Ilustração Marco Joel Santos |
Há dias assim, há tempos assim. Há tempos em que tudo
começa, há dias em que tudo acaba. Porque tudo o que começa há-de conhecer o
seu fim. E nestes últimos dias tem-se assistido a tantas despedidas, a tantos
fins. Muitos dirão, do alto da sua secular sabedoria popular, que “é a lei da
vida”. Ora, não é lei da vida nenhuma, isso é uma expressão vazia de
significado, que não quer dizer rigorosamente nada, mas que fica bem a quem não
sabe dizer algo interessante.
Morreu Tatcher, a dama de ferro. Boa viagem, já vais
tarde e se o teu avô nunca tivesse nascido não estávamos todos tão mal como
estamos hoje. Há espermatozóides filhos da puta, e estes eram dos piores que
conheci. Há figuras da história mundial que serão sempre recordadas, e Tatcher é
uma delas. Como Hitler ou Estaline ou Pinochet. Um ponto negro na História da
Humanidade.
Relvas demitiu-se. Boa viagem, já vais tarde e se o teu
avô nunca tivesse nascido não estávamos todos tão mal como estamos hoje. Ao contrário
de Tatcher, Relvas não será recordado na História da Humanidade. Não porque
seja menos humano que Tatcher, já que nenhum deles o é. Mas simplesmente porque
é demasiadamente mesquinho, demasiado corrupto(zinho), demasiado tugazinho para
aparecer em qualquer compêndio de História.
João Proença saiu da liderança da UGT. Boa viagem, já
vais tarde e se o teu avô nunca tivesse nascido não estávamos todos tão mal
como estamos hoje. Um fraco, um balofo, um incompetente que sempre se vendeu à
mais alta oferta, a ele e aos destinos daqueles que sempre disse representar. Uma
pena que tenha passado tanto tempo a prejudicar os trabalhadores portugueses. Vai
deixar saudades aos patrões com certeza.
Finalmente, morreu Storm Thorgerson. A minha experiência
com o trabalho de Storm leva-me a tenras memórias de juventude. Leva-me aos
tempos em que comprar música era caro e não era para todos. Um LP custava o
mesmo que custa hoje um CD, mas prestava-se a inúmeras sensações que um CD não
consegue, nem por sombras, replicar – incluindo a qualidade de som muito
superior.
Quando chegava a casa com um álbum novo, enfiado naqueles
sacos das discotecas que realmente vendiam discos, a primeira coisa que fazia
era cheirar o álbum. O cheiro de um LP acabado de abrir é incomparável. E simultaneamente
servia como aperitivo para o que realmente interessava, a música. Comprei muitos
álbuns – muito como quem diz, pois eram caros efectivamente – mas de facto
poucos me deram tanto prazer como os que tinham a arte de Storm Thorgerson nas
capas. Incomparáveis capas, como as do Dark Side of the Moon, The Wall ou a
capa fantástica do Momentary Lapse of Reason, ou ainda a fabulosa capa do
Delicate Sound of Thunder. Mas aquela que considero a mais bela de todas é a do
Wish You Were Here.
Era um ritual. Um LP não era um objecto qualquer. Compravam-se
escovas e cremes para os limpar (eu era mais sabonete desfeito em água, quando
apareceu o sabonete líquido foi uma festa). Depois, o prazer de abrir pela
primeira vez o álbum, sentir-lhe o cheiro, contar as faixas de cada lado com os
intervalos no vinil… e depois ouvir. Nunca na vida tive uma sensação igual à
que tive quando ouvi pela primeira vez o Delicate Sound of Thunder. Não porque
fosse o melhor álbum que ouvi. Mas porque era, na altura, o melhor álbum que
era efectivamente meu. Parte do prazer está na posse. É bem verdade.
Storm, como podes morrer? Não podes. És eterno. E o teu
nome vai aparecer em qualquer compêndio da História da música. Pelas razões
certas.
PS: Este texto pensa seguir as regras do novo acordo ortográfico tanto quanto o Gaspar pensa acertar na previsão do défice... de há dois anos atrás.
Os GRANDES nunca morrem!
ResponderEliminarÉ verdade que sim... Mas os Grandes Monstros também não. Olha a Maggie...
EliminarIsso é verdade... :(
EliminarAmigo ,a ver se consigo fazer Una ilustraçäo á altura,assim que tenha a tabuléte. Abraço
ResponderEliminarOk, pá.
EliminarMeu amigo:...será que não morrem?...Será que alguém "se liberta da lei da morte"?
ResponderEliminarA obra de arte, em si, essa penso ser eterna...
beijo amigo
Lusibero
Estarão sempre presentes, Maria, através da sua obra. Até que ponto a sua alma nela reside, isso já é outra questão.
EliminarBjs