sexta-feira, 24 de junho de 2016

EUROSÃO

Desenho Original de Marco Joel santos
A Grã-Bretanha vai sair da União Europeia. As consequências, dizem, vão ser tremendas para os súbditos de Sua Majestade. Piores serão ainda para todo e qualquer estrangeiro apanhado nas ruas britânicas. A União Europeia continuará o seu caminho impávida e serena perante este pequeno revés. Os bifes é que as vão pagar.
            As reacções de um lado e outro do Canal são do mais cómico que já vi. Tendo em conta aquilo que se escreve todos os dias por aí em jornalecos, e se opina frequentemente em canais televisivos de duvidosa índole, já me ri um bom par de vezes hoje. A verdade é que fui dormir com a vitória do tá-se bem e acordei com a vitória do fuck off.
            O UK, e que bela sigla é esta, votou pela saída da EU. Note-se – VOTOU. Não foi um processo decidido por nenhum político, nem sequer pela rainha de Inglaterra. Foi decidido pelo voto do povo. Que glorioso é o sentido democrático de todos quantos acham “triste”, “racista”, “precipitada” e outras coisas até bem piores, esta decisão do povo britânico. Que lindo, sermos nós a qualificar aquilo que um povo inteiro decidiu. Que superiores somos, que moral elevada temos, quão excelsa é a nossa opinião, o quanto somos os mais sábios dos mortais! Hoje, quase toda a gente esqueceu, neste país, que mora no cu da Europa, na latrina alemã, onde os alemães só aparecem para fazer merda, e que esta Europa, que ainda ontem era um massivo directório pouco franco – muito alemão, hoje é o paraíso na Terra e que os ingleses, afinal, é que são os maus da fita. Adivinhem: provavelmente estão-se marimbando para o que deles dizem. Nós é que somos os que estão sempre preocupados com o que de nós dizem os outros no estrangeiro, não eles.
            Qual o receio dos britânicos? Voltar a tempos antigos? Ao isolacionismo proporcionado pela sua insularidade? Que a sua economia baqueie e o reino mergulhe numa crise nunca vista? Talvez. Longe vão os tempos do Império Britânico, pelo que agora são só mais um pequeno país na pontinha de um pequeno continente chamado Europa. Desenganem-se. Assim tivesse Portugal um décimo da influência britânica no Mundo… e qual o receio dos europeus, afinal? Que tenha desaparecido da EU o único país europeu que sempre pagou para a Europa mas nunca recebeu? Ou que a economia britânica baqueie e arraste parte da sua? Desenganem-se, não há economia europeia, só há economia alemã. Não perceber que o projecto europeu falhou, que aprofunda diferenças, atiça ódios, lança radicalismos e tentar agora acusar os britânicos disso não é ingénuo. É, pelo contrário, de má-fé. Falhou. Move on.
            A legitimidade da decisão, como já referi, é do povo britânico. Não de uma comissão europeia comandada por um luxemburguês despedido por corrupção constantemente em estado etilicamente debilitado, em que ninguém votou e que ninguém conhece, colocado na função por jogos de conveniência. Não foi decidido por radicais de esquerda ou de direita, pois 52% de um povo não pode ser radical. O reino votou massivamente na saída, enquanto Londres votou para manter a City a funcionar e os escoceses votaram contra os ingleses. Nada de novo, vindo do país que está de olho no petróleo do Mar do Norte, pretendendo-o como propriedade exclusiva dos seus quatro milhões de habitantes.

Cada um tem as suas razões. Quem votou pela saída não votou por ser racista ou xenófobo, pois a zona com mais imigrantes votou pela permanência. Não votou porque lhe apeteceu agora dar um piparote na política europeia. Votou porque decidiu assim, votou de acordo com aquilo que tinham e sempre tiveram no seu país e que a UE paulatinamente tem vindo a retirar – serviço universal de saúde, pensões, etc. Mas, mais que tudo o mais, VOTOU! Quando foi a última vez que vocês, tristes profetas da desgraça alheia que não olham a calamidade que se vive no vosso seio, aqui, em Portugal, quando foi essa última vez que votaram para decidir o destino do vosso triste país? Grow up!

PS: texto para o desenho original de Marco Joel Santos

quarta-feira, 1 de junho de 2016

UM FELIZ DIA MUNDIAL DA CRIANÇA

Dia Mundial da Criança, dia 1 de Junho de 2016. Um dia celebrado por muitas crianças e mais ainda por muitos, demasiados adultos. A verdade é que os dias instituídos para nos sentirmos alegres, alerta, apreensivos ou qualquer outra coisa são dias de hipocrisia. Quem tem um filho pequeno não precisa que lhe lembrem que existe um Dia Mundial Da Criança. Mal vai se todos os dias não são dias da criança. Todos os dias são dias da criança.
O que faz com que os nossos filhos sejam especiais face às demais crianças é o facto, simples, de serem nossos filhos. Esquecemos que isso normalmente é norma corrente em todo o mundo, e seja o filho de um americano, de um português, de um russo, angolano ou sírio, esse filho é sempre especial aos olhos dos seus pais. O resto é conversa furada. As crianças, de forma geral, têm os mesmos comportamentos em todas as partes do mundo, aprendem todas a caminhar, a falar, a escrever, a correr e a jogar à bola – pelo menos os meninos.
Comemorar o Dia Mundial da Criança quando, por bestialidade humana, milhares de crianças – sim, dessas especiais, filhas de alguém, dessas que aprendem a caminhar e a falar e a jogar à bola – se afundam silenciosamente no Mediterrâneo, muitas vezes acompanhadas pelos pais, outras ainda na mais completa solidão da sua última viagem, com dois ou três anos de existência, por vezes meses… fica bem a qualquer europa. Por isso, tenham um excelente Dia Mundial da Criança.