terça-feira, 27 de julho de 2010

A INDIGNAÇÃO DO HERÓI

O distrito de Aveiro e particularmente o concelho de Oliveira de Azeméis, tem sido fustigado por centenas de focos de incêndio nas últimas semanas. Hoje, os incêndios atingiram o seu ponto máximo de intensidade e perigosidade, fazendo a PC deslocar meios de todos os concelhos vizinhos para o combate a dezenas de frentes, que já obrigaram a evacuações.
O comandante dos BV Oliveira de Azeméis, Paulo Vitória, em resposta à pergunta sobre a origem dos fogos e se supostamente esta poderia ser criminosa, respondeu como lhe ia na alma. Vi nas notícias, ao almoço, um homem resoluto em solucionar o problema, mas também consciente sobre aquilo que enfrenta, dizendo que tinha a certeza de que havia mão criminosa, uma vez que sempre que se dirigiam a um local, outros fogos deflagravam em locais totalmente diversos, obrigando a dispersão de meios, quase como se "nas últimas semanas, andamos a correr atrás de alguém, que se anda a divertir e a dar-nos trabalho". Assumindo claramente a sua disposição de não se salvaguardar perante as suas declarações ("...mesmo sabendo que possa ter que responder pelas minhas afirmações..."), Paulo Vitória disse, por outras palavras, aquilo que toda a gente sabe, excepto a Justiça deste país: que os incêndios florestais são, na sua grande maioria, resultado de manobras menos lícitas de industriais do sector que buscam o lucro fácil. Tão simples como isto. Mas quando alguém é apanhado a incendiar, normalmente é um maluquinho qualquer, com tendências pirómanas, que não sabe o que faz. Se assim fosse, temo que este país estivesse cheio de maluquinhos pirómanos. Mas não é o caso. 
À custa do património nacional, há quem ganhe fortunas. Esse é que é o caso. Não é um sector em que eu conheça os empresários, devo confessá-lo. Diz quem conhece que é assim que se faz negócio, nem que seja à custa das vidas dos proprietários e à custa de perdas de vidas de Bombeiros, que mais não são que voluntários que se sacrificam para que alguém ganhe fortunas ilícitas. Revoltou-me. Acidentes acontecem. Mas o que aconteceu hoje em Oliveira de Azeméis foi tudo menos acidente!
Um bem haja aos Bombeiros portugueses, particularmente a Paulo Vitória, pela coragem que exibem no combate, seja nos incêndios ou fora deles. Mereciam mais respeito por parte de todos os portugueses.

Foto LUSA

10 comentários:

  1. Boa tarde, Cirrus...

    O que vou dizer vai chocar muita gente, mas cá vai: Quem ganha verdadeiramente com os incêndios são as empresas de Helicópteros (não percebo pq é que a nossa Força Aérea não adapta os seus helicópteros e não treina os pilotos para estas circunstâncias) e os proprietários florestais, que vendem a madeira praticamente ao mesmo preço e não têm que pagar para limpar as matas, o que em terrenos acidentados, como é o centro e norte de Portugal, tem custos elevadissimos.
    E de facto, é muito frustrante a situação que refere (essa e muitas outras)... querer fazer o bem e ser impotente para o conseguir, revolta e muito.

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  2. Boa tarde, Salvador,

    Não choca nada, pelo contrário, é situação para a qual já me haviam chamado a atenção e que também me parece ser óbvia. Aliás, ambas. Seja de que maneira for, inserem-se ambas naquilo que j+a referi. Isto porque o pequeno proprietário, que é mais usual no Norte do país, pouco ganha com a situação. É uma questão de dimensão, suponho.

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  3. O Salvador tocou na ferida, os helicópteros fretados além de na maior parte das vezes não fazerem nada de jeito, já vi muitas espuma ser atirada ao lado dos incêndios, ganham um dinheirão com isto, ganham eles e ganham os madeireiros que compram a madeira mais barata por estar queimada mas a aproveutam na mesma, ganham alguns empreiteiros que renogoceiam valores de terrenos que queriam adquirir se estes aparecerem queimados e ganham alguns latifundiários sem escrúpulos que tramam a concorrência. Outra coisa que se devia mudar, o estatuto do bombeiro, não há porque não ser uma profissão a sério em vez de ser voluntária.

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  4. Menina Ção, pois é bem verdade tudo isso que diz e que me leva a pensar que os incêndios são um grande negócio a que a Justiça fecha os olhos. Sabe-se lá porquê.

    Os Bombeiros, sem dúvida, são uma daquelas actividades que não se entende como podem sobreviver sem aspirarem ao estatuto de profissão. Não faz sentido. E penso que muita gente esquece que eles andam ali em regime de voluntariado. Penso que a sua condição de heróis, na sua maior parte, não sairia beliscada pelo facto de serem profissionais. Pelo contrário, era uma forma de dignificação.

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  5. Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas de que os incêndios são um negócio de milhões (ainda ontem ao passar por um incêndio enorme eu e um colega comentávamos isso).

    Já perguntaste quem são os donos das empresas de helicópteros e de aviões de combate às chamas? És capaz de ter uma surpresa... ou não!

    Já perguntaste quando recebe o dono de um terreno de subsídio para o limpar? Há pouco tempo atrás recebia qualquer coisa...

    Já perguntaste quem detém o negócio de equipamentos de combate a incêndios?

    E tantas, tantas perguntas que se podem fazer sobre esta temática e cujas respostas seriam muito, mas mesmo muito elucidativas...

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  6. Pronúncia, acredito nisso tudo. Sem dúvidas. E não há grandes surpresas. É no que dá as parcerias público-privadas e não ser o Estado a tomar todas as responsabilidades num assunto que devia efectivamente fazê-lo.

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  7. Não quero acreditar nestas suposições incendiárias. É grave demais. De qualquer maneira, se alguém sabe de alguma coisa que denuncie. Está em jogo o futuro das gerações vindouras e da nossa qualidade ambiental.
    Eu sou mais inocente - prefiro acreditar em temperaturas anormais, baixa taxa de humidade e falta de limpeza dos terrenos.

    N. B. - Existem bombeiros profissionais.

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  8. Dylan, também gostaria de ser optimista a esse ponto, mas sinceramente não sou.

    Sim, é certo que existem bombeiros profissionais, estão mais nas corporações de Sapadores. As corporações de voluntários podem ter um ou dois, normalmente especialistas em gruas ou outro equipamento pesado. Mas a grande maioria é por "amor à camisola".

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  9. é uma profissão pela qual tenho muitíssimo respeito, a par de outras, já que esses homens e mulheres dão literalmente a vida pelos outros.
    e é uma situação escabrosa, que me revolta as entranhas... para mim, esses senhores, responsáveis pela destruição do nosso magnífico património natural, haviam de ser carbonizados aquando as florestas inteiras que destroem...

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  10. Anne, há muito que a justiça portuguesa desculpa esses senhores. Resta-nos descobrir, um dia, porquê... Mas eu desconfio. Mas depois são as teorias da conturbação...

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