domingo, 30 de setembro de 2012

O LABORATÓRIO



Ilustração Marco Joel Santos
 Antes das ideias, uma análise a um artigo que saiu no Courrier Internacional de Setembro, e que a todos aconselho vivamente. Até porque contextualiza a discussão futura. Trata-se de um artigo publicado pelo jornal catalão de Barcelona, La Vanguardia. Intitula-se “Laboratório de Resgates”, e versa sobre o período de assistência financeira à Letónia, ex-república soviética, agora integrante da EU, embora não da zona euro. O que exponho de seguida são partes do referido artigo, com comentários meus pelo meio. As partes transcritas serão assinaladas a letra diferenciada.
·         Declarações de Christine Lagarde, presidente do Fundo Monetário Internacional:
“Quem poderia imaginar, em 2009, que estaríamos hoje aqui, a festejar o sucesso da Letónia, depois de um percurso tão difícil? É um tour de force. Vocês indicaram o caminho à zona euro.”
·         Declarações de Sergey Acupov, ex-assessor do governo:
“Somos a experiência em laboratório da desvalorização interna. (…) Querem um exemplo para a Grécia, para Portugal… e Espanha.”
·         Situação (citação do artigo):
“Em troca de créditos no montante de 7,5 mil milhões de euros, o Governo pôs em marcha a mãe de todos os ajustamentos orçamentais, equivalente a 17% da sua economia, em apenas dois anos.”
·         Resultados imediatos do ajustamento (citações do artigo):
o       “O PIB caiu 23% em dois anos”;
o       “Os salários baixaram entre 25 e 30%”;
o       “ (…) O desemprego aumentava de 5 para 20%;
o       “ (…) O subsídio de desemprego foi reduzido para apenas 40 lats (57 euros) por mês”;
o       “Quatro em cada dez famílias ficaram em situação de pobreza, mas a taxa única de imposto sobre o rendimento (25%) foi aplicada a mesmo aos rendimentos mensais de 60 euros.”;
As políticas impostas à Letónia fizeram com que 40% das famílias se tornassem indigentes. O desemprego escalou para os 20% - sem dúvida agora se percebe a obsessão de António Borges com este número de desempregados, que ele considera “o ideal”, ou não tivesse ele sido o responsável pelo programa letão, como director do FMI para a Europa, à data dos acontecimentos – mas entretanto, Lagarde teve esta pérola, que apresentou como excelente notícia: “A Letónia vai ter, este ano, um crescimento de 6%, mais do que qualquer outra economia europeia”. Sem dúvida, uma excelente notícia. Recordo, de qualquer das formas, que a queda do PIB foi de 23% em dois anos, pelo que estes 6% de crescimento, dado o emagrecimento da base de cálculo, se situa nos 4% relativamente há dois anos, o que levaria o ajustamento a ter sucesso ao fim, não destes dois anos, mas apenas daqui a 6 anos. E, não esquecer, estes são cálculos do FMI, estimativas para o final do ano, que sabemos serem extremamente pouco fiáveis quando apresentados em causa própria.
·         “30 % dos jovens opta por emigrar”:
o       “Cerca de 10% da população (230 mil numa população de 2,2 milhões, em 2008) abandonaram o país. E 30% - um em cada três – dos letões com menos de 30 anos partiram, a maioria para nunca mais voltar.”
o       “A população está a envelhecer rapidamente. E, nesta última leva, as pessoas que partem são jovens com estudos” – demógrafo Mihails Hazans;
o       “A isto somam-se os graves problemas demográficos da Letónia, devidos à taxa de fecundidade baixa e à esperança de vida igualmente baixa (um problema agravado por um sistema de saúde em crise orçamental)”;
·         Degradação das condições de alojamento e salubridade:
o       “Antes, a Moscow Worstadt era uma zona industrial da economia soviética. Agora, é um foco de prostituição, droga e atividades ilícitas”;
o       “O centro infantil da Risk Berni dava comida a entre 20 e 30 crianças por dia e distribuía roupa. (…) O estado letão contribuía com 2000 lats mensais. O hotel Radisson fornecia as sobras da cozinha. (…) O governo cortou o subsídio para metade e a Risk Berni fechou no ano passado”;
o       “Com tanta emigração, as mães das crianças foram para o estrangeiro e muitas dessas crianças vivem agora com os irmãos mais velhos ou os avós”;
o       “ (…) Um jovem, de cabeça rapada, entrou num bar: (…) - Acabei de brigar com um tipo. Foi ele que começou – Lá fora, na rua, jovens prostitutas – talvez com 17 ou 18 anos – esperavam”
o       “Muitas das casas boas pertencem agora aos bancos e os antigos moradores vêm para aqui” – Diana Vasilane, moradora de um bairro degradado;
o       “Entramos numa urbanização de barracas de madeira, que se estende até ao rio. Muitas delas têm pedaços de terreno cultivado, que os novos pobres da Letónia combinam com a pesca, para sobreviver. Não têm electricidade, apesar de, no Inverno, as temperaturas serem de 20 graus negativos”;
o       “No período soviético, as pessoas tinham aqui pequenas hortas e uma barraca para guardar ferramentas. Agora as pessoas vivem nestas barracas” – motorista de Riga;
o       “Konstance Bondare, de 80 anos, é uma das moradoras (…) sem luz, nem água (…) diz que veio morar para aqui há um ano e meio, depois de ter sido desalojada por um banco, que tomou posse do seu apartamento em Riga (…) fiadora da sua filha (…) a filha partiu (…) Recebe uma pensão de 180 euros por mês. Vai buscar água ao rio todos os dias – e diz que a bebe (…) diz que paga renda por este casinhoto de 12 metros quadrados (…) – O banco pôs-me na rua e disseram-me que devia envenenar o meu cão. Prefiro envenenar-me a mim mesma. Vejam como vivem os letões no seu próprio país!
o       “Há algumas semanas, uma senhora da idade de Konstance foi assassinada à machadada, num bairro perto daqui. Roubaram-lhe a pensão de 100 euros";

Estamos dispostos a coisas como estas para fazer um ajustamento pretendido apenas por quem não conhece a realidade do nosso país? Porque razão não podemos ter outras alternativas? Porque razão insistem em matar uma boa parte do país, como na Letónia, através da degradação de um SNS que já nem garante tratamentos oncológicos paliativos aos portugueses? E porque insistem que a parte mais habilitada do país emigre? Qual o objectivo desta política?
Cada um retire as conclusões que quiser. Penso que são claras as intenções de quem nos governa. Ainda não é tarde demais.

IDEIAS



Ilustração Marco Joel Santos
Face ao descalabro económico que indubitavelmente enfrentamos, há que transpor a fase do lamento, e também aquela fase em que, confesso, eu próprio protagonizei do “eu avisei” e do “temos o que vocês escolheram”. O povo de um país não é apenas uma massa disforme ao dispor de alguns iluminados como Coelhos, Sócrates e Borges, personagens completamente alheios a esse povo. O povo é capaz de gerar ideias, é capaz de ver mais longe. No entanto, tem de ser capaz de o demonstrar.
Não nego, nem nunca negarei, a necessidade que Portugal tem de equilíbrio nas suas contas públicas. Mais do que procurar as razões, que penso por esta altura estarem claras, para esta situação, e das quais destaco a desregulamentação bancária, que fez disparar os apoios estatais a empresas deste sector, a situação internacional, que penso não ser actualmente já uma questão de somenos importância, e o desmando a nível financeiro do próprio estado, embarcando em aventuras cujo único propósito é enriquecer privados – a ver vamos no que dão as investigações às PPP – interessa agora propor soluções, pôr ideias cá fora. Podem até ser diarreia mental, mas talvez no meio de mil ideias que me trespassam o pensamento (assim o aniquilando permanentemente, mas isso é outra história) se aproveite uma. E seria já um contributo válido.
Não quero ser acusado de ser o velho do Restelo. Primeiro, porque penso não ter idade para tal, e segundo porque penso que o Belenenses devia ser absorvido pelo Benfica. Terceiro, porque ser acusado não é coisa que interesse muito seja a quem for. E quarto, porque de facto estou interessado numa sociedade melhor e mais justa, não no contrário.
Posto isto, não pretendo dar ideias porque sou um ideólogo do governo, até porque ser como o Borges é demasiado mau para ser verdade num ser humano. Apenas debater, apenas seguir em frente e apresentar alternativas. Isto no quadro de dívida que temos, agravado pelos desditosos Troika e Governo que, por esta altura, já todos percebemos, não nos querem fazer favor algum, mas antes mergulhar o país e a Europa numa espiral recessiva que elimine grande parte da concorrência e imponha oligo ou monopólios e escravize, efectivamente, um povo europeu que não sabe ainda o que o espera.
Por outro lado, não se iludam os possíveis leitores e todos aqueles que aqui quiserem dar um contributo. Este blogue é administrado por um defensor dos ideais de esquerda. Possivelmente, nem todas as ideias que tenho são de esquerda, mas também é possível que algumas o sejam em fortes tons de vermelho (o rosa é vermelho em decomposição, e já o é há décadas). Por outro lado, vou partir de um princípio com o qual não concordo inteiramente, que é o do crescimento económico. Numa altura em que é notório que os recursos planetários já não são abundantes, devíamos pensar em decrescer uniformemente, controlar as populações e garantir que não cresçamos para além daquilo que é razoável a nível planetário, e não procurar um crescimento a todo o custo, implicando inexoravelmente o declínio do modo de vida dos mais desenvolvidos e a estagnação dos menos desenvolvidos.
A ideia é transmitir uma série de textos curtos com medidas mais ou menos generalizadas, e refinar essas ideias por meio de debate. Há muita coisa em que podemos melhorar, mas para isso concorre, desde logo, a vontade de melhorar. E isso implica participar. Ora este blogue não é lido por milhares nem sequer por centenas, e duvido que as dezenas sejam muitas. É presunçoso pensar que pode fazer uma grande diferença. Mas pode fazer uma pequenina diferença, e é o que posso fazer. E quem quiser participar e divulgar, o prazer será todo meu.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

CULTURA DA CUNHA

Ilustração MJoel Santos
 
Com certeza todos passamos por momentos em que aprendemos algo com alguém mais velho. Na verdade, quase tudo o que aprendemos é com pessoas mais velhas. Mesmo com as mulheres mais novas, porque cedo se tornam mais velhas que nós, homens mais velhos. O que é estranho. Hoje tive um momento desses, e se é verdade que não aceitei o ensinamento, não deixa de ser verdade que me pôs a pensar seriamente sobre um assunto sobre o qual raramente penso: religião.
O hábito de doar órgãos em cera a santos pode parecer mórbido, mas, se pensarmos bem, é perfeitamente normal na nossa sociedade. Os católicos fazem destas coisas com uma regularidade quase assustadora, dada a morbidez do acto. Mas não só. Promessas de ir a pé a santuários, de acender velas durante 40 anos a determinado santo ou até um montante exacto a cair numa caixa de esmolas são actos normais dos católicos e dos portugueses em geral.
Ora, pondo-me a pensar sobre o assunto, constatei alguns factos interessantes. O primeiro e mais premente foi o de ir comer, porque cheguei à conclusão que tais delírios podiam ser fraqueza. Mas não eram, continuei a pensar no assunto e cheguei a uma segunda conclusão, esta sim, de alto valor teosófico. Os hábitos religiosos, mais que quaisquer outros, reflectem a sociedade em que são praticados.
Assim sendo, os católicos fazem tudo aquilo que já indiquei. Nada mais adequado. Portugal, como país católico, é exemplo disso. Não serão os hábitos de pequenas oferendas a santos, como cera ou esmolas, uma tradução exacta da nossa corrupção? Quer dizer, nós conhecemos a administração, Deus e a sua equipa de gestão, com o espírito santo e Cristo. Mas insistimos na pequena corrupção, na chamada cunha. Muito português, muito católico. Nada de incomodar os senhores injinheiros, fala-se com o sobrinho do avô do irmão do patrão e talvez a coisa se arranje.
Vejamos o caso protestante. Os protestantes não veneram santos, nem sequer a virgem. Ou seja, a sua abordagem é directa. Olham olhos nos olhos do presidente e oferecem-lhe o suborno respectivo. Bem, a este nível, deixamos o conceito de cunha para nos aproximarmos do conceito de PPP ou coisa parecida. Grandes negócios.
Já os ortodoxos são bastante mais interessantes. Além das cunhas a funcionários menores, também aliciam de imediato recém partidos para o reino do lá de lá. Mas, ao contrário dos católicos, que são mais ou menos discretos nas operações de corrupção, os ortodoxos até guardam fotos desses momentos, chamados ícones, que geralmente levam para casa para fazer chantagem sobre o santo caso a cunha não funcione como devido. Coisas do NKVD e da máfia russa...
Depois há os islamitas. Bem, se os protestantes só falam com o chefe da coisa, os muçulmanos não fazem por menos. A diferença é que nem o querem ver à frente e nem sequer lhe dirigem a palavra para pedir seja o que for. Repetem incessantemente que o chefe é grande – deve ser alemão ou nórdico – e esperam pacientemente pelo milagre ou pela cunha. Normalmente esperam de joelhos e de rabo para o ar, não por sinal de reverência, mas antes para mostrar o rabo a quem está atrás, para que saibam que estão com o pedido de cunha mais adiantado que o desgraçado que lhe vê as nádegas.
Depois há aqueles que não sabem muito bem quem é o chefe, e nem lhe conhecem o nome sequer. Falo dos judeus, que por muito que se esforcem, nunca entendem muito bem aquilo do chefe não ter nome e depois haver regras para tudo e mais alguma coisa, incluindo para dizer o nome do chefe que desconhecem. Mas o que é certo é que a empresa funciona bem ao nível da cunha, com uma eficiência e proficiência admiráveis. O que me deixa a pensar que provavelmente o facto de não conhecerem o nome do chefe não implica que não saibam o nome uns dos outros.
Os hindus são mestres da cunha. O grande problema é que os patrões são tantos que nem sabem muito bem com quem falar, e assim o efeito perde-se pelo caminho. Correm muitas vezes o risco de meter uma cunha para a cura de um braço ao patrão que cuida da saúde das bexigas. Por essa razão, a sociedade hindu não existe. É apenas um conjunto de indivíduos divididos em castas, organizadas hierarquicamente das mais pobres para as mais miseráveis, mais ou menos abandonados pela estrutura burocrática dos patrões que são mais que as mães.
Finalmente, temos os budistas. Os budistas são os maiores desta coisa da corrupção religiosa. Não só não têm patrão a quem prestar contas, como ainda são eles próprios que recebem as cunhas dos fiéis. E por isso é que estão sempre sentados e a murmurar umas coisas imperceptíveis. Estão a fazer contas de cabeça àquilo que já receberam naquele dia.
Se este texto não vos fez qualquer sentido, não se sintam mal, porque a mim também não fez. Só achei engraçado alguém se lembrar de dar uma perna de cera a um santo. Ainda se fosse de madeira e o santo pirata ou o Mantorras, eu entendia...

domingo, 16 de setembro de 2012

A ARTE DO INSULTO

Ilustração MJoel S.

Escrevo em Espanha, minutos depois da Espanha ter ganho a Portugal mais uma vez no jogo da moquinha. Pode dizer-se, por isso, que não estou nem nos melhores dias nem nos melhores locais para escrever. Mas até apetece e pronto. E se me perguntam o que faço eu em Espanha, respondo que nada têm a ver com isso. Mas estou de férias. E estou em Espanha porque decidi poupar e não ficar em Portugal.
O dia de ontem foi dia de manifestações um pouco por todo o lado, até em Nisa, onde almocei e tive pelo menos o lampejo de me juntar ao espírito da coisa. Sim, se estivesse em casa, com certeza estaria nos Aliados. Sim, decerto me manifestaria em protesto contra este governo. Por certo me juntaria aos milhares (um milhão?) de pessoas que juntaram a sua voz aos que andam a protestar há anos a fio. E que bastas vezes são acusados de pessimistas, bota-abaixo e coisas ainda menos simpáticas, como perigosos esquerdistas ou talibãs. Mas, mesmo assim, iria.
Já não escrevo daquilo que escrevi sobre o “engenheiro” e seus anos de algo que pode considerar-se, muito vagamente, como governo. Recuo apenas um ano e meio, e ao que escrevia e protestava contra uma certa ala de um certo partido que ameaçava tornar-se governo deste país. Tentei alertar, tentei sensibilizar, tentei desmistificar. Tentei lutar. Obviamente, como eu, muitos, de entre todos muito poucos. 85% dos votantes portugueses e mais 45% de abstencionistas decidiram dar a sua confiança a um governo externo.
Internamente, uma maioria absoluta dos votantes e 45% de abstencionistas deram a vitória à JSD. Foi a maior derrota política da minha vida, e não concorri sequer a nada. E já tinha tido várias, como a eleição do rei do cavaquistão para presidente e antes para primeiro ministro. Ou a eleição do “engenheiro”, ou a eleição de Bush. Mas esta doeu particularmente. E doeu essencialmente porque sabia o que aí vinha, e até o disse e o discuti, aqui na net, na minha vida pessoal e na minha vida profissional, o que me custou alguns dissabores. Nunca desisti, nunca me calei.
Hoje, finalmente, vi uma pequena parte do meu povo aperceber-se do que eu tinha antevisto há ano e meio. Dez por cento da população do meu país abriu os olhos. Mas é, por enquanto, apenas um décimo. Precisam-se de mais manifestantes, de mais pessoas nas ruas, precisa-se de um povo.
No entanto, tenho um sabor amargo na boca. Nos últimos tempos, têm-se multiplicado os discursos de reprovação deste governo, mas agora até por pessoas que o apoiaram incondicionalmente – há ano e meio. Pessoas como Marcelo, Ferreira Leite, Mira Amaral e outros tantos... sinto asco. Sinto nojo.
Mas o que mais me impressiona são os anónimos, a multiplicação de textos por essa net fora, nos últimos dias. Pessoas que admitem até terem apoiado a JSD nas eleições, e que agora estão desiludidas. Pessoas que não apoiaram mas que agora decidiram protestar. Há textos a mandar o governo ir-se foder agora!
Agora??? Onde andavam há três anos e meio, quando o “engenheiro” ganhou as eleições? Onde andavam há ano e meio, quando esta cambada que não é melhor ganhou as eleições? Porquê agora? E, infelizmente, é fácil responder. Porque agora, foram mordidos no traseiro pelo tubarão. Porque agora lhes tiraram dinheiro do bolso. Porque agora é que se aperceberam que estes jotinhas queriam ser liberais, mas não podem, porque são obrigados a subir impostos, mas os imitam, quando destroem todos os direitos sociais de cada indivíduo. Agora???
Agora??? Onde andavam quando os pensionistas, incluindo aqueles como a minha mãe, que ganham 200 euros, ficaram sem aumento e sem subsídio de férias e de Natal? Onde andavam quando tiraram os subsídios de Natal e de férias aos funcionários públicos, a maior parte sem aumentos desde há cinco ou seis anos e com carreiras congeladas? Onde andavam quando Paulo Macedo destruiu o Serviço Nacional de Saúde? Ah, provavelmente não o usam... Onde andavam quando Crato decidiu destruir a escola pública? Também não utilizam... Mandam – agora – foder o governo? Pois eles já os estão a foder há muito tempo. Não sentiram? Foi preciso uma taxa subir 60% para o sentir? Uma taxa, que, finalmente vão experimentar pagar? Agora? Agora que temos este país destruído? Agora?
Precisamos de todos, precisamos de gente nas ruas, precisamos de pressão, precisamos, se calhar, de revolução. Precisamos até de vocês. Mas também vos digo, só não vos mando foder porque fodidos já vocês estão. Só que agora, estão acordados. Bem vindos ao mundo real, ao país das fodas!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O 11 DE SETEMBRO

Foto Google, 11 de Setembro de 1973, Santiago do Chile
Dia 11 de Setembro foi o dia do atentado, um atentado que vitimou cinquenta mil pessoas, pelo menos, pois desconhecem-se os números reais de vítimas entre "desaparecidos", mortos no próprio dia, torturados até à morte ou simplesmente fuzilados nas ruas de Santiago.
Passou-se em 1973, no Chile. Tudo porque Salvador Allende ganhou as eleições.

Este é o atentado de quem ninguém se lembra quando se fala do 11 de Setembro. Não há memoriais, nem cerimónias. Não há memória, a não ser a dos que perderam os seus entes queridos neste dia e nos que se seguiram.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

BASTA DE POLÍTICA!


Ilustração Marco Joel Santos
Estou farto de falar de política. Não me apetece escrever sobre política. Até porque já estou mais calmo, já comi umas papas de sarrabulho na feira Medieval e já tive o nosso momento “Beirão na varanda”. Por isso, hoje queria mesmo escrever sobre algo que não fosse a política. Até porque o que aconteceu este fim-de-semana é demasiado grave para ser demonstrado ou comentado por palavras sem incluir impropérios vários que aqui me escuso a reproduzir, não por pudor, mas antes porque o novo acordo pornográfico não aceita os termos e depois lá tenho eu de andar de pincel na mão a corrigir no ecrã. Já fui loiro, agora a minha irmã diz que tenho cabelo verde, coisa que não percebo porque não levo os macacos à cabeça.
Seja como for, e não falando de política em si mesma, mas antes em políticos eles mesmos, é agora moda nas redes sociais e mesmo na rede da companha de Paramos, valorosa demonstração da arte xávega, e conjuntamente com o cartaz “Vai estudar Relvas” (vinha nas pinças de um caranguejo), exigir que os membros do governo e deputados venham a ganhar menos.
Eu não concordo. E não concordo porque não é assim que se tratam as pessoas. E se mesmo a tourada se quer proibida porque não queremos ver animais a sofrer, penso que poderíamos alargar isso aos políticos, embora não sejam gente nem animal. Falando dos membros do governo e partidos que os suportam, o reino deles é claramente o Protozoário. Portanto, não são animais nem gente. São uns coisos assim para o unicelular, que é forma fácil de dizer que não têm cérebro. E comprova-se pela insistência em medidas que TODOS sabemos que só nos podem levar a níveis de pobreza idênticos aos dos tempos do deficiente de Santa Comba. São um vírus.
Ora, se eu quero que essa gente vá para a real p*ta que os pariu, porque haveria de diminuir-se-lhes o ordenado? Um picador de gelo aqui, uma pá acolá, uma corda ali, talvez até uma G-3 de vez em quando, de preferência no Campo Pequeno (só pelo simbolismo, claro, e pela analogia com as touradas) e poupa-se uma pipa de massa.
Agora falando mais a sério, gostaria me dirigir especificamente aos protozoários que votaram nesta canalha:
Vão todos apanhar no **, de preferência depois de cortado o pessegueiro que lá há-de nascer e a dar laranjas, SEUS DEFICIENTES DE MERDA! Emigrem e deixem cá melancias! O interior delas sempre é mais inteligente que o vosso vácuo cerebral!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

ACERCA DA PRESENÇA DE DEUS E DAS LEGIÕES DE ANJOS



Ilustração Marco Joel Santos

No ano lectivo que se inicia, vou transitar para o terceiro ano da licenciatura. Já que o major se foi, venha o minor, e escolhi, obviamente, Cultura e Religião. A História não é muito mais que estas duas coisas combinadas. Pode haver quem estranhe a minha escolha. Ao fim e ao cabo, quem tem as convicções políticas que eu tenho habitualmente não se interessa por religião. Mas a verdade é que as religiões me fascinam, sempre me fascinaram. Não pela sua prática, mas pelos seus fundamentos, e pela forma como moldaram civilizações.
As pessoas têm a necessidade de ter algo supremo. E nada é mais supremo que Deus ou os deuses. É algo que dá sentido à vida de muitas pessoas. Não lhes chamo fracos de espírito. São apenas pessoas. Como eu. Não é a presença de Deus que eu procuro na minha vida, é antes perceber onde ele cabe na vida dos outros. Na vida da nossa espécie, na nossa civilização. E já agora, tentar perceber a sua origem, se é que a tem.
Contudo, percebo e não afasto as pessoas que procuram ter a seu lado aquilo a que chamam Deus. Nesse particular, a Igreja Católica é a mais versátil das Igrejas, e o cristianismo católico, o mais versátil dos credos. Ao invés de disponibilizar Deus às pessoas, ou até o seu humanizado filho Cristo, para as acompanhar em permanência, o credo católico, ainda que não totalmente explicado pelos escritos, liturgia ou rituais, apossou-se da presença destas figuras divinas, em exclusivo, para o interior dos seus templos. Mas para que as pessoas não estivessem totalmente desprotegidas cá fora, deu-lhes uma coisa extraordinária.
Noutros tempos, essa protecção divina seria associada ao culto dos antepassados. Ora, sendo o culto dos antepassados uma prática que a Igreja Católica e o cristianismo não valorizam (apesar do dia de finados, dia 2 de Novembro), a Igreja Católica dá aos seus crentes um anjo pessoal. Não vás com Deus, porque Ele contigo não vai, mas leva aqui o anjinho da guarda que é de boa vontade. Não admira, pois, pela força da Fé e da vontade humana em acreditar em Deus e na sua omnipresença, que é apenas em parte negada pela existência destes Anjos da Guarda, que as pessoas mais devotas sintam a seu lado a presença de um ser que por elas vela.
Isto poderia, obviamente, levar-nos à questão central da Omnipresença de Deus. Se Deus é omnipresente, porque seriam necessários Anjos da Guarda individuais para cada crente? Mas isto é uma discussão estéril, pois são os tais mistérios de Deus. Provavelmente será um aproveitamento da Lei do Estímulo 2012 para o emprego ou coisa parecida, a um nível, digamos, celestial.
Mas existem mesmo Anjos da Guarda? Muitos crentes afirmam que sim, que sentem uma presença constante a seu lado. Eu digo que é o Ministério das Finanças…