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Aí vem mais uma saraivada de impostos. Nada de novo. Sempre que fala o “soninho”, sabemos que aí vem mais uma saraivada de impostos. Recordo com nostalgia os dias de campanha, em que tantas soluções engenhosas eram aventadas para resolver a crise, não sendo nunca necessário subir os impostos. Eles preferiam subir o IVA ou cortar os pulsos a subir os impostos sobre os rendimentos do trabalho, eles achavam que cortar subsídios de Natal era uma grande parvoíce, eles achavam que se deviam cortar os custos supérfluos do Estado. Afinal, subiram IVA, IRS, cortaram o subsídio, tardam a dizer em que vão cortar e ainda por cima têm os pulsos intactos e com bons relógios a enfeitar.
A ideia de Buffet, um daqueles super bilionários americanos, de que a sua classe devia pagar mais impostos nunca me entusiasmou por aí além. Talvez porque já cá ando há quase quatro décadas, e embora me sinta cada vez mais jovem, não embarco facilmente em fantasias nem acredito piamente em unicórnios, fadas e elefantes cor-de-rosa. Das pessoas mais ricas de Portugal, uma ou duas disseram que sim senhor, se calhar talvez, a maior parte nem sequer respondeu e até houve um, que dizem ser o mais rico de todos, que disse que era um mero assalariado. O que me leva a dizer que pode ser uma pessoa muito abastada, mas eu sou muito mais rico que ele, pois tenho aquilo que dou mais valor e que ele provavelmente nunca teve: dignidade.
Assim sendo, o nosso primeiro ministrinho disse hoje em Berlim, ao lado da mais influente pessoa em Portugal, a chanceler Angela Merkel, que considerava um possível imposto sobre grandes fortunas um disparate, pois iria originar uma fuga de capitais do país. Mas, surpresa das surpresas, admitiu que iria taxar os lucros superiores a 1,5 milhões de euros de empresas portuguesas. Ora, estava para aqui a pensar se isso não levará igualmente a fugas de capitais para fora do país.
Muitos vieram dizer que este imposto é uma desgraça, pois taxando os lucros das empresas, tira-lhes a hipótese de reinvestir esse dinheiro na economia. Claro que nem Passos Coelho é assim tão burro como querem fazer de nós todos. Os lucros das empresas que vão ser taxados são os lucros que serão tirados dessas empresas e distribuídos pelos accionistas, não o dinheiro que será reinvestido. Isto porque o dinheiro reinvestido entra nas contas, não é lucro, é Investimento.
Voltando aos mais ricos e ao pretenso imposto, a verdade é que de facto os empresários (não se é rico desta forma trabalhando para outrem, mesmo que o outro energúmeno diga o contrário) provavelmente fugiriam com as fortunas para as Ilhas Caimão ou para a Suíça ou qualquer outro lado, como aliás alguns ameaçaram já fazer se o imposto avançar. Ora, assim sendo, acabemos de uma vez por todas com um mito urbano em que muitas pessoas acreditam, que é do que os empresários portugueses (com excepções, evidentemente, e que se saúdam) estarem interessados no bem-estar do país. Acabe-se lá com esse excremento de ideia, porque isso é uma tanga do órgão sexual masculino! Se assim fosse, pagariam o imposto de boa vontade, para o bem do país, e não sairiam a correr para a estranja com o carcanhol, ok? Querem é ganhar dinheiro, querem lá saber do resto! É uma cambada de oportunistas que, mesmo ganhando fortunas à custa do país que meteram na miséria, não se importam de virar costas na hora da verdade. Como, meteram na miséria? Sim, a verdade é que a maior parte do endividamento deste país foi feito pelas empresas – ou não sabiam?
Seja como for, ficamos a saber que o barco só será levado para a frente graças ao povinho que trabalha, e que tem de fazer mais alguns sacrifícios para seguir em frente. Pagar mais impostos para menos serviços públicos, pagar mais por menos, pagar mais impostos para que um dia destes aqueles que ameaçaram ir-se embora do país e que assim demonstraram que nada lhes importa senão o lucro, não se importando minimamente de verem o seu país afundar de vez, peguem nos Hospitais, nas Escolas e até na Segurança, como fizeram já com as Estradas, as Águas e as Energias. E nessa altura, talvez se sintam bem mais satisfeitos por serem portugueses, quando o povinho pagar impostos para manter o Estado, para que este subsidie as empresas que vão pegar em todo o serviço supostamente público, e estas por sua vez cobrem o que entenderem por esses mesmos serviços ao tal povinho. Fecha-se o ciclo. Estamos na época feudal.
Apetece-me tanto ir para a rua gritar! Porra! Chega!
ResponderEliminarAfinal os "ricos" a taxar são os que pagam IRS sobre rendimentos declarados... Como sempre! Isto, para além de todos os outros, pobres ou a caminho dessa condição.
Ora bolas!
Afinal também és intimo do Soninho :D
ResponderEliminarAcho que estes sucessivos governos têm pouca criatividade j+a que não sabem mais que cortar a direito ou aumentar impostos às cegas. É vira-o-disco-e-toca-o-mesmo, é trocar 6 por meia-dúzia. Fico a pensar o que se lhes deve ser ensinado nos cursos de economia que lhes são oferecidos ou no que lhe enfiam pelo rabo nas juventudes partidárias.
Poetizando: "porra, já não há pachorra!"
Ainda bem que não sou um daqueles ricos que auferem a fortuna de 3400€ líquidos mensais ou levava com mais esta facadinha de sacrifício. Nem os incas, maias ou astecas sacrificavam tanto para agradar os seus deuses como os nossos políticos para agradar a Santa Merkel!
muito bom texto. e como diz a Malena, só me apetece ir para a rua gritar palavras nadas aconselhadas para horário nobre...
ResponderEliminarSabes o que é mais lamentável nesta mascarada toda? É as pessoas pensarem que a culpa do estado de coisas se deve ao Estado e que este quando emagrecer, toda a gente vai poder ter a vida (acima das possibilidades, entenda-se) que tinha antes...
ResponderEliminarA propósito disso, recomendo-te a leitura destes textos:
http://www.ionline.pt/conteudo/146656-a-incrivel-pressa-portuguesa-cortar-na-despesa-publica
http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/3400555.html
Ambos desenvolvem melhor a ideia acima exposta.
Quando nos mentalizarmos que, pelo facto de sermos um país periférico, a austeridade não nos vai ajudar a dar o salto para a frente, muita gente vai começar a cair na realidade e a fazer contas à vida. Mas isso só será a partir de Dezembro...
É bastante expressiva esta passagem do primeiro texto:
"O problema é que a maioria dos gastos do Estado - cerca de 90% - não vai para o próprio Estado, mas para o bolso dos contribuintes. O Estado cobra dinheiro (em teoria a quem tem mais rendimentos) e distribui pela sociedade (em teoria por quem tem menos), seja em prestações sociais, em saúde pública, em educação, em transportes ou em salários. Poucos percebem isto e por isso ouvimos frases como "ontem fui ao hospital e não paguei nada" ou "a escola pública é de graça". [Uma sugestão modesta e pouco original: já é tempo de mostrar a cada doente a factura detalhada de um tratamento hospitalar no sector público.]"
"...porque são justamente os ricos que têm dinheiro para criar emprego. Estou farto desta demagogia, os ricos não são o problema, os pobres é que são o problema! É com os pobres e com a pobreza que temos de acabar, não é com os ricos."
ResponderEliminarConvido-te a rir um bocadinho:
http://em2711.blogs.sapo.pt/1499716.html
Isto vai sempre dar ao mesmo não vai?
ResponderEliminarA culpa é de todos, porém, na prática, quem paga sou eu!
Quando (e com um grande SE) o Estado, que somos todos nós uma vez que temos que o sustentar, ou investir, que tanto querem transformar em empresa, estiver com as contas em dia, irá fazer a divisão dos dividendos comigo e contigo?? Pois...
Ainda bem que pelo menos temos a liberdade de divulgar a nossa opinião.
Juntem as notas e preparem-se para pagar.
Aquele abraço.
Malena, nada de novo, portanto...
ResponderEliminarCatsone, o sacrifício faz parte da vida. Quantas vezes sacrificamos na vida? Normalmente há uma contrapartida...
ResponderEliminarAna, gritar na rua pode resultar. Provavelmente será a única forma...
ResponderEliminarMaldonado, as pessoas ainda não se aperceberam que os cortes no Esatdo vão fazê-las pagar por coisas que já pagam nos impostos. Que vão pagar duas vezes, e se calhar até três, tendo em conta os subsídios... Quer-me parecer que o ódio à FP é tão grande que nem sequer se dão conta que 90% da despesa do Estado são escolas, hospitais, universidades...
ResponderEliminarDylan, a postura desse empresário português diz tudo. Uma no cravo, duas na ferradura...
ResponderEliminarAndré, ainda que mal pergunte, andou na escola? Frequentou alguma Universidade? Circula nas ruas? Já foi alguma vez atendido num Hospital?
ResponderEliminarOu anda distraído?????
Paga impostos para quê? Está boa, essa da divisão de dividendos, está. Linda!!
Abraço.
Cirrus,
ResponderEliminarpago impostos, supostamente, para o Estado se financiar no sentido de ter verbas para distribuir o dinheiro de todos, por todos, de acordo com as possibilidades e necessidades de cada um, para investir nas obras que a todos fazem falta, para conservar o património que os nossos antepassados nos deixaram, para ter cultura, saúde, ensino e justiça públicas.
Pago impostos, na prática, para merda nenhuma. Andei na escola, pública, e pagaram os meus pais. Ando por esse país e pago para o fazer. Quando necessito de algo do SNS vou ao privado, não porque seja abastado mas porque prefiro, eventualmente, fazer um sacrifício financeiro e não esperar 6 meses (sim, seis) por uma consulta no Centro de Saúde e ao fim de 5 meses (sim, cinco) informarem-me que fiquei sem médico de família porque se reformou, que o novo que o substituirá não assume (não, não o faz) automaticamente os seus doentes e que terei de efectuar nova inscrição e aguardar (ad eternum) disponibilidade...
Sim, Cirus... Eu vivo em Portugal.
"Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
ResponderEliminarJosé Saramago Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148
André, pois calro que vive. O problema é que o Estado não existe para dar lucros, existe para garantir que os cuidados básicos para a população sejam assegurados. Diz que andou numa escola pública e pagaram os seus pais? Óptimo, puderam pagar, não sei bem o quê, mas puderam. Vai ao privado porque acha que vale a pena o sacrifício? E os milhões que não podem ir? Morrem simplesmente? Paga estradas? Olhe, eu não, evito-as, e nem sequer sou eu que as pago, em trabalho. A questão aqui é saber se os nossos impostos servem para custear algo. É que quando todos pagarmos tudo e mais alguma coisa, para que raio pagamos impostos???
ResponderEliminarCaríssimo,
ResponderEliminarprecisamente porque concordo com absolutamente tudo o que diz é que discordo da ideia de privatizar o país, de o tornar uma empresa. Precisamente porque concordo com tudo o que escreve é que, sarcasticamente, pergunto se depois do Estado transformado em empresa nos vão dar dividendos.
Eu acredito no Estado Social.
Eu preciso do Estado Social.
Precisamente por isso estou tão apreensivo com as políticas deste governo e com os resultados catastróficos a que elas podem e vão levar.
Para eu estudar os meus pais pagaram, provavelmente, o mesmo que os seus. Queria dizer que a Educação gratuita é coisa que não existe e que tende a desaparecer ainda mais, infelizmente.
Não tenho possibilidades de cuidar da minha saúde apenas no privado, é demasiado caro, mas o serviço que, neste momento, o Estado presta na saúde é insuficiente e ainda será, no curto prazo, pior. Era essa a direcção que queria dar às minhas palavras.
Pago para andar nas estradas porque tenho de pagar scuts a auto-estradas sempre que a elas não posso fugir, e isso acaba sempre por acontecer, não é? O que tentava transmitir é que não devia pagar porra de estradas nenhumas porque elas já foram construídas com o meu dinheiro.
Estamos, penso eu, de acordo.
André, problema de percepção. Não de comunicação. Concordemos, pois.
ResponderEliminarAbraço!
Não gosto de incoerência...
ResponderEliminarPronúncia, e onde está a incoerência?
ResponderEliminarO incoerente não és tu... é o candidato a PM e PM (sim, é o mesmo, e parece que sofre de bipolaridade... uma doença que ataca imenso candidatos a governantes depois de lá chegarem)
ResponderEliminarTerrível, essa doença...
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