Saída
da II Guerra Mundial, a Europa sonhou erguer-se em uníssono, e esse sonho foi
materializado no que deu origem ao que hoje temos, a União Europeia. Um espaço
de democracia, de progresso, de liberdade. O sonho morreu. Não existe mais quem
sonhe com semelhante espaço. A Europa tornou-se um emaranhado de burocracias
enfadonhas, um aglomerado de instituições impotentes e ridículas, um espaço de
muitos deveres e muito poucos direitos. Apenas o direito do capital permanece
intocado, tudo o resto são regras e definições, leis e deveres.
O
facto de as leis eleitorais portuguesas não permitirem que se faça campanha
eleitoral no dia e nas 24 horas antecedentes a eleições não diz nada aos
senhores da Europa. Certo é que o FMI, e particularmente a senhora à la
Lagardére, não tem preocupações políticas ou democratas, até porque desconhece
por completo ambos os conceitos. Mas tanto o Presidente da Comissão Europeia
como o Governador do Banco central Europeu deviam ter um pouco mais de atenção
à gravíssima ingerência que vão cometer no dia das eleições europeias, ao
atenderem uma cerimónia / conferência em Portugal. De muito mau gosto, e embora
já estejamos habituados a coisas deste género - e às vezes piores - da parte do
imprestável cherne, o hábito não desculpa o indesculpável.
Mas
das ingerências europeias havia ainda muito mais para dizer. O exemplo mais
despudorado e completamente fora de tudo o que é politicamente aceitável foi a
actuação europeia na crise ucraniana. Acusar a Rússia de ingerência na Ucrânia,
quando são dirigentes europeus que aparecem nas manifestações pró-fascistas que
levaram os nazis ao governo daquele país, como a tal senhora Ashton e um tal de
Van Roto, ou Rompido ou o catano, alegremente se manifestando no meio da praça
em Kiev como se estivessem num concerto rock, é no mínimo uma originalidade
política.
Este
problema ucraniano mostra-nos até que ponto a nossa liberdade para pensar está
condicionada no espaço europeu. Uma crise que começou por culpa da Europa, e da
sua ganância e necessidade do gás russo que passa pela Ucrânia para os lares
alemães foi de repente transformada unanimemente pela imprensa europeia numa
investida russa para começar a terceira guerra mundial. A Europa está manietada
pela Alemanha, sabemos disso. E a Alemanha é um país profundamente marcado pela
sua história recente – até porque não tem outra para contar. Outros mais
directos diriam que são um país de ressabiados. Não vou tão longe. No decorrer
da II Guerra Mundial, foi na Rússia, ali até perto da Ucrânia, que a Alemanha
hitleriana perdeu irremediavelmente. Vencida pela impensável política de carne
para canhão de Estaline, mas sobretudo pelo seu maior general, o Gen. Inverno.
Não deixa de ser engraçado que será pelo gás que mais uma crise começa,
precisamente para evitar o mesmo Gen. Inverno.
Putin
e a sua pseudo-democracia, tal como o seu braço ucraniano que era o governo
anterior da Ucrânia não me deixam confortável, de todo, para lamentar a queda
desse governo. O que me deixa angustiado é a ascensão dos nazis ao governo
ucraniano – e com apoio da Alemanha Europa. Mais ainda me sinto
incrédulo quando tanto a Europa como os EUA instam a Rússia a não interferir na
condução dos assuntos políticos ucranianos, quando despudoradamente se sentam à
mesma mesa dos nazis e com eles assinam acordos. Ora, quais os interesses
russos na Ucrânia? A passagem do gás, evidentemente. Mas também 50% da
população, que é russa, quer étnica quer politicamente. Quais os interesses
europeus na Ucrânia? População não é nenhuma, pois mesmo os chamados
pró-ocidentais são eslavos. Económicos? Sim, Muitos. O gás, sem dúvida, mas
principalmente, e é uma pena que ninguém saiba ver isto, a mão-de-obra barata
às portas da Europa Central. Quem pagará tudo isto? Isso mesmo, os “periféricos”.
E nós somos uma cambada de ursos. Mas não russos, pois se o fôssemos há muito
que outros galos cantariam na Europa – para o bem ou para o mal. Mas nazis não
seriam, como são agora. Como serão no dia das eleições europeias, algures em Portugal.
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