domingo, 28 de abril de 2013

FAZER MAIS POR QUASE NADA

O colapso das fábricas de têxteis no Bangladesh parece ter ficado esquecido na memória desta Europa   onde, curiosamente, os têxteis foram/são de grande importância. Muitos portugueses viveram/vivem dessa indústria que tem perdido terreno para países como o Bangladesh, a Índia, ou a China. A "outra" Europa, a que quer apenas baixar os custos de produção, não quer saber dos "outros" custos, os humanos. Basta vermos os vídeos que foram enviados pelas agências noticiosas para compreendermos a dimensão, não tanto da tragédia da derrocada, mas da miséria daquele povo. Tudo aceitam, tudo fazem para receberem um quinhão (28 euros por mês) que os mantém à tona, no fio ténue que separa a vida da morte. 
Nas ruas, pede-se o enforcamento para os donos das fábricas e para os clientes. Exagero? Cerca de 300 mortos e mil feridos depois, sê-lo-á? Milhares de dias a trabalhar em buracos sórdidos, sem luz adequada, sem ventilação, sabendo do risco que as fissuras nas paredes representavam, com as saídas de emergência fechadas, duvido que os que sobreviveram ponham sequer em dúvida a justeza de uma tal punição.
O cinismo da Primark, a empresa Irlandesa líder de vendas, conhecida pelos preços combativos das suas colecções de roupa, ao enviar as suas condolências às famílias enlutadas enoja-me! 
O que me assusta é o que isto significa. O que me dói é ver o caminho que seguimos em direcção a uma competitividade desenfreada onde vale tudo, mesmo que isso custe esmagar (literalmente) os que menos podem, os que menos sabem, os que se limitam a sobreviver.

14 comentários:


  1. E infelizmente este caso é apenas a ponta do iceberg de tanta miséria e falta de escrúpulos que existe por esse mundo fora, quando se assiste à exploração de tantas vidas levada a cabo por tantas empresas cujo interesse é baixar os custos de produção; e para isso tudo vale mesmo que as condições de trabalho que proporcionam nada dignifiquem a condição humana .

    Depois de casos como este fica a dor de ver aqueles que não conseguiram sobreviver.


    Um beijo

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    1. Neste caso, os que morreram libertaram-se da miséria! Os que ficam é que sofrem!

      Beijos, minha amiga!

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  2. Posso?
    Algo que dá uma ideia muito real dos desiquilíbrios neste nosso mundo. Experimente-se ir a: http://www.globalrichlist.com/, fazer a simulação e mesmo com um rendimento aproximadamente na ordem do salário mínimo estariamos por volta dos 16% mais "ricos" do mundo... O resultado é uma infelicidade e um enorme drama humano...

    ino.

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    1. Sem dúvida, Ino! Mundo tão desequilibrado e injusto, o nosso!

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  3. Já tinha aqui estado ontem, mas estava cansado e isto merece uma resposta!

    Quando comecei a ler veio-me imediatamente à memória a história dos têxteis do Vale do Ave,
    mas principalmente a do calçado em S.J. Madeira e o trabalho infantil e o salto civilizacional que se deu quando
    se acabou com essa situação vergonhosa.
    Têm culpa, é certo, os donos das fábricas do Bangladesh e também os dos outros países ali à volta e os seus governos, mas numa análise mais concreta, a culpa é de quem obriga países, governos e donos de indústrias a baixarem as calças aos interesses de quem apenas vê lucro, sem se importar com as condições de quem lhe proporciona esse lucro, numa espiral que conduzirá uns a cada vez mais endinheirados e outros a cada vez mais miseráveis.
    Eu sou do tempo em que alguns queriam acabar com os ricos; sempre lutei contra essa opção de classe e fui ostracisado por isso. A minha luta sempre foi e será para acabar com os pobres!, ou miseráveis, neste caso.
    Uma economia sustentável seria a mola para terminar com esta vergonha, mas ela não interessa aos grandes grupos, veja-se o protocolo de Quioto , que os EUA não assinaram e os outros não cumprem. Os alemães, na Europa, são os que mais culpas têm no cartório. Pode ser que um dia o feitiço se vire contra eles. Já esteve mais longe! não quiseram aprender nas duas vezes anteriores...

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    1. O Vale do Ave estava na minha cabeça quando escrevi! Demasiado próximo de mim!
      O teu comentário é o complemento ao meu post, Leão!

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  4. Olá Malena,

    O objectivo é precisamente que os ricos oprimam os pobres, caminhamos para sociedades em que o humanismo e a individualidade não representem qualquer valor, pelo contrário, o lucro está em primeiro lugar e tudo o resto deve ser erradicado.

    Beijinhos de um não robot

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  5. Nós somos senhores de "escravos", mesmo que indirectamente.
    Toda e qualquer coisa que seja made in qualquer pais africano ou asiático tem muita mão humana a ser escravizada. A verdade é essa. E infelizmente todos contribuimos para isso.

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    1. Sabes que começo a ver as etiquetas do que compro? Mas depois penso nos escravos da Europa!!!

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    2. Ah pois é...
      A escravatura humana não é só "lá fora".
      Quando li este post e comentei lembrei-me deste site: http://slaveryfootprint.org/

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    3. Levei daqui inspiração para ir escrever a propósito do dia do trabalhador.

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  6. Uma economia sustentavel,, naõ será isso um chavão,,,como muitos diziam do crescimento..
    Depois , somos senhores de "escravos" mas que nos vai restar depois de tudo acontecer..'' será que nada muda além da necessidade de nos recriarmos com palavras e que no fundo, sem esta crise ,qual o verdadeiro passo que sentiriamos com necessidade de ajustamentos,,,económicos ou critérios selectivos de como cada um de nós ter mais e mais riqueza..e assim sim, todos contribuimos para a sustentabilidade,,,,ou não..??
    Parabens pelo FAZER MAIS POR QUASE NADA..
    bjs

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    1. Tudo é questionável... O que não devia ser questionável são os Direitos Humanos.

      Obrigada, lusoma mar! :)

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