Já por
diversas vezes tenho chamado a atenção de algumas pessoas no sentido de não
julgarem as coisas como querem que elas julguem. Avaliem as coisas por si
mesmas, não por aquilo que julgam saber pela comunicação social manietada que
temos hoje mas antes por fontes o mais possível independentes e, se possível,
evidentemente, pela experiência pessoal. Isto a propósito de tudo o que se diz
e fala do Médio Oriente e dos seus povos, nomeadamente o árabe e o judeu.
No passado
sábado, cumpriu-se um ano após o terrível tsunami no Japão, que tão tristes
consequências já teve e sabe-se lá que mais pode vir a provocar. Na altura, foi
de forma unânime que se louvou a resposta dada ao cataclismo, tanto por parte
do governo nipónico como pelo próprio povo japonês. Alertei um caríssimo amigo
cibernético que não embarcasse em euforias nem em exemplos fortuitos. Nunca
estive no Japão, é certo, nem sequer é uma cultura que me interesse de qualquer
forma, mas o que pensava que sabia sobre os japoneses aconselhavam-me cautela
no comentário aos acontecimentos.
Foi igualmente
no sábado passado que foi entrevistado, em directo e na SIC Notícias, um
determinado português habitante de Tóquio. Não me peçam nomes, não o apanhei e
não era uma estrela qualquer. É simplesmente um emigrante português no Japão,
que já há um ano tinha dado algumas palavras à imprensa portuguesa sobre a
situação que se vivia no país nas horas seguintes ao sucedido. Segui com algum
interesse as suas palavras, agora à distância de um ano da catástrofe, e sobre,
inicialmente, as cerimónias em memória da mesma.
Começou por
dizer que era importante a presença do Imperador, porque, apesar de gostar do
Japão e de lá viver, sentindo-se em casa na sua capital, há diversos “japões” e
não um Japão, e a cola que mantém unidas as suas várias nações é a figura do
Imperador. De seguida, colocou em causa a seriedade com que o problema da
central nuclear de Fukushima foi tratado pelo governo, até porque, há um ano, não compreendeu sequer a pergunta que lhe foi
feita sobre o assunto, porque foi uma coisa que se soube no Japão pela imprensa
estrangeira apenas. Afirma que ninguém em Tóquio
usa água de rede a não ser para lavar a roupa e mesmo assim se pensa duas vezes
antes de a vestir.
Colocada que
foi a questão da reconstrução, e de como a eficiência japonesa nesse aspecto
parece ser exemplar, o nosso compatriota afirma que… não há reconstrução! Há dois
ou três sítios que limparam para mostrar nas câmaras, mas a verdade é que
nenhuma outra província japonesa aceita o lixo do tsunami e até incinerar esse
lixo. Rematou com a lembrança da assombração ou fantasma pendente sobre a
cabeça de cada japonês, que facilmente não esquecem as atrocidades cometidas no
passado nem os milhões de mortos causados. Mas ainda mais interessante, e no
que concerne àquilo que na altura do acidente me referi, foi a confidência da
absoluta falta de solidariedade que grassa no Japão. O país não se mobiliza por
razões humanitárias, desde que as pessoas não sintam na pele a desgraça. Uma
marca bem asiática. O que contrasta claramente com a capacidade para obedecer e
não se manifestar.
Há dois paradoxos
que não posso deixar de realçar: o primeiro, é a publicidade enganosa de um país
valente e solidário, que rapidamente encontrou saídas da destruição verificada.
Mentira – pelos vistos, nada foi reconstruído, as pessoas afectadas continuam a
morar em barracões do exército e não há donativos de outras partes do país para
ajudar aquela região em particular. Não acreditem em tudo o que ouvem e vêem. A
maior parte da informação é simplesmente falsa. O segundo, o contraste entre
japoneses e portugueses. A catástrofe madeirense, apesar de bem menor em dimensão,
parece ter recolhido muito mais solidariedade por cá que o tsunami por lá…
Ão contrário do que muitos dizem o nosso povo tem caracteristicas positivas...uma delas é mobilizar se pelos outros... naturalmente com uma mãozinha da comunicação social... Aliás noto, que após a fase de anestesia do FMI, começam a existir verdadeiras solidariedades entre as pessoas, sem só a onda piegas da caridade. Da comunicação social dominante servem para vender o produto no qual todos têm de engolir...
ResponderEliminarSe há coisa para a qual nos conseguimos unir é para a solidariedade.
ResponderEliminarAinda há esperança para nós! :)
Friend, vivi em S. Paulo durante a infância e convivi de perto com a comunidade japonesa. Gosto de alguns aspectos da cultura daquele país; são pessoas inteligentes, trabalhadoras e persistentes. No entanto, também são frias e intolerantes. Dessa forma, tenho tendência em "acreditar" nas duas versões: na que reconstruíram tudo com a perseverança inerente à cultura ancestral e na falta de solidariedade das diferentes regiões do país.
ResponderEliminarCamarada Tripalio, ainda vamos chegar a prezar o nosso povo. Assim seja.
ResponderEliminarLiliana, cá como lá... somos manipulados. Pouco ou nada do que se diz é 100% verdadeiro. Nada como confiar em quem lá está e vê.
ResponderEliminarMalena, a esperança é a única a morrer...
ResponderEliminarCat, pelos vistos não reconstruíram. Até por outras razões bem conhecidas...
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