quarta-feira, 20 de outubro de 2010

DIÁRIO DE VIAGEM - DIA 5

Marraquexe, 22 de Setembro de 2010

As delícias do Atlas Medina & Spa
Custou despedir-me de Fez. A cidade impressionou-me de tal forma que foi penoso virar costas à esplanada do Hotel Les Merinides e à vista global da medina. Ou foi isso ou então era mesmo a viagem de 500 kms até à capital do sul, Marraquexe, atravessando as montanhas do Rif.
Ifran é uma estância de esqui! Parece mentira, mas é uma autêntica Aspen do norte de África, cheia de chalés suíços e bosques de verdes cedros. Consta que no Inverno a montanha se cobre de neve. A temperatura fresca e o aparente regresso à Europa foram refrescantes, mas não mais que isso. 
Descemos o Rif aos ziguezagues, passando por aldeias e cidades cada vez mais baixas e cada vez mais em obras. Quando chegamos à enorme planície que é o centro de Marrocos, começou a agigantar-se, à nossa esquerda, uma enorme parede de pedra, o Atlas Médio. O Atlas Médio é a extremidade norte do Atlas, e à medida que nos dirigimos a sul, vai aumentando de altitude e de espectacularidade. Depois do almoço, em Beni Mellal, a montanha atingiu o seu cume e desapareceu de repente. Uma imensidão plana surge a Leste, uma porta imensa por onde os ventos do Sahara penetram, correm a planície e aquecem as praias, a Oeste.
A falha geológica que se segue a Beni Mellal faz subir a temperatura, de um momento para o outro, em dez graus. O terreno torna-se árido, e só à custa de muita imaginação e irrigação a agricultura fértil continua a ser possível. Assim se mantém até ao centro do oásis no centro do qual se ergue Marraquexe. A temperatura nocturna superior a trinta graus ameaça-nos para a jornada de amanhã, no interior da medina.
O Hotel Atlas Medina & Spa é um luxo, uma espécie de mil e uma noites berberes. Daqui ao centro de Marraquexe, a famosa praça Jemna El Fna, onde se ergue o minarete gémeo da La Giralda de Sevilha, a Torre Koutoubhia, é uma caminhada agradável, que fizemos sós, devagar e com prazer, depois de devoradas quantidades industriais de doces à sobremesa. Penso que a viagem nos incutiu o sono, e foi a maneira de acordarmos. 
Jemna El Fna
A praça é uma surpresa imensa e intensa. É uma enorme área aberta, que contrasta com a medina de Fez. Estava cheia de berberes, orientais, portugueses, suecos, americanos e quem mais decidiu visitar a noite louca de Marraquexe. De tudo se vende, de tudo se compra, encantam-se serpentes, contam-se histórias, toca-se música, conversa-se animadamente. Marraquexe não desilude. A cidade património da Humanidade existe apenas porque é assim. Uma loucura total. A praça morre às três da manhã, altura em que se enchem os inúmeros bares e discotecas da cidade, localizados atrás de insuspeitas portas.
Vêem-se muitos casais de namorados espalhados pelos bancos e relvados dos enormes jardins da cidade. Sem se tocarem, com olhares envergonhados a quem passa, invariavelmente com as duas scooters ao lado. Eles, vestidos de forma ocidental. Elas, com túnicas cingidas ao corpo e de lenço leve na cabeça. Não vi, até agora, nikabs em Marraquexe. A cidade parece ser demasiado vibrante, demasiado barulhenta e demasiado ocidental para esses exageros de indumentária. Ocidental e, no entanto, do Sul. Daquele Sul de que conhecemos outras paragens, de paragens de Al-Gharb. Mas sem se estragar, sem se impressionar, sem se vender. Apesar de tudo, tudo mesmo, ter um preço em Marraquexe.

12 comentários:

  1. Já lá queria ir e agora... Rais partam a crise!

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  2. Malena, dentro de quatro anos, quando o TGV estiver pronto até Marraquexe, talvez seja mais barato!!

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  3. Pronúncia, não consegues imaginar o quanto! Nunca me senti tão vivo numa cidade como em Marraquexe. É mesmo uma cidade muito especial. Animadíssima, tratadíssima, lindíssima.

    Devo dizer que pensei que fosse encontrar uma coisa antiga, sim, mas como as nossas, mal tratada e morta. Puro engano! Não há, na Europa, cidade como aquela. Indescritível! E olha que já estive no Cairo algumas vezes...

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  4. Já lá estive uma vez e adorei...todas as descrições que fazes não podiam estar mais de acordo com as minhas memórias! :)

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  5. Mia, é uma cidade inesquecível. Talvez por isso as recordações e memórias sejam difíceis de apagar.

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  6. Estive lá em Junho de 2008. Fui, imagine só, assistir a um casamento católico. Ia-me dando uma coisa má... isto de estar de fato e gravata com um calor daqueles não é para mim. Mas valeu pelo Souk e por um jantar num restaurante óptimo chamado Bo-Zin.

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  7. Salvador, 42ºC em finais de Setembro... Cidade quente...

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  8. =D=D quer dizer que gostei das fotos, da descrição, da cidade...
    só não me apetecia estar com tantas palavras...
    :P

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  9. Anne, sua preguiçosa!!! Olha que para curtires em Marraquexe, não poderias estar assim tão letárgica!

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