Tive muita relutância em escrever sobre este assunto. E admito que, à altura em que me debruço sobre o teclado para alinhavar as palavras ainda sinto relutância em escrever. Há coisas que não contribuem em nada na nossa felicidade. E, no entanto, sabemos que temos de escrever. Sabemos que, além de tudo, esperam que digamos algo. E é definitivamente um assunto difícil. Escrevo pesaroso, escrevo, sinceramente, com algum medo. Não porque receie consequências físicas ou políticas do acto de dar uma opinião. Afinal, sou apenas mais um num mar blogosférico que oscila conforme as marés. Antes porque receio, nesta altura, um confronto ideológico, quando não tenho qualquer ideologia de confronto.
Mas tenho de escrever. O assunto, como podem por esta altura imaginar, é aquilo que se passou ao largo da Faixa de Gaza. A minha posição sobre o conflito é bem conhecida e talvez por isso algumas pessoas esperem mais que o meu silêncio. Pois bem, cá vai.
Perante mais um acto bárbaro por parte de Israel, a minha surpresa foi exactamente nenhuma. Atenção, teria sido exactamente a mesma que perante um atentado perpetrado pelo Hamas. Duas organizações terroristas não têm, qualquer uma delas, o meu apoio ou simpatia, quer seja o governo israelita ou o Hamas, apenas porque estão em lados opostos de uma barricada. São ambos organizações terroristas e isso, na minha opinião, nem se discute. E nem vale a pena analisar as razões para um conflito que se arrasta há tanto tempo. Há conflito porque ambas as partes não sabem ser humanos. Simplesmente.
Obviamente, Israel, não como país mas como nação, sofreu horrores na 2ªGuerra Mundial. Igualmente a Palestina, não como país, mas como nação, está a sofrer horrores hoje. São comparáveis? Talvez não, ou talvez ainda não. Mas mortes são mortes, e ao contrário de muitos por aí, lamento-as, sejam de judeus ou de árabes. Os árabes, dizem por aí, têm a mania das bombas e dos atentados. É verdade. Como os irlandeses, que conquistaram assim a sua independência, ou os bascos. Ou os tchetchenos. Sejam lá quem forem. Até Viriato foi considerado pelo Senado Romano como "terrorista". Os israelitas, é verdade, são muito mais honestos. Matam sem recurso a atentados. Matam às claras e nem se importam muito com isso. Afinal, e é bem verdade, o pior é para quem morre, não para quem fica. Não sei qual é pior, matam ambas.
Sendo um país forjado pelas potências dominantes na região após a Grande Guerra, Israel assenta a sua existência em razões histórico-religiosas, nomeadamente a ocupação do território da Palestina há cerca de 3000 anos atrás, antes ocupado por um povo chamado filisteu - filistini, em árabe, que quer dizer palestino. O que me leva a pensar que talvez os italianos queiram fundar uma extensão aqui em Portugal, uma vez que ocuparam o território há bem menos tempo. Ou os árabes, que também cá estiveram a ocupar isto. Preparem-se, pode acontecer, por razões históricas. Independentemente das razões, Israel existe e tem direito a existir. Não é bom nem é mau, é a realidade. As duas faixas azuis da sua bandeira, simbolizando o Nilo e o Eufrates, indicam, ao fim e ao cabo, a pretensão territorial israelita, esquecida (ou talvez não) com o tempo.
Gaza está sujeita a um bloqueio. Israel quer prevenir que entrem armas no território, armas essas que estarão obviamente apontadas pelo Hamas à sua garganta. As amizades são coisas interessantes. Ou seja, o movimento palestiniano criado e suportado pelo estado de Israel para combater a AP é agora o seu maior inimigo. Lembra o Bin Laden. Independentemente das razões para o bloqueio, seguido até ontem pelo Egipto, que agora abriu a fronteira com Gaza, este deve cingir-se às águas territoriais israelitas. Isto levanta uma série se problemas. Primeiro, Gaza tem direito a ter águas territoriais? Se tem, não pode ser bloqueada, perante o direito internacional. Se não tem, então é território integrante de Israel, o que confirma ocupação. Das duas uma, e isto nem é racional, é direito. Por outro lado, pode Israel impedir que um navio atraque em Gaza, partindo do princípio que se assume como potência ocupante. Mas pode invadi-lo fora das suas águas territoriais? Será que a Marinha Portuguesa pode abordar um navio espanhol fora das águas portuguesas? Não me parece.
O que leva à brilhante conclusão do costume: e que tem Israel a ver com o resto do Mundo e o Direito Internacional? Muito pouco ou nada, uma vez que nunca teve. Nunca acatou sequer as resoluções da ONU, portanto porque se iria agora vergar ao Direito Internacional? Mais uma vez, nesse aspecto, uma notável semelhança com o Hamas. Por outro lado, houve resistência por parte dos tripulantes do navio. Coisa inédita, esta de haver resistência! Um navio em águas internacionais. Sendo assim, podem fazer o que muito bem entenderem e lhes der na real gana, mesmo fora do seu país. É uma conclusão brilhante, mas óbvia. E sem surpresa. É invadido por militares e não pode haver resistência, uma vez que as tropas que abordaram o navio eram israelitas, ou seja, não estão sob a alçada do Direito Internacional
A surpresa aqui vai para os atacados, que ofereceram resistência à invasão de uma propriedade sua, em águas internacionais. Não eram, na sua maioria, árabes. Turcos, espanhóis, italianos, enfim... 60 nacionalidades diferentes. Parece que agora também os simpatizantes da causa palestiniana estão sujeitos à mesma sorte que os mesmos. Daí o meu medo. Obviamente, Israel e o seu governo, no meio disto tudo, é a vítima. É sempre a vítima. Será sempre a vítima. Poucas horas após o incidente, já clamavam que eram vítimas. São sempre, também não há grande novidade aqui.
E são vítimas dos palestinianos, dos árabes, do Irão, do Hamas e do Hezbollah, mas também da comunidade internacional. Qualquer simpatizante da causa palestiniana é um perigoso comunista inveterado, próximo do regime norte-coreano. Portanto, os israelitas são vítimas do comunismo internacional, da extrema-esquerda europeia, de todos esses vampiros que só ganham em pseudodefender a pseudocausa palestiniana. Basta olhar para mim, estou absolutamente rico com a minha posição. Não têm conta os milhões de euros que já recebi só por ter esta opinião. Sou perigoso, um terrorista em potência, provavelmente devia era estar em Guantanamo. Há muita gente que fala do que não sabe, é bem verdade. Não é bem o meu caso, pois conheço a região e ambos os lados da fronteira. Não me faz mais sábio. Apenas me faz ter uma opinião. Mas, que querem, sou um perigoso activista terrorista de extrema esquerda rico com a miséria do povo palestiniano... Que posso fazer? Já me fizeram assim...
Há um ditado que diz mais ou menos isto: "se matares um, és assassino, se matares muitos, és um conquistador, mas se os matares a todos, és um deus!" Se matarmos todos aqueles que ainda têm consciência humanitária, talvez os problemas de Israel acabem...
Já agora, foram encontradas armas nos navios??
Apanhou-me de saída, amanhã irei ler o que escreveu com mais atenção. Mas não posso deixar de lhe perguntar onde estão os posts a condenar os atentados perpetrados pelo Hamas? Como diz que condenaria da mesma maneira, esperava ver pelo menos 1.
ResponderEliminarSabe, as mortes sejam elas quais forem são sempre de lamentar. Mas não acha que há um tremendo exagero no histerismo à volta disto? Ainda há 10 dias um navio da coreia do Sul foi abatido pela coreia do norte. Morreram 46 pessoas, não ouvi ninguém a manifestar-se. Tudo isto não passa de uma tremenda hipocrisia...
Levy, se não os viu, foi porque não esteve com atenção. Há muito tempo que não escrevia sobre o Médio Oriente, na realidade há muitos meses. E se não estou em erro, a última vez que escrevi foi precisamente para condenar o lançamento de rockets por parte do Hamas e do Hezbollah. Por tanto, meu caro, essa do "então e o outro lado?" comigo não cola. Além do mais, quando as coisas correm mal, apenas constato que correm mal, não arranjo desculpas esfarrapadas e à pressão.
ResponderEliminarQuanto à Coreia do Sul, se não sabe, é porque não quer. Não tenho simpatia alguma por qualquer das Coreias e no meu blog não vê nenhum sinal de apoio quer seja à Coreia do Sul quer seja à Coreia do Norte. Tenho a minha opinião sobre o assunto e posso expô-la, mas não é o assunto que me traz a escrever aqui. E a menos que a Coreia do Sul seja agora território israelita, não vejo qual a relação. Aliás, vejo. Vejo que tenta sistematicamente colar qualquer apoio à Palestina a um suposto apoio à Coreia do Norte. O que, desculpe-me dizê-lo, é do mais ridículo que pode haver e só um mentecapto de tatuagem de suástica e cabelo rapado pode acreditar nisso.
Em relação a histeria, há muita histeria, sem dúvida. Principalmente das famílias dos mortos.
já sabes que subscrevo tudo o que dizes, mesmo que me acusem de ser carneiro(a)...
ResponderEliminaré revoltante e pior ainda é o comportamento de vítima da parte de Israel. As coisas são simples.
atacou um navio em águas internacionais? sim! sejam quais forem as suas razões, sentido-se ameaçados ou não.
mas esse papel de vítima já é algo inato a esse país, já que desde o início justificaram todas as barbaridades que cometeram com o argumento de que "seriam empurrados" para o mar se o não fizessem....
pl'amor da santa!!!!!
e violência deve ser recriminada venha ela de que lado vier.
Anne, provocada ou não, e talvez por isso mesmo, esta situação revela muita da hipocrisia israelita, que faz tábua rasa do Direito Internacional quando muito bem lhe apetece. Tal como o Hamas ou o Irão, diga-se. Não morro de amores por nenhum deles. No entanto, lembremo-nos de que foram necessárias notícias como o massacre de Santa Cruz para que o mundo despertasse. Os líderes começam a ver que os interesses económicos não podem sobrepor-se nem à justiça nem aos direitos humanos. E, nessa medida, e mesmo que a acção tenha sido preparada para este efeito, é positiva. O pior é que, como acontece sempre que o exército israelita entra em cena, foi mais um banho de sangue.
ResponderEliminarA Guerra é simplesmente estúpida seja qual for o motivo!
ResponderEliminarO homem é o maior predador com o maior poder de destruição.
Veja clicando aqui
como um homem sorridente e feliz, a falar português, e a recordar bons momentos da sua vida apanhou o maior susto da sua vida que jamais irá esquecer!
Imaginem um de nós a viver o mesmo momento!
Um abraço amigo!
Cirrus, infelizmente este conflito vai durar muito mais tempo já que não existe vontades que suportem a paz.
ResponderEliminarEnquanto os ocidentais (e alguns orientais) não se manifestarem firmemente, contra o que está a acontecer há décadas naquela região, não haverá espaço para a harmonia.
O que se passou foi muito grave... vamos ver o que vai acontecer nos próximos dias.
Abraço.
Indesculpável...
ResponderEliminarCirrus
ResponderEliminarNão em fiz entender. Disse que não tinha visto os artigos. E dai? Conheço o seu blogue há pouco tempo.
Sobre a Coreia do Note, não se trata de uma colagem, nem se relacionava com o facto de o Cirrus apoiar ou não a coreia do norte (não sei se apoia ou não, nem isso interessa). Apenas chamei a atenção para o facto de incidentes igualmente lamentáveis, que provocam mortos, não terem o mesmo tipo de atenção e de condenação que este que envolveu Israel. Há uma tremenda hipocrisia nisso. Não estou a chamar hipócrita, falo da hipocrisia geral.
Em primeiro lugar, quero lamentar as vidas humanas.
ResponderEliminarCirrus,
Não sabia que a Tchechénia e o País Basco já tinham conquistado a sua independência, ainda para mais à custa de bombas! Porra, vou já ligar a uns amigos de San Sebastian para comemorarmos o feito!...
Comparar o único estado democrático no Médio Oriente - Israel -, com terroristas do nível do Hamas e do Hezbolah é para rir. Inclusive os primeiros foram expulsos da Jordânia, certamente devido à sua amabilidade... Mas cada um acredita no que quer: um fanático qualquer também diz que os decotes das mulheres causam tremores de terra!
Gosto de alguns elementos de esquerda. Por fumarem umas "cenas" [não, Damasco não é algo que se fume !] e não se lavarem, já se advogam em defensores dos oprimidos quando no seu próprio país estão a marimbar-se para outros oprimidos...
Falas muito em hipocrisia. Eu também. Quando vejo os turcos todos inflamados deveriam lembrar-se daquilo que fazem aos outros: ocupam a Ilha de Chipre, massacraram curdos e arménios e, pior do que isso, se entrarem na UE abrem a porta a uns fundamentalistas jeitosos.
Por último, se houvesse respeito da parte árabe pelas resoluções de 1922, feita pela Liga das Nações, nunca se chegaria a este ponto.
Levy, não chamo hipocrisia. Chamo antes destaque. Porque eu sei que a Coreia do Norte afundou um navio da Coreia do Sul. Alegam exactamente o mesmo que Israel: legítima defesa. Tal como um acidente é um massacre, o outro não deixa de o ser. Com a agravante de do caso israelita se tratarem de civis. Activistas, concordo, mas civis.
ResponderEliminarE chamo destaque apenas por uma razão: estamos fartos de saber que existe um clima de tensão entre as Coreias. Mas lá há um equilíbrio de forças que impede (até ver) a escalada militar. Em Israel não. Como disse, eram civis.
Pronúncia, de facto.
ResponderEliminarDylan, deixa lá de ser assim, a Irlanda é que conquistou e sabes bem disso e é o que está lá escrito.
ResponderEliminarO estado democrático em que quem ganhou as eleições está na oposição? É esse estado democrático???
:D
Comparo, pois, não tenho esse problema. Aliás, o Hamas é tanto criação de Israel como o Hezbollah é do Irão, pareces esquecer-te disso. Mas houve alturas em que deu jeito, não foi? Como sabes, sou anti-religioso, nem comento.
Quanto à esquerda, tanto se me dá que gostes ou não. É um sector da nossa sociedade. Sei que muitos gostariam de a erradicar, quiçá pelos métodos israelitas, mas aturem-nos!
Por acaso não. Penso que não usei essa palavra uma única vez... Começo a perguntar-me se leste o texto... Não penso que os israelitas sejam hipócritas. E quando falo de israelitas, falo nos sucessivos governos e não especificamente do povo ou grande parte dele. Não são hipócritas porque matam e depois vê-se. Nem se dão ao trabalho de negar, tão quentes estão as costas. Não, hipócritas não são.
Quanto à resolução, pareces esquecer que nessa altura nem havia Israel nem a maior parte dos estados árabes. Seja como for, queres enumerar as resoluções da ONU que se fossem respeitadas não levariam a esta situação?
Proviciano, a guerra é sempre má, é um facto. E para aqueles lados, ambos os contendores são especialistas. Não espero nada de bom, enquanto os fanáticos não forem saneados de ambos os lados.
ResponderEliminarCatsone, localmente, ambos os lados são governados por fanáticos que se odeiam. Por isso não vai haver paz sem intervenção externa. E só haverá intervenção externa (e pode nem ser bélica, atenção) quando quem nós sabemos decidir qualquer coisa... Por quem as faz, tem de as desfazer ou morre com elas...
ResponderEliminarPegando na provocação que me deixou, Cirrus, peço-lhe que medite seriamente sobre um país como a Turquia, conhecidíssimos pela militância dos direitos humanos, decidir fazer campanha e desrespeitar a ordem que lhe foi dada de NÂO cruzar aquelas águas. Pergunto-lhe se sabe que qualquer país, qualquer país, que por u motivo ou outro decida não permitir entrar em seu território marítimo uma embarcação poderá em relação ao desrespeito sentir ali uma ameaça e atacar belicamente.
ResponderEliminarSe lamento as vidas perdidas? Claro!!! Mas lamento que tenham achado que faziam o que queriam montados numa desculpa de ajuda. Israel não é conhecido por abrir precedentes e acho bem que não o faça. Continuo a lamentar as vidas perdidas mas se eu tenho um terreno e alguém o invade arrisca-se a levar com os cães em cima.
Menina Ção, medite a menina nestes factos:
ResponderEliminar- qualquer país pode recusar a entrada de um navio nas suas áreas territoriais, diz muito bem, podendo reservar o direito de agir belicamente em caso de prevaricação.
Não esqueça que a abordagem, foi efectuada em águas internacionais, águas essas que não têm soberania, nem de Israel nem da Turquia nem seja de quem for. TODOS os países sabem que não podem exercer esse direito fora das suas águas internacionais. Sabia disso? Não? Consulte o Direito Marítimo, está lá.
Ainda sobre águas territoriais, mesmo que essas águas fossem o local da abordagem, até que ponto serão águas israelitas? Não há lá um território que se chama Gaza, que até tem praia e tudo? Ou está "sob ocupação"?
- essa do terreno é precisamente aquilo que um navio, em águas internacionais, pode dizer. Não quem o aborda ilegalmente. Poderiam fazê-lo nas suas águas, nunca em águas internacionais. Isso tem um nome: pirataria. E à pirataria reage-se "com os cães em cima".
- "desrespeitar a ordem que lhe foi dada" - ou seja, no seu ver, Israel pode dar ordens a outros países e ai deles se não obedecem...
- a Turquia tem feito alguns progressos nessa matéria, apesar de tudo. Também eu estou preocupado com alguma regressão política na Turquia no que diz respeito à laicidade do Estado e possíveis ramificações no direito. Sendo um país que conheço bem, posso garantir que não é um paraíso. Mas está longe de ser um inferno nesse aspecto.
Não podemos é esquecer que o Estado mais condenado por atropelos aos Direitos Humanos é Israel, e não a Turquia. Basta ver as resoluções da ONU. Ah, pois, mas esses também são comunistas, livra, cruzes credo...