Amanhã, como sabem, comemora-se mais um feriado nacional. O dia de Camões. E se fosse só de Camões já bastava, mas também é de Portugal e das Comunidades Portuguesas. 10 de Junho. Parece que esta coisa dos feriados tem muitos seguidores. Os outros países, por esse mundo fora, também os têm em quantidades apreciáveis, quando não industriais. E eu que pensava que o feriado nacional por excelência era o 1 de Dezembro. Mas depois há o 25 de Abril, o 1 de Maio, o 5 de Outubro... Há uns quantos.
Por mim, instaurava-se um único feriado nacional, o da fundação, e acabava com o resto. Afinal o resto não teria existido sem a fundação. E essa data até já é comemorada por outros motivos. Trata-se de 5 de Outubro. De 1143... data oficial, embora pudesse ser o 24 de Junho (1128), da Batalha de S.Mamede... Enfim, basta de feriados.
Acontece que amanhã é feriado. Ou hoje, já passa da meia noite. Vai haver comemorações e medalhas e coisas do género. E vai haver um desfile em Aveiro. Um desfile de crianças que pretende reviver 100 anos de história da República. E eu que pensava que este feriado era do nosso genial zarolho... Afinal, alguém se lembrou, em Aveiro, de pôr as crianças de um agrupamento de escolas a desfilar pelas ruas da cidade. E não é nada demais. Um desfile para lembrar 100 anos de história.
Ora este desfile provavelmente entrará na agenda política porque um deputado do BE, um tal de Pedro Soares, eleito por Aveiro, questionou este desfile e reclamou, alegadamente em nome de alguns pais de crianças do tal agrupamento de escolas, junto do ME, o teor de um dos quadros que será apresentado no desfile. Trata-se de um quadro em que cinquenta crianças do 3ºano desfilarão com as fardas da Mocidade Portuguesa.
A promotora do desfile, uma tal de Joaquina Moura, perante a polémica, afirma algumas coisas, como "Apenas um pai manifestou que não gostaria de ver a sua filha vestida com aquela indumentária", "as coisas são trabalhadas nas escolas com dignidade e muito sentido de responsabilidade", e remata com um absolutamente delicioso "nada neste projecto leva para ideias de fascismo".
Bem, assim sendo, há aqui algumas conclusões que tiro:
- Primeiro, que o deputado Pedro Soares destoa completamente dos outros colegas. Porquê? Porque alertou para um facto (problema ou não, lá iremos) que ocorreu ou vai ocorrer no círculo que o elegeu. Coisa que não se vê fazer qualquer outro deputado, desde os tempos de Souselas, Sócrates e Manuel Alegre (percebem agora de onde vem o "amor" entre os dois?). Ou seja, está a cumprir a sua função. Mal ou bem, cada um dirá de sua justiça.
- Afinal o 10 de Junho é o dia da República e não do genial zarolho, em Aveiro;
- A professora Joaquina coordenou um projecto que inclui um dos símbolos máximos do fascismo em Portugal, decalcado da Juventude Hitleriana, mas reitera que nada no projecto leva a ideias de fascismo. Não sei se ria ou se chore com esta anedota.
Estes são os factos. A Mocidade Portuguesa foi um projecto do Estado Novo, e simbolizava o poder entre a juventude, desde cedo incutida dos valores do regime. Não está em causa se os valores eram correctos ou não. Antes, o que mais interessa é que era um símbolo do regime. Chocante ou não, cada um decida, o facto é que recriar, com um espírito de "revisão histórica", nas palavras de Joaquina Moura, esta organização, não deixa de ser polémico. O termo utilizado - "revisão histórica" faz vagamente lembrar a "revisão histórica" que os negacionistas pretendem fazer em relação ao Holocausto, ressalvando as devidas diferenças entre o regime salazarista e o regime nazi.
A reacção popular tem sido curiosa. A esmagadora maioria dos que se manifestaram estão a favor do desfile, considerando que os valores da Mocidade Portuguesa bem fazem falta à juventude de hoje, e alguns vão mais longe, defendendo mesmo a criação de uma nova Mocidade. Esquecem que esta nunca deixou de existir, apenas mudou de nome para Escuteiros. Assim sendo, muitos identificam uma total falta de valores e educação dos jovens de hoje. Quando eu era jovem, o cenário não era muito diferente, diga-se. Dizia-se o mesmo. E mesmo admitindo que realmente podem não andar longe da verdade, indago-me tristemente com esta questão: mas esta gente toda não tem filhos? Tem? E não sabem educá-los?
Seja como for, na minha opinião, é mais um sinal dos tempos que correm em Portugal. Perante algumas Leis aprovadas nos últimos anos, de cariz progressivo, como as que contemplam novos regimes para o aborto e para o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ergue-se uma gigantesca vaga de reaccionismo, ou mesmo saudosismo do fascismo, que realmente nunca desapareceu em Portugal. Representa um misto de retoma da relação poder/medo na sociedade civil com um sentimento triste de desejar viver melhor com a miséria dos outros. Bem ao estilo "quando estiverem todos a passar fome, ainda me vou rir". Ainda assim, ainda gostaria de saber qual a reacção dos alemães (e até portugueses) se vissem as suas crianças vestidas com as fardas da Juventude Hitleriana...
Não será inocente o ressurgir tímido dos símbolos fascistas em Portugal, como este desfile e um célebre programa de televisão aqui há tempos, quando assistimos ao perfilar de desejos insanos de alguns políticos recém-surgidos e catalogados imediatamente como Salazar o foi, como "Salvador da Pátria", que entre medidas propostas de aparente cariz social mas com forte carga demagógica, advogam a alteração da nossa Constituição para permitir, por exemplo, os contratos de trabalho a termo certo "ad eternum". Nada é por acaso. E dá-me a impressão que algumas coisas se ligam. Vejamos quando o "Salvador da Pátria" ganhar as próximas eleições. Talvez nessa altura muitos dos falsos democratas tenham a satisfação de rir ainda mais com a miséria humana, satisfazendo os seus mais íntimos desejos sádicos.
Eles "andem" aí... A música só podia ser aquela no canto superior direito. Mesmo.
Foto Google
Que fazer nas próoximas eleições, caro Cirrus? (Sonhar com maioria branca não conta)
ResponderEliminarNoya, boicote. Puro e simples.
ResponderEliminarChegou a voz discordante... eu!
ResponderEliminarEstive para escrever sobre esta polémica. Já a venho a acompanhar desde o início de Maio, quando o deputado do BE levou a questão à AR.
Pelo que li em vários jornais o desfile das crianças integra-se na comemoração dos 100 anos da República. As crianças iriam retratar quadros desses 100 anos.
Houve crianças a retratar o regicídio, outras a retratar a emigração, outras o 25 de Abril e outras, as da polémica, a retratarem a mocidade portuguesa.
Não vejo onde está o mal disto.
Foi fundada em 1936 e apenas extinta em 1974. Quem queiramos quer não a MP faz parte da nossa História e como tal pode ser retratada.
Claro que foi fundada tendo como modelo a juventude hitelariana, com tudo de mau que daí advém.
Claro que representa uma página negra da História de Portugal. Mas não é por ser negra que não a podemos recordar.
A História é feita de glórias, de orgulhos e de vergonhas. Não é por escondermos estas últimas que elas desaparecem e deixam de existir.
Recordá-las pode até ser útil para que não se repitam os erros do passado.
Pronúncia, não emiti qualquer opinião em relação ao dever ou não realizar-se o desfile, pelo que penso que a tua intervenção foi precipitada.
ResponderEliminarDe qualquer das formas, se é uma vergonha e se, como dizes, não se devem esconder as vergonhas porque podem servir para evitar os erros, diz-me onde, neste desfile, se faz a alusão a esse facto. Onde está aquilo que distingue este acto entre um acto laudatório e uma acto recriminatório. Além disso, será que as crianças de nove anos entendem aquilo que as fardas que vestem representam? Por outro lado, é essa mesmo a reacção maioritária, não se vê mal algum em se recriar o mal. Obviamente, a recriação (ou revisão histórica, como diz a Joaquina) pode ser pedagógica. A intenção, no entanto, é claramente laudatória, ao falar-se de "revisão histórica", que só pode ter apenas e um sentido: a do branqueamento. Podes discordar sinceramente, no entanto, a intenção da Prof. Joaquina, nas suas próprias palavras, é a revisão histórica, e não a recriminação do erro. Caso contrário, os outros acontecimentos, como a própria proclamação da República poderia ser vista da mesma forma: um erro recriminado. Não me parece ter sido essa a intenção...
Só falta à promotora do evento a recriação de um quadro que reponha as prisões fascistas, a tortura, a repressão, a PIDE, a Legião, os bufos, a clandestinidade, etc..
ResponderEliminarNão me lixem, não nos façam de parvinhos, como tu dizes e bem, "eles andam ai" e tudo vão fazer (de mansinho) para voltar à noite negra.
Abraço
Cirrus, nem o meu discordar é sobre a tua opinião sobre a realização do desfile.
ResponderEliminarO meu discordar é sobre as conclusões que tiras pelo facto de um dos quadros do desfile ser alusivo a um período da nossa História, a MP, concluindo que a intenção da professora é nitidamente laudatória e de branqueamento.
O quadro integra-se num conjunto de outros quadros, não aparece sozinho, nem do nada.
Os quadros podem ser apenas aquilo que a professora afirmou, representativos, e não serem nem laudatórios e nem recriminatórios.
Desconheço o contexto em que os factos foram apresentados às crianças, aquando da preparação do desfile, pelo que não sei se as crianças entendem ou não o significado das fardas que vestiram. Mas esse trabalho caberia ao sr. deputado averiguar, mas não, perante uma carta de um pai a dizer que a filha ia vestir a farda da MP, num desfile, nem se dignou inteirar-se em que contexto isso iria acontecer, nem se inteirou junto dos responsáveis da organização do desfile o porquê desse facto, não fez nada disso como lhe competia, pegou num facto desgarrado e tratou de tirar a conclusão de que se tratava de um acto laudatório.
E se fosse um monárquico a queixar-se do quadro do regicídio?! Que ai e tal era um acto laudatório de um assassínio...
Porque é que a intenção da professora é assim tão evidente?! Que eu saiba não foi só a MP que foi retratada no desfile, também o foram os soldados que fizeram o 25 de Abril, também o foram os emigrantes dos tempos da ditadura. São ou não acontecimentos marcantes e por isso históricos (para o bem e para o mal), destes 100 anos de República?
Ferroadas, é o que me parece. Não sinto que nada de bom possa surgir de uma "revisão histórica" destas.
ResponderEliminarPronúncia, o regicídio era e é altamente valorizado pelos saudosistas do regime fascista. Afinal, lembra-te que o regime nunca teria existido sem ele. E não a pena me dizeres que também a democracia nunca teria existido, pois, como sabes, a monarquia era constitucional e representativa.
ResponderEliminarSe não tens a certeza se é um acto laudatório, mais uma vez te lembro as palavras da prof. Joaquina: "revisão histórica". As mesmíssimas palavras usadas pelos negacionistas do Holocausto. Pensei que para um entendedor meia palavra bastasse. Além do mais, nos quadros vês, realmente, os soldados do 25 de Abril. Que são apartidários e apenas contra a ditadura. Não vês quadros sobre o PREC, ou sobre, por exemplo, a luta de muitos portugueses pela liberdade, com ênfase para os históricos do PCP e do que viria a ser o PS. Mas, claro, não é laudatório, é apenas representativo... A ingenuidade pode matar, Pronúncia.
Cirrus, pegar em factos e desgarrá-los do todo onde se inserem, e fazer disso uma caça às bruxas também pode matar... e se houve alguém que não fez minimamente o trabalho de casa foi o sr. deputado do BE (mas percebe-se... a polémica deu-lhe direito aos tão almejados 15 minutos de fama).
ResponderEliminarPronúncia, os factos falam por si, e a senhora professora também falou por si. As suas próprias palavras a condenam nas intenções do desfile. Volto a insistir no ponto mais importante da polémica: Revisão Histórica.
ResponderEliminarPor outro lado, dá-te ao trabalho de ler os comentários a esta notícia em qualquer jornal on-line e diz-me como foi entendido o desfile. Logo veremos qual, além da intenção óbvia de apologia do antigo regime por parte dos promotores, é a percepção do português reaccionário a isto.
Falas, e bem de factos. Pergunto-te qual o facto que te faz pensar na inocência disto tudo. Eu já apresentei os factos contrários. Apresenta os outros.
Quanto ao deputado, fazer ou não o trabalho de casa é coisa que não sei se ele fez ou não. No entanto, e aqui vai outro facto, ele foi brando no meio disto tudo. Como deputado que é, poderia ter ido muito mais longe. Porque, como sabes, a nossa Constituição proíbe este género de acontecimentos. Outro facto.
Mais um facto: porque vês coisas destes género em Portugal e não os vês na Alemanha? Eles têm vergonha? Mal deles se não tivessem, digo eu. E é o que falta a muita gente neste país: vergonha na p#$% da cara!
Cirrus, a palavra "Revisão" pode ter dois significados distintos.
ResponderEliminarAquele que lhe estás a dar, ou seja "nova leitura", ou então apenas "recordar". É neste contexto que aplico as palavras da professora, ainda por cima atendendo à profissão da senhora onde a frase "revisão da matéria dada" deve ser uma constante.
Comentários?! Li-os. E é sempre a mesma coisa, os extremos (de um lado e de outro) a atacarem-se mutuamente. Há muito que sabes o que penso de extremos, não me vou repetir.
Brando?! O mínimo que o senhor deveria ter feito era, antes de acusar, ouvir o que quem acusava tinha a dizer, era o mínimo, ainda por cima sendo ele deputado.
A Constituição proíbe as manifestações de extrema direita, não as representações históricas.
Sabes lá se não vês uma representação deste género na Alemanha? Provavelmente se lá acontecerem não vai ser notícia em Portugal, assim como não acredito que o desfile tenha sido notícia na Alemanha.
Foi um desfile! E se fosse um filme?! Haveria tanta polémica?! O senhor deputado teria ido para a AR fazer queixa?!
Mas, nunca vamos concordar um com o outro, porque o que para ti (e para o senhor deputado do BE) é um acto laudatório, eu dou o benefício da dúvida à organização do evento que o considera uma representação histórica.
Pronúncia, tu fazes aquilo que eu fiz, partir de um princípio, ou seja, partes do princípio que tudo foi feito apenas para recordar a história. Ora, tanto tu como eu sabemos que são as ingenuidades dos povos que conduzem aos desastres. E assim sendo, eu não acredito na inocência deste desfile nem por um momento. Não quando todos os sinais se conjugam para um regresso de muitas das coisas que preconizavam o antigo regime. As homenagens a Spínola, o salazarentarismo latente na sociedade que permitiu a Salazar ser a maior figura da história, agora isto... Está-se a preparar o terreno. Depois não digas que não avisei. Aliás, subtilmente, tenho vindo a avisar desde há muito tempo. Mas toda a gente acha que as coisas são feitas "inocentemente"...
ResponderEliminarO deputado deu seguimento a uma queixa de cidadãos do seu círculo. Não vejo qual o mal que possa ter feito. Não é para isso que supostamente os elegemos?
Cirrus, claro que parti de um princípio, como te disse tenho vindo a acompanhar a polémica desde os inícios de Maio.
ResponderEliminarO deputado deu seguimento a uma queixa sem ouvir o outro lado (que penso também sejam pessoas do seu círculo eleitoral e como tal também tinham direito a ser ouvidos), sem se inteirar de toda a questão, como deveria ter feito e como se esperaria dele... ou seja, o deputado pura e simplesmente "emprenhou pelos ouvidos". Só por isso, parto mesmo do princípio que a organização quis mesmo só recordar uma parte da História, e o senhor deputado quis e só, mais uma polémica tão ao gosto do BE e dos media.
A ingenuidade do Povo dá para os dois lados, Cirrus. Tanto a organização do evento podia aproveitar-se dela se tivesse a intenção de branquear a ditadura, como o deputado iniciar mais uma "caça às bruxas" muito ao gosto dos políticos (esquerda e direita incluídas que nisto nenhum dos lados tem exclusividade).
Que há cada vez mais quem seja saudosista do antigo regime é a mais pura das verdades, nunca o neguei... infelizmente!
Sim, também concordo contigo, quando afirmas que se está a preparar o terreno para algo semelhante a uma ditadura, ou mesmo para uma ditadura. Mas diz-me, só se sente isso em Portugal?! É que não me parece que seja só aqui.
E não te esqueças que se há ditaduras de direita, também as há de esquerda, e olha que não são são melhores umas que as outras. Ambas são a mesma coisa, ambas são más, ambas são ditaduras, com tudo de mau que daí advém.
A História pode, e deve ser representada, através de filmes, de literatura, de desfiles, de pintura, de bailados, de teatro. E a História de Portugal não é só aquilo que agrada à esquerda ou à direita. A História somos todos e tudo o que fizemos, de bem ou de mal.
Cirrus, a defesa da liberdade, da democracia, não é um exclusivo da esquerda como alguns advogam.
Ora então vejamos, se o deputado emprenhou pelos ouvidos, não sei. Nem sei se ele ouviu a outra parte. Tu sabes? E imagina que sim, ouviu e lhe disseram que era uma "revisão histórica"... Dois mais dois são quatro, não são três e meio nem quatro e meio.
ResponderEliminarA nossa Constituição proíbe não só o fascismo, Pronúncia, proíbe qualquer regime não democrático. Não me parece, e aí discordo inteiramente de ti, que tudo isto seja inocente. Particularmente na zona onde foi, mais um facto a ter em consideração. O povo que tão bem sabe dizer que faz falta outra Mocidade Portuguesa ficou muito feliz. E nós aqui a discutir o sexo dos anjos... Eles andam aí, eles mobilizam-se. Eu ajo, desde há muito, para tentar consciencializar as pessoas.
Não se está a falar de nenhuma ditadura de esquerda, são iguais às de direita, isso é bem verdade. Só que em Portugal nunca houve uma ditadura de esquerda. De direita, tivemos durante meio século. E caminhamos para a próxima. Por isso, não brinques comigo... Ditadura de esquerda? Sim, sim, e eu acredito no Pai Natal também...
Cirrus, tenho que concordar inteiramente contigo. A história tem episódios que nos fazem orgulhar e outros que nos envergonham e uma coisa é não os esquecer e outra é recordá-los num desfile.
ResponderEliminarAbraço
Cirrus, em todas as notícias que li sobre o caso, todas dizem a mesma coisa, que o deputado nem interpelou a organização... e ele não desmentiu isso!
ResponderEliminarJá te disse que sim, que acredito que haja quem se mobilize com o intuito de restringir liberdades que hoje temos e tão arduamente conquistamos... cabe-nos a nós não deixarmos que isso aconteça. Mas não é a ver em cada canto e esquina, em cada pessoa que fala do estado novo um fascista que lá vamos.
Não falei de nenhuma ditadura de esquerda, falei de que ambas são más e que as ditaduras não são exclusivas da direita.
De direita tivemos uma, bastou. Não gostaria de ter mais nenhuma, seja ela de que quadrante for...
Tu acreditas no Pai Natal?! Deixa lá, eu acredito no Coelhinho da Páscoa... e na Fada dos Dentes, já agora!
Jesus, penso que, a fazer-se uma retrospectiva histórica sobre aspectos destes, não é num desfile que se diz às pessoas o que aquilo representa. Pelo contrário, incita-se precisamente aqueles que adulam estas coisas para avançarem novamente. Não é o caminho de certeza absoluta.
ResponderEliminarPronúncia, é precisamente fazendo de cada adulador do Estado Novo ter vergonha de os ser que evitaremos que esses canalhas lá cheguem. Chega de paninhos quentes! Expor essa gente é precisamente o que é necessário para impedir que amanhã estejamos numa situação parecida. porque precisamente cada um que fala do estado Novo não é mais que fascista. Ora essa! Vou dizer o quê? que tem muita razão no que diz e que precisávamos de outro Salazar??? Pelo amor de Rá. Combater também é preciso, não só levar tudo na brincadeira até que sintamos esses fdp a violar-nos! Não, comigo não, Pronúncia. Já bastou o que este país pagou por esses 50 anos de miséria.
ResponderEliminarCirrus, entre "falar do estado novo" (o que eu escrevi) e "adular o estado novo" (o que tu escreveste), a diferença é abismal.
ResponderEliminarCada adulador do estado novo é fascista, tem que ser denunciado, não podia estar mais de acordo contigo.
Mas quem fala do estado novo não é obrigatoriamente adulador do mesmo. Falar não é sinónimo de adular... apesar de haver muito quem não queira ver a diferença e basta dizer o nome "Salazar" para se ter logo o rótulo de fascista... basta muitas vezes dizer "sou de direita" para levar logo com um rótulo de fascista.
Cirrus, já disse e reafirmo, os extremos são maus, são precisos consensos e não é extremando posições, seja de que lado for, que se vai a algum lado.
É preciso combater os extremos, mas TODOS e não apenas os de um lado.
Pronúncia, não me venhas com essa conversa. Não há, regra geral, no eleitorado português quem queira uma ditadura comunista. Há. por outro lado, uma enorme fatia da população que não se importaria de regressar à ditadura fascista. Eu penso que são coisas muito diferentes. Tal como não considero o BE e PC a extrema esquerda, também não considero o CDS a extrema direita. O que parece que não consegues compreender é que há efectivamente muita gente fascista em Portugal, ao passo que comunistas serão meia dúzia (comparativamente falando), e sem grandes hipóteses de algum dia governar. Mas os fascistas até já têm candidato e tudo... Os resultados do concurso não te dizem nada? Sabes quem votou? Foi o povo! É como te digo, eles mobilizam-se... E é evidente que falar em Salazar não é ser fascista. Falar como se fala de Salazar neste país é. Sem qualquer dúvida. Obviamente que sei distinguir entre gente de direita e fascistas. Mas que a sobreposição das duas condições é vasta, lá isso ninguém pode negar.
ResponderEliminarCirrus, eu sei que há muitos fascistas em Portugal, mas não tantos como alguns elementos da esquerda nos querem fazer crer que há...
ResponderEliminarMudaste de ideias?! Ainda há uns dias dizias aqui no teu blogue que o CDS era extrema direita e o BE extrema esquerda! Lembras-te?!
Cirrus, também é o Povo que vota nas eleições (e em maior número do que aqueles que votaram no concurso) e olha que os resultados nestes 36 anos pós 25 de Abril têm sido equilibrados entre esquerda e direita, não?
E não, não estou com isto a desvalorizar um facto preocupante que foi o resultado do concurso.
Não, não mudei de ideias. Apenas quero ressalvar que, por muito que andemos com os tais extremos às costas (e evidentemente, dentro do nosso panorama, esses são os dois extremos), não me parece sequer que o fenómeno do salazarismo esteja implícito em qualquer movimento partidário, até ao momento. É uma espécie de raiva latente, que explodirá assim que alguém chegue ao poder com laivos de salazarismo. O que pode já acontecer nas próximas eleições. Não são partidos que considere, à partida, anti-democráticos. E muito embora temesse um governo exclusivamente comunista, por exemplo, penso que o CDS tem laivos de xenofobia, razão pela qual o considero extrema direita, do ponto de vista ideológico. Politicamente, é apenas mais um partido, como o BE. São extremos, sim. Mas politicamente, não são mais que contrapesos. Os verdadeiros extremistas provavelmente nem estarão num nem noutro... Basta olhar para Pacheco Pereira e reflectir um pouco...
ResponderEliminarDe facto, é bem verdade o que dizes. Há um equilíbrio muito grande entre esquerda e direita. Só que me parece, sinceramente, que a distância da nossa esquerda à extrema esquerda (a que faz ditaduras tipo Mao e Estaline) é muito maior do que aquela que separa a nossa direita da extrema direita de Salazar. Porque tem muitos apoiantes num grande partido, tem uma base de sustentação reconhecida nos sectores mais poderosos da nossa sociedade. Isso é que preocupa.
Mesmo sendo verdade (e lamentável) que a mocidade Portuguesa tenha sido instrumentalizada pelo Estado Novo, para vender uma certa imagem de juventude "moralmente desejável", eu consigo discernir entre mocidade Portuguesa e o regime ditatorial (não propriamente fascista). Comparações com a juventude hitleriana (belicista, anti-semítica, racista, etc) parecem-me desajustadas, e típicas de uma certa esquerda que porventura precisa de ser recordada do que foi o bloco soviético e outros tipos de regimes socialistas.
ResponderEliminarAcredito que esta celebração possa ter tido outro propósito que não propriamente o de celebrar o Estado Novo (já agora, não me parece que Estado Novo seja sinónimo de fascismo, eu pelo menos, distingo regime ditatorial de estado totalitário). Talvez esta celebração tivesse apenas o intento de recordar a confraternização humana (não política) de outros tempos. Para mim, é-me indiferente. Se fosse por exemplo uma comemoração dos assassinos de Humberto Delgado, aí sim já estaria contra.
Pulha, gostaria de ter essa visão das coisas. Sou bastante mais pessimista. Veremos o que por aí vem...
ResponderEliminarRevisão de história da escolinha ou não, para mim isto pura e simplesmente não acontecia!
ResponderEliminarSe acontecesse o mesmo na Alemanha eu garanto que era notícia. Só se os próprios media alemães abafassem o caso, porque se se soubesse que uma turma de uma escola andava a desfilar vestida de juventude hitleriana, isto era notícia mundial. Felizmente que os alemães estão tão traumatizados que isso não aconteceria, e a própria Constituição alemã proíbe esse tipo de referências!
E isto assusta-me. Assusta-me ver Salazar ganhar o concurso de maior português, assusta-me ler os comentários de várias notícias dos nossos media, onde atrás de um comentário anónimo as pessoas dizem aquilo que lhes vai na alma e é assustador... Assusta-me os radicalismos, os "morte aos judeus, o regime nazi devia ter acabado o trabalho" como tenho lido várias vezes nas notícias sobre este caso recente de Israel.
Outra coisa é este tipo de extremismos estar normalmente ligado a graves crises económicas, como aquela que por acaso estamos a viver.
Por tudo isto, não, eu não quero ver miúdos da escola a desfilarem em trajes de mocidade portuguesa!!
Sara, corremos rapidamente para esse estado de coisas. Só não vê quem não quer. E só por ingenuidade podemos alguma vez pensar na inocência de situações destas.
ResponderEliminarE já que falas em Israel, e por muito que defenda a causa palestiniana, a verdade é que me manifesto igualmente contra os abusos de Hamas e Hezbollah contra alvos civis. Não tenho nada contra judeus, até porque tenho sangue judeu e isso não me envergonha minimamente.
Acho que este problema do desfile de Aveiro vai de encontro à consciência de cada um, neste caso, dos pais, e, se fosse comigo, evitaria que o meu filho participasse num evento destes.
ResponderEliminarDylan, também e principalmente, obviamente. E foi em consciência que escrevi o que escrevi. No entanto, não se espere que muita gente tenha uma opinião esclarecida sobre isto. E, como sabemos, as posições radicais em tempos de crise vão para quem mais se mostra. Para mim, é esse o perigo. Para mim, é pura demagogia e apologia do antigo regime. Como dizes, cada um vê aquilo que entende. E alguns vêem aquilo que querem ver.
ResponderEliminarMas "sabes que eu sei que tu sabes" que ultimamente se respira um ar saudosista, talvez salazarento, neste nosso país!...
ResponderEliminarNota-se muito isso quando ouves a expressão "antigamante é que era". A partir daí, cai a máscara ao pessoal e começo a ficar com "os azeites"!...
ResponderEliminarDylan, se respira!!! E não é que se ouve cada vez mais essa frase. E a outra, também gira, "Isto com um Salazar só já não ia lá. Eram precisos dois ou três..."? Quem fala assim é fascista, não há qualquer dúvida. Mas há gente que leva para a brincadeira... E eles vão-se preparando para voltar à descarada. Sim, porque encapotados há muito que aí andam...
ResponderEliminarNão consigo perceber qual o fundamento de uma coisa destas. A mocidade portuguesa representa o principio da doutrina fascista. É uma fase embrionária em que as crianças eram obrigadas a participar, mas não sejamos ingénuos na sua génese existe a intenção de incutir valores extremistas ainda que alguns deles possam ser certos. Acho ridicilo e despropositado um evento destes, querem demonstrar o que era o Estado Novo, levem os miudos a ver as prisões e deiam-lhe a conhecer quantos morreram, só porque acreditavam num mundo diferente.
ResponderEliminarForte, no fundo o que queres dizer é aquilo que eu quero dizer: não passa de uma tentativa de branqueamento de um período negro. Visitar prisões ou fazer um documentário sobre Peniche ou o Tarrafal não, porque isso prejudica a imagem do país. Vestir criancinhas de Juventude Hitl... Mocidade Portuguesa sim, porque isso era o paraíso na terra... E depois perguntam porque é que o Ricardo Araújo Pereira tem aquela opinião dos escuteiros...
ResponderEliminarApesar de tardiamente, não posso deixar de comentar.
ResponderEliminarDei conta desta notícia que, continuando sem perceber a legitimidade de tudo isto, me disse em vagas citações que ia ser feita, ao lado de outras, uma representação da juventude fascista de Salazar, a mocidade portuguesa.
Pergunto-me, se o objectivo era exaltar a história do país com orgulho (apesar de não haver grande ponta por onde pegar), ou exaltar os seus lados mais negros.
Num evento em que se representa 1910 e 1974, como se pode representar a MP? Curiosamente, não me recordo de ler que a clandestinidade de milhares de portugueses, o forte de Peniche ou o Bom Chão iriam ser retratados, com crianças em degredo e sem humanidade a passar em frente aos olhares públicos que elegeram Salazar como o melhor português de sempre.
Cumprimentos, boa redacção
Meu caro J, é arrepiante. Não o facto de vermos fascistas e apologistas por aí. O que é arrepiante é ver o imobilismo da nossa sociedade democrática, que teima em não acreditar num regresso ao passado cada vez mais próximo. É tudo brincadeira, dizem. Depois, queixem-se.
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