Insónia. Não dormir é, no fundo, aproveitar o tempo para exercitar o stress. E, no entanto, que bem me soube esta insónia. Que bem a aproveitei. Que bela noite de recordações.
Não sei. Talvez seja por se terem cumprido tempos escorreitos sobre a longínqua data de nascimento. Talvez por apenas pura nostalgia. Percorri mentalmente os sítios da minha juventude. Adolescência? Não, nada disso. Sabia lá eu viver nesse tempo! Juventude, sim. O tempo em que se vive e se começa a saber viver, sem aquelas angústias parvas da adolescência.
Na adolescência, todos somos poetas. E não é verdade? Pois é mesmo. Tem a ver com uma única coisa. O poeta é solitário. O poeta consegue ser mais poeta quando é solitário. O poeta ocupado com o conhecimento carnal deixa de ser platónico. Deixa de ser poético. Deixa de lançar odes à Lua. Sim, porque poeta que se preza não escreve sobre o dia. Escreve sobre a noite. Porque a noite é a parte das nossas vidas em que a transcendência humana se manifesta e podemos, ainda que por breves e felizes momentos, aspirar o ar dos deuses. E isso dá bela poesia.
E isto tudo apenas porque não me apetece dormir hoje. Bem, o cérebro cavalga por aí e já não sei bem onde vai. Espero não ter de procurar muito. Sim, fumei umas cenas. Brancas. Os meus cigarros são de enrolar. Nunca reparei nisso. Sempre enrolei os meus cigarros. Curioso, só comecei a fumar na juventude... E já lá vão mais de vinte anos a enrolar cigarros brancos com filtro e tudo. Se apenas enrolei cigarros? Não, não enrolei outras coisas. Pelo menos por regra. Mas hoje sinto-me como se tivesse fumado umas cenas. E recordei coisas. Sítios e lugares na minha mente de coisas brilhantes que ficam. É engraçado que a memória nunca retém o que é normal, apenas aquilo que é mais invulgar. Até o invulgar se tornar normal. Nessa altura é esquecido.
Mas temos capacidade de recordar coisas que quase havíamos esquecido. Insónia. Que diabo, isto não me costuma acontecer. Durmo tarde, sempre entre as duas e as três, mas isto é invulgar... Quer dizer, mais ou menos. Lembro-me que houve uma altura da tal juventude em que esta era a regra. É possível viver dormindo apenas ao fim de semana durante o dia? É, é bem possível. Lembro-me que houve uma altura em que já era mestre, estudava de dia, trabalhava das seis à meia-noite e depois ganhava dinheiro na mesa até às seis... Pousava a cabeça, pesada de sono e inebriada de álcool e tabaco, por breves momentos. Um duche e 50 kms para as aulas ás 10:00. Belos tempos! Como se pode ter saudades do sofrimento? Do cansaço, da angústia da bola que entra ou não, que vale cinco contos (se fosse hoje nunca jogaria a cinco contos a partida - são 25 aéreos, porra!!).
Hoje visitei estes sítios. Pus os meus sentidos ao serviço da recordação. Passando pela música que então ouvia, tropecei naquela coisa que ali está no canto. O deus Morrison e a sua Moonlight Drive, que tantas vezes me acompanhou - literalmente - ao luar...
PS: Foto Google (e que grande foto!!)
PS: Foto Google (e que grande foto!!)
O texto é como a insónia... percorre muitos temas.
ResponderEliminarÉ raro ter insónias, se bem que ultimamente têm sido recorrentes. Se acontecerem de uma 6ª para um sábado ou de um sábado para domingo, uso-a como tu usaste a tua... para recordar, para ler, para escrever. O sono há-de vir, nem que seja pela manhã e reporei o meu descanso. Quando acontece durante a semana, preocupo-me. Não é fácil ir trabalhar com duas horas de sono como me aconteceu algumas vezes no último mês. É demasiado desgastante.
A noite?! É fascinante. Belos tempos em que também eu era mestre em noites que se prolongavam. Nessas alturas recordo a frase que o meu pai me dizia muitas vezes, meio a brincar, meio a sério e preocupado com o facto de ter uma filha arraçada de morcego. Dizia ele "Minha querida filha, o teu triste pai chegou à conclusão que quando acabares o curso não vais ser ..... vais é ter o curso completo de guarda nocturno".
Nessa altura, quase sempre as minhas noites, acabavam ao som dos Doors, mas era mais o "Roadhouse Blues" ou o "Riders on The Storm".
Os anos passam, outros valores se levantam, o corpo já não aguenta as noitadas como dantes, mas as recordações ficam. E é normal que as que mais marcam sejam as mais invulgares. Essas é que são o sal da vida.
Saudades do sofrimento?! Ou antes daquilo que te fez crescer?! Vou mais por esta hipótese. São as adversidades que nos fazem dar valor às pequenas coisas, às coisas boas da vida.
E esta tua insónia, com estas recordações, o que a provocou?! Seria o peso de mais um ano que passou sobre a longínqua data de nascimento?!... ;)
Bom fim de semana
a noite é realmente o meu momento preferido do dia, permite-me estar só, comigo mesma e com os meus pensamentos. às vezes é a única altura onde eu os consigo organizar e catalogar devidamente. Tanto me passa pela cabeça que às vezes não sei reagir.
ResponderEliminaraté podia estar aqui a escrever um texto enorme sobre a minha juventude mas lembrei-me que ainda sou jovem... ahahahahahahahahahaahah
just kidin' rigth?????
mas deixemo-nos de pieguices...
Afinal, quantos aninhos são ah??????
Pronúncia, tem sido recorrente. Quer queiramos quer não, quase todas as recordações agradáveis que levamos desta vida, e o que ela é senão recordação, são da noite. E é certo que muitas destas coisas aconteceram quando queremos efectivamente ser adultos. Não o ser responsáveis e pais de família e mais não sei o quê. Ser adulto.
ResponderEliminarAnne, comigo é ao contrário. À noite, vem a torrente de pensamentos que é incontrolável. E só dessa maneira é que muitos saem cá fora.
ResponderEliminarNa realidade, não faço anos a 4 de Junho. A minha mãe é que faz. E ela fez 69 anos. Eu faço a 2.
não respondeste à minha pergunta!!!! e tu fazes anos e não dizes a ninguém????? Ou falhei algum post que devia ter lido????
ResponderEliminarmau mau maria!!!!
:P
parabéns então, a ti e à tua mãe... tem a idade da minha sogra! :)
e a mim, sendo noite ou dia não consigo deixar de pensar e fantasiar... só à noite é que, porém, consigo ordenar tudo o que me passa pela cabeça durante o dia. não quer dizer que deixe de pensar, quem me dera. podia ser que assim não demorasse duas horas para adormecer todos os dias... :P
ResponderEliminarAnne, não faço disso uma coisa importante. Até porque não passa de uma data simbólica, não quer dizer mais do que uma efeméride, medindo o tempo por este sistema calendar que adoptamos. Respondendo à tua pergunta, não tenho idade para ser teu irmão nem tenho idade para ser teu pai. Isto não renegando o facto de que poderia sempre ser um irmão muito mais velho ou um pai adolescente. Poderia acontecer... A minha mãe foi mãe muito nova, e tenho dois irmãos mais velhos uns bons anos. Eu fui o "engano"...
ResponderEliminarEntão muitos parabéns, apesar de três dias atrasados.
ResponderEliminar(Bem que podias ter avisado e tinhas tido direito a bolo) :)
Pronúncia, muito obrigado. Ambos sabemos que seria um bolo com sabor amargo...
ResponderEliminar;)
Não deves ser assim tão velho então, se a tua mãe tem 69 e tens dois irmãos mais velhos uns bons anos...
ResponderEliminare escusas de dar um ar de superioridade como quem diz ó chavala, vê lá se falas com respeito ao velhote aqui... fico mesmo a acreditar que é um!!! :P ahahahahahahaahah
Anne, não me parece que tenha essa atitude. Sou mais velho que tu, é certo. Tenho um sobrinho mais velho que tu três anos, penso. Não sou nenhum cota. Mas lembro-me das emissões da RTP começarem apenas às seis da tarde e acabarem à meia-noite... Mas sou um jovem, penso. E a minha aparência física, pelo que me é dado ver e vaidades à parte, não me dá a idade que tenho. O meu traje académico ainda me serve na perfeição. Excepto o casaco. Está largo.
ResponderEliminarParabéns "cota"! (fui alertado por um cheiro inebriante. Seria incenso?!)
ResponderEliminarGostava de dizer que as minhas melhores recordações são de dia.
ahahahah estava a brincar como é óbvio, nunca tiveste essa atitude...
ResponderEliminaro que foi, o humor passa com a idade????? :P
Cirrus, amargo?!!!!... Tu podes saber, eu não!
ResponderEliminar(Nunca ofereceria um bolo amargo fosse a quem fosse e muito menos a ti... fiquei triste!) :'(
Gostei imenso deste texto, não raras vezes dou por mim a fazer essas viagens mentais. Um texto nostálgico, também tive um ritmo de vida parecido durante alguns tempos. Muitos Parabéns e um Forte Abraço.
ResponderEliminarDylan, obrigado.
ResponderEliminarAs recordações são a nossa vida. O presente é um instante insignificante e vivemos permanentemente um passado recordado. Se as tuas são de dia, foste um menino bem comportado. Não tem nada de mal.
Provavelmente seria tabaco de naguilé.
Anne, fico mais descansado.
ResponderEliminarPelo contrário, fica mais apurado, mais sarcástico.
Pronúncia, obviamente não tem a ver com o bolo nem contigo. Penso ter sido um dia com alguns acontecimentos que me deixaram triste.
ResponderEliminarForte, por onde tens andado?? Ainda pensei que com a vitória gloriosa reabrisses o tasco, mas parece-me que andas com pouca vontade. E fazes muita falta, desde já te digo...
ResponderEliminarA vida nem sempre é aquilo que queremos. Naquela altura, o ordenado não dava para tudo o queria fazer. Para ajudar dava. Para as minhas despesas, admito que o jogo foi uma tábua de salvação. Alturas houve que era uma prancha de dez por dois metros...
Cirrusamigo
ResponderEliminarInsónia não se compra, não se vende: sofre-se. Paciência, amanhã há mais noite e mais sono, hipoteticamente falando.
Cheguei aqui por via da nossa Lillyamiga, de que gosto muito, mas que anda um tanto fugida ultimamente.
Cheguei e gostei. Um bom blogue, este que é teu. Muitos parabens
... nesta data queridaaaaaa, muitas felicidades, muitos anos de vidaaaaaaaaaaaaaa...
Agora, espero-te lá no meu barraco. E aguardo cumentários, com o, teus. E quero-te meu (per)seguidor. Kittos = danke schön, mas em filandiosês
Abs
Henrique, muito obrigado.
ResponderEliminarLá passarei.
Cirrus
ResponderEliminarObrigado, mas só quem está é que faz falta. E só quem teve um blogue pode dar o devido valor a quem vai escrevendo e fazendo pensar os outros.
Abraço Glorioso
Forte, não é bem assim. Fazes falta mesmo. Isto anda por cá um bocado para o reaccionário...
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