segunda-feira, 29 de junho de 2009

O UMBIGO DO MUNDO


É assustadora a frequência com que nos preocupamos com coisas que não deveriam fazer parte da nossa selecção de problemas. Revela que nem aqueles que vivem com preocupações, mas vivem, desconhecem os problemas de sobrevivência deste planeta. Ou não querem saber. Ou se vitimizam de forma a desculpar inaptidões. Gosto de ressaltar curiosidades, gosto de apontar pequenas coisas que acontecem no meu país, tão típicas dos portugueses, como os casos do BPN ou do BCP, ou da Media Capital, ou das eleições. Não passam de curiosidades que, de facto, de tão pequenas que são, disso mesmo não podem passar.

A verdade é que existem problemas neste mundo bem maiores. Não porque se roubou mais, ou porque se desviaram fundos de um qualquer programa europeu para apoio às empresas, ou coesão ou preservação do burro mirandês. Mas sim porque apelam para o que de mais básico temos como direito: à vida. São questões de sobrevivência. Nada mais.

A fotografia em cima foi tirada nas margens do Mar Morto. A visibilidade neste local é quase sempre assim: reduzida. Isto devido à evaporação das águas e ao calor, aliados à altíssima pressão e aos 15% a mais de oxigénio, que conferem ao ar um tom azulado espesso. Se olharem com atenção, ao centro, a cerca de 20 Kms do local onde foi tirada a foto, encontra-se um objecto arredondado. Muitas vezes, reflecte a luz do sol em todas as direcções, com um brilho refulgente. Trata-se do umbigo do Mundo.

Voltei a esta região para encontrar a situação que já todos ouviram falar. Já havia contactado com ela em anteriores visitas. Sempre foi má, sempre foi quezilenta e beligerante. Agora, passados alguns anos, a situação agravou-se, se tal era possível. Mas é. É sempre possível. É incrível como pode ser possível, mas é. Vi as lágrimas nos olhos daqueles que contemplam a luz reflectida na cúpula, vi a resignação nas faces daqueles que moram longe da sua terra. Dantes, via a esperança, via a convicção da luta, via a inexplicável força de quem não a tem. Desta vez só vi a resignação, o medo, a aceitação da desgraça ou da morte.

Talvez um dia volte a esta região e entre na cidade, não capital de algum estado fictício, mas como património do Mundo, rodeada por um país onde dois povos irmãos possam viver em paz e em cooperação. Um país que já não terá reservas de água, esgotada este ano, onde se calhar poderá não haver agricultura intensiva, responsável por isso. Talvez já nem haja arame farpado ou muros de betão. Talvez seja um país pobre. Mas rico, pois possui o mais rico dos tesouros de toda a Terra: o seu umbigo. Isso só será possível quando os pais renegarem os filhos, quando os milhões regressarem a casa, a sua casa. Só acontecerá quando alguém rasgar da sua bandeira duas listas azuis. Porque estas listas azuis são os símbolos da Humanidade, não devem pertencer a povo algum, mas a todos. Só acontecerá quando os filhos renegados pelos pais se aperceberem que são irmãos, e que a história que os separou não precisa de repetir-se pela terceira vez.

domingo, 14 de junho de 2009

MAIS UMA ACHEGA DE ALMEIDA SANTOS


Almeida Santos já não é o nosso Presidente da Assembleia da República, figura nº2 da hierarquia do nosso Estado. Já não é, mas continua a dizer coisas interessantes. Todos se lembram dos seus discursos "à la Castro", com três horas de duração e para os quais era mesmo necessário um dicionário de português-almadês para se tirar alguma coisinha dali... Provavelmente nem ele percebia muito bem o que queria dizer, pois os seus momentos de lucidez não eram assim tão frequentes.

Mas ainda me lembro da célebre "qualquer dia, veremos deputados pedir à porta da Assembleia". Isto referindo-se aos baixíssimos salários auferidos pelos ditos deputados. Não fosse dito por Almeida Santos e até pareceria uma afirmação pungente. Como foi dito por ele, sendo ele daqueles que até já tem super reforma decorrente da actividade de deputado, não deixa de ser estranho. Toda a gente sabe que os deputados já pediam, e sempre pediram, à porta da AR. Não pedem um eurinho ou um cigarrinho, nem pedem a qualquer um de nós, mas pedem descaradamente a quem possa pagar esmolas de avultado valor acrescentado, na forma de utensílios de cozinha de forma redonda, vulgo "tacho".

Depois, mais recentemente, veio a reacção à nomeação de Vital Moreira às eleições europeias. O já famoso "É um doutor de Coimbra, valha-me Deus!" ficou-lhe bem. Primeiro, porque deu a saber que já não é ateu, se bem que não sei se Deus lhe possa valer... Depois, porque ele próprio é um "doutor de Coimbra" - a modéstia fica sempre bem. Por último, ficamos a saber que há que procurar alternativas à Universidade de Coimbra, cujos doutores desceram de cotação repentinamente.

Pelo meio, veio a sua convicção de que não só deve ser criado um Imposto Europeu como também um Imposto Mundial. Sempre à frente, o Almeida Santos, até já está a piscar o olho, não à Europa, pois somos grandes demais para essa realidade, mas sim à futura UM (União Mundial), com sede em Xangai... Tenho a certeza que Almeida Santos pensa que uma possível UM seria o maior mercado do mundo! Mas é só um "feeling"...

Mas a última de Almeida Santos é provavelmente a mais preciosa das pérolas. Ocorreu durante as reacções aos resultados das eleições europeias, nas quais o seu partido, o PS, não participou (Participou? Desculpem, não dei conta... Com quem?! Ah, o doutor de Coimbra Avô Cantigas e as "futuras ex-deputadas europeias do PS se ganharem as Autárquicas", pois foi, desculpem o lapso. Tiveram trinta e quantos votos???). Almeida Santos, sempre espirituoso, sempre uma referência importante, uma opinião avalizada e ponderada, arrancou esta: "Não é o eleitorado que governa".

Tem toda a razão, o nosso "doutor de Coimbra"!. Não é o eleitorado que governa. Mas é o eleitorado que decide quem não governa de certeza, sr.dr.!! Pode ser que um dia ainda lhe acabem os comprimidos para a Alzheimer...

Trabalheira para o engenheiro, porra, ter de andar a calar esta gentinha toda que só o faz perder eleições... Dá-se mais uma reformas, lá terá de ser... Aproveite, Sr.Engenheiro, e dê uma à Elisa Ferreira, antes que leve uma banhada no Porto, ao Vital Moreira, antes que abra a boca no Parlamento Europeu, e à Srª.Drª. Ana Gomes, aquela que, de repente, deixou de falar dos voos da CIA... Faça um favor a si próprio e um serviço ao país... e, já agora, não dê mais comprimidos para a Alzheimer do Almeida Santos. Esquecer-se este de abrir a boca é... uma casa cheia!!

IRÃO E O REGRESSO DO XÁ


Filho de Reza Phalevi apela à desobediência civil no Irão

Reza Pahlavi, filho do último xá do Irão derrubado em 1979 pela revolução islâmica, pediu à comunidade internacional para apoiar um "cenário de desobediência civil" no país.

Esta é uma notícia veiculada pela Lusa na manhã de hoje. É o reflexo do mundo em que vivemos, um reflexo dos perigos que corremos em acreditarmos que os meios justificam os fins.

Analisando a notícia, que poderemos concluir? Várias coisas, consoante as nossas crenças e conhecimentos sobre o assunto. Há conclusões óbvias:

- O "Ocidente", seja lá o que for, preferia que Ahmadinejad perdesse estas eleições;
- É óbvio que os tumultos surgidos no Irão a seguir às eleições são encorajados por forças exteriores;
- É também bastante duvidoso que o actual presidente, que tem tido uma actuação interna convincente que tem levado a melhorias sócio-económicas sensíveis para o povo do Irão, perdesse estas eleições, por muito que quisesse fazê-lo;
- O filho do último Shah da Pérsia quer retomar a monarquia e instalar-se como novo Shah em Teerão.

Penso que estas conclusões são fáceis de tirar, não é necessário ser-se nenhum génio político. Depois vêm as opiniões e, nesse aspecto, todos podemos emitir uma ou mais opiniões sem que para isso nos tenhamos de compremeter politicamente - é uma opinião e não uma sentença.

Na minha opinião, a teimosia iraniana em opor-se ao Ocidente não tem qualquer justificação moral, antes terá justificações políticas. O governo iraniano tem ainda bem presente a guerra com o Iraque, na altura apoiado pelos EUA, e liderado por Saddam Hussein. Parecia ser, na altura, uma luta pela supremacia regional, nunca ganha por qualquer das partes. Ora, naturalmente, o país que assumirá a supremacia regional no Golfo será o Irão, pois é o país mais desenvolvido, com mais recursos naturais e melhores condições geográficas.

Por outro lado, a questão de Israel, nação implantada na Palestina recorrendo ao sacrifício dos próprios palestinianos, com o apoio omnisciente dos EUA, é outro espinho cravado na garganta iraniana. Ainda por cima, sabido que Israel é uma potência nuclear (a única naquela região), a afronta sobe de tom. Daí a justificação da injustificável posição iraniana de que Israel não tem o direito de existir. Não sei em que contexto eles dirão isto. Perante o direito internacional vigente, estão certos, não andam por aí a nascer países todos os dias só porque alguém se lembrou de largar refugiados num determinado sítio, cujas terras pertencem a terceiros (exceptuando o Kosovo, outra vergonha mundial...). Mas o mal está feito há já 60 anos... Que esperam os iranianos conseguir com esta posição? Não esperarão apenas aniquilar Israel? Isso é mito. A aniquilação de Israel por parte do Irão implicaria a aniquilação do Irão em retaliação. Mas... e se fosse o contrário? E se Israel decidisse, sob mando dos EUA, aniquilar o Irão? Quem retaliaria? Onde está o equilíbrio no Médio Oriente? E não me venham com a conversa de que Israel é um estado de direito e o Irão não. É falso - como provam as eleições no Irão, que são tão livres como em qualquer outro país desenvolvido. E muito menos que os israelitas têm bom senso e os iranianos não - é coisa que nem passa pela cabeça dos últimos chefes de estado de Israel.

Então que pretende o Irão? O equilíbrio, através da arma nuclear? Provavelmente. O equilíbrio político, procurando contrabalançar a existência de um estado dos EUA nas proximidades, país que nunca foi muito amistoso desde que o pai da personagem retratada acima foi afastado do poder? Talvez.

Apesar de tudo, lembrem-se sempre de uma coisa: O Irão também tem um povo, também têm filhos e netos, também os amam tanto como nós amamos os nossos. Estão sós politicamente, mas são simpáticos e prestáveis. O país é agradável e com um bom nível de vida. Percebem o que quero dizer? É um país, uma nação. E faz questão de o afirmar, ao contrário de outros que cá conheço que se escondem de cada vez que alguém ergue uma voz dissonante... A concórdia mundial não pode ser atingida só pela voz do mais forte. Penso que é essa a principal razão iraniana para a discordância com o "Ocidente". Um orgulho nacional e uma vontade de não voltarem aos tempos miseráveis dos Shahs protegidos por Washington para extracção barata de petróleo...

O LEÃO DO DESERTO


Causa sempre espanto por onde passa. É um homem polémico, duro quanto baste mas também astuto e com uma impressionante capacidade de surpreender, tanto pela positiva como pela negativa, qualquer analista político. O líder da República Socialista Islâmica da Líbia, Muammar al-Kadhaffi é mesmo assim, não há muitas hipóteses de olharmos para as suas acções sem pensarmos que segundas intenções terão.

O PM italiano, Sílvio Berlusconi, que, reconhecidamente, é mais conhecido pela sua imensa capacidade de perder a cabeça por um rabo de saia do que por saber governar seja o que for, lembrou-se que esta seria uma boa altura para convidar um líder de um país islâmico para ir a Itália. Pôs-se a pensar e escolheu a pretensa vítima criteriosamente. Kadhaffi, óbvio. O líder de uma ex-colónia italiana, presidente da União Africana. A escolha saiu-lhe mal, pois Kadhaffi até se encontra do lado contrário do espectro político, mas isso Berlusco não sabia...

O que ninguém poderia adivinhar foi a provocação de Kadhaffi, ao exibir orgulhosamente e ao peito a foto de Omar al-Mukhtar, o famoso "Leão do Deserto", líder da resistência anti-colonial líbia, mandado executar por Mussolini em 1931. Foi naquela época em que os camisas negras pretensamente conquistaram um extenso "império" africano, escolhendo vítimas poderosas como a Líbia e a Abissínia, hoje Etiópia. Depois veio a Segunda Guerra Mundial e apanharam porrada de toda a gente.

Os analistas e oposição italianos encarregaram-se das críticas, considerando inaceitável o comportamento de Kadhaffi. Além disso, dizem que Berlusconi devia ter feito algo logo na altura. Imaginemos agora Berlusconi e Kadhaffi:
B- Eh pá, tira lá a porra do retrato, que me estás a envergonhar...
K- Pois sim, em 1931, não tinham vocês vergonha...
B- Isso já lá vai... Tu também não andavas por aí a mandar aviões abaixo?
K- Não confirmo nem desminto... Mas isto tudo é só para te acalmar os nervos!
B- Acalmar-me? Porquê?
K- Não quero que morras esta noite...
B- Não faço tenções, mas porque dizes isso?
K- É que a minha guarda pessoal vem lá atrás no avião e vai guardar o meu quarto. São todas mulheres, entre os 18 e os 25 anos. E se vais fazer aqueles gestos que normalmente fazes às mulheres daqui, garanto-te, cortam-te o coiso e enfiam-to pela garganta abaixo enquanto te empalam no cano de uma AK47... Assim, tens mais em que pensar...

Berlusconi deve ter engolido em seco e seguiu caminho, com o rabinho entre as pernas, e sempre meio passo atrás do outro, não fossem as belas e jovens guardas pessoais acharem que estava a faltar ao respeito ao líder por andar a par deste...

sábado, 13 de junho de 2009

DESTINO: CULTURAS


Oficialmente de férias. Oficialmente não é efectivamente. O telemóvel já está desligado. Mas 2ªfeira estarei a tratar de assuntos de trabalho, quanto mais não seja para os passar ao colega que me substituirá durante duas semanas, a quem estive a substituir esta última semana. É que posso estar de férias, mas o negócio não pára por isso, e a companhia não se compadece com negócios perdidos ou oportunidades falhadas.

Na 4ªfeira, dia 17, embarcarei de Lisboa com destino ao Cairo, escala para Amman, para uma semana de aventuras na Jordânia. Terei, se tudo correr bem, a oportunidade de visitar alguns dos lugares que estão vivos na minha memória, como Petra, Wadi Rum, o rio Jordão, o Mar Morto ou o Monte Nebo. Terei oportunidade de vislumbrar a Cis-Jordânia e Israel.

É curioso como os membros de família aceitam ou recriminam as viagens que faço. Os meus pais, que já não têm idade para aventuras, estão mais numa onda de calmamente usufruírem as reformas e pouco se metem nisso. Os pais da minha esposa, meus sogros, também estão numa onda de reforma. A minha sogra lá vai dizendo que o dinheiro pode fazer falta para outra coisa, ao que respondo que sim, para viajar. Depois vem o chorrilho de queixas de aviões que se despenham, de clima demasiado quente (leve um boné!), ou sobre a gripe (leve Antigripine).

Mas a mais curiosa é a quase nonagenária avó da minha esposa. Quando lhe falamos de nossos destinos, apresenta uma feição pensadora, depois uns olhitos sonhadores e acaba por dizer: "Desde que tudo corra bem...". Há sempre aspectos religiosos que lhe descrevemos, nestas viagens. Como a visita à casa da Virgem, em Éfeso, na Turquia, ou a visita ao Sinai, no Egipto. Mas esta viagem tornou-a uma avó orgulhosa de ter uns netos a visitar o local onde Cristo foi baptizado, ou o local onde Moisés morreu a contemplar a Terra Prometida. A senhora é católica até quando dorme.

Evidentemente, não é por aspectos religiosos que visito a Jordânia. Muito mais por aspectos históricos ou culturais. O aspecto climático também é importante. E o mais importante é poder estar num local que me faz esquecer completamente o que se passa em casa, coisa difícil de atingir fechado num qualquer resort da República Dominicana. Quero poder andar nas ruas de cidades longínquas sem ter de andar a olhar por cima do ombro, contactar com as pessoas, trazer algo de cada viagem, a nível pessoal.

Esperemos que esteja tudo tratado. Até agora, ainda não recebi confirmação das actividades terrestres. Os raids 4x4 e as visitas opcionais a Jerusalém ou Damasco. Já tenho voos e hotéis. Mal posso esperar.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

FERIADOS ABENÇOADOS


Hoje é feriado. Como tal, poucos são os que trabalham. Eu incluído, obviamente. Como todos sabem, há vários tipos de feriado em Portugal, e podem ser classificados em várias escalas de valores.
Assim, temos, por classificação oficial, os feriados universais, os feriados nacionais, os feriados facultativos e os feriados municipais. Por carácter, temos os feriados políticos, os feriados religiosos e outros que sabe como surgiram. Podemos também classificar os feriados pelo ponto de vista dos trabalhadores: há os feriados úteis (aqueles que ocorrem a meio da semana) e os inúteis (os outros). É interessante verificar como o Natal pode ser um dia de alegria ou apenas um dia... vá lá... coiso e tal... come lá a porra das rabanadas... Já a Páscoa, esse é um dia tão importante para o trabalhador que este nunca deu por ele - não fosse a Sexta Feira Santa...

Ora temos então que as coisas se medem, para a maior parte das pessoas, do seguinte modo:
-Feriado à semana - "Eh pá, vê aí se calha à quinta ou terça, que é para a gente fazer ponto! Mau... Quarta??? Porra, faço ponto na segunda e terça ou quinta e sexta??!
-Feriado ao fim-de-semana - "Hoje é quê? Feriado? Olha, nem sabia..."

Os feriados são assim facilmente classificados. Há feriados políticos, que relembram datas importantes politicamente para o país, como o dia da Liberdade (25 de Abril), o dia da Restauração da Independência (1 de Dezembro), o dia da Instauração da República (5 de Outubro), ou o maior de todos, em qualquer país, o dia da Fundação da Nação (hã... esqueceram-se(??)).
Já os religiosos são bem mais racionais, facilmente imputáveis a factos que todos conhecem. Assim, temos o Natal (nascimento de Cristo, que não se sabe em que dia ocorreu (?)), a Páscoa (Êxodo dos Judeus do Egipto e morte de Cristo, que não se sabe em que dia ocorreu (?)), ou o dia da ascensão de Nossa Senhora (facto algo duvidoso), ou mesmo o último dia do Ramadão (ops, não é feriado - por enquanto).

Assim, um feriado como o de hoje, ainda por cima associado ao de ontem, calha mesmo bem. Hoje é o dia do Corpo de Deus (acho eu!) e ontem, o dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. Essa do Corpo de Deus penso ter algo a ver com o Pentecostes ou coisa parecida. Já o dia de Camões é bem explícito, numa alusão e homenagem a todos os grandes poetas de língua portuguesa que só tenham um olho.

Seja como for, o português típico está sempre interessado nos feriados. Alguns até andam com uma tabelinha em que estão assinalados todos os feriados do ano e respectivas tolerâncias de ponto. Não admira que estes seres bem preparados, por estes dias, acorram aos Algarves numas merecidas férias (alguns dizem mini-férias, mas eu não vou nessa conversa - pelo dinheiro que lá gastam são mesmo férias).

Não tenho nada contra aproveitar feriados, pelo contrário, faço o mesmo. Nem contra as férias, também as faço (embora não no Algarve - é caro demais para mim - prefiro o estrangeiro ou outras paragens do meu Portugal). O que choca é termos tantos feriados que fazem paralisar este país. Claro, na maior parte das vezes, também fazem paralisar o Governo, por isso a falta de produtividade é compensada com a falta de cagadas deste.

Mas penso que devíamos repensar esta coisa dos feriados. Podíamos ter dois religiosos - Natal e Páscoa e já é muito boa vontade... - e três ou quatro políticos (onde se incluiria sempre o já referido Dia da Fundação, que não existe). Arrumar com o resto seria aumento de produtividade e poupança nas despesas (então quando há um feriado político, é ver por aí os milhões que se gastam em comemorações e fazer continhas de cabeça). É só uma sugestão... Acabem lá com o Corpo de Deus e Ascensões de senhora mais os sagrados corações não sei de quê... Trabalhar também é preciso... Digo eu...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Contratorpedeiro IV

Há coisas que me irritam solenemente. Ou não, não chegam a isso. Apenas falamos na altura e depois pouco pensamos sobre isso. Mas são coisas que me irritam, e prova disso é que as ponho aqui no tasco para todos testemunharem a minha ira! Não, não sou Deus para me irar desta forma, já sei. Parem lá com isso! Schh... Stop! Ou irrito-me!!!

Bem, estava um belo dia ontem, à saída do emprego (por enquanto é emprego mas já vai dando trabalho, o que é de salientar, não vão vocês pensar que este negócio é só deixar andar... Adiante!). Ou melhor, estava uma bela hora, pois antes uns momentos caiu uma bátega de água das antigas! Com sol à mistura e tudo! Dirigi-me ao parque e meti-me no carro, arranco feliz da vida e viro à direita, um cruzamento em que tenho de fazer Stop e coiso, e chego ao cruzamento da Escola!! O temível cruzamento da Escola!!! Tenho prioridade para virar, mas há fila e paro momentaneamente, para deixar passar uma senhora que vinha do outro lado com cara de atrapalhada e a conduzir com as mamas (pelo menos parecia).

Até aqui tudo bem! Vidrinho em baixo, vou a curtir os Soundgarden baixinho (não sou desses parolos que fazem de discoteca ambulante). Vou para arrancar, e arranco mesmo, mas devagar, pois dois marmanjos (mais concretamente um marmanjo e uma marmanja de seus 15 anitos) estavam na esquina do cruzamento com cara de quem quer atravessar o corpinho à frente do carro. Ora o carro é duro e grandinho (Está bem, é da empresa...) e definitivamente mais duro que os ossos pouco solidificados dos marmanjos teenagers. Não deixei que atravessassem naquele local, atravessei-me eu à frente.

Logo ouvi da boquinha da teen: "Muito obrigado, é muito gentil", naquele tom jocoso de protesto mal disfarçado de quem já ouviu o pai ou mãe dizer aquilo a algum Primeiro Ministro na Televisão, após mais uma entrevista promissora (daquelas em que se promete muito...). A música ia baixinho, espetei a cara fora do carro e exclamei: "Passadeira!!".

Ouvi o marmanjo dizer à marmanja: "Realmente, temos passadeira ali a 5 metros!". E lá foram os dois marmanjos passar na passadeira, que é para isso que ela lá está! Ninguém se atravessou à frente e lá puderam ir lanchar mais um Bollycao e um Ice Tea de eucalipto sem problemas, com as calças pelos joelhos (não as bainhas, a cintura...) e uns cortes de cabelo à "foge que te f***"!

Não me importo nada com o facto de os peões terem prioridade nas passadeiras. Se há regras a cumprir, a gente tem de as cumprir e mais nada. Cumpram também eles (e eu, que ando bastante a pé... Bastante... é como quem diz...) e tudo correrá bem. Virem gozar com a minha cara é que não! E desculpem-me todos os peões deste país! Peões e não piões, que foram proibidos, mas isso é assunto que merece um post por si próprio.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

E encheres-te de moscas, não?!

Diz quem foi que foi muito melhor que o esperado. Eu não fui, apesar de ter bilhete à disposição. Foi em dia da semana e a vida já não me permite semelhantes extravagâncias. A idade não é questão, foram muitas pessoas mais velhas que eu. Simplesmente o trabalho não espera nem dá grandes tréguas.

Estou a falar do concerto do século (até ao momento) em Portugal, um concerto dos veteranos
AC/DC. Sem dúvida, em termos cénicos, uma oportunidade a não perder de testemunhar um verdadeiro espectáculo de rock, um verdadeiro espectáculo feito à maneira da altura em que ainda havia rock n' roll e grandes bandas, coisa que escasseia cada vez mais neste planeta.

Este tipo de música,
descomplexada e divertida, sem grandes artifícios mentais nem letras complicadas, tem muitos adeptos. Não é o meu caso, que gosto de coisas mais complexas e interventivas. No entanto, e há que o reconhecer, os AC/DC sempre foram dos favoritos da juventude, porque têm uma atitude simples mas eficaz, uma daquelas atitudes de "toma lá que é para aquecer, não gostas, põe na beira do prato".

Mas do concerto ficarão memórias e essas serão para os felizardos que estiveram presentes. Não é disso que trata este
post.
Parece que, a escassos minutos do início do espectáculo, os artistas foram visitados por pessoas muito especiais, que resolveram fazer uma surpresa aos veteranos elementos da banda. Não, não era uma data de
fãs malucos com meia dúzia de grades de cerveja. Nem tão pouco um conjunto de groupies em trajes menores. Tratava-se de uma brigada da PSP que teve o bom gosto de ir identificar os artistas. Perante a surpresa destes, os simpáticos agentes exigiram os "documentos" aos músicos, aos assistentes destes e até ao director de segurança da banda. Todos estavam identificados com crachãs, mas deixa lá isso e vai buscar o passaporte, se não te importas, se não queres passar a noite na choldra. E vamos lá a ver se se portam bem durante o concerto!

Diz o director de segurança que já lhe havia acontecido isto. No Chile e durante a vigência do genocida Pinochet.
Não está aqui em causa a possibilidade de todas as pessoas poderem ser identificadas, em qualquer altura, pela autoridade. Mas a acção da PSP cheira a muito mais do que uma "operação de rotina", como foi afirmado pelo Comando. Acontece que os
AC/DC são daquelas bandas que, de tão grandes e experientes que são, estão-se literalmente defecando para as questões políticas portuguesas. Poderiam até dar uma ou outra "boca" ao Sócrates, como fez Roger Waters no Rock in Rio, mas nem sequer faz muito o estilo dos australianos. Quem não sabia isso, de certeza absoluta, era a escadinha - Comando da PSP - Ministro da Administração Interna - Sócrates.

O pavor demonstrado nesta acção do governo
português só podia prenunciar a enorme derrota eleitoral que se seguiu. Mas demonstra também como todos estamos sujeitos, neste país, ao Big Brother, como todos nós temos a censura sobre as nossas cabeças. Cabeças essas que ainda são pensantes, pelo menos algumas. E que não alinham em ditadurazinhas de trazer por casa.

É mesmo caso para dizer, lá para cima: "
OUB'LÁ, Ò PÁ, E ENCHERES-TE DE MOSCAS, NÃO?!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Génesis - Capítulo Quarto - Filho de uma Mãe mais velha


  1. Deus vagueava pelo Deserto, em busca de emoção; e Deus lembrava-se da ascensão de Enoque aos Céus, e do advento de Elias, mas já nada acontecia por terras do deserto;
  2. E Deus ansiava por algum engano humano, por alguma burrice que tivesse de corrigir. E Deus lembrou-se da Guerra do Golfo, mas não estava para ter tanto trabalho, pois essa não era burrice facilmente corrigida;
  3. E Deus ainda se lembrou de procurar as armas de destruição maciça, mas lembrou-se do Dilúvio e desistiu, pensando: "Porra, quem sou eu para julgar o George?"; e Deus não desesperava porque era Deus e Deus não desespera; normalmente;
  4. E Deus, virando numa curva do Eufrates, deu de caras com um humano tristíssimo, de farta barba de ancião, de aspecto bondoso, chorando na beira do rio, e reconheceu-o e falou-lhe em sonho, pois deu-lhe uma cacetada na cabeça para ele anestesiar;
  5. Meu filho, tu que és justo, tu que és o melhor dos homens, porque choras infamemente na beira do rio? E o homem ergueu os olhos e, ainda dormindo, respondeu que ninguém lhe ligava, já ninguém o achava importante, a ele, que tanto respeito infundia aos povos do mundo conhecido;
  6. E Deus retorquiu: Porque Eu sou teu Deus, o Criador dos Céus e da Terra, vou-te ajudar a teres semente com essa idade tão avançada! Terás filhos, e a sua prol dominará a Terra! Tua mulher Sara será mãe!
  7. E o homem olhou para Deus com um olhar vago, pois não lhe conseguia ver a cara, porque, sabe Deus porquê, ninguém consegue; e perguntou-lhe porque não lhe conseguia ver a cara, e Deus respondeu-lhe que não era altura para discutir problemas cosméticos e padrões de beleza, e, se ele não se incomodasse, preferia ficar assim, ò faxabor;
  8. E o homem esboçou um sorriso radioso, e afirmou a Deus a sua vontade em que a sua prol dominasse o Mundo, particularmente a América, e que só queria ver Nova Iorque em destroços outra vez, e Los Angeles a arder e Chicago sem o Michael Jordan e Detroit sem a General Motors!
  9. E Deus disse-lhe: Porque Eu sou teu Deus, o Omnicoiso e tal, e tenho poder para te dar tudo isso, até porque LA vai arder no próximo grande terramoto, o Jordan já não joga e a General Motors já se foi de vez, portanto o esforço é mais pequeno! Mas tu não queres apenas que tua mulher engravide?
  10. E o homem respondeu: Para quê, meu Deus? Basta essas coisitas de nada, até porque nenhuma das minhas mulheres se chama Sara!
  11. E Deus olhou melhor, e esfregou os olhos e tornou a olhar. E perguntou ao homem bondoso de barba farta de ancião, pai de proles: Porque Eu sou teu Deus e teu Pai, mas oub'lá, então tu não és o Abraão?
  12. E o homem, com um sorriso bondoso respondeu: Não, nada disso, eu sou o Osama! - e Deus começou a pensar que os milénios estavam a fazer-se sentir nas vistas, acordou o homem, aplicou-lhe o esquecimómetro do "Men in Black" e afastou-se assobiando e disfarçando nas curvas;
  13. Até que Deus encontrou outro homem idoso, de barba farta e olhar bondoso a chorar na margem do Tigre; e Deus -lo adormecer pelo método clássico (mocada na moleirinha) e perguntou-lhe, em sonho:
  14. Porque Eu sou teu Deus, e teu Criador, infinito no Tempo e no Espaço, será tu quem procuro? Será tu o ancião Abraão? Serás aquele que vai gerar a prol do meu povo, do povo por mim escolhido?
  15. E o homem olhou para Deus e não conseguiu ver-lhe a cara, mas viu a sua infinitude no Tempo e no espaço, e respondeu: Senhor, meu Deus, estás infinito no espaço e é melhor ires ao Holme's Place perder uns quilitos qu'isso até te fica mal. E sou eu, meu Deus, o teu servo Abraão;
  16. Porque Eu sou teu Deus, o Magro e não sou gordo, e tu estás parvo! Vê lá se queres sentir a infinitude nos ossos! - Desculpe, estava só a ser sincero - Pára lá com isso, porra!! - Desculpe e coiso... - O teu Bilhete de Identidade? - Já tenho CU! - Ah sim? Ganda maluco o Socas, pá! Deixa lá ver isso... Olha, ganda pinta... E isto serve para ler o cartão... sim, Senhor (que sou Eu!)...
  17. E Deus viu que era Abraão! E Deus disse-lhe: A tua mulher vai gerar um filho que será a semente do meu povo! - Ah, sim? Com aquela idade? - Sim, porque Eu posso! - Estou a ver. E o pai, quem vai ser o morto? - Vais ser tu! - Olha boa, se ao menos já tivessem inventado o Viagra... - Mas Eu posso! Eu posso tudo;
  18. E lá foi Abraão, depois de acordado, a pensar na vida e como ia fazer o amor com a Sara, se nem urinar conseguia sem esforço; duvidando seriamente que Deus fosse mais forte que o Viagra, passou numa farmácia a comprar o dito;
  19. E Abraão tentou uma primeira vez reconhecer a Sara; mas depois de lhe afastar os seios das coxas, não conseguia reconhecer; e então viu que não era Viagra, mas sim um genérico e clamou: Ai o filho da mulher de má vida do farmacêutico!
  20. Mas da segunda vez, e pela mão de Deus, Abraão reconheceu a Sara. E Deus, depois de limpar a mão a um kleenex, disse-lhe: Tua mulher concebeu, e dará à luz; e com esforço dará à luz a semente do meu povo, a quem chamarás Isaac;
  21. E Abraão, ainda exausto do esforço, retorquiu a Deus: O tanas!!! Ela vai é fazer uma cesariana que eu já não me acredito em nada dessas coisas da medicina moderna!! Parto sem dor, ò faxabor! Lá Isaac pode ser, não está mal, não senhor, embora estivesse a pensar em Eusébio Abraão!
  22. E Isaac nasceu, e cresceu e se tornou homem e era a alegria de Abraão e de seu meio-irmão Ismael, filho da escrava Hagar; e Isaac seria a semente dos hebreus, pois era filho de Sara, a Mãe, pois era filho da Mãe;
  23. Já Ismael seria a semente dos árabes, pois era o filho da... senhora que se porta mal;
  24. E Deus testou a fé de Abraão, e ordenou-lhe que sacrificasse em Holocausto o seu filho amado; e Abraão, convicto da sua fé, obedeceu e amarrou Isaac à pedra sacrificial, e quando se preparava para apunhalar seu filho, teve um ataque de caspa e um AVC violento;
  25. E Deus viu que a fé de Abraão era verdadeira; e Isaac disse: Meu Deus, e meu pai, está bem? E Deus respondeu-lhe: Bem, bem, não está, está a babar-se mais do que quando tu foste concebido - mas safa-se... e, se não safar, meu amigo, já fez o que lhe competia! Vá, vai lá às gajas, que a tua descendência tem de dominar o Mundo! Vá, vai lá! Ganda maluco, Isaac, canudo!

terça-feira, 2 de junho de 2009

CAMPANHA "NÃO HÁ CENSURA NESTE BLOG"



Decidi aderir a este movimento, que penso ter pernas para andar e deve surgir como mais um alerta da blogosfera para os censores que por aí andam a cortar tudo o que pareça crítica ao Governo vigente.

Não escolhi a música da eira nem da beira dos Xutos, por ser demasiado inócua na mensagem e fraca na melodia. Escolhi antes uma que reflecte perfeitamente aquilo que já desde a sua publicação se passa neste país e neste mundo ocidental. É forte, quer dizer algo importante, pois vai à raiz do problema, e não apenas protestar porque está na moda, que foi o que me pareceu da dos Xutos.

Fica o meu voto contra a censura. Junte-se a nós!!!

PS1: Acrescentei OUTRA musiquinha CONTRA A CENSURA, dos TOOL, que fala por si...
PS2: A OUTRA TODOS CONHECEM E É UM HINO CONTRA A CENSURA!!!!
Aproveitem bem...

O tamanho da Alma


É assim quando nos sentimos estranhos. É assim quando nos sentimos mais pequenos que a nossa alma. Quando ela quer expandir dentro de nós, quando quer voar para longe, mas deixar-nos aqui, neste local absurdo.

Tenho saudades do futuro. Tenho saudades do passado, e tenho saudades do presente que não existe. A única coisa inexorável neste mundo é o Tempo. Ele é o nosso verdadeiro referencial, Ele é , Ele é tudo. Porque tudo se resume a Ele. As saudades, ai as saudades. Este dia não mais se repetirá, e já tenho saudades dele. Porque a alma não cabe dentro de mim. Porque sei que ela está já noutro local, n'O Local. Mas sei que regressarei para me reencontrar com ela.Não falta muito.

Qual o tamanho da alma? E quanto invejo aqueles que a conseguem conter! E como tenho ciúmes dos que vivem sem nunca lhes ter escapado a alma para lado algum! A minha é maior que eu, claramente. A minha já fugiu. Mas vou agarrá-la, não aqui, onde sou um prisioneiro, mas no local primordial, onde sou livre, e onde ela se iguala em tamanho a mim.

Porque o Tempo e a Alma são o mesmo, são ambos maiores que eu, e ambos nasceram no mesmo Local. Para onde vou, posso levar quem quiser. Um dia hei-de lá morrer, e as areias quentes hão-de acariciar a minha pele velha, e absorver a minha alma nova. E nos levará a todos a um passeio pela bela noite do Tempo.