sábado, 29 de outubro de 2011

AS MEDIDAS


Ilustração de Marco Joel Santos

Tomar medidas é das coisas mais importantes ultimamente. Uma grande parte das pessoas fala das medidas que se tomam. A Troika já nos avisou, como país, que teremos de tomar novas medidas num futuro próximo. A União Europeia, assim chamada por tradição, tomou medidas. O Obama, lá do outro lado do mar, anuncia que tomou medidas. O Brasil e a China estão à espera de medidas. Mas, em boa verdade, o que são estas medidas?
Há várias formas de medidas, mas aquelas de que ultimamente temos ouvido falar mais são de dois tipos. As medidas que se tomam e as medidas que adoptamos. Ora tomar uma medida parece-me uma coisa pouco esperta. Eu tomo é medicamentos para o colesterol. Também tomo café. Não tomo medidas nem sei o que tal seja. Por outro lado, adoptar é uma coisa que associo a animais de estimação ou aos filhos que os outros não querem.
Isto das medidas não sei de onde vem. Mas o que é certo é que temos de tomar medidas. E se a mim me dissessem para tomar medidas relativamente à situação económica de Portugal, eu sei bem o que faria. A verdade é que somos instigados a ter objectivos, no trabalho e até na vida, e esses objectivos têm de ser quantificados. Hoje ninguém se contenta com resposta tipo “melhorei o ambiente na minha equipa de trabalho”. Não, é necessário apresentar um inquérito com x perguntas avalizadas e y respostas validadas e apresentar os resultados com gráficos de cores mais ou menos berrantes e se possível em Powerpoint com umas animações tipo remoínho ou pixelização. É que se assim não for, ninguém acredita em nós.
Temos de ter objectivos quantificáveis. Nada disso de responder que o que mais queremos da vida é ser felizes ou ter saúde. Nada disso. É necessário saber quantas vezes sorrimos por dia para podermos apresentar resultados quanto à nossa felicidade. E é necessário prever os nossos objectivos em termos de saúde, tipo só queremos ter um cancro e dois AVCs e pode ser que seja uma trombose que nos f... aça ir para a cova. Isto se não optarmos por ser cremados ou cromados, pois penso que uma estátua cromada ao lado da lareira lá de casa até ficava bem.
Por isso, temos de tomar medidas em Portugal. Comecemos por medir o comprimento dos nossos rios, os kms das nossas estradas, a altitude das nossas montanhas. Depois podemos ir mais ao pormenor, com medidas do infinitamente grande, como a medida da dívida de cada um de nós ao estrangeiro, até ao infinitamente pequeno, como o QI do nosso primeiro ministro. É preciso é apresentar medidas à Angela, e por isso, eu proponho que possamos carregar uma pequena maleta com instrumentos de medida, tipo uma fita métrica, para medir as nossas estaturas e o comprimento dos nossos passos, um transferidor, para medir ângulos de visão, um paquímetro, aquele que serve para medir espessuras pequeninas, para medirmos a espessura dos cérebros dos nossos políticos... Tomar medidas é necessário, e se são medidas que a troika quer, devíamos atolá-los de medidas. Até porque assim seria mais fácil sacar-nos impostos com as medidas tiradas.
Uma medida importante seria a dos genitais do Passos Coelho. Eu sei que o Berlusconi já disse que a Angela é infornicável, mas parece-me que o Sócrates andou por lá a satisfazer desejos. Ou pelo menos a tentar. Se não convenceu a senhora é porque não tinha medida suficiente. Ou então não tinha jeito... Saber se o Passos tem medida, pelo menos, é importante. Porque jeito ele tem, já nos f... a todos em grande estilo. Mas devia era ir f... a gaja de Berlim, porque eu acho que ela tem uma fixação qualquer por medidas e sinceramente sempre a achei um bocado mal f... E não esquecer que, afinal, o nosso primeiro ministro é africano! E que bem que ele nos quer estabelecer no nível de vida do seu continente!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O PONTO


Há muito que deixei de ver um programa de debate que acontece todas as segundas-feiras no canal público de TV. Deixei de o ver por diversas razões. Porque a moderadora é uma extremista comparável aos terroristas islâmicos, pelos santos convidados que andaram a fazer cagada atrás de cagada neste país, anos a fio de prumo e esquadro, instados a dar opiniões sobre tudo o que está mal, que para além do mais ainda apresentam uma candura extraordinária, como se tivessem aterrado neste país de para-quedas e nunca tivessem ouvido falar de nada.
Ilustração de Marco Joel Santos
É um programa em que de tudo aparece, é verdade. Também há algumas opiniões lúcidas. Mas é confrangedor ver tanta gente responsável pelo ponto onde chegamos apontar o dedo a tudo e mais um par de texanos para justificar a crise em que mergulhamos sem terem um único rasgo que possamos apelidar de solução, mesmo que não valesse um caroço de tremoço. Até um puto que dizia que andava a vender trabalho de porta a porta apareceu (pareceu-me um bocado assim para a prostituição pré-amigos de Alex), e afirmou que era necessário bater punho, expressão que eu ou muito me engano ou foi interpretada pela maior parte dos portugueses como narcisista e masturbatória ou puramente de pessegueiro esgalhado. É destes extraterrestres que eu gosto mais, daqueles que parece que vieram inventar a roda sem nada conhecerem do que realmente se passa por esse Portugal profundo fora, o Portugal da miséria.
Seja como for, a verdade é que de vez em quando vou fumar uma beata mal amanhada à cozinha ou à varanda e passo inevitavelmente pela TV. Ontem foi uma dessas ocasiões e ouvi um senhor, que não sei quem é, dizer uma das coisas mais ditas ultimamente: “Os funcionários públicos têm de perceber que trabalham para um patrão que está falido”. Ora as palavras são como as cerejas e os pensamentos como os tremoços, e dei por mim a pensar e a escrever sobre isso.
Ora, então, encadeando acontecimentos, os funcionários públicos têm de perceber que trabalham para um patrão falido. Assim sendo, e sigam o meu raciocínio senão ele perde-se por aí, atacado pelo Alzheimer como anda, se o patrão está falido, há que despedir gente. E comprar Ferraris, que é o que se faz quando se entra em insolvência. Esqueçam lá os chassos dos BMs e Mercedes, o Estado faliu! Como 80% dos funcionários públicos são técnicos altamente qualificados, como juízes, professores, magistrados, médicos, enfermeiros, contabilistas, engenheiros e ainda outros que não são tão qualificados, mas são altamente treinados, como militares e polícias de todas as forças policiais, desde a PSP até ao SEF, o Estado falido terá então de despedir gente qualificada. E os homens do lixo, não esquecer. Muita gente esquece mas se eles é que se esquecem de passar um mês à vossa porta queria ver-vos a todos a cuspir postas de pâncreas todas as manhãs a sair de casa.
Assim sendo, e como se diz por aí, que este país é um país de doutores e engenheiros, esta gente não vai encontrar no privado saída profissional alguma, a não ser a de desempregado licenciado. O mais provável é aqueles que estiverem em idade para tal arrumarem as botas para a reforma antecipada ou então emigrar para qualquer lado, nem que seja para o Eyfajafa... catano. Eu pensei que já soubesse escrever o nome da porra do esquentador. Seja como for, uns hão-de contribuir para as más contas do Estado, pela via da pensão, e os outros pouco ou nada contribuirão para a economia. Retiram-se assim milhões em despesas ao Estado mas também se retiram os mesmos milhões ao consumo privado da economia portuguesa. Isto partindo do princípio extremamente optimista de que Portugal ainda tem economia.
Mas, e o Estado? Ora, se eliminarmos a Educação, a Saúde e, quem sabe, a Justiça e a Segurança da equação, o Estado poupa uma pipa de massa e consegue sobreviver sem ter de abrir falência. Lá se vão os Ferraris, pá! É regressar aos malcheirosos BMs! Assim sendo, o Estado cessa as suas actividades nestes campos e torna-se solúvel. Quase como o Mokambo. Mas depois há outra questão: os impostos. Ora, o que mantém o Estado a funcionar são os nossos impostos. Mas, se o Estado já não garante qualquer serviço relevante aos seus cidadãos, porque carga de água estes teriam de pagar impostos? Mas alguém está a ver-se no futuro sem pagar os impostos que paga actualmente?
É aqui que entra aquilo que eu chamo o Ponto de não retorno fiscal, ou seja, o ponto em que o cidadão não recebe nada em troca dos seus impostos. Se pagarmos Educação, Saúde, estradas e tudo o mais, é legítimo pensar que pagamos impostos para nada. Para além do ponto do não retorno fiscal, há o duplo pagamento associado. Poderemos facilmente chegar a um ponto onde pagamos tudo duas vezes – através de impostos e através de pagamentos a privados que se substituem ao Estado. Não esquecer que na semana passada, duzentos milhões de euros portugueses passaram a ser de outra nacionalidade qualquer, provavelmente para aí Eyfajafa... cataneses, ou o camandro que os sexe. Ou seja, o retorno do dinheiro investido em pagar serviços raramente é reinvestido pela entidade privada. Logo, a economia mais se depaupera, resultado da fuga fiscal. Ou seja, pagar por nada é já mau. Pagar para ter o que já se pagou uma vez é duplamente mau. Ver esse dinheiro fugir para off-shores ou para as SGPS estrangeiras é triplamente mau. É muito mau. Quase tão mau como o ódio que o português nutre pelo funcionário público, ou mesmo quase tão mau como aqueles que se queixam dos serviços públicos esquecendo-se que não é por acaso que este quase país está como está... É que tem um pseudo-povo...

COOPERAÇÃO

O meu amigo de juventude Marco Joel Santos, paramense de gema, achou que eu tinha uns textos porreiritos. Vai daí, ofereceu a sua ajuda para ajudar a abrilhantar o Cirrus Minor e as páginas de Facebook de ambos. Eu escrevo e ele ilustra. Ele é que fica a perder. E um dia há-de ele mostrar-vos, se possível, a sua ilustração do maior antro de perdição de Paramos, a minha terra natal, há uns... 12 ou 15 anos... Se ainda existir.


Peço pois a vossa habitual paciência para os pachorrentos textos que aqui tento escrevinhar (e este, o que se segue, foi mesmo à pressão), e o vosso espanto para o talento do Joel.


Estou muito orgulhoso desta parceria e espero que seja para durar.

sábado, 22 de outubro de 2011

A INFLUÊNCIA


Foto Google

Estamos onde estamos, e não onde desejamos estar. Perante o que se passava no plano financeiro, mas que depressa alastrou ao plano económico e mais tarde ao político, há que olhar para a situação actual do país e tomar decisões. Não escrevo sobre as decisões do governo ou do triunvirato ou da comissão europeia e nem sequer as da senhora nazi. Falo sobre as decisões pessoais. Isto porque toda esta situação, em última análise, vai afectar cada um de nós. De formas diferentes, por certo, mas todos seremos afectados pelos cortes orçamentais e aumentos de impostos.
Não interessa agora saber quem disse o quê acerca de não se subirem impostos, quem mentiu e quem disse a verdade. Quase nem interessa se as opções tomadas para o país, que em breve darão frutos, e disso não tenhamos dúvidas, foram tomadas por genuína crença na sua efectividade ou simplesmente porque a ideologia de quem nos governa assenta na escravatura e o seu exemplo de produtividade continua a ser o chinês. Não interessa. O que interessa é: o que vamos nós fazer acerca disso?
Já houve manifestações, tomadas de posição mais ou menos públicas contra ou favor ou nem por isso as decisões do governo. Interessa, no entanto, que se saiba uma coisa acerca dessas decisões. Interessa saber que essas decisões vão muito para além do que nos foi imposto pelo triunvirato. Interessa pois que se saiba que já passamos a imposição para entrarmos no âmbito da ideologia. E muitos riem-se sobre a possibilidade de este governo ser ultra-liberal. Eu já deixei de ter dúvidas há muito. Na realidade, é o mais ultra-liberal da Europa. Que faremos perante este facto?
Vai haver greve geral. Convocada pelas duas centrais sindicais portuguesas, em conjunto. É um direito que assiste a quem quer protestar contra as suas condições de trabalho, presentes ou futuras. Um direito constitucional e inalienável. Mas há uma corrente, uma influência ultra-liberal que deseja eliminar esse direito. E não é sequer, à primeira vista, do governo. É do próprio povo. Alguns sugerem que as greves devem ser liminarmente proibidas. Outros, que devem ser feitas ao fim de semana. Outros ainda que devem ser promovidas apenas fora dos horários de trabalho comummente aceites. Em nome da produção, em nome da competitividade, em nome do funcionamento regular do país.
Muitas pessoas há que, instadas a dar uma opinião sobre uma greve, até admitem que os grevistas possam ter “as suas razões”, mas que estão a prejudicar “a vida dos outros”. Outros dizem que parar o trabalho só prejudica a economia do país. Outros referem que os grevistas apenas não querem trabalhar. Não interessa a minha posição sobre a greve que aí vem. Não saberão se farei greve ou não, nem isso é demasiado importante. O que é realmente importante é que as pessoas saibam que as greves se destinam, efectivamente, a parar a produção do país, a incomodar as “vidas dos outros”, a chamar a atenção para um determinado problema. Destinam-se a chamar a atenção do povo para o problema, destinam-se a pressionar - se não pelo número de aderentes, pelo menos pelos números económicos - o governo, fazê-lo sentar-se e falar do que se pode melhorar, enfim, negociar. Isto é democracia.
Não é fazendo greves durante a noite, ou ao fim de semana, que se pode chamar a atenção seja do que for. Nem dos jornais chama. A greve foi inventada para prejudicar alguém, e quantos mais melhor, para pressionar o poder político a olhar a situação. Não para o contrário. Fazer greves em horas não produtivas é o mesmo que espalhar sementes num pátio de betão e esperar que germinem. Proibi-las é simplesmente regressar ao século 19. E eu até gosto do século 21.
Não sou contra quem vai fazer greve ou contra quem vai trabalhar no dia da mesma. É uma decisão que a cada um cabe. Mas acabem lá com o choradinho do “só prejudicam os outros que querem trabalhar”. Dificilmente algo sai de uma greve que não seja favorável a quem trabalha, e se não fossem as greves ao longo do tempo, ainda trabalharíamos catorze horas diárias por uma côdea de pão regada com azeite. Como os chineses – que estão a começar a fazer... greves!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

S.CIRRUS I - QUEM É Q'ANDA AÍ?

Anda cá ver as asinhas, anda... Imagem Google
  1. E era que, naqueles dias, na pequena cidade de Nazaré, que diziam as más línguas, só havia de existir quatro séculos depois, se encontrava Maria noiva de José, o carpinteiro que fazia portas e portões e nas horas vagas arranjava televisões;
  2. E andando o Senhor por aquelas bandas procurando um tasco, se deparou com Maria e com a sua pureza imaculada, e com a mania que havia de casar virgem e só que só casaria depois da universidade e então teria um filho,
  3. que colocaria numa creche IPSS enquanto exerceria a profissão mais antiga do mundo, pois que queria ser advogada e defender os criminosos e quem sabe ficar como eles; e o Senhor estava furioso por não ter encontrado um tasco onde refrescar a goela, pois andava às voltas numa cidade que só havia de existir quatro séculos depois;
  4. O Senhor tomou Maria de ponta e achou que estragar-lhe um bocado os planos lhe colocaria o nariz mais perto da altura desejada, e olhando para o relógio, Se achou na hora certa para enviar o Messias à Terra, facto que ia quase esquecendo; e o Senhor reparou que estava a precisar de um filho, porque aquilo de ser um Deus vingativo e mau como as cobras tinha de acabar;
  5. E regressando ao céu, reuniu com o seu núcleo de colaboradores de confiança, e com os gestores públicos. E decidiu, Ele próprio, que iria nessa mesma noite, o arcanjo Gabriel a Nazaré, e em sonho anunciaria que Maria daria à luz o Messias, que lhe traria alguma temperança nos sentimentos e menos recriminações do Saramago;
  6. E encontrando-se Maria a dormir, o arcanjo Gabriel lhe apareceu em sonhos, e lhe anunciou que seria a mãe do Messias, regressando de novo ao céu, onde chegou fatigado, desabafando com o seu gémeo Miguel que “engravidar gajas é agradável, mas quando elas estão a estudar para direito nem dá gozo nenhum, não se lhes ensina ponta”;
  7. E o Senhor, sabendo do regresso de Gabriel, apressou-se a emprenhar Maria, mas verificou que esta já estava prenhe; e Gabriel levou muita porrada do Senhor, e de nada adiantou dizer que tinha percebido mal a ordem e que não era para emprenhar a rapariga pelos processos normais, e isto depois de contar ao Senhor os pormenores todos da noite em questão;
  8. E se nada disserem a ninguém, ò gémeos Miguel e Gabriel, a gente depois faz uma conferência de imprensa a dizer que a concepção foi imaculada, para cumprir as profecias e também para o moço não sentir peso na testa – bico calado!”. E assim se fez e assim se preparou a conferência de imprensa, que não se fez por causa de um jogo do Benfica para a Liga;
  9. E Maria se encontrou grávida, e José pensou em deixar Nazaré pela noite, uma vez que já andavam atrás dele a chamar-lhe corno e coisas piores, como ministro e secretário de estado; mas Gabriel mais uma vez lhe apareceu em sonhos, e lhe disse que não iria fazer isso, e que iria criar a criança em segurança e com amor de pai;
  10. E José mandou-o bugiar, pois nem sabia quem era o pai da criança, mas que desconfiava que era algum político, autarca ou cantor pimba com sobrenome de pequena estrada; e Gabriel assegurou-lhe que não quisesse saber, pois que o pai era o Senhor, e Maria o veículo para a vinda ao mundo do Messias, e que a concepção foi feita sem pecado; e José aceitou imediatamente, pois que Maria era o veículo, e ele muito queria um carro;
  11. E três magos, no Oriente, viram pela PlayStation que o nascimento do Messias era iminente e seguiram uma luz que aparecia no céu, e sabiam que onde esta parasse aí encontrariam o menino; e estavam convencidos que não era a MIR, porque apesar de antiga, era mais rápida;
  12. E os astrónomos fartaram-lhes de dizer que aquela porra era um cometa que não ia para a lado nenhum, mas eles montaram nas suas bicicletas de montanha e lá vieram do Oriente. E pararam em Jerusalém, e aí se hospedaram na corte de Herodes, o Grande, o mesmo do “ou te calas ou te sexas”;
  13. E os magos contaram a Herodes, o mesmo do “ou te calas ou te sexas”, da sua odisseia, e mais lhe contaram que o menino nasceria em Belém. E Herodes, o mesmo do “ou te calas ou te sexas”, receoso do menino lhe poder vir a roubar o trono e derretê-lo para vinho, lhes disse que o avisassem, porque igualmente queria prestar homenagem ao menino, e que lhes apreciava a odisseia, mas que gostava mesmo era da Ilíada e dos Lusíadas;
  14. E casaram-se José e Maria em Nazaré, e não percebiam patavina da história de Belém, porque estavam em Nazaré, e ainda por cima Nazaré ainda não existia porque era uma cidade do séc. IV depois do menino; então o governo deu uma ajudinha e inventou um recenseamento no qual os pais de família teriam de ir à sua terra natal para se recensearem, e para que se soubesse quanto recebiam de décimo quarto mês;
  15. Mas José nem sabia o que era o Natal, porque o menino ainda não tinha nascido, e os homens das Finanças deram-lhe uma carga de lenha à antiga e disseram-lhe que era onde tinha vindo ao mundo, e José soube que ou tinha de ir a Belém ou então ao fundo das escadas; e José optou por Belém, até porque a casa que tinha agora não tinha escadas;
  16. E assim se acharam José e Maria, grávida de nove luas, em Belém; e eis que a pequena cidade estava cheia de gente que ali se vinha recensear, pois que era um sítio pequeno mas de onde saíam muitas pessoas importantes de Jerusalém, e por isso lhe chamavam a Vila Real do Oriente; e batendo em todas as portas, apenas acharam guarida numa gruta de pastores;
  17. E tinham por companhia um burro e uma vaca, e a manjedoura de onde comiam, e estas eram palavras de sabedoria, e quem tiver sabedoria que encontre as verdades destas palavras, pois que são palavras proféticas que se cumpriram; e o burro comia da manjedoura, e a vaca comia da manjedoura e ambos estavam na gruta, e a gruta se encontrava em Belém e se chamava S.Bento;
  18. E assim deu à luz Maria o menino, que se chamava Emanuel, que quer dizer o Senhor Connosco, mas logo lhe mudaram o nome para Jesus, porque o menino foi dado à Luz e não ao céu nem à terra. E assim foi que logo apareceu o fiscal da EDP para lhes cobrar a taxa da luz a quem Maria tinha dado o menino; e avisou que quando chegassem os Magos atrás da outra luz no céu, logo apareceria outra vez, porque holofotes gastam comó caraças;
  19. E todos vieram homenagear o menino, todos os pastores e agricultores, todos os viajantes e prostitutas, todos os traficantes e consumidores e ainda os Magos, que foram os últimos, porque tiveram de parar pelo caminho para fazerem um refresh à PlayStation porque o senhor não queria que eles avisassem o Herodes, o mesmo do “ou te calas ou te sexas”;
  20. E traziam os magos presentes para o menino, e esses presentes eram mirra, incenso e prata, pois que um deles trazia ouro mas teve de pagar ao gajo da EDP pelo cometa; e depressa desapareceram a mirra e o incenso, pois os traficantes e os consumidores pensaram que era erva e coca; e assim ficou José com a prata;
  21. E Herodes, o mesmo do “ou te calas ou te sexas” foi avisado pelos seus astrólogos que o menino tinha nascido em Belém, e eles tinham visto claramente escrito nas estrelas que o menino tinha nascido, e também estava na Caras on-line, e em boa verdade, Maria tinha vendido o parto em directo para a TVI, mas Herodes, o mesmo do “ou te calas ou te sexas” não tinha visto porque estava a ver o Benfica para a Champions League;
  22. E Herodes, o mesmo do “ou te calas ou te sexas”, ficou muito irado e apareceu na televisão a dizer que não concordava que o menino tivesse nascido sem a sua autorização, e que isso era muito importante, quase tanto como os estatutos da assembleia dos Açores; e que não permitiria tumultos nas ruas;
  23. E o rei assim deliberou que as suas tropas fossem a Nazaré, para onde José e Maria se dirigiriam depois de Maria ter recuperado do parto e José das mãos partidas, pois que tinha dado as mãos a Maria durante o parto, e esta lhe chamou nomes do piorio, e não era surpresa que os soubesse, pois andava a estudar para direito;
  24. E que as tropas aniquilassem todos os infantes do sexo masculino de Nazaré com menos de dois anos; e ele até começou pelos dois meses, mas os seus soldados não sabiam distinguir um bebé de dois anos de um de dois meses; e as tropas foram e as tropas estavam dispostas a cumprir as ordens do seu rei, Herodes, o Grande, o mesmo do “ou te calas ou te sexas”;
  25. E as tropas chegaram a Nazaré e preparavam a matança, mas Nazaré ainda não existia, pois só existiria quatro séculos depois, e recolheram a Jerusalém; e o Senhor avisou José e Maria que fugissem para o Egipto, porque sempre era melhor para os pulmões do puto e que o Herodes estava fodido!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

GORDURA


Foto Google

É a expressão do momento: Cortar nas gorduras do Estado! É a panaceia para todos os males do país. O Estado é gordo, obeso, deve comer muitos daqueles pedaços de borracha queimada com açúcar que oferecem aos putos a quatro euros nos centros comerciais. O Estado é enorme, é tentacular, é um sorvedouro dos dinheiros públicos e dos impostos taxados aos contribuintes. Nunca antes vi tanta gente a concordar com uma máxima governamental. E nunca vi tantos ministros a clamarem aos quatro ventos a frase do momento.
É uma aproximação à solução do problema completamente falsa. Só há uma maneira de podermos efectivamente fazer face a uma crise como esta e essa é termos uma economia. Coisa que não temos, porque foi destruída já nos anos noventa e por ela nada foi feito desde então. Cortar gorduras do Estado é uma coisa que aparentemente é fácil. É apenas acabar com os gastos supérfluos. Mas, acabando-se esses gastos supérfluos, verifica-se que a poupança são umas migalhas que não se veem espalhadas pelo chão e que o Estado continua gordo. Onde se corta, então? Nas pessoas, por exemplo. Esta Lei do Orçamento que aplica uma redução salarial de 25% ao ordenado dos funcionários públicos tem duas vertentes de poupança para o Estado: a imediata e menos importante, cortar na despesa com pessoal em 25%, e a real, que é o incentivo à carta de demissão dos funcionários e assim reduzir o seu número.
Mas esta tendência para cortar não é só nas pessoas. É nos consumos igualmente. E o que consome o Estado? Consome, por exemplo, medicamentos e equipamentos para Hospitais, equipamentos para Escolas, equipamentos para a Polícia... Coisas do género. Coisas que não fazem falta a ninguém.
Chegou-me ontem ao conhecimento que um idoso de 70 anos, que há uns anos teve um AVC que lhe tirou grande parte da sua qualidade de vida, teve um episódio parecido ontem mesmo. A esposa, igualmente de 70 anos, chamou o INEM e foram ambos levados para as Urgências de um Hospital da zona Norte, por sinal o Hospital que já havia tratado o idoso aquando do seu primeiro AVC. As Urgências apresentavam-se caóticas e perante as perguntas da idosa, que amparava o idoso na sala de espera, “não há gente suficiente a trabalhar para os atender já, desde há uns meses que tem sido assim...!”.
O casal de idosos esperou seis horas e meia a ser atendido, curiosamente por um médico brasileiro. SEIS HORAS E MEIA para atender um AVC, seis horas e meia em que o idoso afectado perdeu e recuperou dezenas de vezes a consciência e o conhecimento, sentado numa sala de espera de um Hospital, porque não havia gente suficiente para o atender! Seis horas e meia para atender uma pessoa com um AVC, ainda por cima reincidente.
São estas as gorduras que queremos cortar a todo o custo? É nisto que Portugal se vai tornar?? Tenho vergonha daquilo em que querem tornar o meu país! VERGONHA!

PS: O meu pai sobreviveu. Está muito abalado e provavelmente agora ficará com menos algumas faculdades, e não se augura um final muito feliz ou longo. Isto é a vida dos portugueses. É esta a gordura dos portugueses. Todos concordam com o corte das gorduras – mas algum dia calha-vos a todos, também... Não costumo falar muito de mim e da minha vida, mas isto está a chegar ao limite do ridículo!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

DESGRAÇAS


Comunistas gregos dando as boas vindas aos tanques

É um tanto estranho que se chame a um texto qualquer coisa como desgraças. Mas a verdade é que andei hoje a pensar naquilo que havia de teclar e reparei que estamos rodeados por desgraças por todos os lados. Sim, claro, bem me poderão dizer que é preciso é ver a vida pelo seu lado positivo e viver cada dia como se fosse o último. São daquelas frases feitas que ninguém leva a sério mas toda a gente gosta de “likar” no Facebook, às vezes porque estamos muito bem dispostos, outras porque nos distraímos ou ainda outras porque se não “likarmos” vamos ter sete anos de azar, ficar falidos e ainda nos cair um raio em cima. Como aventou uma companheira bloguista, o que está a dar é falar de desgraças.
A verdade é que por todo o lado vemos desgraças a acontecerem em catadupa. Não há dia que passe que o governo não invente mais um imposto, elimine mais um recurso nos hospitais ou despeça mais um professor. A selecção perdeu – e desde já fica o aviso aos alemães – se a gente fica fora do Euro 2012, lá para Julho o pacífico povo português vai andar a trepar pelas paredes. Toca a mexer os cordelinhos, que parece que os gregos já lá estão.
Por falar em grécios, como lhes chamava G.W. Bush, aí está o contraponto de todos os portugueses. Antigamente, e quando digo antigamente mesmo, há uns milénios, os gregos eram uma espécie de protectores da Europa. Todos sabemos da forma como travaram, espartanos e atenienses lado a lado, a invasão persa. Ficou famosa a Batalha de Termópilas, retratada no filme 300, batalha essa que tem um nome estranho que induz os mais incautos a pensarem que os gregos foram para a batalha com os pénis enfiados em garrafas termo ou que andaram a aquecer os ditos cujos na fogueira para ganhar coragem. O imperador Xerxes foi derrotado mais tarde pela esquadra ateniense tão bem montada pelo célebre Periklis, e ainda bem, pois se tivesse ganho, e de acordo com o filme, a moda dos piercings tinha surgido bem mais cedo.
Hoje, os gregos não são mais os protectores da Europa. Pelo contrário, são os maus da Europa. São malandros, mentirosos, habilidosos e mais não sei o quê. E servem, obviamente, de barómetro. Nós, portugueses, temos sempre os gregos. Podemos estar muito mal e tal, mas olha lá os gregos, esses é que estão fo...eitos! Quer queiramos, quer não, é da natureza humana procurar sempre alguém que esteja pior que nós. E normalmente encontra-se, por dois motivos: porque há realmente alguém pior que nós, ou simplesmente pensamos isso de alguém, enquanto todos os outros pensam o mesmo de nós. É um bocado aquela sensação que se tem quando se entra em determinados sítios e não se encontra a pessoa que vai ser a vítima – isso quer dizer que a vítima somos nós.
Porém, começo a pensar que os gregos da Europa são os portugueses. Vamos lá a ver, nós não somos gregos – se bem que há quem acredite que Lisboa assim se chama por ter o nome do seu fundador grego, Ulisses – somos portugueses. Mas como nos comparar com um povo que, aparentemente mergulhado numa enorme crise e a um mês de não ter dinheiro para tocar a um cego, quanto mais a todos os da Comissão Europeia, tenha este rasgo de brilhantismo? Não, nós é que somos mesmo os gregos da Europa. Os gregos estão muito à frente! Desgraças é em Portugal, na Grécia, segundo o seu governo, só há contratempos... Pode não haver dinheiro para pagar a dívida, aos funcionários, ou até o parquímetro da limusine do PM, mas para 400 tanques americanos topo de gama... Arranja-se...

domingo, 9 de outubro de 2011

DECADÊNCIA


Foto Google

Certo, mas mesmo certo é que nunca acerto com as horas das chuvas de estrelas. Ou é porque tenho dificuldades em ver as dificuldades de dicção da Catarina Furtado ou então apenas porque me mandam ir esticar a cervical a uma hora que nada tem a ver com a hora em que as poeiras cósmicas decidem estatelar-se na nossa atmosfera. Era para ser das três às quatro da madrugada de hoje, mas afinal parece que foi tudo adiado para as cinco da tarde. E só se conseguiam ver mais a partir das nove da noite. Até faz sentido, foi para deixar fechar as urnas na Madeira.
Fecharam-se as urnas na Madeira, venham de lá as estrelas aos trambolhões. A propósito, fecharam-se as urnas da Madeira mas consta que em nenhuma delas será enterrado o Jardim. É que são urnas de votos e não de desejos. Seja como for, as estrelas cadentes ou simplesmente meteoros, como aprendi de uma estimada professora, e digam lá que eles não ensinam nada, fazem-me lembrar as estrelas decadentes.
De enfiada, encadeando o raciocínio, vai de estrela decadente ao Cavaco num instante, não fosse ele o grande sintoma de decadência portuguesa. O homem que nos manda aguentar a austeridade com dignidade, aquele que quer que fintemos as previsões, enfim, o homem que se fartou de fazer avisos ao Sócrates sobre a situação em que nos estava a meter o ex-futuro-engenheiro-futuro-filósofo. Ou foi isso, ou sonhou com isso, ele agora não sabe bem como foi. Como ninguém ouviu palavra do que ele disse a esse respeito, quer dizer que sonhou com isso. Aliás, parece-me ser o grande sonho de Cavaco: ser um ser activo, actuante e quem sabe que consegue dizer alguma coisa às vezes.
Sim, é certo que Cavaco entrou numa fase da carreira em que as alucinações são já fruto da provecta idade, e que temos de entender que quem viu vacas a rir provavelmente até pensa, no seu universo muito próprio, que alguém o respeita. Ora, sabemos nós que alguns o respeitam. Noventa e nove por cento da população portuguesa já se apercebeu que o caso não é para respeito, mas apenas para piedade. Para ter pena. O povo já se apercebeu que um homem que manda as pessoas para a pesca, quando foi ele que desmantelou a frota pesqueira, não é de levar a sério. Um homem que pagou a proprietários de terrenos para arrancar tudo o que pudesse produzir algo e que agora diz para nos virarmos para a agricultura, não é para levar a sério. Não é para levar a sério um homem que diz ser necessário retirar peso e dimensão à função pública e ao Estado, quando foi o governante que fez disparar os números de funcionários públicos em cerca de 150% quando foi primeiro ministro.
Começo a pensar como realmente Cavaco conseguiu estar vinte anos à frente dos destinos, ou por lá perto, deste país. Mas depois olho o país e percebo porque esteve ele vinte anos no poder, e mais percebo porque está o país na situação em que se encontra. A grande semelhança entre uma estrela cadente e Cavaco é o adjectivo. Os meteoros são cadentes e o Cavaco é decadente. A grande diferença é que os primeiros queimam-se em contacto com a atmosfera terrestre. O Cavaco queimou-nos a todos.
Cavaco, a cada discurso que faz substituindo os ministros do actual governo, considerando e bem que cada vez que estes abrem a boca, é uma tragédia grega, apela à união dos portugueses. E nada tem de mal, os portugueses devem estar unidos em tempos adversos (e nos outros também). Mas apela à união derrotista, à união triste daqueles que desistiram de lutar por um futuro melhor para si e para gerações vindouras. Ele apela a que os portugueses resistam estoicamente enquanto são esmagados pelo governo. Apela a que trabalhemos mais, muito mais e melhor, muito melhor, para podermos melhorar a nossa vida, enquanto vemos que, trabalhemos mais ou menos, melhor ou pior, a nossa vida só está a piorar cada vez mais.
Cavaco não vive neste mundo. Não vive no mundo do ordenado mínimo, ou dos recibos verdes, ou do desemprego ou da miséria que já aflora por todo o lado. Cavaco vive ainda nos tempos em que conseguiu desbaratar um mar de dinheiros europeus que distribuiu por malfeitores que o fizeram desaparecer. Vive ainda nos tempos em que o seu círculo íntimo de amigos roubava dinheiro a depositantes de bancos do seu próprio partido. A física é ingrata. Não há uma atmosfera densa o suficiente para queimar de vez um homem que se refugia num mundo tão distante como o de Cavaco.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ATESTADO

Foto Expresso

Causou inaudito furor uma médica que passou, em cerca de um mês, umas centenas de atestados de doença a professores. O ministro da educação mostrou-se algo incomodado com a situação, insinuando que aqueles profissionais talvez estivessem a fingir uma doença que na realidade não tinham, ou seja, caindo na situação de fraude. Ora, todos sabemos que existem atestados fraudulentos em Portugal, que há muita gente que não vai trabalhar em determinados dias porque inventa uma doença e vai “pedir” baixa.
Na minha opinião, a baixa médica não é um assunto de somenos importância. É um mecanismo que visa proteger a saúde física ou mental do paciente, mas também protege a saúde pública e até, em determinadas circunstâncias, a produtividade da economia, uma vez que mais vale estar um doente em casa sem trabalhar que no seu local de trabalho a trabalhar inferiorizado e provavelmente a atrapalhar e não a trabalhar.
Não sei como se obtém uma baixa médica. Isto porque nunca estive de baixa. Não porque não tenha direito a estar de baixa, mas sim porque tive a sorte de nunca ter estado doente nestes vinte anos de carreira profissional. É muita sorte, já sei, mas não deixa de ser realidade. Nunca estive de baixa, nunca faltei ao trabalho por estar de baixa. Na realidade, e que me lembre, nunca faltei ao trabalho, excepto por razões académicas, nomeadamente exames, quando tinha estatuto de trabalhador estudante. Outros quinhentos.
Perante as constatações do ministro da educação, a ordem dos médicos veio propor uma solução. Assim, a solução passa por acabar com os atestados médicos, excepto para doenças crónicas. As gripes e enxaquecas não precisam de atestados médicos, e cada um preenche uma declaração de honra a jurar a pés juntos que está doente, cabendo à entidade patronal o direito e o dever de verificar, através de um “profissional de saúde”, a veracidade da condição. Excelente solução.
Ora, eu não sou médico. Mas ainda aqui há um par de anos andava por aí uma gripe dos porcos que ameaçava matar não sei quantos milhões de pessoas. E lembro-me distintamente que devíamos ter os maiores cuidados com a doença potencialmente fatal. Depois há as mortes por gripe, todos os anos. E desde sempre fomos aconselhados a curar bem as gripes para depois não termos problemas subsequentes. Mas aqui há uma questão: eu não tenho capacidade médica que me permita fazer um diagnóstico. Como posso saber se tenho uma gripe, ou outra qualquer doença, se não sou médico? Se não for ao médico, como me posso – como diz a ordem dos médicos – fazer um diagnóstico e tratar-me? Será que a tal declaração de honra traz consigo um receituário que tenho de preencher e aviar na Farmácia? Mas se posso fazer tudo isso, porque não posso trabalhar? E será que se tiver uma perna partida, também tenho de jurar a pés juntos que tenho uma perna partida e auto-medicar-me? É que uma perna partida não é uma doença crónica. Mas... a auto-medicação não é prejudicial?
Por outro lado, uma pessoa que apresente um atestado de doença falso, defende a ordem dos médicos, deve ser despedida. Eu concordo, eu penso que quem brinca com uma coisa tão preciosa como a sua própria saúde não merece um emprego e pouco merecerá na vida. Mas isso é quem “apresenta” um atestado falso. Pergunto eu, que sou leigo em coisas de saúde, e quem o passa? Será igualmente despedido?
Voltemos à questão dos professores. Apresentaram atestados, na sua grande maioria, por estarem com gripes. Mas, pergunto eu, a gripe não é uma doença contagiosa pelas vias aéreas? E não é menos verdade que um professor está exposto a centenas de alunos (e suas patologias) durante um dia de trabalho? Será então assim tão incompreensível que durante um surto de gripe, alguns desses professores tenham tido gripes?
Defender a responsabilização dos pacientes em relação a baixas médicas fraudulentas é positivo, e penso ser um passo em frente. Mas não é menos verdade que um médico, quando olha e diagnostica um doente, e este lhe pede uma baixa médica fraudulenta, tem um mecanismo que, sabendo como sei o extremo que é, se pode revelar, na maior parte dos casos, de alguma eficácia para prevenir baixas fraudulentas: entreabrir os maxilares, abrir levemente a boca e articular a palavra “não”. Sei que é difícil, mas para problemas desesperados, soluções desesperadas.
Esperar que os doentes se auto-diagnostiquem, se auto-mediquem e jurem perante o patrão que estão realmente doentes – será que fará diminuir as faltas ao trabalho? Tenho dúvidas. Por outro lado, tendo a entidade patronal a possibilidade de verificar a situação, nada faz mais sentido que isso seja feito por um “profissional de saúde”, no caso, um médico... Ou seja, cada empresa teria de ter um médico para tal trabalho...?
E agora tenho na cabeça esta ideia estranha, que é de que a ordem dos médicos quer ver despedidos os trabalhadores fraudulentos, mas não os médicos fraudulentos. Será que é para os poder empregar nas empresas para fiscalizar fraudes...? Não, não pode ser assim tão rebuscado...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ÊXODO VI OU A VINGANÇA

Mar Morto, foto Google

  1. E assim aconteceu que, por aqueles dias, o povo do Senhor rumou pelo deserto, e completaram-se 40 anos desde a fuga do Egipto, e por muitas vezes o povo sentiu fome e por muitas vezes o povo sentiu sede, e por muitas vezes o povo organizava tumultos nas ruas, o que não é fácil, no deserto;
  2. Certo dia, o povo interpelou Moisés pela fome que sentia, e diziam que melhor estavam no Egipto, onde comiam pouco mas podiam fazer tumultos em praças espaçosas e com as condições devidas, com museus famosos ao pé e tudo;
  3. e Moisés mandou Passos Coelho avisar o povo que os tumultos não eram desígnio do Senhor, e que não permitiria mais tumultos; e o povo só não delapidou Passos Coelho porque ele era rápido e o povo estava com uma fraqueza muito grande.
  4. E então Moisés apiedou-se do povo e rogou ao Senhor que provisse nas suas necessidades de comida. “Porque não fazes brotar do céu o maná para teu povo comer?”; e o Senhor lhe respondeu:
  5. Porque esse filho de uma vaca espanhola com as tetas a varrer o chão do Passos Coelho privatizou a TAP e agora não tenho aviões para espalhar o maná, ò esperto do camandro!”; e Moisés insistia que algo teria o Senhor de fazer, e ao que respondeu o Senhor: “Aguenta os cavais, isto agora tá bera! Vou-vos mandar o Pedro para vos matar a fome!”;
  6. E Moisés, conhecedor da História do Mundo, logo retorquiu que Pedro só viria depois de João Baptista e Cristo; e que o povo estava a pontos de se esvair em merda se não comesse alguma coisa;
  7. E o Senhor deu-lhe muita porrada e muitas pancadas e lhe partiu os ossos todos do corpo, bradando: “Não permitirei que digas palavrões na minha presença, e se alguém tem de dizer merda aqui esse alguém sou eu!
  8. E não é esse Pedro, é o Santana Lopes, que agora é provedor e querias alguém que provisse!”. E o Senhor enviou o Santana e este distribuiu pratinhos de sopinha a todos, e todos desejavam estar no Egipto porque a sopinha era de nabos e nem tinha couvedo;
  9. E o Passos lá apareceu novamente, exigindo o dízimo de cada pratinho de sopinha, e o povo pagou resignadamente. Mas o povo estava tumultuoso porque os seus filhos e filhas e animais incluindo maridos tinham sede;
  10. E Moisés, ainda de muletas e com equimoses várias, de novo se apresentou ao Senhor, rogando-lhe uma solução: “Porque não me deixas tocar as pedras com o meu bastão para que delas brote água abundante?”;
  11. E o Senhor, aquietando-se, respondeu-lhe: “Porque uma emproada de merda, uma tal de Assunção Cristas, privatizou as águas e agora nem os netos dela têm para regar os sobreiros que lhes plantaram, quanto mais brotar de uma pedra! Isto só neste deserto, pá! Tu num vês notícias? Aqui apanha-se bem a Al-Jazeera!”
  12. E de novo Moisés chorou ao Senhor as misérias do povo, ao que lhe respondeu: “Oub'lá, então o Santana não vos deu sopinha de nabo? Não tinha água, a sopa, pá? Aguentem-se! Olha, só por causa dessa tua atitude da treta, desde já te digo que na SCUT para a Terra Prometida não entras tu! Jamé! Toma, embrulha e vai buscar! Hás-de vê-la é de longe!”;
  13. E apareceu Passos Coelho, e disse que quem não pagasse SCUTs ia preso e o camandro e mais penhoras e não sei mais o quê, que de empresas de construção civil e de lixo percebia ele e mainada! E quê?!
  14. E o Senhor impacientava-se e queria ser adorado no deserto, e o povo só pensava em tumultos nas ruas e até já falava grego, e diziam que era de assim se verem. E o Senhor deu instruções a Moisés para que construísse uma Arca, onde guardaria as Tábuas da Lei, que colocaria numa tenda no deserto, enquanto não fosse construído o novo aeroporto;
  15. E Moisés lembrou-se que as Tábuas estavam partidas e espalhadas lá por casa, onde o mais novo lhes tinha desenhado os Teletubbies e delas fazia um puzzle; e desviou a conversa, que mais tarde lá meteria uns quilitos de areia e ninguém dava pela diferença;
  16. E Moisés perguntou ao Senhor como seria a Arca, e como se chamaria; e o Senhor lhe respondeu: “Pois que se chamará a Arca da Aliança, pois representa a aliança que fiz com o meu povo!”. E Moisés logo retorquiu que isso iria fazer o povo lembrar-se do Passos e do Portas e da aliança que os taxava diariamente, e que por isso não era boa ideia;
  17. E novamente o Senhor o encheu com mais uma carga de lenha das antigas, medidas a quartel, partindo-lhe mais uma vez todos os ossos incluindo os da bexiga, ou assim parecia tal a incontinência demonstrada por Moisés durante o acto, e lhe bradou: “Num tás cá para achar porra nenhuma!”;
  18. E a minha Arca será de ouro, que vais pedir ao Soninho, e ele que peça à Troika se não tiver, tou-me borrifando para o facto, e lhe porás dois querubins em cima, a guardar a sua santidade, também eles de ouro!”;
  19. E Moisés só pensava que o Senhor era um forreta, pois se era mesmo para guardar, punha era dois arcanjos, o Miguel e o Rafael ou coisa que o valesse, pois era mais que sabido que os querubins eram abichanados e primos do outro que andava em trajes menores a flechar os corações dos apaixonados;
  20. E dentro colocarás as Tábuas da Lei, e trata de arranjar Loctite daquela que cola gajos que pensam que são mais espertos que Eu ao tecto, porque bem sei que o teu mais novo já andou a brincar com os pedaços que deixaste lá pela despensa da tua Maria! Não penses que te safas!”;
  21. E colocarás a Arca dentro de uma tenda, e lhe chamarás Tabernáculo! Eu sou mesmo bom, pá!”. E Moisés, muito a custo, lá retorquiu que tabernáculo mais fazia parecer taberna, e que o povo não o iria adorar, mas sempre lá iria deitar abaixo um de três de tinto, o que garantia audiência;
  22. E Moisés recuperou a forma, e estando em forma de pastel de nata, foi acometido de uma terrível doença, e se achava a morrer, porque não tinha cinquenta euros para pagar a taxa moderadora nas Urgências; e o povo subiu ao monte Nebo, e ali acampou;
  23. E o Senhor, apiedando-se de Moisés, lhe mostrou a Terra Prometida, e o deixou ver e contemplar as suas maravilhas. E Moisés emocionou-se e riu, e ficou feliz. E disse: “Senhor, com que alegria vejo a Terra por Ti prometida ao teu povo, que eu nunca pisarei!”
  24. Estou feliz, Senhor, porque é outra merda de um pedaço de deserto como este em que andamos, e se eu não o hei-de pisar, realmente não é melhor do que aquilo que andamos a comer durante quarenta anos: pó e pedras! E a merda da sopinha do Santana!”;
  25. E mais feliz estou, Senhor, por a RTP ter sido privatizada pelo Passos e não dar documentários sobre aquela porra de Terra que estou a ver! Não que valesse de muito, porque desde que o Passos aumentou as tarifas da EDP em 29,99%, já há muito que não acendia lâmpadas, quanto mais televisões!”. E morreu, com um esgar de felicidade no rosto, e o Senhor encheu-o de porrada mesmo assim, bradando: “Daqui a bocado já estás a apanhar no outro lado, meu grande #$%#&%€#$&!!!!”;

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

AJUDEM O URSO

Several species of small furry animals

Caros amigos, visitantes, curiosos e demais almas penadas que não sabem como aqui vieram parar:

Reparei que ultimamente muitos comentários anónimos saltavam os muros e se instalavam placidamente junto dos crocodilos. O que não tem mal algum, sabendo-se que são réplicas de plástico e só atacam quando ficam ressequidos pelo sol. Muitos instalaram-se nas jaulas lá de trás, aquelas que ninguém vai ver, que albergam os pardais e os escaravelhos da batata.

Pior mesmo é que foram impedidos de entrar dois visitantes que muito prezo, bons pagadores de bilhetes e promessas a S.Bento, os meus amigos Catsone (por duas vezes, o que não admira, porque pensaram que era o nariz a acabar de passar a primeira vez quando foi barrado pela segunda) e a minha amiga Menina Ção, Provocação para os desesperados webalélicos que não resistem a fetiches cabalísticos. Ambos foram confundidos com penetras, e não obstante em determinadas alturas das suas vidas recentes ambos os personagens se terem referido insistentemente a penetramentos, por vicissitudes diferentes entre si mas com resultados literários similares, embora em estilos diferentes e registos absolutamente díspares, são, como eu disse, bons pagadores de bilhete e de promessas a Sta. Rita. E dos poucos que aceitam subornos intelectuais.

Ora não é de bom tom nem apanágio deste estabelecimento de recreação animal que tal se faça a bons amigos, ainda que respirem por lareiras ou tenham apetites vorazes - desde que não molestem os animais em exposição, mesmo os crocodilos de plástico adquiridos ao zoo sueco Ikea. Garanto aos amigos que despedi os gorilas imediatamente, facto pelo qual me agradeceram, pois foram trabalhar para o Ministro Ervas na prevenção de tumultos de rua. Os porteiros são agora duas girafas, mas passem por baixo da mais baixa, que é fêmea. Sei que dá menos jeito, mas o macho pode pregar surpresas prostáticas particularmente dolorosas para dentes mais sensíveis.

Equivale a isto dizer que agora têm de pagar uns extras pelo bilhete, facto que decerto aceitarão de bom grado, dado que o país está em crise e temo assaltos ao sítio e tumultos na rua. Por ter de reforçar a segurança intra e extramuros é que vos peço que pacientemente contribuam com mais umas letrinhas na caixa para os pobrezinhos, mas por favor insiram aquelas que o hipopotamo vos mostrar quando abrir a boca. Não, aquilo não é a luz ao fundo do túnel para este país, é só o cu do hipopotamo lá ao fundo.

E assim o urso agradece o vosso contributo, bem como eu. Se pensavam que eu é que era o urso, escusam de o dizer, inferirei das vossas atitudes e palavras assim que se livrarem da girafa macho.

PS: Só mais um aparte: provavelmente só ouvirão temas musicais de uma única banda desconhecida neste estabelecimento de animalidade industriosamente exposta. Habituem-se. Fazem parte dos moradores.

MENSAGEIROS

Imagem Messenger

O que está na moda são os mensageiros. O que está na moda é arranjar alguém que fale ao povo acerca do que se pretende fazer e avaliar as ondas de choque. Nisso ninguém leva à palma ao ministro Ervas. Pôs toda a imprensa nacional a dizer que o aumento das tarifas da electricidade seria de 30%, e esperou pelas reacções. Como seria de esperar, nem aqueles que estão felizes da vida a ver o país a retroceder a olhos vistos ficaram contentes, uma vez que esta coisa da luz toda a gente paga. Vai daí, o moço da economia veio logo dizer que o aumento será muito inferior a 30%.
Depois veio o anúncio, não se sabe muito bem por quem, de que as taxas moderadoras passarão a ser de 50 euros. Ora, a 50 deles, mais vale ir ao médico particular, paga-se o mesmo e não se espera tanto. E até parece ser essa a intenção mesmo. O SNS fica para os ”pobrezinhos”.
Hoje veio um reputado sádico assalariado do partido principal da coligação que nos desgoverna, a cobro dos seus extensos conhecimentos económicos, anunciar que o governo não terá tempo para tomar outras medidas para corrigir o défice até final do ano que não seja tributar 100% dos subsídios de natal aos assalariados.
Vê-se perfeitamente o caminho que levam com estas atitudes. Perante a anuência da nossa pobre imprensa, que tudo faz para dar as notícias que interessam e não dar as que não interessam nada ao governo, o governo desgoverna à vista, com um olho em cada lado: um virado para o Apocalipse segundo o triunvirato, o outro para possíveis reacções do ”gado”. No primeiro caso, se nos espetarem com 20 ou 25% de aumento na electricidade, estão à espera que esfreguemos as mãos e digamos: ”já ganhamos 5%”. No segundo, podem espetar-nos com 40 euros para uma consulta no SNS e estarão à espera que consideremos isso uma poupança de dez euros. No terceiro, até podem levar 100% do subsídio acima do SMN que acharemos que está tudo bem.
Cabe-nos a nós dizermos se estão certos ou não.