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Ontem, lá se comemoraram 100 anos de República. É uma grande efeméride, pois são 100 anos de um regime político implantado em Portugal. São 100, é um número redondo, e deve ser por isso que tanto se comemorou e porque tantas pessoas quiseram associar-se à festa. Só assim compreendo as demonstrações de afecto que vi por aí.
Na cerimónia oficial, enquanto Cavaco e Sócrates se preocupavam em enviar recados um ao outro e ao Passos Coelho, que não estava presente, por achar que a Fundação Champalimaud seria mais importante (pelo menos é coerente), um dos presidentes anteriores ainda vivos, o Gen. Ramalho Eanes, afirmou perante as câmaras da TV aquilo que muitos deviam afirmar. Afirmou-se frustrado pela República, por não ter atingido os objectivos a que esta se propõe, ao mesmo tempo que se afirmou responsável pelo estado da democracia em Portugal, pois já foi Presidente. Aumentou mais, se possível, a minha admiração por esta figura política portuguesa, que já antes apreciava. Disse aquilo que muito boa gente não tem coragem de assumir, as suas responsabilidades no estado do país por ser ou ter sido titular de cargos políticos.
Eu não embarco nas estrelinhas que nos lançam para os olhos. República não é sinónimo de Democracia, e em Portugal muito menos, ou já esquecemos que passamos 48 anos destes 100 em ditadura? Até ali o amigo Américo Tomás, o "Corta-fitas", foi Presidente! E diga-se que os primeiros 16 não foram lá aquela coisa em termos democráticos... Os últimos 36, ditos democráticos, sempre são melhores que os outros dois períodos, mas com defeitos, claro. É bem verdade que a perfeição é difícil de atingir. Não esquecer, no entanto, que Hitler não era rei. Mao não era rei. Estaline não era rei. Pinochet não era rei. E o gémeo de Salazar, Ataturk, não era rei. De onde surge então esta ideia que a Democracia e a República são sinónimos?
Por outro lado, a Democracia só pode existir se houver República? Então, a Inglaterra, a Holanda, a Suécia, a Bélgica... são todos ditaduras? Estou sempre a aprender... Ora, se o principal objecto dos desígnios republicanos for bem tratado, ou seja, se o povo for sempre o objecto dos melhores esforços dos políticos, tanto se me dá como se me deu ter em Belém o Cavaco como o Duarte. Mal por mal, venha o diabo e escolha. Aliás, o espanto que o Cavaco revelou pela comodidade das vacas aquando da ordenha é coisa que me põe ainda a pensar se o homem ainda tem a caixa dos pirolitos intacta. Quanto ao outro, decoração já o Palácio tem muita, mais um objecto ou menos um...
É interessante como todos acolhem a República, da esquerda à direita, dos mais revolucionários aos mais reaccionários, dos mais comunas aos mais fascistas. Quando, no entanto, é necessário acolher a Democracia, já muitos destes se encolhem e pensam em Abril como apenas um capítulo mais ou menos ridículo da história contemporânea portuguesa. A explicação é até simples. Enquanto a República serve a todos, pois todos podem sempre esperar, sob o regime republicano, que aconteça uma reviravolta qualquer que nos coloque numa nova ditadura fascista ou comunista, quiçá (embora isso sejam apenas sonhos), já a Democracia exige-se a si mesmo.
Ora para mim, rematando, venha mais uma dose de democracia, sempre mais e melhor (e não como nos últimos tempos, em que têm vindo a surgir na mesa doses cada vez mais pequenas). Isso é para mim o importante. Se há rei, se há presidente, isso é para mim secundário. Ou alguém pensa que se, por acaso, a monarquia se visse restaurada em Portugal, teríamos alguma ditadura absolutista? Tenham lá juízo! Velem pela democracia, aspirem sempre a mais. O resto... são pormenores e não o principal.
República não é, nem nunca foi sinónimo de Democracia... deveria ser, pelo menos a nossa, mas não é.
ResponderEliminarBasta ver os países que no mundo ostentam orgulhosamente o nome República e que mais não são que vergonhosas ditaduras.
Pessoalmente prefiro-me republicana a monárquica, mas apenas por uma razão, não me parece bem que alguém possa governar um país apenas porque nasceu numa família e não outra... não é justo para quem é governado, pois não pode escolher o seu representante máximo (mesmo que este seja só e apenas uma peça decorativa) e nem é justo para a criatura que nasceu com o destino traçado para reinar (sabemos lá se não preferiria ser outra coisa qualquer?)... só por isso sou republicana.
Apesar disso, confesso que preferia viver numa monarquia como a que se vive em alguns dos países que aqui citaste, que viver nesta república centenária, doente, que só serve alguns... para bem da idosa senhora espero que sofra de Alzheimer (só para não se aperceber do que fizeram com ela em 100 anos de existência)...
Assino por baixo, por cima e ao lado! Embora, como diz a Pronúncia me veja mais como Republicana. :)
ResponderEliminarSabe que mais Cirrus? Tou farto de República. Anseio por uma ditadura, e não tenho dúvidas que, mais dia, menos dia, ela aí estará.
ResponderEliminarSalvador, não está a falar a sério pois não?!...
ResponderEliminarPronúncia,
ResponderEliminarEu penso que de facto o interesse do povo, se viesse em primeiro lugar e fosse devidamente acautelado, é o mais importante, independentemente de termos rei ou não. Aliás, ter um rei tem uma vantagem óbvia, que me espanta ninguém, nesta altura, ter realçado.
O facto de o povo português se ver como mais republicano não implica que a República tenha sido um sucesso, pelo contrário, não o foi. E resultou no período mais negro da nossa História.
Malena, e isso não será do hábito? Há cem anos que ninguém conhece mais nada a não ser República...
ResponderEliminarSalvador, a República, em Portugal, em cem anos, foi sinónimo de ditadura declarada durante 48 anos e de agitação ditatorial por mais uns 20. Não confunda República com Democracia.
ResponderEliminarEspero, no entanto, estar a brincar com essa história da ditadura que prefere e espera. Porque, caso não seja brincadeira, deixará de ser bem vindo a este espaço.
Mas é brincadeira, não é?
Mais ou menos, Pronúncia...))
ResponderEliminarA liberdade que a nossa democracia proporcionou foi levado ao extremo e transformou-se em libertinagem. Você sabe tão bem, provavelmente até melhor, o caos em que estamos. São terrenos propícios ao aparecimento de Chavez, Salazares, Evos Morales e por aí fora. Preferia que se resolvessem as coisas no actual estado democrático, mas não acredito mais nesta gente. E isto chegou a um ponto em que só lá vai com um 'quero, posso e mando'.
Cirrus,
ResponderEliminarapesar de não confundir democracia com república, utilizei o termo errado. No meu comentário anterior, onde se lê 'tou farto de República' ´leia-se 'tou farto de democracia'. E o porquê está na resposta à Pronúncia.
Você é um democrata, Cirrus, aceita concerteza posições diferentes ... rsrsr
Amigo, temo acreditar que "democracia" é apenas uma palavra com definição no dicionário mas não no terreno.
ResponderEliminarQuando pensamos ou agimos de forma democrática, lá vem sempre uma represáliazita qualquer.
Começo a achar que o outro é que tinha razão: "eles gostam mesmo é da dita dura!"
Salvador, apesar de compreender a sua frustração com a democracia, a verdade é que nenhum sistema é perfeito. Aliás, nenhum sistema é mau. Más são as pessoas. E os ditadores não são boas pessoas, acredite-me.
ResponderEliminarAceito posições diferentes. Não aceito é posições que ponham em causa aquilo que ainda me resta: a liberdade. Isso não aceito, seja lá porque razão for. Muitos sofreram por ela. Gente de mais, para que agora deitemos o seu sacrifício a perder. Isso não aceito!
Catsone, é verdade que a democracia não é um mar de rosas. Comparado com outros tempos, em que as represaliazitas eram o menos que poderíamos esperar, não vejo comparação.
ResponderEliminarHá muito tempo que tento combater os que gostam da dita dura. Não é agora que admitirei que é necessária uma. Para quê? Para sermos novamente um dos países mais pobres do mundo e um dos poucos da Europa que passa fome de forma generalizada? Não, obrigado. Para isso, que fique como está. Em vez de lutarmos para melhorar a democracia, vamos voltar ao período mais negro da nossa história? Pelo amor de Rá!
Salvador, eu sei que o estado a que as coisas chegaram é realmente propício ao aparecimento de ditadores, eu também não acredito nessa gente, mas ainda acredito em nós... e, apesar de a temer (a História é cíclica), não anseio por uma ditadura... isso nunca!
ResponderEliminarFoi isso que perguntei, se quando se referiu a "ansiar uma ditadura" estava a falar a sério ou a brincar, é que o receio compreendo (sinto o mesmo), mas o desejo de que aconteça, isso não... não desejo e não consigo compreender quem a possa desejar.
Cirrus, e a vantagem óbvia é o facto de ser mais barato manter um rei que um presidente?
ResponderEliminar(Hum!... onde é que já discutimos isto?) ;)
Pronúncia, poderá ser... ou não... Conhecendo os portugueses, o nosso rei teria tudo e mais alguma coisa ao dispor e seria igualmente caro.
ResponderEliminarA vantagem a que me refiro é o facto de um rei não poder ascender ao poder por um período finito. Aparentemente, é uma desvantagem, não é? Mas o que se passa em Portugal é, invariavelmente, o chamado "quem vier atrás que feche a porta", desde o 25 de Abril. Um rei não pode fazer isso. É responsável perene perante as suas decisões e contributos para a democracia, ao contrário daqueles que lá vão dar uma voltinha de meia dúzia de anos, arrecadam o que podem, passam para a reforma e depois mandam umas papaias como quem diz que nunca teve nada a ver com o assunto. E não vale dizer que um rei não pode ser destituído. Pode e já houve mudanças de dinastia em Portugal.
muita coisa para ler, volta aqui depois.... :|
ResponderEliminarbom fim de semana...
Cirrus, longe de mim querer uma nova época negra! Gostaria, no entanto, um povo diferente, menos queixas e mais acção, uma mudança de mentalidades, é pedir muito?
ResponderEliminarAbraço
Anne, no comments...
ResponderEliminarCat, e não é essa a nossa função?? Ao trabalho, pá!! No que temos ao nosso dispor, tentemos fazer alguma diferença!
ResponderEliminarOra aí está um ponto de vista interessante e que era capaz de nos poupar a alguns dissabores.
ResponderEliminarPronúncia, é apenas um dos ângulos que se podem analisar... Para além do mais, todos "sabemos" que a monarquia não funcionaria... E a República, funciona?
ResponderEliminarNa minha opinião, não é propriamente o modelo que não funciona... são as pessoas!
ResponderEliminarPronúncia, isso estou eu farto de dizer...
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