domingo, 14 de junho de 2009

IRÃO E O REGRESSO DO XÁ


Filho de Reza Phalevi apela à desobediência civil no Irão

Reza Pahlavi, filho do último xá do Irão derrubado em 1979 pela revolução islâmica, pediu à comunidade internacional para apoiar um "cenário de desobediência civil" no país.

Esta é uma notícia veiculada pela Lusa na manhã de hoje. É o reflexo do mundo em que vivemos, um reflexo dos perigos que corremos em acreditarmos que os meios justificam os fins.

Analisando a notícia, que poderemos concluir? Várias coisas, consoante as nossas crenças e conhecimentos sobre o assunto. Há conclusões óbvias:

- O "Ocidente", seja lá o que for, preferia que Ahmadinejad perdesse estas eleições;
- É óbvio que os tumultos surgidos no Irão a seguir às eleições são encorajados por forças exteriores;
- É também bastante duvidoso que o actual presidente, que tem tido uma actuação interna convincente que tem levado a melhorias sócio-económicas sensíveis para o povo do Irão, perdesse estas eleições, por muito que quisesse fazê-lo;
- O filho do último Shah da Pérsia quer retomar a monarquia e instalar-se como novo Shah em Teerão.

Penso que estas conclusões são fáceis de tirar, não é necessário ser-se nenhum génio político. Depois vêm as opiniões e, nesse aspecto, todos podemos emitir uma ou mais opiniões sem que para isso nos tenhamos de compremeter politicamente - é uma opinião e não uma sentença.

Na minha opinião, a teimosia iraniana em opor-se ao Ocidente não tem qualquer justificação moral, antes terá justificações políticas. O governo iraniano tem ainda bem presente a guerra com o Iraque, na altura apoiado pelos EUA, e liderado por Saddam Hussein. Parecia ser, na altura, uma luta pela supremacia regional, nunca ganha por qualquer das partes. Ora, naturalmente, o país que assumirá a supremacia regional no Golfo será o Irão, pois é o país mais desenvolvido, com mais recursos naturais e melhores condições geográficas.

Por outro lado, a questão de Israel, nação implantada na Palestina recorrendo ao sacrifício dos próprios palestinianos, com o apoio omnisciente dos EUA, é outro espinho cravado na garganta iraniana. Ainda por cima, sabido que Israel é uma potência nuclear (a única naquela região), a afronta sobe de tom. Daí a justificação da injustificável posição iraniana de que Israel não tem o direito de existir. Não sei em que contexto eles dirão isto. Perante o direito internacional vigente, estão certos, não andam por aí a nascer países todos os dias só porque alguém se lembrou de largar refugiados num determinado sítio, cujas terras pertencem a terceiros (exceptuando o Kosovo, outra vergonha mundial...). Mas o mal está feito há já 60 anos... Que esperam os iranianos conseguir com esta posição? Não esperarão apenas aniquilar Israel? Isso é mito. A aniquilação de Israel por parte do Irão implicaria a aniquilação do Irão em retaliação. Mas... e se fosse o contrário? E se Israel decidisse, sob mando dos EUA, aniquilar o Irão? Quem retaliaria? Onde está o equilíbrio no Médio Oriente? E não me venham com a conversa de que Israel é um estado de direito e o Irão não. É falso - como provam as eleições no Irão, que são tão livres como em qualquer outro país desenvolvido. E muito menos que os israelitas têm bom senso e os iranianos não - é coisa que nem passa pela cabeça dos últimos chefes de estado de Israel.

Então que pretende o Irão? O equilíbrio, através da arma nuclear? Provavelmente. O equilíbrio político, procurando contrabalançar a existência de um estado dos EUA nas proximidades, país que nunca foi muito amistoso desde que o pai da personagem retratada acima foi afastado do poder? Talvez.

Apesar de tudo, lembrem-se sempre de uma coisa: O Irão também tem um povo, também têm filhos e netos, também os amam tanto como nós amamos os nossos. Estão sós politicamente, mas são simpáticos e prestáveis. O país é agradável e com um bom nível de vida. Percebem o que quero dizer? É um país, uma nação. E faz questão de o afirmar, ao contrário de outros que cá conheço que se escondem de cada vez que alguém ergue uma voz dissonante... A concórdia mundial não pode ser atingida só pela voz do mais forte. Penso que é essa a principal razão iraniana para a discordância com o "Ocidente". Um orgulho nacional e uma vontade de não voltarem aos tempos miseráveis dos Shahs protegidos por Washington para extracção barata de petróleo...

8 comentários:

  1. "É também bastante duvidoso que o actual presidente, que tem tido uma actuação interna convincente que tem levado a melhorias sócio-económicas sensíveis para o povo do Irão".

    Cirrus, por amor de Deus! Que melhorias? Dar 3 litros de combustivel para cada habitante?!

    A seu tempo farei um post esclarecedor sobre essa figurinha perigosa. E que veste bem...!

    ResponderEliminar
  2. Amigo,

    Vai lá ver como era vida da Pérsia e seus habitantes no tempo do Xá...

    ResponderEliminar
  3. Anne

    Estás à vontade para acrescentar ou ripostar quanto te apetecer!

    ResponderEliminar
  4. A forma como terminas o texto é muito importante, no fundo todos merecemos ser respeitados mas também respeitar

    ResponderEliminar
  5. Forte

    Maneira de ser - até prova em contrário, todos me merecem respeito!

    ResponderEliminar
  6. Se houve fraude ou não nas recentes eleições isso é lá com os iranianos.

    Agora que há alí mãozinha da CIA lá isso há.

    Só mais uma coisinha:

    Se estão com tanto medo da bombinha nas mãos do Ahmadinejad, que dizer da mesma nas mãos dos judeus? Ou será que estes são mais puros que aquele. Ou será porque aquele não vai ao beija-mão ao contrário destes?

    A Indía e o Pakistão também não têm a "menina"? Ou estes são mais bonitos que os outros?

    Como dizia a minha avó, ...com vinagre não se apanham moscas....

    Abraço

    ResponderEliminar
  7. Ferroadas

    Uns são filhos da mãe. Os outros são filhos da ...

    ResponderEliminar

LEVANTAR VOO AQUI, POR FAVOR