sexta-feira, 14 de outubro de 2011

GORDURA


Foto Google

É a expressão do momento: Cortar nas gorduras do Estado! É a panaceia para todos os males do país. O Estado é gordo, obeso, deve comer muitos daqueles pedaços de borracha queimada com açúcar que oferecem aos putos a quatro euros nos centros comerciais. O Estado é enorme, é tentacular, é um sorvedouro dos dinheiros públicos e dos impostos taxados aos contribuintes. Nunca antes vi tanta gente a concordar com uma máxima governamental. E nunca vi tantos ministros a clamarem aos quatro ventos a frase do momento.
É uma aproximação à solução do problema completamente falsa. Só há uma maneira de podermos efectivamente fazer face a uma crise como esta e essa é termos uma economia. Coisa que não temos, porque foi destruída já nos anos noventa e por ela nada foi feito desde então. Cortar gorduras do Estado é uma coisa que aparentemente é fácil. É apenas acabar com os gastos supérfluos. Mas, acabando-se esses gastos supérfluos, verifica-se que a poupança são umas migalhas que não se veem espalhadas pelo chão e que o Estado continua gordo. Onde se corta, então? Nas pessoas, por exemplo. Esta Lei do Orçamento que aplica uma redução salarial de 25% ao ordenado dos funcionários públicos tem duas vertentes de poupança para o Estado: a imediata e menos importante, cortar na despesa com pessoal em 25%, e a real, que é o incentivo à carta de demissão dos funcionários e assim reduzir o seu número.
Mas esta tendência para cortar não é só nas pessoas. É nos consumos igualmente. E o que consome o Estado? Consome, por exemplo, medicamentos e equipamentos para Hospitais, equipamentos para Escolas, equipamentos para a Polícia... Coisas do género. Coisas que não fazem falta a ninguém.
Chegou-me ontem ao conhecimento que um idoso de 70 anos, que há uns anos teve um AVC que lhe tirou grande parte da sua qualidade de vida, teve um episódio parecido ontem mesmo. A esposa, igualmente de 70 anos, chamou o INEM e foram ambos levados para as Urgências de um Hospital da zona Norte, por sinal o Hospital que já havia tratado o idoso aquando do seu primeiro AVC. As Urgências apresentavam-se caóticas e perante as perguntas da idosa, que amparava o idoso na sala de espera, “não há gente suficiente a trabalhar para os atender já, desde há uns meses que tem sido assim...!”.
O casal de idosos esperou seis horas e meia a ser atendido, curiosamente por um médico brasileiro. SEIS HORAS E MEIA para atender um AVC, seis horas e meia em que o idoso afectado perdeu e recuperou dezenas de vezes a consciência e o conhecimento, sentado numa sala de espera de um Hospital, porque não havia gente suficiente para o atender! Seis horas e meia para atender uma pessoa com um AVC, ainda por cima reincidente.
São estas as gorduras que queremos cortar a todo o custo? É nisto que Portugal se vai tornar?? Tenho vergonha daquilo em que querem tornar o meu país! VERGONHA!

PS: O meu pai sobreviveu. Está muito abalado e provavelmente agora ficará com menos algumas faculdades, e não se augura um final muito feliz ou longo. Isto é a vida dos portugueses. É esta a gordura dos portugueses. Todos concordam com o corte das gorduras – mas algum dia calha-vos a todos, também... Não costumo falar muito de mim e da minha vida, mas isto está a chegar ao limite do ridículo!

26 comentários:

  1. Caro cirrus, veja se puder o documentario sicko, de michael more, ( está nos documentários do meo, passe a publicidade). em poucos meses no governo de nixon colocou o sns americano ( sim chegou a existir)de rastos, por falta de verbas... Curiosamente tive também o meu pai com um avc esta semana e só tenho a dizer bem dos hospital s francisco xavier e egas moniz. As melhoras do seu!

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  2. Tripalio, não digo mal do Hospital em que foi tratado o meu pai. Foi bem tratado ao longo de alguns anos. Este incidente não o imputo ao Hospital. Imputo-o aos cortes na "gordura".

    Igualmente, que ambos melhorem são os meus desejos!

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  3. Cirrus,
    independentemente das opiniões contrárias que possamos ter sobre os mais variados assuntos da bloga, vida é vida. Sente-se, goza-se e chora-se.
    Votos sinceros de rápidas melhoras para o seu pai, que arrasto também ao Tripalio. Isso é o mais importante.
    Quanto ao resto... Vamos exprimindo a nossa opinião.
    No fundo será mais para nosso desabafo do que para outra coisa qualquer, porque na prárica estão-se todos nas tintas. Mas sempre aliviamos. Falo por mim.

    Um abraço.

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  4. Não temos, de facto, uma economia. E está tudo dito.

    Quando se vive num país sem economia, as medidas austeras atingem imediatamente os sectores que menos deviam ser atingidos, a Saúde e a Educação. E é claro que esta bola de neve começou nos idos de 90, quando Cavaco era primeiro ministro e havia dinheiro para tudo. Estávamos ricos, imagine-se!


    Eusébio, muito sinceramente, eu já estou farta desta porcaria de governo, desta bosta de crise e da merda da troika. Estou dormente e assim quero permanecer nas próximas horas. De outro modo, prejudicarei gravemente a minha saúde, pensando em todos os motivos que me podem deixar deprimida e desmotivada. E, como sabe, ficar doente nos tempos que correm é duro (a propósito, gostei de lei o "Atestado").
    Portanto, apenas quero desejar as melhoras para o seu pai.

    Boa noite.

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  5. Calculas o que penso! Para ser bem educada só digo: Uma merda, isto tudo!

    Abraço sentido.

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  6. Friend, dentro de uma semana estou convocado para uma reunião onde os meus chefes vão-me dizer que estarão "em cima" de mim a ver o que gasto e como gasto. Acho muito bem, que há colegas que abusam, mas ai deles que me retirem a liberdade de fazer o que penso ser melhor para o doente!
    No CS em que estive antes deste, há cerca de um ano, no SAP, muitas vezes não fazia suturas por falta de fios, ou de luvas; no meu actual, na minha extensão, não existem medicamentos ditos "de urgência";
    Existem inúmeras possibilidades de cortes na saúde sem qualquer tipo de dano aos utentes mas aí correria-se o risco de mexer em interesses instituídos, "tás" a ver a ideia?

    PS: as melhoras rápidas ao teu pai e olho nele: é muito jovem para vos abandonar!

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  7. Se precisares de alguma coisa tens o meu contacto. Boa sorte!

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  8. A cegueira dos políticos no poder é total!
    Um abraço solidário.

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  9. Boa Tarde,

    Votos sinceros de melhoras para o seu Pai.

    e.

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  10. André, obrigado, antes de mais. Não discordamos tantas vezes como isso e devo dizer que há gente que se importa verdadeiramente. Não tenho necessidade de empreender esta luta, nem pela exposição que me dá perante colegas e organização de trabalho, nem sequer pelo meu estilo de vida, que (ainda) não está ameaçado. Nem tão pouco tenho filhos que justifiquem o querer deixar um futuro melhor. Apenas adoro o meu país. E assim continuarei.

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  11. Liliana, obrigado. Estamos todos fartos, é certo, mas por isso mesmo não é hora de desistir. Ontem começamos algo engraçado, que poderá, ou não, crescer. Assim decida o povo português.

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  12. Malena, efectivamente! Obrigado, espero que tudo esteja a correr bem.

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  13. Catsone, é mesmo isso! Eu não censuro quem atendeu nas Urgências o meu pai, Sei apenas que há quatro anos, embora o INEM no início pensasse que ele estava com uma bebedeira (o homem não bebe há mais de 50 anos), foi atendido e tratado bem mais depressa. Julgo que no fundo os meios eram outros. Mas o país também era outro...

    A ver vamos, não me parece que o processo seja reversível... mas obrigado pela preocupação.

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  14. Dylan, tenho sim. Obrigado!

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  15. Pronúncia, é essa a palavra: Força. Foi a palavra que dei à Malena.

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  16. Malena, eu creio que eles são efectivamente autistas. Vivem num outro mundo que não o meu. E eu não vivo nem imagino sequer outros mundos, bem piores. São uma cambada de filhos da puta, assim mesmo, porque já se me acabou a paciência. Sinto o abraço.

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  17. e.,

    Obrigado. Seja bem vindo.

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  18. :S :S não fazia ideia, só agora li...

    espero sinceramente que o teu pai esteja melhor...
    as melhoras...

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  19. Ao cortarem nos incentivos médicos para os transplantes já me estão a tocar...

    (Força para o teu pai e para ti. Abraço)

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  20. Cirrus, é revoltante. E acredita que ponho todo um peso nesta palavra que escrevo. Já tive de assistir à minha avó, doente, no S. João, também à espera durante horas num corredor, e pergunto-me como é possível isto acontecer, como é possível que aquilo que de mais importante há na vida, que é a saúde, estar neste estado. Um AVC tem de ser tratado o mais cedo possível. Não concebo como é que o teu pai tem de esperar 6 horas e meia para ser atendido e isso não tem consequências, como é que a imprensa não se bate por relatar esse episódio, como é possível isto passar incólume.

    Estou enojada com isto. Devias escrever para o Ministério da Saúde, para o Jornal de Notícias, param o mundo.

    As melhoras para o teu pai...

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  21. Noya, espero que não te façam mossa. Obrigado.

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  22. Sara, é verdade que é revoltante, mas uma queixa iria recair sobre quem menos tem culpa, que é quem o acabou por atender. Os Hospitais começam a não ter meios para o atendimento. Não será por acaso que o administrador da Médis seja agora Ministro da Saúde...

    Obrigado, vamos ver como a coisa evolui. Mas já é o segundo, sem contar com réplicas...

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  23. Cirrus, não estou a culpar o médico, estou a dizer que estas situações, esta deficiência gritante de meios, tem de ser denunciada. Andamos aqui a discutir taxas moderadoras e outras que tais. Sim, senhor, se isso significar verdadeiro atendimento. Actualmente, eu não sei bem para o que é que desconto.

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  24. Sara, há muito que ando a dizer que corremos o risco de pagarmos duas vezes, através de impostos e depois através de custos ou taxas, os mesmos serviços, que ainda por cima se tornam escassos na oferta. Basta olhar para as estradas. Isso vai chegar à Educação e, assustadoramente, à Saúde. Chamo-lhe o estado de não retorno fiscal.
    No entanto, temos de protestar, denunciar contra o sistema e não contra as pessoas que, pelo que pude ver, fazem o melhor que podem com muito menos e ainda por cima vêem o seu rendimento diminuído, em dois anos, cerca de 25%. O nosso protesto é como temos vindo a fazer, não adianta apontar situações específicas, mas sim denunciar todo o sistema. Claro que esta situação foi gritante, e aí está, para quem quiser ver, denunciada. Mas apresentar queixa contra o Hospital? Prejudicar quem apenas fez aquilo que podia? Isso não me ocorreu.
    A minha luta não é pessoal, é pelo futuro do país. E nem tenho filhos, por isso nem sequer me tocaria a mim. O facto de ser o meu pai a passar por esta experiência não a torna especial aos olhos de ninguém, apenas aos meus e aos da minha família. Não quero tratamento especial, quero apenas denunciar o que está mal, por uma questão de justiça, nada mais.

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