuguesa é feliz devia ser um dos objectivos de
qualquer governo deste país. O problema é que os escoceses, por exemplo, também
sempre pretenderam tirar medidas ao monstro do Loch Ness. Mas a verdade é que
nunca conseguiram. Por uma razão muito simples: o monstro não existe. Ora,
neste momento, ordenar ao Banco de Portugal para avaliar a felicidade dos
portugueses é tarefa hercúlea para não dizer impossível. Medir aquilo que não
existe é difícil. Claro que se pode alegar que se pode medir até que ponto não
existe, ou simplesmente se existe muito pouco. Sim, provavelmente se fizerem os
inquéritos às seis da manhã à porta das casas de meninas do Pinto da Costa,
talvez encontrem pessoas felizes. Mas fiquem-se pelos homens, deixem passar as
meninas. Ou olhando para a carteira, é melhor entrevistar as meninas e deixar
os homens.
Por outro lado, no circo já se conseguem amestrar
elefantes. Mas preguiças é outra história. Podem até amestrar-se, mas darem
sinais disso é outra história. Logo assim, contactar o Banco de Portugal para fazer
uma coisa destas… Será que os senhores lá do sítio sabem fazer isto? Será que
querem fazer isto? Será que existem, como o monstro do Loch Ness…? Mas, mesmo
na eventualidade remota de o Banco de Portugal querer fazer isto, não há ninguém
mais capaz para o fazer? Sei lá, o INE, ou a empresa que mede as sondagens da
RTP? Alguém que perceba um pouco do assunto. Podia até ser o Conselho de
Disciplina da Federação Portuguesa de Matraquilhos.
Eu penso cá para mim que há coisas que são mais
facilmente mensuráveis por entidades mais credíveis que o Banco de Portugal…
podemos eventualmente procurar outros indicadores relativos à felicidade em
Portugal. Como, por exemplo, número de famílias cujos filhos trabalham em
quintas de outrem por comida. Só comida, tabaco já é 13ºmês. É que existem… Ou
então, que tal o número de tractores parados por esse país fora, porque os seus
donos acham que não compensa dar produtos às cadeias de distribuição assim só
por generosidade, como esmola? Ou ainda o número de transportadores que já
fecharam as suas portas por não terem dinheiro para pagar combustíveis?
Bem, eu penso que a melhor hipótese para um indicador
engraçado para o Banco de Portugal medir, mas também pode ser o Paco Bandeira,
seria o seguinte: Número de portugueses que gostariam de acertar o passo com um
barrote aos membros do governo, e que não tendo dinheiro para uma viagem
organizada a Paris para acertar o passo com um barrote a membros de outros
governos de Portugal, quisessem mesmo assim acertar o passo com um barrote aos
membros do governo que estivesse mais a jeito, ou seja, os membros do governo a
quem eventualmente já tivessem acertado o passo com um barrote. Não esquecer de
informar que acertar o passo ao ocupante de Belém com um barrote não conduz a
qualquer tipo de resultado, pois o homem amanhã já não se lembra de nada. O que
não quer dizer que se lhe não acertasse o passo com um barrote na mesma. Só
para aumentar a felicidade.
Para quê medir o FIB do País?! Não é preciso pagar para se saber que seria mais baixo o FIB que o PIB... mas umas barrotadas bem acertadas nuns quantos (muitos) olha que eram capaz de contribuir mais para o FIB que as exportações para o PIB...
ResponderEliminarMedir o que é menos mensurável pode levar a que haja mais margem para erro do que no caso do PIB. Pode até fazer com que se transmita um falso sentimento de felicidade, parecido com aquele que as vacas dos Açores devem ter sentido quando sorriram para Cavaco! É que elas devem ter sorrido tanto quanto a maioria dos portugueses o faz hoje em dia... Nada!
ResponderEliminarE dói saber que são os mais humildes os primeiros a pagar a factura desta insanidade política!
podem medir a felicidade, mas o melhor é medirem a infelicidade que esta politica está a causar. infelicidade, apatia, desmoralização, os chicagos boys sabem que esta politica leva isso mesmo... mas cuidado que muita frustação junta vai ser complicado gerir com o passar do tempo!
ResponderEliminarNão costumo ver notícias, mas até eu sei que a empresa das sondagens televisivas não seria muito fiável...
ResponderEliminarMas estou com a Pronúncia: se medirem depois das marretadas, o FIB não só existirá como com toda a certeza será bem alto.
A prova disso foram os incidentes no PD no dia 1: a malta está desejosa de acertar o passo a alguém, e se for a quem de direito, melhor!
Mas agora a sério: que realmente se andou completamente para trás e ter terra voltou a ser uma forma de (fraca) subsistência, lá isso...
Bom fim de semana com a família Cirrus!
E objectivo da sondagem é...?
ResponderEliminarPronúncia, não tenho quaisquer dúvidas que a técnica do barrote poderia levantar o astral ao pessoal.
ResponderEliminarMalena, nóa já sabíamos, sinceramente, que seriam os mais fracos a sofrer com este governo. Mas muitos deles votaram neste governo. Muitos deles têm aquilo que merecem.
ResponderEliminarSDaVeiga, penso que este é o governo dos retrocessos civilizacionais.
ResponderEliminarNoya, deve ser o de criar oportunidades, não sei bem...
ResponderEliminarTripalio, camarada, não vejo a hora de a acumulação de frustração transbordar em descontentamento. Os gregos já começaram há muito tempo!
ResponderEliminarA nossa felicidade interna bruta deve estar no auge, agora que o desemprego é considerado uma coisa positiva e uma oportunidade. Nem caibo em mim de felicidade!
ResponderEliminarSara, tu foste das felizardas que desfrutou dessa imensa oportunidade...
ResponderEliminarOh Cirrus, quando vier aqui para o Litoral Alentejano, diga qualquer coisa que vamos beber uma imperial...
ResponderEliminarSalvador, terei todo o gosto!!
ResponderEliminarCirrus, não são retrocessos, são é avanços na direcção errada, na direcção da "Idiotacracia plena"!
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=pEZrHPo_3I0&feature=share
SDaVeiga, talvez nós lhe chamemos idiotacracia. Mas que tudo isto tem um propósito bem definido... Cheira-me.
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