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Estamos onde estamos, e não onde desejamos estar. Perante o que se passava no plano financeiro, mas que depressa alastrou ao plano económico e mais tarde ao político, há que olhar para a situação actual do país e tomar decisões. Não escrevo sobre as decisões do governo ou do triunvirato ou da comissão europeia e nem sequer as da senhora nazi. Falo sobre as decisões pessoais. Isto porque toda esta situação, em última análise, vai afectar cada um de nós. De formas diferentes, por certo, mas todos seremos afectados pelos cortes orçamentais e aumentos de impostos.
Não interessa agora saber quem disse o quê acerca de não se subirem impostos, quem mentiu e quem disse a verdade. Quase nem interessa se as opções tomadas para o país, que em breve darão frutos, e disso não tenhamos dúvidas, foram tomadas por genuína crença na sua efectividade ou simplesmente porque a ideologia de quem nos governa assenta na escravatura e o seu exemplo de produtividade continua a ser o chinês. Não interessa. O que interessa é: o que vamos nós fazer acerca disso?
Já houve manifestações, tomadas de posição mais ou menos públicas contra ou favor ou nem por isso as decisões do governo. Interessa, no entanto, que se saiba uma coisa acerca dessas decisões. Interessa saber que essas decisões vão muito para além do que nos foi imposto pelo triunvirato. Interessa pois que se saiba que já passamos a imposição para entrarmos no âmbito da ideologia. E muitos riem-se sobre a possibilidade de este governo ser ultra-liberal. Eu já deixei de ter dúvidas há muito. Na realidade, é o mais ultra-liberal da Europa. Que faremos perante este facto?
Vai haver greve geral. Convocada pelas duas centrais sindicais portuguesas, em conjunto. É um direito que assiste a quem quer protestar contra as suas condições de trabalho, presentes ou futuras. Um direito constitucional e inalienável. Mas há uma corrente, uma influência ultra-liberal que deseja eliminar esse direito. E não é sequer, à primeira vista, do governo. É do próprio povo. Alguns sugerem que as greves devem ser liminarmente proibidas. Outros, que devem ser feitas ao fim de semana. Outros ainda que devem ser promovidas apenas fora dos horários de trabalho comummente aceites. Em nome da produção, em nome da competitividade, em nome do funcionamento regular do país.
Muitas pessoas há que, instadas a dar uma opinião sobre uma greve, até admitem que os grevistas possam ter “as suas razões”, mas que estão a prejudicar “a vida dos outros”. Outros dizem que parar o trabalho só prejudica a economia do país. Outros referem que os grevistas apenas não querem trabalhar. Não interessa a minha posição sobre a greve que aí vem. Não saberão se farei greve ou não, nem isso é demasiado importante. O que é realmente importante é que as pessoas saibam que as greves se destinam, efectivamente, a parar a produção do país, a incomodar as “vidas dos outros”, a chamar a atenção para um determinado problema. Destinam-se a chamar a atenção do povo para o problema, destinam-se a pressionar - se não pelo número de aderentes, pelo menos pelos números económicos - o governo, fazê-lo sentar-se e falar do que se pode melhorar, enfim, negociar. Isto é democracia.
Não é fazendo greves durante a noite, ou ao fim de semana, que se pode chamar a atenção seja do que for. Nem dos jornais chama. A greve foi inventada para prejudicar alguém, e quantos mais melhor, para pressionar o poder político a olhar a situação. Não para o contrário. Fazer greves em horas não produtivas é o mesmo que espalhar sementes num pátio de betão e esperar que germinem. Proibi-las é simplesmente regressar ao século 19. E eu até gosto do século 21.
Não sou contra quem vai fazer greve ou contra quem vai trabalhar no dia da mesma. É uma decisão que a cada um cabe. Mas acabem lá com o choradinho do “só prejudicam os outros que querem trabalhar”. Dificilmente algo sai de uma greve que não seja favorável a quem trabalha, e se não fossem as greves ao longo do tempo, ainda trabalharíamos catorze horas diárias por uma côdea de pão regada com azeite. Como os chineses – que estão a começar a fazer... greves!
Farei greve! Corto nas despesas mas perco um dia de salário. E só faço greve porque causa prejuízo, senão que sentido faria?
ResponderEliminarCirrus, de facto o meu caro tem toda a razão neste post.
ResponderEliminarAs políticas deste Governo são desta forma por uma questão de ideologia. Não devia existir este espanto generalizado com o facto de os senhores que nos governam preferirem cortar subsídios de natal e férias, aumentar impostos, arrasar a economia interno, vender património ao desbarato e fazerem a vida negra ao Povo que lhes sustenta os vício, isto tudo antes de criarem um tecto nas reformas, digamos de €3000, acabar com as empresas municipais, taxar as transações financeiras(SGPS também), não dar prémios chorudos aos gestores cujas empresas dão prejuízo, acabar com o nosso off-shore ou até, veja lá uma das mais vistas faces deste governo, o Sr. Miguel Macedo, abdicar do subsídio de alojamento que legal mas imoralmente tem direito, de 1400€, que é mais do que eu ganho... Os sacrifícios são para mim e para si.
A Greve é pois um sinal de luta e inconformismo que pelo bem de um futuro diferente se quer o mais forte possível. Para além do mórbido conformismo estes 37 anos deixaram-nos um trauma com, já não digo os Comunistas, mas com a Esquerda em geral. Embora de Esquerda, até percebo o medo da população. Quando se está com um bom nível de vida e por isso com muito a perder há reticências em experimentar receitas novas.
Pois bem. Tudo isto traz-nos aos dias de hoje não é?
Isto não só significa que as políticas de centro-direita que governaram a Europa não funciona, como nos diz ainda que o tempo da mudança é este. Só temos de nos unir.
Cirrus, já temos tão pouco para perder que espero que sirva como catalisador para que se mude de paradigma.
Li algo do seu blogue, compreenderá que não pude ler tudo e sem dúvida prestei mais atenção a este último, todavia espero que o seu pai esteja melhor.
Um abraço.
Se aumentar impostos é ser ultra-liberal vou ali e já venho... Era bom que assim fosse.
ResponderEliminarMalena, é uma decisão que só tu podes tomar. E enquanto a podes tomar.
ResponderEliminarArame Farpado, pois, pode dizer-se uma enormidade de coisas sobre o governo. O problema é que já me parece que o povo, ao invés de querer progrdir ou pelo menos manter aquilo que tem, já se compromete em dar tudo o que lhe for exigido. É essa a influência a que me refiro. Evidentemente, são de prever lutas, mas muitos não estão simplesmente para isso.
ResponderEliminarAndré, é um facto. Qualquer governo, independentemente da sua ideologia, aumenta impostos. O problema é que não leu isso no post, pois nunca o escrevi...Como tal, poderia aqui fazer-me de despercebido e dizer que não sei ao que se refere.
ResponderEliminarNo entanto, a ideologia ultraliberal deste governo não se traduz só em aumentos de impostos, mas antes no princípio do não retorno fiscal. Isso é ser ultraliberal, e não há outra forma de o dizer. Por outro lado, o regredir em matéria alboral só se entende precisamente no âmbito ultraliberal. Basta irmos à Alemanha ou outro qualquer país do norte da Europa, que não são liberais, e verificar os direitos dos trabalhadores e qual a sua progressão ao longo do tempo... E mais características poderia aqui desfilar, como o recurso à sopa dos pobres, a equidade fiscal, etc...
Cirrus, não me respondeu relativamente ao seu pai. Espero que tenha sido por não me ler e não por outros motivos.
ResponderEliminarUm abraço.
De facto, não se compreende o ódio visceral que alguns sentem pelos grevistas. Chega-se ao ridículo. Vou dar um exemplo: no meu trabalho, tenho um "cromo" que sente repulsa pelos mesmos, mas pasme-se, é sindicalizado e exulta com Salazar! Pobre Diabo!
ResponderEliminarNunca o escreveu? Então você diz que este governo é o mais ultraliberal da Europa.
ResponderEliminarEste governo tem-se limitado a aumentar impostos, ou seja limita-se a seguir as pisadas socialistas de atirar dinheiro para cima dos problemas; ainda não vimos uma liberalização da economia, do mercado de trabalho, reformas estruturais, o fim do sector empresarial do Estado, etc... Só por isto este Governo não é, jamais, ultraliberal. Nem liberal, quanto mais ultra.
Quanto ao post em si, como liberal que sou, concordo com o direito à greve. Cada um deve ser livre de se manifestar como bem entender, sempre que, logicamente, isso não interfira com a liberdade dos outros.
Arame Farpado, foi por pura negligência, já tinha carregado o comentário. Não há grande evolução. A memória vai e vem, mas parece estar um pouco mais estável.
ResponderEliminarObrigado pela preocupação.
Dylan, parece-me ser da tal influência. As coisas tẽm sido tratadas como se apenas houvesse uma solução e como se este sistema fosse exequível. Ambos sabemos que estamos no limiar de mais uma descoberta histórica: os pés de barro do sistema financeiro mundial. Estará para breve, muito breve...
ResponderEliminarAndré, não escrevi que um governo se caracteriza como liberal por apenas subir os impostos. Isso eu não escrevi, entendeu-me mal.
ResponderEliminarQuanto ao resto, tudo isso está a acontecer, e ou está muito distraído ou então ainda não lhe chegou nada à pele. Como a mim já chegou, provavelmente estarei mais avisado. A supressão de 14% dos salários não lhe parece uma mudança no mercado de trabalho? Nem a regressão dos horários de trabalho? Nem sequer a continuação ad eternum dos contratos a termo? A mim parece-me que vamos assistir a muito mais, mas estes são sinais.
Quanto ao sector empresarial do estado, realmente será um erro histórico aliená-lo, do qual nunca mais a economia portuguesa recuperará. Basta olhar para a PT ou a EDP... Mas disso ninguém se lembra... Vamos privatizar a captação de água neste país!!! Que lhe parece isso???
Temos um Estado com pouca preponderância efectiva no país, exceptuando as enormes injecções de capital aos empreiteiros do costume. A Suécia tem um Estado que absorve 52% da mão de obra. Mas bem sei que não é bom exemplo, a Suécia é um país miserável...
Coitado de um povo que não luta... e de facto é o caso do povo português,deixaremos de ter saude publica, escola publica, passaremos a ter uma segurança social de miséria.
ResponderEliminarEntre 2008 e 2011, o nosso défice aumentou 10 mil milhões, com 30 por cento deste aumento devido ao BPN e garantias da banca, falta falar das PPP, Madeira e obras loucas. E depois dizem que a culpa é do défice... E já agora podem esgatanhar se a trabalhar, que com taxas de juro e prazos como temos , associados à recessão induzida, nunca pagaremos. Mas é assim uma parte do povo. hei de ver muitos dos que dizem que não lutam daqui a uns tempos a saltar lhes a tampa e a lutar...
Caro, então interpretámos-nos mal um ao outro. As minhas desculpas por não ter sido claro. Eu sei que não acusa este governo de ser ultraliberal só por aumentar impostos, mas é praticamente a única coisa que têm feito. Quanto à eliminação dos subsídios não são de todo uma medida liberal, pois é imposta por decreto e isto é socialismo puro. (Mas tratando-se de funcionários públicos o tema dá para mangas e nunca mais daqui saíamos).
ResponderEliminarQuanto à alienação do sector empresarial do Estado eu pergunto: nos sectores monopolizados (PT, EDP, etc) existe concorrência? Não se esqueça que são os seus impostos que os estão a alimentar há anos... Privatização não significa ausência de regulação.
Sobre a Suécia relembro apenas que não tem salário mínimo nem "justa causa" nos despedimentos, o que faz toda a diferença.
E quanto à sua afirmação "ou está muito distraído ou então ainda não lhe chegou nada à pele", não ando distraído, mas tento manter-me informado, porque o único que me chegou à pele foi ter emigrado há 4 anos atrás, pela falta de oportunidades em Portugal.
ResponderEliminarAbraço.
Tripalio, a esperança de que o povo se erga em luta não é em vão. Um dia há-de acontecer e nunca será tarde. Até lá, no entanto, vamos perder muito do que temos...
ResponderEliminarAndré, as definições não são estanques e raramente poderemos ver um governo exclusivamente socialista ou exclusivamente liberal, ou exclusivamente seja o que for. Aliás, a forma como temos sido governados já me induziram a escrever algures aí por baixo que, relativamente aos aspectos económicos, o nosso sistema (europeu e ocidental) mistura de uma forma muito engraçada o capitalismo com o comunismo, pois o mercado é livre até ao ponto em que seja necessário todos acudirmos à salvação dos que asneiras fizeram, como recentemente aconteceu com os bancos de forma generalizada.
ResponderEliminarPosto isto, o facto de este governo ser ultraliberal, na minha opinião, não implica que muitas medidas sejam de cariz social democrata ou mesmo socialista, como refere, embora eu não concorde inteiramente.
Por outro lado, a Suécia de facto nem tem ordenado mínimo nem cláusulas de despedimento. Por razões bem conhecidas: poucos ou nenhuns cidadãos ganham abaixo do necessário, por um lado, e, por outro, têm o poder negocial conferido pela constituição para que sejam tratados bem melhor que os nossos em termos financeiros em caso de despedimento unilateral. Implementar leis como as nossas na Suécia seria como garantir duas refeições diárias a quem já come por seis vezes ao dia. A diferença está em que não é necessário, na Suécia, ninguém se tenta aproveutar abusivamente dos outros, sejam patrões ou empregados. E o maior patrão é o Estado, que não abdica de nenhuma das vertentes estratégicas da economia, precisamente aquelas que não têm concorrência. A PT privatizada tem concorrência? As Águas de Portugal têm concorrência? E o que tem feito a tão "salutar" concorrência aos sectores privatizados? Têm baixado os preços? Vide os combustíveis, só como exemplo... A concorrência há muito deixou de ser um factor de baixa tendencial nos preços. Ainda ontem recebi um panfleto de uma empresa de TV por cabo e comparei com o que tenho... Exactamente os mesmos preços... Concorrência??
Vejo que por caminhos um pouco diferentes, mas no essencial estamos de acordo.
ResponderEliminarUm abraço.
PS: nos combustíveis a refinação está a 100% nas mãos do Estado.
André, é verdade, a refinação está a 100% nas mãos da Petrogal - não do Estado.
ResponderEliminarA greve é um direito que (por enquanto) ainda nos assiste, e é óbvio que o intuito de uma greve é causar incómodo às rotinas do dia-a-dia, daí eu ser de opinião que não deve ser uma medida tomada de ânimo leve.
ResponderEliminarE como direito que é, incomodam-me os insultos mútuos entre quem adere e quem não adere...
E eis que à 3ª é de vez... finalmente consegui publicar um comentário (deixa-me aproveitar a onda e comentar os seguintes de rajada, antes que isto faça greve outra vez) :)
ResponderEliminarPronúncia, é precisamente esse o meu ponto de vista. É evidente que não se vai fazer uma Greve Geral por apenas dá cá aquela palha. Mas penso que não é o caso. E já se sabe que as greves causam transtorno - se não causassem, pressionariam o quê e quem??
ResponderEliminarQuanto aos teus comentários, não porque razão tal possa ter sucedido, mas ainda bem que está resolvido.