sexta-feira, 9 de julho de 2010

AINDA SOBRE O PORTUGAL-ESPANHA

Não é grande novidade que Portugal e Espanha sempre mantiveram uma rivalidade mais ou menos saudável ao longo dos tempos. O país Espanha só nasceu no final do séc.XV, altura em que Portugal já tinha as suas fronteiras terrestres bem definidas e procurava alargar as ultramarinas. Por isso, quando Afonso Henriques decidia excursionar até Zamora ou Salamanca para roubar caramelos, não se podia dizer que estava a invadir Espanha. Por outro lado, quando Filipe II de Espanha se aproximava da fronteira com Portugal, anunciava alto e bom som que ali mudava de nome para Filipe I de Portugal, não fosse o Rei de Portugal zangar-se com a invasão do Rei de Espanha. Saudável, portanto. E isto tudo acerca de um jogo da bola? Mas qual jogo da bola?
Eu quero mesmo é falar da PT. A Telefónica, espécie de PT espanhola, queria comprar a Vivo, espécie de Optimus brasileira, à PT portuguesa. Ou, pelo menos, a parte que a PT tem na Vivo. Vai daí o Sócrates apelou para a ignorância e vetou o negócio, usando a arma que tinha mais à mão: a parte dourada (golden share em inglês, que é confundida com golden chair - a cadeira dourada, ou mesmo com golden shower, que é outra coisa). Caiu o Carmo e Trindade em Madrid, depois em Portugal, e depois em Bruxelas. Em Madrid, porque o Mundial está a correr bem e não há árbitro que apite uma falta contra a Espanha. Em Lisboa, porque os accionistas da PT estavam na perspectiva de encher os bolsos, e em Bruxelas porque sim.
Esta última parte é interessante. Em Bruxelas rapidamente se reuniu o supra sumo dos tribunais, o Europeu, para declarar que Portugal não deve ter a tal parte dourada em nenhuma empresa. Isso vai contra a livre circulação de capitais. Há uma coisa que me faz impressão. O governo português vetou a compra, por parte de uma empresa espanhola, de um activo brasileiro de uma empresa portuguesa. É um negócio verdadeiramente internacional. Os espanhóis acham muito bem a decisão da UE, o Sócrates fica a clamar que a UE é ultra neo-liberal (ou acordou agora ou é mesmo hipócrita, a UE sempre foi neo-liberal), mas dos brasileiros nem se ouviu nada. Seria uma quarta língua a ouvir-se, depois do português, castelhano e europeu (euringlês), desta feita o brasileiro. Para mim é uma língua, depois do acordo ortográfico que ninguém acordou e com que ninguém concorda. Será que a UE também já inclui o Brasil?
Ora, os espanhóis não deviam ficar ressentidos com isto. É certo que não há compra da PT, mas também é certo que a Vivo é um activo importante da PT. E será demais relembrar o que aconteceu, há dois anos, com a Lukoil e a Yukos? Meus caros hermanos, o vosso governo não prescindiu do controlo sobre a Repsol apenas porque apareceu dinheiro para adquirir 20% da petrolífera... Pois, mas a Lukoil e a Tukos são russas! Pois, e a Vivo é brasileira, e depois? 
Bem, mas depois há o governo português, que considera a PT uma empresa de carácter estratégico, razão pela qual mantem lá uma parte dourada. E agora pergunto eu: porque razão não vão manter uma parte dourada na EDP? Ou na Galp? Já anunciaram que prescindem deste mecanismo nestas duas privatizações que serão concretizadas muito em breve... Será que Sócrates tem confiança na gestão da Galp e EDP e não tem tanta na gestão da PT? Mas, se esse é o caso, porque razão permite que se paguem os salários escandalosos aos gestores da PT? Será que o governo está confiante que nem a Galp nem a EDP poderão algum dia ser controladas por estrangeiros? Então, nesse caso, aconselho o governo português a comparar o tamanho da Galp com o da Repsol... Não é aquela dificuldade...
Ora, isto tudo para dizer que a gente só ganha à Espanha se o árbitro for imparcial (que não é) e se acontecer um milagre, coisa que pode acontecer, mas não deve. Por isso, antes que eles se lembrem de comprar PT, EDP, Galp e tudo o mais que se lembrem, estejam lá quietos com isso. Os gajos ainda ficam vingativos e compram esta merda toda. E se isso acontecer, ò Sócrates, onde vais meter tanto boy incompetente??

Foto Google

15 comentários:

  1. Faz-me confusão essa coisa das acções douradas, acabam por ser uma ditadura em que uma minoria pode decidir contra a vontade da maioria. Soa-me a "batota".

    Por outro lado, os Espanhóis não podem reclamar muito, porque pelo que tenho lido, eles são useiros e vezeiros a impedir negócios que impliquem a compra de empresas espanholas.

    Não me admirava nada se um destes dias isto fosse mesmo tudo comprado, primeiro por espanhóis (sempre estão mais perto) e depois por alemães (que até já compraram para aí uns lugarejos onde os nomes de ruas já são alemães e tudo).

    Bom fim de semana :)

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  2. Esqueci-me... e o papel do BES no meio desta trapalhada toda?!

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  3. Pronúncia,

    No fundo, as partes douradas, ou acções douradas não são mais que parte dos mecanismos de controlo que a UE agora diz terem faltado na regulação dos mercados financeiros...
    E sim, os espanhóis nunca deixam que uma empresa espanhola caia nas mãos de outro país...
    E claro que isto já está tudo comprado, ou pelo menos empenhado... mas os compradores ou cobradores são mais holandeses e de uma certa etnia que não vou referir...
    Quanto ao BES, qual papel? A que te referes?

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  4. O BES foi claramente contra o uso do veto por parte do governo e isso não é costume!

    Zangaram-se as comadres?
    Estará o BES falido e a precisar mesmo deste encaixe que a venda da Vivo lhe traria?

    E, mudando de banco, mas não de assunto, e o BCP? Será que os boatos têm um fundo de verdade e a saída do Vara não foi mais que o "primeiro rato a abandonar o navio"?!

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  5. Pronúncia, partir do princípio que um Banco poderá defender qualquer tipo de posição concertada com outros accionistas é quase lírico. Por outro lado, não deixa de ser legítimo o Bes querer concretizar um negócio em que o valor que detinha se viu multiplicado por três de um momento para o outro.
    As informações de que disponho são contraditórias em relação ao BCP. Há muito boa gente que garante que o Banco está de boa saúde, embora num período fraco do ponto de vista financeiro. Por outro lado, há pessoas realmente boas que dizem que o BCP não aguentará até ao final do ano e que vai ter de ser resgatado antes mesmo da queda do governo.

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  6. Bom dia!

    Muito bem pensado e melhor dito, mas da tal chuva em tons dourados, não gostei minimamente, da-ssseeeeeeee!

    Bom fim de semana, Eusébio. Agora vou ver se consigo descer a ladeira. Ou melhor, subir, porque para baixo todos os santos ajudam :-)

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  7. Bom dia Francisco

    Isso da chuva dourada, cada tolo sua mania. Quanto à ladeira, vai subindo e descendo. Daqui a umas semanas nem reparas que a sobes sem dificuldade. Ou então morres a tentar.

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  8. Só há aqui uma coisa que importa observar, a oposição deste país é uma merda, o Sócrates faça o que fizer é sempre mordido, SEMPRE. Se não tem feito nada com a porra das acções lá vinha o PSD dizer que ele é um vendido a Espanha e andava o país revoltado porque se tinha cedido, não se cedeu e ele continua a ser o mau. Estou cheia, digo-te que se há coisa má de se ser é primeiro-ministro, vade retro. Não que eu não ache que ele não tenha jogado pelo seguro e que não esperasse que isto fosse para o Tribunal Central dando o ar de luta pelo interesse do país mas isso é outra conversa. Da minha parte tanto se me dá que a Espanha se alicerce mais ainda por aqui, não me interessa mesmo e até acho que é para melhor assim saibamos não ser os lacaios.

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  9. Mete-os no...

    (Eu ainda não acordei do mundial. A partir de 2ª lá volto eu à realidade - que não parece ser nada famosa...)

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  10. Menina Ção, há que ser coerente. Ser ele é preso por ter cão e por não ter, é bem capaz de ser verdade. Agora diga-me lá porque prescinde ele de direitos especiais na Galp e na EDP?

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  11. Noya, eu??? Eu não os meto em lado nenhum... É pena é que sejamos forçados a deixar meter...

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  12. Cirrus, ele não prescindiu destes por estratégia de imagem quanto a mim, mas como dizia não me interessa, a decisão acaba por não ser "nossa" comprovando o poder da comunidade como há muito venho a avisar, não que isso seja mau, mas o que me perturba cada vez mais é observar que a oposição não passa de uma força que contraria o que se fizzer dê por onde der, isso sim incomoda-me. Por exemplo o BE que defendiam quando foi aquela bronca em Setúbal o ano passado que os polícias eram uns monstros porque atacavam cidadãos e que não se devoa usar a força e andaram lá feitos palhaços a defender a população ofendida, já este ano com o historial de arrastões e violência na CP e Cascais vêm muito mansinhos dizer que é preciso apostar em mais policiamento e que o país está inseguro por causa do governo. Ora se fossem mas é à merda. Mas como este exemplo há mais (...)

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  13. Cirrus,
    (ele) mete-os, não tu :)

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  14. Menina Ção, concordo com a sua visão de que esta oposição é nas suas palavras, uma merda. Mas começando, sem sombra de dúvida no PSD, que tem feito acordos inacreditáveis com o governo. O resto não presta? Ah, pois não, se o maior partido da oposição esfola quando o governo diz mata...

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  15. Noya, isso anda muito estranho...

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