Os portugueses têm tiques. Sim, têm, não vale a pena estarem a responder negativamente. Sim, vocês os três aí, que lêem o que escrevo. Não era uma pergunta, era uma afirmação. Estão com falta de atenção ou faltaram às aulas de português… Dizia eu que os portugueses têm tiques. O que, por si só, não vai além da curiosidade. O problema é quando queremos estender os nossos tiques a outros povos. Aí já a porca torce o rabo e o caldo entorna (pode acontecer sem haver ligação directa entre os dois factos).
Ora um tique bem português é o tique de ter sorte. Os portugueses têm muita sorte. Têm sorte em praticamente tudo o que fazem. O português é apanhado a 160 na auto-estrada, é multado em 300 euros, paga e não bufa (bufar bufa, mas não lhe adianta ponta de um chavelho) e vai para o café. E vai fazer o quê? Comer tremoços e beber mines, está bem, eu merecia essa. Evidente. Mas também vai contar a aventura! E como acaba a aventura? Ora, “tive uma sorte do catano, momentos antes tinha ultrapassado um Lamborghini que ia pelo menos a 220!” Pois é, teve sorte. E teve, a acreditar na história. Não teve azar nenhum de ter topado com a polícia e ter arrotado 300 postas! Ou o juízo de ir a 140… Já não digo 120…
Querem outro exemplo? “Se não tivéssemos canalizado as ribeiras, a baixa do Funchal tinha desaparecido!”. Uma bela maneira de dizer que tivemos sorte! Ora, o que aconteceu na Madeira até foi uma sorte, podia ter sido bem pior!!! Claro, se nada tivesse acontecido, era um azar da treta! Até chegamos ao cúmulo de dizer que as pessoas que morrem de ataque cardíaco tiveram uma sorte danada, pelo menos morreram rápido! Ou um paraplégico, cuja condição resulta de um acidente rodoviário “teve sorte, podia ter ficado tetraplégico!”. E esta dói-me na alma, pois deu-se muito perto de mim.
Um outro acidente que se deu perto de mim foi o de um primo meu, que a atravessar, ao volante do seu automóvel, uma pista de aviões em Paramos, levou com um avião em cima. Enquanto chorava a sua morte, ainda no local do acidente, alguém me disse que teve sorte, pelo menos morreu carbonizado, enquanto o piloto do avião estava a sofrer em coma! Há sortes para tudo. O português tem sorte, o português quase nunca teve um azar do catano, o português vê sempre o lado positivo da coisa. Quando acontece uma tragédia, evidentemente. Quando acontece algo de bom, já o lado positivo não aparece tanto.
O rol de desgraças que tem acontecido ultimamente, no Haiti, na Madeira, no Chile, na Argentina e agora em França dá azo a que o português pense que esses povos tiveram sorte! É verdade!... Já ouvi que os haitianos tiveram sorte porque já andavam a matar-se uns aos outros, os madeirenses tiveram sorte por aquilo que já referi atrás, os chilenos tiveram sorte por o sismo ter sido no mar, os argentinos tiveram sorte por ter sido um sismo “só” de 6.4 e até os franceses tiveram sorte porque “lá, nesta altura do ano, faz sempre mau tempo. Se fosse no Verão é que era mau!”. Tanta sorte, por Rá!! Tanta sorte temos nós em sermos portugueses!
Adorei a descrição! De facto assim é...sortes no azar lol
ResponderEliminarTalvez o tique de o português ter sorte esteja relacionado com um outro: o do pessimismo levado ao limite. Nada nunca é suficientemente bom para um "tuga". Tudo é a desgraça prestes a acontecer. Assim, quando acontecem uns azares, nunca são muito grandes. Há muitos que pensam e sempre alguém que vocifera:
ResponderEliminar- Teve sorte! (estava à espera de muito pior...)
Cumprimentos.
Cabra, nós somos assim: azar nas sortes, sorte nos azares. Compensação??
ResponderEliminarAndré, e é bem verdade, não é? Parece que nada de bom alguma vez pode acontecer a Portugal ou a um português. Há que atenuar a desgraça permanente. Penso ser uma perspectiva muito válida, de facto.
ResponderEliminarEpá, já tinha pensado nisso. É um tique do camandro e pega-se. Obviamente, quando o bom senso impera, não se vai dizer coisas como essas dos teu exemplos que são más de mais.
ResponderEliminarOutro tique sobre o qual podes escrever (se quiseres,óbvio) é sobre a atracção pela desgraça. Parecem moscas em carne podre. Lá estão eles a parar nas auto-estradas para ver quantos morreram e a dizer: "foi sorte, podiam ter sido mais..."; lá está.
;)
Cat, e isso é só formigas... E a catástrofe? "8.8? Isso não é nada..."
ResponderEliminarOu a hipocondria genética portuguesa?
Ou então o pleonasmo com medo do Demo: "Morreu de malzinho ruim..."
Tanto para escrever, não??
;D
antes ver o lado positivo das coisas que o negativo... :)
ResponderEliminaro problema é que quando realmente temos sorte achamos que não foi nada de especial e que podíamos ter feito melhor, blá, blá... o costume... :)
ainda assim, prefiro ser optimista... sempre. :)
Ok, eu tenho tido um azar do catano. E sou português... :)
ResponderEliminarAnne, uma coisa é ver o lado positivo, outra coisa é inventá-lo...
ResponderEliminarNoya, não me digas, conta lá...
ResponderEliminar;)
É o lado "O" da vida...
ResponderEliminarPronúncia, "O" de Obtuso?
ResponderEliminarTambém poderia ser, mas não... "O" de "Optimista"!
ResponderEliminarPronúncia, eu penso ser sinal de pessimismo disfarçado...
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