Não sou de extremos, embora por vezes pareça. Só não gosto de incongruências. E quando elas acontecem comigo, porque também as tenho, fico irritado. É que não pretendo ser portador de nenhuma verdade universal, nem tenho pretensões de ser citado seja por quem for, tipo filósofo moderno, que diz as mais completas barbaridades sob laivos de culta e insofismável verdade absoluta. Nesse aspecto, estamos a aproximar-nos, pelo lado contrário, dos dogmas da Igreja, quando não nos apercebemos que aquilo que afirmamos como verdade é apenas uma conjectura ou opinião. É puramente nesse sentido que este blogue existe. Não para dizer verdades, porque não as conheço, embora deseje.
Ah! Sim, perdi-me completamente com esta distinção entre opinião e verdade. Pois isto a propósito das medidas de austeridade anunciadas pelo governo grego e seguidas, em menor escala, pelo governo português, agora que foi anunciado o PEC. Já aqui tinha escrito, por várias vezes, que as pessoas deste e de outros países não se aperceberam ainda da situação para a qual nos dirigimos a passos largos.
Quer-me parecer que ninguém ainda se terá apercebido que nada poderá ser igual ao que antes existia. O clima de consumismo, de crédito fácil, de dinheiro para tudo e para todos, tem os dias contados. Nem poderia ser de outra maneira, num planeta com 7 biliões de seres humanos, com condições para albergar, quando muito, metade disso. Se nunca chegou para todos, agora tudo se torna escasso. A crise internacional não é uma causa em si mesma, é apenas o reflexo dos desequilíbrios de recursos a nível mundial e da própria demografia.
Estamos a pagar pelas políticas expansionistas, quando o que nos espera não é a economia do crescimento, mas sim a economia do salve-se o que se puder e sobreviva quem possa. No meio disto tudo, está o povo. Português e outros. Vamos pagar? Certamente vamos pagar. Temos culpa?? De tudo não temos com certeza, mas de algumas coisas, também. A velha máxima de assegurar a próxima geração é uma das abolições que teremos de praticar. Diminuir a população a nível mundial é mandatório. E não porque não tenhamos todos o direito a ser felizes e de ter os rebentos que entendermos. É que as próximas gerações também têm o direito de ser felizes e não morrerem à fome e sujeitarem-se à mais vil forma de indignidade: a pobreza extrema.
Quanto às medidas para corrigir os défices da Grécia, é evidente que algo tem de ser feito e compreende-se o desespero de um governo que vê cair por terra todas as suas contas. Não interessa de quem é a culpa, agora há que fazer-se algo. Mas vejamos: cortes de 30% nos salários da função pública? Não será, pergunto eu, uma medida contraproducente? Claro que reduz substancialmente a despesa pública, evidentemente parece ser uma medida desesperada, dura, mas necessária. Mas… o privado não vai seguir essa norma, não terá essa liberdade? Se a seguir, não será verdade que tanto a poupança como o consumo descerão a níveis catastróficos? Se tal suceder, qual a receita de impostos directos e indirectos esperada a seguir a uma hecatombe do mercado? E este mercado não é o virtual, o da Bolsa. Falo na vida quotidiana. Então pode presumir-se que se corta na despesa uns 15% para se deixar de receber menos uns 50% da receita em impostos? Sei lá, são números atirados para o ar. Cada um apanhe aquele que quiser.
Acho que cortes devem ser feitos. Cortemos então em salários de gestores de empresas públicas, em acumulação de reformas várias, em subsídios indevidos, em ajudas à banca, em trocas de frotas automóveis, em obras desnecessárias, etc, etc. Já ajudava qualquer coisa, não?
ResponderEliminarO problema, penso eu, está na terrível gestão dos dinheiros públicos. Tantos professores, mestres e doutores de economia e não há um com uma ideiazita do que fazer?
E sim, vamos nós, o zé, pagar pelos nossos erros...
Cat, só quero chamar a atenção para um possível erro em se estar a restringir os salários do povo em geral, uma vez que são esses que, como sabemos, são efectivamente gastos, e ao sê-lo, dão impostos ao Estado. Penso que é contraproducente, uma vez que as pessoas vão apertar tanto os gastos que a economia grega vai entrar em recessão grave não tarda muito. Depois... Vão buscar o dinheiro onde?
ResponderEliminarQuanto ao resto, seria o início da solução tomar medidas desse tipo. Não acredito que resolvessem o problema, mas aliviava com toda a certeza.
Cirrus, todos temos a nossa quota parte de culpa, mas há uns que tem muito mais culpa que os outros, então porque não serem esses os primeiros a pagar a factura?!
ResponderEliminarDesconheço a realidade grega, apenas o que vou vendo na televisão e lendo aqui e ali, mas acho que ainda conheço a realidade portuguesa.
Nestes últimos tempos as empresas portuguesas tÊm tornado públicos os seus resultados e pasme-se, uma boa parte delas tiveram lucros superiores aos expectáveis, especialmente a banca.
Porque é que a banca continua a ter praticamente os mesmos privilégios que tinha?! Porque é que paga menos impostos que outros sectores?!
E os gestores públicos?! Também vão ter salários congelados (com algumas excepções, umas já anunciadas e outras só a aguardarem a decisão do ministro), mas vão continuar a usufruir dos ordenados chorudos, das pensões escandalosas, dos benefícios imorais, dos carros de muito alta cilindrada, mesmo uma grande parte deles não devendo nada à competência e só à filiação partidária.
Porque é que não se acaba com mais de metade dos institutos, comissões, altas autoridades e o raio que os parta a todos que não servem para nada a não ser justificar o "tacho" de alguns?!
Porque é que os carros afectos a este bando de parasitas têm que ser sempre ultra novos, último modelo e de alto luxo?!
Mas quem é que já começou a pagar a factura e vai continuar a pagar?! Os mesmos de sempre...
Quantos já não pagaram com a perda de emprego o "crescimento" que algumas empresas apresentaram?! E só para outros pagarem, com um emprego mais precário e com menor salário, para que os do costume continuem a ter aquilo a que se habituaram e mais ainda?!
Todos temos que pagar, é um facto, mas estou farta de alimentar parasitas, chulos e mandriões.
E sim, tens razão... até que ponto, na Grécia com estas medidas não estará a comprar uma hecatombe bem maior do que aquela em que já está atolada?!
Pronúncia, claro que tens razão e ninguém ta quer tirar. Há abusos com os quais se deviam acabar e não o fazem porque estariam a comprometer o próprio futuro (sempre brilhante) da classe política.
ResponderEliminarNo entanto, o post apenas quer chamar a atenção para dois factores: o excesso demográfico (resultado do crescei e multiplicai-vos) e o facto de as medidas anunciadas terem em vista apenas agradar às agências de rating e não à economia real. Agências que são, em larguíssima parte, as grandes responsáveis pela situação financeira que atravessamos.
Macaco, estou a investigar.
ResponderEliminarCada vez mais vejo a economia como um problema de fisica. Apetecia-me associar uns palavrões e reescrever o princípio da incerteza associado a esta economia mas esta tua casa merece outro respeito. Não sei se já viste o Invictus do Eastwood? Há lá algumas lições que a nossa classe politica precisava de aprender, se calhar a cela também fazia falta para muitos.
ResponderEliminarAbraço
LBJ, por muito que falemos, a vergonha já se perdeu há muito. Receio que se não for à porrada, isto continuará ad eternum...
ResponderEliminarCirrus, e com o meu comentário quis focar precisamente um desses pontos, estou farta de operações de cosmética para tentar enganar as agências rating (espera até ao fim do mês e vais ver que voltamos a falar disto)... por isso mesmo comecei o meu comentário com o exemplo da banca, e depois segui por aí fora.
ResponderEliminarNão abordei a questão demográfica, porque é por demais evidente, o "crescei e multiplicai-vos" no fundo não é mais do que o desejo do homem de se imortalizar... não fico cá eu, mas deixo semente, ficam os meus!
Pronúncia, inteiramente de acordo. Mas em relação ao segundo ponto, a hipocrisia é muita. Enquanto se lamenta que Portugal perca população (na realidade não perde) e bem, pois seria o caminho correcto a seguir, lamentamos que os países mais pobres tenham "excesso".
ResponderEliminarCirrus, não sei se lhe chamaria hipocrisia. Não será antes o instinto de sobrevivência da raça?!
ResponderEliminarA raça europeia, chamemos-lhe assim, tem de certa maneira os dias contados... e é isso que "assusta"!
Lá está, no fundo é o que já te disse, todos sabemos que vamos morrer e uma grande maioria tenta perpetuar a sua presença através dos filhos que no fundo e numa análise simplista são vistos como uma extensão do "eu", enquanto que o excesso de população dos países pobres (e não só) são vistos como "os outros" os "invasores" os que vão "acabar com a minha raça"... tudo isto me parece muito mais instinto que hipocrisia!
Pronúncia, tu chamas-lhe instinto, és polida. Eu até lhe chamaria outra coisa, bem distinta: racismo. Enquanto fomos nós a invadir, tudo muito bem. Agora os outros invadirem-nos a nós??? Isso é que era bom!
ResponderEliminarMas já é outro assunto...
Cirrus, sou polida é um facto, não vejo isso como defeito antes pelo contrário (mas isto é só um aparte).
ResponderEliminarMas nesta questão em particular não lhe chamaria racismo, porque para mim o racismo vai para além do instinto de sobrevivência da raça.
Associo o racismo à ideia de determinada raça se achar superior a todas as outras e tentar, não apenas sobreviver e manter-se como raça, mas impor-se às demais...
Nunca me ouviste dizer que concordava com as invasões, fossemos nós os invasores ou os invadidos... aliás, enquanto invasores, tenho a minha opinião bem formada a esse respeito!
Mas tens razão, isso é outro assunto...
Pronúncia, evidentemente que ser polida é uma qualidade. Muito útil hoje em dia, diga-se.
ResponderEliminarIronia????!...
ResponderEliminarNão, nada disso. Pelo contrário. Penso que falta a muita gente alguma educação formal.
ResponderEliminarCirrus,
ResponderEliminara minha opinião é muito simples: ninguém pode viver acima das suas capacidades, e isso vale para Estados.
Quanto aos culpados da gravíssima - e não tão distante da situação Grega - situação das Finanças Públicas Portuguesas pois é procurar quem é que votou Sócrates, quem é que antes tinha votado Guterres, e antes Soares, etc.
Legitimar democraticamente estes incompetentes e mentirosos - que têm governado quase sempre desde o 25 de Abril - é confirmar que nem todos deveriam poder votar. Só aqueles que gozam de um certo nível de esclarecimento e informação. Se as pessoas percebessem alguma coisa de macro-economia e dos efeitos do défice jamais votariam Sócrates. Como votaram no Sócrates para pedirem coisas ao Estado e para não terem que votar na Ferreira Leita, feiosa e sem saber sorrir, os resultados estão à vista. E muitos Portugueses, seguramente a maioria do eleitorado, merece bem.
Garcia,
ResponderEliminarNão me parece que possamos distinguir os governos socialista dos sociais democratas em quase nada. Basta lembrar a última vez que o PSD passou pelo governo para metermos as mãos à cabeça. Entraram de tanga e saíram nus.
Continuo a achar que um dos pais do actual estado de coisas em Portugal é agora Presidente da República. Mas isso sou eu que acho e raramente posso dizer isto porque me caem todos em cima. Mas a realidade, para mim, é essa.
O cenário está bastante negro, sem dúvida. è um assunto que requer muita avaliação e ponderação. Nem todos conseguem perceber que se estamos assim é precisamente por essa ideia absurda de que temos de nos reproduzir non-stop para propagar a espécie. Acabamos por nos tornar um parasita deste planeta, uma espécie de cancro que prolifera sem cessar.
ResponderEliminarSe até aqui já mantinha algumas reservas em relação a ter mais filhos, da maneira que as coisas estão se os tiver estarei a privar a minha filha das suas oportunidades e vivências, já que hoje em dia é necessário um investimento enorme (em todas as áreas) na formação das crianças. E eu não acredito que por a Di ser filha única vai crescer "traumatizada" ou descompensada de alguma forma. Prefiro poder dar a um filho todas as oportunidades de sonhar em vez de meter os pés pelas mãos e andar a mudar fraldas até aos 40 (deus ma livre!!!)
Quanto à situação grega, posso não perceber muito de economia mas sei que para haver recuperação económica tem de haver um equilíbrio entre investimento e despesa. Se o governo corta no investimento e pior ainda corta no orçamento familiar, aquele que permite que o pequeno comércio sobreviva, que permite um retorno do dinheiro investido pelo estado, a situação poderá ser realmente catastrófica. sem investimento a economia pára. Por mais que as coisas estejam difíceis, assim pior ficarão. You have to spend money to make money!
E como a Pronúncia diz, há que perceber como continuam certas minorias a viver e a esbanjar como se não houvesse amanhã, levando a carências na restante população, já que não há uma distribuição uniforme da riqueza.
Ana, custa-me ver que as pessoas não compreendem que estão efectivamente a comprometer as gerações vindouras se mantiverem o crescimento demográfico. Os recursos são manifestamente cada vez mais escassos e vai haver desgraça no futuro, ainda mais que a que já vemos.
ResponderEliminarQuanto à Grécia, será que alguém pensa que um corte nos ordenados de 30% vai gerar receita fiscal? Cortar nos ordenados é a solução? Não seria melhor cortar naquilo que não faz falta a ninguém e apenas nos ordenados, digamos, acima de 2000 euros? Será que as pessoas não vão restringir os seus gastos ao absolutamente necessário? É assim que um país vive, não dando hipótese a que haja nem poupança nem consumo? Então há o quê? Aumenta o mercado negro, e lá vão os impostos por água abaixo. Daqui a um ano estão a dizer que cortaram 15% na despesa, mas que a receita desceu 30%... Pois, está difícil de ver, está...