Há em Portugal um planalto. Há um sítio mágico de planuras rodeadas pelos vales dos imensos rios, pelas escarpas amarelas dos líquenes que mergulham nas águas volumosas, escuras, furiosas. É um sítio onde nada é igual. É um sítio que muda todos os dias. E no entanto é imutável. E no entanto é eterno. Como as águas furiosas e escuras dos rios que a rodeiam, que já ali estão há uma eternidade.
É um sítio onde há enormes montanhas, de picos apontados ao céu, desafiando os deuses que há milhares de anos velam pela eternidade do local. Mas as montanhas altas, das mais altas de Portugal, mais não são que colinas partindo do já elevado planalto. Quase não se dá por elas, mas elas lá estão, verdes de pastagens e cinzentas de granito, duro, tão duro como esta gente que aqui habita. Há em Portugal um planalto.
Há em Portugal um planalto, rasgado pelos carreiros que conduzem aos prados verdes, como as veias aparentam rasgar as carnes e as peles dos corpos da gente que os cultiva. Os prados de onde sai o dourado grão, lá para os píncaros da estação seca, que o bafo imenso do sol amadurece e endurece e aloura. É deste grão que vem o pão desta gente que habita este planalto deste meu país. Ambos de uma alvura que deixa adivinhar a sua pureza, como o dialecto que falam, puro desde os tempos antigos.
É um sítio de pequenas e preguiçosas aldeias, que sem pressas desconhecem o mundo que lá fora se ergue para destruir a sua beleza. Porque o planalto é eterno, mais do que o homem ou suas obras, o planalto é obra dos deuses e só por eles pode ser destruído. Mas como destruir um sítio que já há tantos milénios abençoaram para sempre? É um sítio onde as maldições dos deuses são as mais poderosas bênçãos, um sítio onde abunda o trabalho e a vida árdua, um sítio onde as vilas são sítios grandes e se chamam bilas. Há em Portugal um planalto.
Há em Portugal um planalto, um sítio de calma altiva, onde o céu e a terra se casam todos os dias, sob o calor tórrido do verão, que faz resplandecer as penedias no seu cinzento granítico cromado a pique para as águas furiosas dos rios. Onde a terra e o céu se casam todos os dias, sob o frio glacial do rigoroso inverno que pinta de branco as pedras cinzentas e faz mais negras as águas dos rios. É o sítio que regressa à vida nas flores imensas e brancas da primavera que teima, todos os anos, em não surgir, mas que a terra fecunda empurra para o seu destino. É o sítio onde os tapetes de folhas recobrem as pedras cinzentas, acabando por tombar das penedias para as águas tumultuosas dos rios. Dos rios que correm muito abaixo daquele sítio. Há em Portugal um planalto. Um sítio sagrado, o último dos paraísos lusos, o testemunho da eternidade dos deuses que tanto bem lhe querem.
E esse planato é concretamente onde?
ResponderEliminarDylan, é no Planalto. É o único que dispensa mais descrições. Há o planalto beirão, o planalto central, o planalto do Barroso... Mas Planalto só há um. Puxa lá um bocado pela cabeça. Há pistas muito boas no texto...
ResponderEliminarExcelente homenagem ao Planalto!
ResponderEliminarHá um Planalto e esse Planalto tem um nome... Planalto Mirandês!
(A letra assim está bem melhor... cresceu!)
Pronúncia, és cá uma desmancha prazeres que te vou contar...
ResponderEliminar;)
Nasci ao pé do mar, mas o meu coração divide-se pela minha terra natal e pelo Planalto. A mais bela região portuguesa.
Ups! Podes contar...
ResponderEliminarÉ sem dúvida nenhuma uma região belíssima. Já por lá não passeio há uns anitos.
Bem, eu também já não passeio por aqui há uns anos. Embora esteja neste momento em Sendim. Na Bila de Sendim, junto a Fuonte Aldé... Bem, mas não é passeio. Embora, felizmente, tenha que cá vir muitas vezes.
ResponderEliminarNesta altura do ano, o planalto é particularmente belo. Está tudo fresco, a crescer. Está tudo verde. E branco.
Uma forma de escrita que adoro...
ResponderEliminarComo notas musicais que se revelam sem esforço... melódica e harmoniosa!
Uma ou outra figura de estilo suave e discretamente colocada, como se não se desse por ela...
;)
[Há quanto tempo não ouvia isto! Magistral]
Belissíma região (como tantas outras, espalhadas por esse Portugal fora) que nossos olhos, por vezes, observam sem ver... É pena!
Basium
Venus, muito obrigado pelo elogio, fico sem jeito!
ResponderEliminarO Planalto merece homenagens bem melhores. E as suas gentes merecem o que de melhor há no mundo. Mas isso já têm, pelo menos grande parte.
Liliana, concordo contigo, sempre fui apaixonado por Trás-os-Montes e pelas suas gentes. Um Portugal à parte que, afinal, representa o Portugal melhor que temos.
ResponderEliminarCirrus,
ResponderEliminarConheço esse planalto por outro nome: Parque N. Douro Internacional.
Dylan, o planalto é muito mais que o parque. Tanto geograficamente como, principalmente, do ponto de vista humano. O parque está inserido no planalto, mas é uma pequena parte deste, pois a área total abrange a área entre os rios Douro e Sabor. O parque natural está "encostado" ao Douro. O Vale do Sabor, por exemplo, não está incluído.
ResponderEliminarÉ lindo sim senhor sou um dos maiores fãs, dispenso completamente a praia em função dos planaltos deste país e desse em particular. Abraço.
ResponderEliminarMais um Homem, é bem verdade.
ResponderEliminarAbraço