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IDF ataca de novo a Faixa de Gaza. De novo, não é facto insólito. As posições
que vejo por aí espelhadas em textos e manifestos e comentários são extremadas.
Nada de novo igualmente. No terreno, morrem palestinianos – o que,
forçosamente, não é nada de novo. Porquê então tanta ênfase na situação? Bem,
até nisto se extremam posições. Muitos acusam os que choram pela net a morte
dos palestinianos de quererem desviar atenções do verdadeiro estado calamitoso
em que se encontra uma certa esquerda portuguesa. O que, para variar, não é
nada de novo – nem mentira nenhuma dizer que assim se encontra.
Há
muita gente que se recusa a pensar um pouco sobre o assunto, muita gente atira
pedras a um lado e ao outro, outros tantos ainda preferem simplesmente ignorar
o que se passa com os “monhés” ou com os “terroristas”. E, no entanto, na Faixa
de Gaza, morre-se de novo.
Devo
dizer que, apesar de conhecer razoavelmente a região que se agora se designa
como Médio Oriente, nunca estive na Faixa de Gaza. Não posso falar com
propriedade de entendido do que se passa naquele território específico. Conheço
gente de ambos os lados da barricada, mais árabes que judeus. Conheço os países
em volta da Palestina, e já a vi, ainda que apenas do outro lado do Mar Morto
ou do alto do “Mosteiro” de Petra. Mas senti a Palestina profundamente. E quem
não sente, quando a vê? A Palestina no seu todo, árabes e judeus.
Muitos
se apressam a condenar Israel, esquecendo-se de condenar o Hamas. Outros apressam-se
a condenar apenas o Hamas, esquecendo o Estado de Israel. E, no entanto, aqui
chegados, são poucos os que já sentiram a Palestina. São poucos os que entendem
o que realmente se passa naquela terra. Mais que os motivos, são pouco
conhecidos, ou simplesmente ignorados, os sentimentos dentro daquela terra.
Costuma-se
dizer que o amor é um sentimento difícil de explicar. E que o ódio é bem mais
fácil de explicar que o amor. Talvez seja por isso que se teima em olhar para um
problema gerado por motivos antigos que quase já se encontram esquecidos, mas
alimentado pelo ódio recíproco, como um problema unicamente de sofrimento de um
lado ou do outro. A situação é bem mais complicada. E ambas as partes
participam no festival de ódio que alimenta esta guerra. E quanto mais depressa
percebermos isso, como um todo, mais depressa poderemos vislumbrar uma solução.
E só depois poderemos tratar dos poderosos interesses económicos e financeiros
por detrás dela. Os motivos, afinal. Os tais que até já quase estão esquecidos.
Na Palestina. Por cá não.
No
tempo do Antigo Egipto, os palestinianos, designados genericamente pelos
egípcios como “asiáticos” e mais tarde pelos hebreus como “Filisteus”, habitavam
uma terra chamada Levante, ou Canaan, onde a principal divindade venerada se
chamava Ba’al. O mesmo Baal da Bíblia, que acabou por ser conotado com Satanás,
o Diabo. Gaza é mesmo a Faixa do Diabo. E hoje continua a ser igual, com uns a
rezarem a Javé e outros, aparentemente, ao Diabo. Uns pensando que estão certos
e que os outros estão errados. E nunca se deram conta que estão todos errados.
Gostei muito do texto, sem fanatismos.
ResponderEliminarÉ difícil ter uma visão clata e distanciada.
ResponderEliminarObrigada pela tua!
Malena
Concordo com o que foi dito. É importante que haja quem escreva sobre o assunto sem assumir uma posição extrema.
EliminarBeijinhos Marianos, Cirrus!
Gosto demasiado daquela terra para lhe desejar mal.
Eliminarem 2009, uma equipa de jornalistas Espanhois (talvez da esquerda não sei) fez este documentário, deu-me que pensar na altura.
ResponderEliminarhttp://youtu.be/5hJWHimNToI
A posição expressa no texto é muito poética, mas não passa disso mesmo... Este conflito baseia-se num facto que o torna insanável à partida: desde o início que um dos lados luta pela sobrevivência, e o outro pelo puro extermínio do adversário. Enquanto esta mentalidade não se alterar, não será possível ter palestinianos a viver na palestina e judeus a viver na judeia, e é só nisto que, aparentemente, partilho das suas ideias poéticas, já que não será de esperar ver - por exemplo - os palestinianos a viver em Marte e os judeus em Vesúvio...
ResponderEliminarE é melhor ficar-me por aqui, porque no que concerne à avaliação das duas sociedades, não consigo ser hipócrita e politicamente correcto a ponto de entender como razoável que uma delas trate metade dos seus membros como animais, embora reconheça que nisso não estão sózinhos: basta ver o que se passa na Índia. Mas isto deve ser um defeito meu que resulta de ter três filhas...
José
José, a minha posição é tudo menos poética. Poética é a posição de um lado e do outro, que pensam que simplesmente se resolverá a situação pela derrota militar do outro lado. Acontece que não faço menção ao que os une, mas sim ao que os separa - o ódio. O ódio não é poético. Só quando se aperceberem que já apenas lutam por ódio, cego e simples, é que poderão eventualmente consertar uma situação. Até lá, e enquanto houver alguém que entenda que eles viverão felizes para sempre na mesma terra... Isso sim, é poético...
EliminarOlá Cirrus,
EliminarSe entende que não é possível viverem felizes para sempre na mesma terra, assuma-o sem rodeios e declare que na sua opinião os judeus estão lá a mais, e sem ambiguidades indique para onde eles devem ir.
Obrigado pelo espaço
José
Sem rodeios??? Mas não foi o que fiz? Bem, mas se quiser posso fazer-lhe a vontade. Não creio, sinceramente, na solução dos dois estados. Acredito que um dos povos terá de ser deslocado, mais tarde ou mais cedo, e acredito, sinceramente, que mais depressa será deslocado o povo palestiniano. Por uma razão simples: tem sempre para onde ir, não é difícil imaginar um êxodo (onde é que já ouvi esta palavra?) para o Egipto ou Jordânia. Já aos judeus é mais difícil prometer uma terra, porque na verdade, até os seus pseudo-defensores se esquecem que o povo judeu foi expulso de todos os países ocidentais no passado. Por isso são amigos. Bem, não só por isso, evidente.
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