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Este é o país real. Não é o país dos sonhos cor de rosa de Sócrates, não é o país do sol, não é nenhum artigo rebuscado sobre as virtudes de Portugal no NY Times. Este é o país real.
Esta notícia é uma daquelas em que não queria acreditar que ainda pudesse acontecer em Portugal. Claro, o português é perito em adoptar as causas mais estranhas e sem sentido de que nos podemos lembrar. Heróis nacionais foram forjados à volta de factos de utilidade ou até ética questionável. Basta lembrar que Afonso deu um arraial de porrada na mãe, ou que já vivemos há 36 anos no país das laranjas e das rosas. Estas causas estão entre as muitas que os portugueses abraçam sem reservas desde sempre. "Ah, o gajo deu porrada na mãe! É um gajo de tomates, é disto que a gente precisa para fundar Portugal!". "Ah e tal, eles roubam mas fazem obra!". "Bora lá atirar bolas de golfe ao autocarro do Benfica!". Estas são algumas das frases que eu imagino os portugueses dizerem, aqui e por ali.
Quando o notório assassino, a quem chamaram cereal quilo (não sei bem porquê, era mais pesado e não comia cereais ao pequeno-almoço - que diga-se que não sabem a porra nenhuma - excepto o Nestum), Charles Manson foi apanhado pela justiça, viram o povo americano à volta da fogueira em solidariedade para com ele? Assim tipo corrente humana de calor para um homem que merecia mais que a cadeia pura e simplesmente? Não viram? Nem eu. Mas o português é assim!! "É dos nossos, a gente solidariza-se! Matou? Que se lixe, ninguém é perfeito!! Há por aí quem apanhe no cu e não lhes acontece nada..."
Corremos o sério risco de este caso se tornar mais uma cruzada "social" contra a liberdade sexual. Dizia-se por Cantanhede que houve uma missa em honra de Renato Seabra. Acredito que as pessoas tivessem reunido à saída da missa, mas daí até à missa ser em honra do confesso assassino... Por puro acaso, tenho o grato prazer de conhecer o pároco de Cantanhede, o padre Luís Francisco. Duvido, sinceramente, que alguma vez rezasse uma missa por um assassino. Talvez apenas pela sua alma, e mesmo assim... Mas isto denota imediatamente uma colagem, uma tentativa de colagem, melhor dizendo, desta manifestação de apoio a um assassino aos sectores mais conservadores da nossa sociedade. Por isso alerto que corremos o risco de esta poder vir a ser mais uma cruzada contra a liberdade sexual.
No fundo, no fundo, os votos no Cavaco tinham de vir de algum lado. E agora percebi de onde vêm. O país real é este.
Absolutamente surreal! Nem dá para acrescentar nada ao que disseste!
ResponderEliminarMalena, isto só pode indiciar duas coisas: Uma tentativa desesperada da família em criar uma onde de simpatia para com o assassino. O que é, senão normal, pelo menos compreensível. Mas isso poderá ser feito à custa da homofobia deste país. E isso indicia uma população profundamente retrógada e completamente fora do sentido moral.
ResponderEliminarAté posso compreender a atitude da população, pois trata-se de um dos seus, mas uma rápida leitura por blogues e comentários na blogosfera de jornais online retratam bem quão freaks são os portugueses!
ResponderEliminarTu conheces um pároco?! Ahahahahahahaah!
Dylan, da família posso entender. Da população... Humm...
ResponderEliminarConheço e é um gajo porreiro!
Perguntava-me o que surgiria após o Natal para desviar a atenção dos portugueses. Aí está!
ResponderEliminarEu vejo é os chineses a entrarem por aqui a dentro - sem trocadilhos - e ninguém a ralar-se com isso...
Abraço.
Noya, há sempre algo. Mas atenção que o problema aqui não é fútil. É o de sabermos onde estamos a nível civilizacional. É o de sabermos se tudo se justifica para supressão de pessoas "anormais". É Ética, é o âmago da nossa sociedade. Não é só uma telenovela. É o de sabermos se preferimos assassinos a homossexuais.
ResponderEliminarE se se tratar de um caso de insanidade?!
ResponderEliminarDylan, não quero crer que os comentários homófobos e horrendos que li por essa blogosfera e jornais online possam representar a população portuguesa... era mau demais!
ResponderEliminarPronúncia, claro que é um caso de insanidade. Provocado pelo próprio e pela família. Se tal for o caso, espero que apodreça na cadeia. Nenhum assassino que mata a sangue frio como ele é completamente são. Não quer dizer que seja inimputável.
ResponderEliminarSurpreende-me que não saibas que a maior parte da população portuguesa (particularmente homens) é profundamente homofóbica. Não andas atenta?
Provocado pelo próprio, pela família e, esqueceste-te de acrescentar pelo próprio Carlos Castro e pela sociedade que vamos tendo...
ResponderEliminarSei que a maior parte da população portuguesa é homofóbica, infelizmente, mas isso não significa que os comentários a que se foi assistindo por esta net fora seja representativa da população portuguesa...
Em primeiro lugar, uma palavra em defesa dos cereais de pequeno almoço, que são bem saboros. Sou fã de Nestum, mas o chocapic e os fitness também são bem gostosos.
ResponderEliminarSobre o cordão humano, à primeira vista apetece mesmo dizer que é ridículo, mas tentando por-me no lugar daquelas pessoas que conviviam com o rapaz, um rapaz aparentemente normal, reservado, boa pessoa, o amigo, o filho de alguém, consigo compreender. Não sei bem qual o propósito do cordão humano, mas se for para apoiar um rapaz que teve um surto de loucura, seja lá pela razão que for, não me choca assim tanto. Preferia que houvesse um cordão humano por razões mais nobres, mas não posso dizer que não compreendo aquelas pessoas.
Está tudo demasiado distante de nós.
bem visto.
ResponderEliminarHoje assisti a uma conversa aqui no tasco que me perturbou bastante. Uma senhora aparentemente culta, diria que formada, das nossas idades, que ao escutar nas noticias algo sobre o tema, se sai com esta:
ResponderEliminar"Só tenho um filho, mas se for para me sair paneleiro ou drogado, preferia que deus mo levasse agora"
Quer dizer, como se não bastasse comparar a homossexualidade com a toxicodependência, uma catástrofe social e familiar, que destrói tudo ao seu redor, ainda mostra que de tantas coisas que podem correr mal na criação de um filho e de tantos defeitos que o ser humano pode ter, ser "paneleiro" está entre os dois piores.
Então e ser ladrão, e vigarista, e assassino? Será melhor do que ser homossexual? E quem os tem doentes e incapacitados?
Gente de merda que não sabem o que deitam pela boca fora...
Bom fim de semana, Eusébio
Pronúncia, não sei em que medida o Carlos Castro pode ter tido culpa. Talvez pelo facto de não ter pensado em ter uma faca, para ser mais facilmente castrado? Só se for. Penso que ele nunca iludiu ninguém. Não sei se viste as conversas no FB entre os dois... Mandar um beijinho de despedida a um homossexual assumido deve ser encarado como quê? E dizer-lhe que tem pensado muito nele? Tretas, o gajo é mais um daqueles rufias que até é capaz de negar a sua condição sexual para conseguir o que quer. Por muitas voltas que se dê à questão, há uma vítima, que é o morto. O outro é assassino. O resto é conversa da treta.
ResponderEliminarSara, eu não consigo compreender. O homem é um assassino. Está-se a fazer um cordão humano de solidariedade a um assassino. Não há aqui meios termos. Ou os assassinos são menos maus se os conhecermos?
ResponderEliminarTripalio, obrigado. Bem vindo!
ResponderEliminarFrancisco, é essa como são muitas. É a merda que temos neste país que chega até ao tecto. É melhor o assassino que o morto. É melhor ser criminoso que gay. Para mal dos pecados de muitos, pior que isso tudo é que o seu herói, além de assassino, de baixa ética (capaz de tudo para ser famoso), afinal também é gay. São ironias do destino.
ResponderEliminarMas ainda vão conseguir, olá se vão, virar o cu ao prego. Estamos num mundo em que quem mais erra é mesmo o mais premiado.
Pode ter também a sua quota de culpa pela simples razão que pode ter-se aproveitado do suposto poder que tinha para aliciar o outro... só por isso.
ResponderEliminarComo já comentei no post anterior, e mantenho a minha opinião, um homicídio é sempre um homicídio e deve ser punido, e quem morre é sempre a vítima maior. Mas para mim, muito mais que uma questão de ser ou não uma relação homossexual, é uma relação em que cada uma das partes explorou, ou tentou explorar, a outra... um porque queria "carne tenra" e provavelmente usou a posição que ocupava na sociedade para a conseguir, o outro porque queria fama de uma forma fácil e vendeu-se... acabou mal, muito mal.
Cirrus, os assassinos não têm todos o mesmo passado, o mesmo percurso, os mesmos antecedentes e planos. E também é por isso que a justiça distingue os assassinos premeditados dos assassinos varridos do juízo - ou que flipam num momento e cometem uma loucura. Então vais-me desculpar, mas um cordão humano para dar força a um filho da terra normal que flipou, e um cordão humano pelo Hitler, são duas coisas muito diferentes. Não estou a dizer que participaria num cordão de força para um amigo meu que tivesse cometido aquilo que o Renato Seabra cometeu, estou é a dizer que percebo aquelas pessoas.
ResponderEliminarSara, tu percebes, eu não. É tão só aquilo que quero dizer. O valor de uma vida humana é demasiado precioso para mim para ter pena ou honrar ou homenagear um assassino. Um assassino é um assassino, não quero saber se flipou ou se já era flipado, e parece-me que sim, que já era flipado, ou não venderia a sua maneira de ser e a sua própria natureza pela fama, não te parece? As pessoas que fizeram o cordão não se lembram disso? Apenas recordam o miúdo recatado. Olha o recatado que ele foi, durante mais de uma hora a profanar um cadáver da sua autoria. Um recato excepcional!
ResponderEliminarDe qualquer das formas, é o que mais se ouve dizer por aí, quando há crimes passionais: nunca ninguém deu por nada, era um casal normal, enfim... Os assassinos são pessoas como todos os outros. Só que os outros não flipam. Não matam.