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As parangonas dos jornais são sempre impressionantes. Tem de ser sempre impressionantes. É a eterna luta do jornalismo, discernir entre o vendável e o verdadeiro, entre o útil e o sensacionalista, entre o meramente acessório e o essencial. E tudo isto vem a propósito de quê?
As parangonas dos jornais têm tido, com alguma insistência, as petrolíferas e ao preços dos combustíveis como assunto. Porque não páram de subir. E não apenas porque não páram de subir, mas sobem sem qualquer razão! Fica no ar a ideia do assalto das petrolíferas aos consumidores. Fica a ideia da impunidade, fica a ideia do oligopólio, seja lá o que isso for, ficam montes de ideias. As parangonas de jornais permeáveis ao poder político têm sido assim. Ninguém informa, deixa apenas a ideia no ar.
As pessoas não são máquinas, são apenas pessoas. Não têm obrigação de saber aquilo que não sabem. Os orgãos de informação, esses, têm o dever de informar e de saber o que dizem. Não apenas lançar suposições que os mais demagógicos apanham imediatamente e propagam aos sete ventos como se de uma verdade insofismável se tratasse. Por muito que se explique como funciona o negócio, alguém sabe sempre que leu do jornal x, ou no pasquim y, normalmente afectos aos interessados, que não é assim. E fico eu, no caso, a pregar no deserto.
Agora que está à vista de todos que os combustíveis subiram em Espanha para valores record, já alguns questionam o porquê da diferença se manter tão grande, mesmo assim, entre os dois países. A resposta não é simples?! - Impostos! Custou a perceber que a relação entre o preço do petróleo e dos combustíveis não é directa, longe disso? Que os combustíveis têm a sua própria referência, negociada internacionalmente e que é virtualmente igual para todos?
É que o que eu queria mesmo era esta parangona, hoje, nos jornais:
“PREÇO DO COMBUSTÍVEL DESCE APESAR DA SUBIDA DO PETRÓLEO!!!!”
Alguém a viu? Não, pois não? Vão ver que para a semana, se acontecer o contrário, verão novamente, mas ao contrário. O sensacionalismo não é de hoje.
E ninguém é santo aqui. O combustível é um negócio como outro qualquer. Quer ter lucros, quer vender, quer manter a sua posição, provavelmente quer manter milhares de empregos por esse Mundo fora, e até ser o maior imposto do Orçamento de Estado de países como Portugal. Ninguém é santo aqui. Também há segredos do negócio, também há campanhas, também há promoções e também há vendas gigantescas a hipermercados. Ninguém é diferente, afinal. Também há autoestradas com os preços todos iguais, e também há autoestradas com os preços todos diferentes, mas parece que ninguém lá anda, só se anda nas que têm os preços iguais. Não há milagres.
Mas há coisas boas e coisas más. Pena é que só se lembrem das más, quando lhes convém tapar os olhos ao povo.
No início de Fevereiro, uma das bandeiras do Governo socialista (?), a adição de Biodiesel aos gasóleos rodoviário e verde, vai originar nova subida de impostos nos combustíveis. É que acabou a isenção fiscal para o Biodiesel, que é mais caro que o gasóleo. E não só as petrolíferas não podem diminuir o teor do Biodiesel no combustível (diga-se em abono da verdade, por imposição europeia), como têm de o valorizar mediante os cálculos fornecidos por Portaria pelo Governo – que se traduzem em mais dois cêntimos no preço para quem compra e em mais custos para quem vende. Vai uma aposta em quem os jornais vão pôr a culpa para a semana?
Cirrus,
ResponderEliminarcomo explicar que alguns combustíveis em Portugal tenham o preço de venda sem impostos mais alto do que alguns países e, no final, esses mesmos clientes de outros países paguem menos ao encherem o depósito?!
Como explicar que a carga fiscal em Portugal - sendo menor do que noutros países (ao contrário do que se diz) -, consegue ter um preço final para o cliente dos mais caros da Europa?!
Como é que os lucros das petrolíferas têm aumentado quando se prova que tem existido uma quebra acentuada nas vendas dos combusíveis?!
É verdade ou mentira que as empresas petrolíferas sobem os preços devido ao aumento do barril do petróleo (usando descaradamente esse argumento), quando sabemos que é impossível reflectir-se no imediato dentro do país?
Dylan, o que afirmas é redondamente falso. O preço sem impostos é a cotação Platt's High CIF NWE para vários países europeus, incluindo Portugal e Espanha, por exemplo. Logo, são rigorosamente iguais se comparados nos mesmos dias. Podem ocorrer compras ou valorizações em dias diferentes, mas a cotação é a mesma.
ResponderEliminarA carga fiscal em Portugal está acima média europeia (é a quinta mais alta, se não estou em erro), mas é muito mais baixa que em Espanha, por exemplo. Isso justifica, obviamente, termos os quintos preços mais caros da Europa.
A Repsol Portuguesa SA, por exemplo, teve 35 milhões de euros de lucros, com uma facturação de cerca de 2000 milhões. Faz as contas. Encontra a rentabilidade. O mercado está estagnado em Portugal, é verdade. Também os lucros. Não queiras comparar os lucros da refinadora. Não são comparáveis, pois vêm quase na totalidade da venda de gasolina excedentária aos EUA.
Penso que nunca ouvi nenhum responsável de nenhuma petrolífera referir o preço do petróleo para justificar uma subida, mas sim o preço dos refinados. Além de tudo, não são burros e sabem como funciona o negócio. Só quem não sabe compara o preço do petróleo com o dos refinados, pois são produtos diferentes. Um é uma matéria prima em bruto, o outro é resultado de múltiplos processos de transformação. Há relação indirecta, obviamente, mas não se reflecte imediatamente.
Como vês, quem fala de cor corre o risco de errar, o que é humano. Já quem informa devia ter mais cuidado com o que diz.
Queria dizer, no tocante a carga fiscal, que é muita mais alta cá que em Espanha, obviamente.
ResponderEliminarJá uma mulher sábia me disse "quem quer informação, procura-a", mas há certos assuntos em que é difícil encontrar informação, e este é um deles.
ResponderEliminarMas agora estou informada (obrigada) e cada vez tenho mais vontade de aprender a andar bem de bicicleta. ;-)
Cirrus,
ResponderEliminarEu não estou a afirmar nada. Estou a questionar, com alguma admiração, é certo. É para isso que servem os pontos de interrogação...
As informações que obtive foram através de um economista e correm o risco de estar desactualizadas. Só as lancei para o debate.
SDaVeiga, não há nada como se informar com quem melhor pode explicar. Não há vergonha em saber. Há vergonha em afirmar sem saber.
ResponderEliminarDylan, desculpa se dizes que não afirmas, mas, por exemplo, quando afirmas (e isso afirmas de facto) que a nossa carga fiscal não é das maiores da Europa, estás errado. É mesmo das maiores da Europa. No caso dos combustíveis, note-se, nem eu afirmei no geral.
ResponderEliminarHá muita informação que pode ser veiculada por um economista ou seja por quem for. Garanto-te que não conto mentiras em relação ao que afirmei. E conheço, como deves calcular, muito bem o negócio.
Cirrus, compreendo esta questão de o preço dos combustíveis não estar directamente relacionado com o preço do barril de petróleo... é a velha questão do "preço-composto" onde são muitas as variáveis da equação.
ResponderEliminarMas há uma coisa que me fez espécie... agora até aparece um senhor na TV a explicar que não, que o preço do combustível não depende directamente do custo do barril e tal e explica tudo direitinho e muito bem, até aqui tudo bem... se não fosse o mesmo senhor que quando o barril atingiu máximos no ano passado (ou seria há dois anos?) vinha dizer que "tinha que ser, que os combustíveis tinham que subir, porque (imagine-se)... o preço do barril estava sempre a subir.
Isto é que me faz muita confusão, a falta de coerência nas explicações dadas a quem têm que encher o depósito e pagar o preço que lhe pedem... e isto se quiser (ou precisar) de andar de carro.
Gosto de coerência para grande mal dos meus pecados... defeito enorme este!
Pronúncia, vamos lá a explicar mais uma vez.
ResponderEliminarA relação entre o preço do barril e o preço dos refinados não é directa, e a prova disso foi que o barril subiu quase até aos cem dólares a semana passada e os combustíveis baixaram.
Quando recebo as cotações Platt's, sei imediatamente qual a oscilação que vai haver na segunda feira seguinte. Não sei, a maior parte das vezes, a cotação do petróleo, porque no imediato não me interessa absolutamente nada. Os preços que envio aos meus clientes têm apenas em conta a variação do Platt's.
Mas temos de ter em atenção que o sistema é dinâmico e depende sempre, a longo prazo (desde algumas semanas a meses) dos preços do barril, porque eles próprios, evidentemente, têm influência nos custos de produção, que e uma das vertentes que o Platt's também contempla, obviamente.
Mas dou-te um exemplo que é bastante claro: durante a vaga de frio na Europa, aquela que fez lembrar uma era Glaciar, há algumas semanas, o Platt's subiu de forma sensível. Aliás, foi a grande subida que se verificou, que na altura se intensificou com a subida do IVA. Porquê? Porque grande parte das refinarias tiveram de produzir muito mais gasóleo de aquecimento, em detrimento de gasóleo rodoviário e gasolinas. Menor oferta, obviamente, fez disparar os preços. Há muitas condicionantes que as pessoas desconhecem. Uma delas, por exemplo, é a da dupla tributação IVA sobre ISP, e disso não vejo ninguém falar. Só em IVA pagas mais 12 cêntimos na gasolina e mais 9 no gasóleo do que noutro país qualquer da Europa, como Espanha.
E depois há a questão dos "brancos", que são as companhias que abastecem (nós o Jumbo, a Galp o Continente, etc), que têm preços mais baratos. Vendemos-lhes combustível sem aditivos a preços esmagados, pela dimensão do negócio, e eles aproveitam, até porque o principal negócio deles não é o combustível. Ao vendermos essas centenas de milhões de litros, é certo que ganhamos muito pouco, mas não pagamos ordenados, nem licenças, nem direitos de superfície, etc, pelo que o negócio acaba por ser pouco gravoso. Já dei estes números e dou-os outra vez: 35 M€ de lucros em 2010. Com 2000 M€ de facturação. Não é uma taxa de rentabilidade muito alta. Temos lucros? Graças a Rá, não me agradaria ter companhias petrolíferas com prejuízos. Seria o canto do cisne de toda a economia.
Cirrus, não estava a ser irónica nem sarcástica quando disse que compreendia que o preço dos combustíveis não seja directamente proporcional ao custo da matéria prima... para mim não é nada difícil perceber isso.
ResponderEliminarO que me chateia são as explicações contraditórias de quem as deveria dar correctamente, isso é que me chateia e muito...
Também não me agradaria nada chegar a ver o dia em que as empresas petrolíferas apresentassem prejuízo... era sinal que o bilhete estava passado... e só de ida! (o canto do cisne, mesmo)
Pronúncia, há muita contrainformação neste negócio, é um facto. E creio que uma das maiores falhas da indústria é precisamente não explicar o que se passa. Nós temos, de forma geral (nós e os espanhóis, diga-se) preços superiores aos da UE (antes de impostos), facto que tem a ver com a oportunidade de compra ou de valorização. A nossa cotação Platt's, por exemplo, é diferente da da Alemanha, porque são zonas geográficas diferentes. A nossa é a NWE, a deles, salvo erro, é a N. E isso igualmente para os países da Europa Central.
ResponderEliminartemos, por exemplo, um país da Europa que é um produtor de petróleo de razoável dimensão, o Reino Unido, que tem preços finais superiores aos nossos. E isto porque têm uma carga fiscal igualmente elevada.
A questão não é os preços subirem ou descerem, porque isso, infelizmente, e tendo em conta o sistema que toda a gente defende, que é a regra do mercado (o santo mercado), é o mais normal possível e há muita gente a ganhar muito dinheiro a transaccionar petróleo e derivados que nunca lhes pôs a vista em cima. E disso podemos queixar-nos. Um barril de petróleo é pago à Arábia Saudita não mais que a 20 dólares na origem.
Mas como já disse, ninguém é santo por aqui. É um negócio e todos queremos ter lucros. Agora diz-me lá se ter 35 M de lucro é escandaloso quando se factura mais de 2000 M... E o nosso mercado é tão pequeno que admito que há colagem de preços, não por serem previamente combinados (não há ninguém a telefonar a ninguém), mas porque as margens admissíveis são da mesma ordem, mais meio cêntimo, menos meio cêntimo. Como eu disse, ninguém é santo. Só que estão a procurar o Diabo no local errado. Esse está lá para cima, no poder. Mas digo-te já que os entendo. O ISP representa 30% do Orçamento de Estado, é o maior Imposto a concorrer para a Receita. Se o baixarem, adivinha lá o que acontece?
Vá Cirrus, confessa lá que está a defender a tua dama. Não tem mal, eu faria o mesmo...
ResponderEliminarDylan, claro que estou a defender a minha dama. E acima de tudo, o meu emprego. Não sou hipócrita. No entanto, tudo o que disse é a pura verdade.
ResponderEliminarEu acredito no que dizes Cirrus, mas não leves a mal que investigue esta questão mais a fundo quando tiver tempo.
ResponderEliminarDylan, o barril está a 99 dólares, subiu mais uma vez.
ResponderEliminarOs combustíveis vão descer na 2ªfeira.