Mesquita Hassan II |
Rabat, 19 de Setembro de 2010
O jantar de ontem foi óptimo. Embora não tenha envolvido carneiro, o que me começa a preocupar. A comida era óptima e a companhia excelente. O Carlos e a Brigitte são divertidos e possuem uma cultura acima da média. Tornam-se pessoas interessantes. Notei o seu gosto por jazz, já que apreciaram sobretudo a banda que tocava no restaurante.
A noite foi bem descansada. Quando a manhã chegou, pudemos verificar finalmente a localização do hotel, que não dista muito do porto de Casablanca. O tempo está como estava o tempo em Coimbra quando a deixamos. Talvez mais húmido, o que, dada a proximidade de Casablanca do mar, não espanta. Cada grande cidade marroquina tem uma residência real, um palácio, portanto, apenas utilizado pelo rei e sua família. Tem apenas dois filhos. Quer dar o exemplo de redução da natalidade em Marrocos, que ainda ostenta uma média de quatro filhos por casal. O palácio de Casablanca estava fechado, obviamente. Apenas se podem visitar algumas salas e pátios menores, nas dependências, e a julgar pela aparência destas, não consigo imaginar o interior do palácio propriamente dito.
Casablanca é muito limpa, bem mais limpa que algumas cidades europeias. Mas poder-se-ia comer no chão nas imediações do ex-libris da cidade, a mesquita Hassan II. É de facto um edifício impressionante. Tem um tecto retráctil, que recolhe em apenas três minutos, a mais de sessenta metros de altura. O seu minarete tem dimensões colossais: mais de vinte metros de lado e duzentos de altura. Tanto o interior como o exterior são trabalhados da mesma forma que mesquitas antigas que visitei, com motivos árabes requintados. O tecto, que pudemos admirar, é forrado a madeira de cedro trabalhada em rendilhados até à exaustão. Todas as paredes são forradas a mosaicos com peças que não excedem o par de centímetros. O chão é de mármore rosáceo, na sua maioria coberto por enormes carpetes. Duas enormes estruturas elevadas, como varandas, percorrem ambos os lados da enorme nave, onde cabem 20000 fieis. São as partes destinadas às mulheres, que rezam separadas e longe dos olhares dos homens. Há lugar para 10000 mulheres. Na cave, há as enormes salas de ablução, completamente feitas em mármore branco. Uma sala para cada sexo. As mulheres têm direito a escadas rolantes, discretamente inseridas, até ao seu local de culto. Por baixo da cave, mais salas, com banhos turcos. Um edifício notável, que não sei até que ponto poderá ter sido responsável pela revitalização do Islão tradicional a que se assiste em Casablanca. Vêem-se muitos véus, muitas túnicas e até nikabs. O Islão está claramente ao ataque, e Marrocos parece ser uma vítima fácil, ao contrário de outros países. Um ponto a favor dos marroquinos, até agora: nem um olhar reprovador a calções ou tops, que são aceites naturalmente.
Almoçamos peixe numa das praias de Casablanca, praias onde não se vêem mulheres a apanhar sol. Depois viajámos para Rabat, a 90kms de distância. Ideal para dormir um bom sono na cozinha do autocarro, onde seguimos nós, o Carlos e a Brigitte.Temos seis lugares à nossa disposição e já começam a desenhar-se lutas entre alguns parvos italianos que querem à força toda mudar de lugar com os portugueses que preferem mantê-los até ao fim da viagem.
Rabat, novos palácios reais, mas estes no centro da área onde se encontra todo o Governo e Estados Maiores. Uma área imensa, bem tratada, onde moram inclusivamente grande parte dos altos funcionários do país. A visita ao mausoléu real é interessante pelas ruínas da antiga mesquita e da Torre de Hassan, outrora um minarete que fazia parte de uma geminação tripla, estando os outros dois em Sevilha (La Giralda) e em Marrakech (Koutobia). Ambas as estruturas foram destruídas pelo terramoto de 1755 em Lisboa, que arrasou a mesquita até ao chão e partiu o enorme minarete ao meio. O Mausoléu, na ponta Leste do complexo, é um edifício simples, de dimensões adequadas, de enorme gosto arquitectónico e, acima de tudo, decorativo. O interior não é grande, mas a sua decoração lembra os contos das Mil e Uma Noites.
A Casbah de Rabat é por si só famosa. Encravada entre o mar, a muralha e o rio, a Casbah é um labirinto azul e branco onde se misturam as casas berberes, árabes e judaicas sem grandes distinções. As ruas são estreitas e limpas, e os carros ficam lá fora, até porque não cabem lá dentro. Belos terraços debruçam-se sobre o rio, serve-se chá e doces tradicionais, o café é excelente, embora sem creme, e a bom preço (entre 60 e 100 dihrams, 55 e 90 cêntimos), o que é muito bom, atendendo que a generalidade dos países árabes, apesar de servirem bom café, têm preço proibitivo para o mesmo. Os italianos não gostam do café daqui, tão do agrado dos portugueses. Acham-no demasiado forte.
Antes do jantar, uma caminhada solitária (a quatro) pela cidade, até à avenida Mohammed VI (caminhada de 30 minutos, pois o Golden Tulip Rabat fica perto da Casbah). Confirma-se a ideia que até aqui tinha: Marrocos sofreu uma regressão em direcção ao Islão, nos usos e costumes. Não é incomum ver mulheres destapadas, mas também não é incomum ver nikab, mesmo em mulheres muito jovens. A maioria usa véu normal. Curioso é o facto de muitas túnicas serem de seda e justas ao corpo, o que é óptimo para adivinhar se é tanga ou cuecão... A maioria é tanga... Apesar de grande parte da população não ligar à vestimenta tradicional islâmica, a verdade é que ainda não saímos das capitais (Rabat, política; Casablanca, económica). O meu medo prende-se com o facto de o interior poder ser mais conservador ainda.
Mais um bom hotel, este Golden Tulip Farah Rabat, com boa comida, mas sem carneiro... Surpreendentemente, ainda não vimos muitos franceses, bem como aquela mania nojenta de juntarem no mesmo prato entrada, prato e sobremesa. São dos viajantes mais mal educados com que já topei. Pelos vistos, a porra dos italianos anda lá muito perto. Sempre tive a ideia de os italianos serem festivos, descontraídos, joviais. Afinal são depressivos, nervosos, mal-educados...
Oxalá se mantenha assim a viagem...
Como terá ficado o Glorioso com o Zbording?
A reter:
ResponderEliminar- andavas a ficar obcecado por carneiro;
- o terramoto de Lisboa fez estragos (estamos mesmo a precisar de outro, mas... selectivo);
- afinal no que toca a lingerie as muçulmanas são pró-ocidentais (nada que não desconfiasse)
- começa a desenhar-se um "odiozinho de estimação" a italianos.
E agora, sem brincadeira, a expansão do Islão não deixa de ser preocupante.
Retiveste bem:
ResponderEliminar- Adoro carneiro cozinhado à moda árabe;
- O terramoto de Lisboa foi o sismo mais forte de que há memória. Chegou a Marraquexe e a Paris
- Em Gizeh, há um centro comercial com 46 lojas, 26 das quais são de lingerie (e muita dela de fazer corar o menos puritano dos ocidentais)
- ódio aos italianos? nada disso! Lá por serem parvos como tudo...
A expansão do Islão é uma ameaça que não está tão longe como isso. particularmente porque as igrejas cristãs se estão a desmoronar definitiva e rapidamente. Só a oposição laica pode travá-lo.
Amber Leaf é uma das minhas prioridades quando viajo para fora.
ResponderEliminar''Afinal são depressivos, nervosos, mal-educados...'' -nada como a velha aliança, Tugas/Bifes.
Nunca fui para estes lados. Recomenda a viagem?
E então, o que aconteceu ao carneiro?
Bicho, nunca saio para longe sem a minha dose de tabaco. Não vá andar a penar por lá com cigarros normais...
ResponderEliminarPensando bem, já tive experiências de viagem com ingleses. São bastante mais civilizados que estes italianos da treta. Povinho de mer..
O carneiro em Marrocos não é dado aos turistas, por pensarem que não o apreciam. E realmente a maior parte não aprecia... Novos-riquismos... Recomendo sim senhor. Fez e Marraquexe merecem a visita. Um país interessante.