terça-feira, 26 de maio de 2015

PROGRAMAÇÃO EM PS++

Ilustração Marco Joel Santos
2015 em Portugal. Quatro anos depois, o resultado que todos sabíamos que teríamos se o país seguisse os caminhos dos “credores”. Um aparte sobre os credores. Quem são os credores? São fundos. Essencialmente, são fundos. Fundos de investimento. Que pagam reformas a pessoas, por exemplo. Entre outras coisas, é verdade, mas uma das coisas que os fundos fazem é pagar reformas a pessoas. Quais pessoas? Essencialmente pessoas que vivem em países sem sistemas que paguem reformas. Simples e eficaz. E assim se explica como alguns andam a trabalhar para outros.
            Quatro anos volvidos, estamos à espera das Legislativas e, naturalmente, do que os partidos têm para nos dizer. Chamam a isso Programas Eleitorais. A arte da programação nunca foi o meu forte. Sempre detestei programar, quer fosse em Pascal, em C++ ou SQL. Nunca percebi para que é que um gestor industrial precisava de aprender a programar. E confirmei que não era necessário, mas – há sempre um mas – a arte de fazer algoritmos por vezes dá jeito. Em teoria, pelo menos.
            O PS apresentou o seu algoritmo. Ainda não é um programa, é apenas um rudimento de um programa. O que lá vem é da responsabilidade exclusiva do PS, não da esquerda. Coisa que dificilmente está a ser entendida. Confundir o PS com a esquerda é como confundir o Mosteiro dos Jerónimos com o Centro Cultural de Belém só porque aparentemente partilham o mesmo espaço. As aparências iludem e as iludências aparudem.
            As iniciativas que o PS decidiu apresentar são de atroz desilusão para quem olhava o partido como uma alternativa à coligação que agora ocupa o lugar de governo do país. As políticas são exactamente as mesmas, e dificilmente um socialista qualquer que o seja pelos ideais reconhecerá qualquer das iniciativas como de cariz socialista. Duas destas iniciativas (acabem lá com a palavra medidas, está mal empregue) são particularmente significativas. A obrigatoriedade de obter uma maioria qualificada de dois terços na AR para aprovar obras públicas (qual o limite do valor da obra que determina esta aprovação?) não passa de uma ponte para um primeiro pacto de regime com a coligação, um dos tais “consensos” de que fala o presidente da República. PS com um olho no burro e outro no cigano, e deixo à imaginação de cada um decidir quem será o burro e quem será o cigano, mas penso que nem burros nem ciganos mereciam tal sorte.
            A segunda iniciativa que destaco é a intenção do PS, caso venha a ser governo, de utilizar 1400 milhões do Fundo de Estabilização da Segurança Social para a reabilitação urbana. Ora, estou farto disto, sinceramente! Já há muitos anos, desde os malfadados governos do actual presidente da República, que não há respeito pelo beneficiário. Mexe-se nos dinheiros descontados por entidades patronais e trabalhadores para assegurar prestações sociais para os mais diversos fins como se fosse dinheiro de impostos. Ainda recentemente, e pela mão da actual ministra das Finanças, foram estes dinheiros absolutamente depenados em perdas com Credit Default Swaps. Outros governos lançaram estes fundos na bolsa para salvar empresas e fundear aquisições de empresas por outras empresas. Aquilo que foi criado para apenas ser movimentado para pagar reformas e subsídios de desemprego, de forma redistributiva, parece ser agora o dinheiro de bolso de qualquer governo. E se fossem brincar com as pilinhas deles, era bem melhor. Com o meu dinheiro é que acho mal. E se o PS acha muito bem mexer no último dos últimos dos dinheiros dos reformados deste país, presentes e futuros, para novamente financiar meia dúzia de amigos de grandes construtoras… Olhem, eu acho mal.
            Muito mais diz o programa do PS. Liberaliza ainda mais, à boa maneira liberal, o “mercado” de trabalho, ignorando totalmente que desde que as leis do trabalho se começaram a liberalizar, ainda no tempo do actual presidente da República, nunca o desemprego parou de subir. Mas como o PS pretende mais emprego, penso que deve querer seguir a política da coligação e arranjar emprego aos portugueses, desde que seja no estrangeiro. Os cortes são para repor, mas de forma gradual e se calhar. Eu até penso que devemos levar a expressão à letra e que o PS deve querer repor cortes e não salários.
            Por sua vez, o PSD vai reagindo com a indignação habitual das suas gentes, sempre ao lado dos bons usos e costumes, e dos pobrezinhos mas honrados. Quer o PSD que o PS sujeite o seu programa à Unidade Técnica para que o povo português saiba que o PS está a prometer flores e vai dar espinhos. Para um partido que foi eleito com as promessas com que foi eleito, nenhuma delas cumpridas, e que nunca teve um programa sujeito a qualquer escrutínio, digamos que é preciso ter não lata, mas um grande bidão na cara. Talvez até um contentor do Porto de Leixões na tromba não seja mal pensado. Mas o PSD aprende, e a coligação também… não é que a ministra das Finanças até já adiou a apresentação de grande parte do programa da coligação para… depois das eleições? Sim, é melhor não prometer nada, é até melhor que nos passem um cheque em branco, porque o nosso trabalho fala por nós. E fala. Não fala é o que imaginam. Mas a capacidade de muita gente de descer à terra e ver a realidade miserável, ao nível do terceiro mundo, em que se encontra este país não é existente. Até a Isabel Jonet, prevendo mudança de ares por S.Bento, agora diz que se calhar a fome em Portugal é alarmante… Pensem nisto.
            Outro sinal do mais puro desnorte que grassa no governo (que já vi que partilham com o PS) é o facto de pôr a ministra das Finanças a falar de um assunto com que nada tem a ver: Segurança Social. A esfera de decisão de uma ministra das Finanças, em Portugal, pode incidir sobre tudo e mais alguma coisa nas decisões do Governo, menos numa: Segurança Social. Os fundos da Segurança Social não fazem tecnicamente e deviam nunca fazer parte do que gere qualquer ministério. A Segurança Social gere os fundos de forma redistributiva, nada mais. Mas sabemos que, tristemente, se faltar dinheiro em qualquer lado, a Segurança Social cobre. Além de imoral é, pela Lei vigente, ilegal. Mas ninguém vai preso, e quem se arrisca a perder milhões da Segurança Social no casino financeiro arrisca-se também a ser ministra das Finanças.

             Em suma: mais do mesmo. Entre PS e PSD a diferença é uma letra, o D. O que quer dizer o D? Não sei, quer-me parecer que PSD deve querer dizer Partido do Seu Dinheiro e PS deve querer dizer Partido dos Seus. Quanto ao CDS, bem, já há muito que não existe, ou pensavam de outra forma? A extrema direita portuguesa foi englobada pelo PSD, nem faz sentido haver um partido de extrema direita em Portugal… Extrema direita no sentido parlamentar, bem entendido…