segunda-feira, 5 de maio de 2014

TROIKA, ATÉ JÁ

Texto para a ilustração de Marco Joel Santos com o mesmo nome original.

            Portugal, 2014. O fim do pesadelo, a refundação do país sobre os escombros. Um raio de sol que espreita por entre as sombrias nuvens de tempestade deixa adivinhar a bonança. Uma terra de lendas levanta os olhos para o futuro, ciente dos esforços a que foi obrigada. Uma réstia de esperança, um amanhã melhor, um reflorescer de primavera tardia que de tanto tardar tanto desesperou.
            Emergem pois, os salvadores da pátria. Os que acolheram os vampiros em sua casa, os que antes se diziam seus aliados, abrem agora garrafas de espumante com a sua ida. Pois que se os vampiros se aprestaram em beber o sangue dos desafortunados habitantes da outrora excelsa terra, os que os acolheram depressa se prontificaram a roer-lhes os ossos.
            Os ossos estão roídos, o sangue já lá vai. Os vampiros terminaram a sua missão nesta terra. É hora daqueles que os acolheram lhes voltarem as costas, de os apressarem na saída, não vão os vampiros encontrar uma qualquer jugular virgem de esmalte dentário. Os habitantes da terra rejubilam, exultam, erguem os seus esqueletos ensanguentados e esperam pela bonança. Pelos tempos venturosos que se aproximam, sob o jugo daqueles que um dia trouxeram os vampiros à terra.
            “Não morreram, pois não? Quer dizer, pelo menos a maioria não morreu, pois não?” – Perguntaram, alto e bom som. E o povo rejubilou, e aclamou e afirmou que ainda estava vivo e esperançoso.
            “Ainda estão vivos, ou não?”. E o povo aclamava.
            “Não vos roemos os ossos até ao tutano, pois não?”. E o povo exultava.
            “Mas ainda a noite é uma criança, e esse tutano tem tão bom aspecto. E os vampiros não voltarão a beber-vos o sangue, a menos que vos roamos os ossos até ao tutano…!”


2 comentários:

  1. Mas ainda há ossos? Só se forem as falanginhas, Cirrus! Até os ossos foram quase todos!

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