quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A RENDIÇÃO DE PORTUGAL AO ISLÃO RADICAL




            O novo Califado está em marcha, dizem-nos as notícias vindas do Próximo Oriente. O chamado Estado Islâmico está em expansão na Síria e no Iraque, e as notícias das atrocidades cometidas em nome do Islão são recorrentes. Aliás, não era já necessário que nos chegassem estas notícias, pois já sabíamos que o Islão tem um longo historial daquilo a que chamamos barbárie humana na sua mais pura essência.
            A novidade parece prender-se apenas com a oportunidade, e com a força que o movimento apresenta. Nem sequer é novidade o objectivo do movimento, a restauração do Califado. O que é o Califado? Era um reino teocrático, com sede em Bagdade, presidido por um Califa que, de uma forma mais ou menos clara, era descendente da família próxima de Maomé. Abrangia todo o Próximo Oriente, Norte de África, parte do sudeste da Europa, a Península Ibérica, Pérsia, Afeganistão, Grande parte das ex-repúblicas soviéticas do sul, parte da Índia e mesmo da China. Um império.
            A situação na Península Ibérica foi vantajosa para os povos envolvidos em quase todas as vertentes, pois os avanços em quase todos os domínios que os sarracenos trouxeram fizeram do sucessor do grande Califado na Península, um novo califado conhecido por Al-Andalus, a idade de ouro da Península Ibérica, que só retomou algum do seu brilho com a unificação de Espanha e com os Descobrimentos.
            No entanto, o fundamentalismo islâmico pouco ou nada tem a ver com os tempos áureos do Al-Andalus, a não ser uma vaga pretensão do Estado Islâmico à posse da península. Vaga mas, dizem, real. A conquista da península ibérica por este grupo de energúmenos da pior espécie seria uma catástrofe inimaginável. Mas uma catástrofe que não acontecerá por certo. O profundo desprezo por tudo o que não caiba na Sharia – não necessariamente no Corão, pois são coisas diferentes – é um facto real nas vidas destes fundamentalistas idiotas. Não só nas deles, mas nas de muitos islamitas por esse mundo espalhados. O que mais ressalta é o profundo desprezo pela mulher, o rebaixamento do sexo feminino à condição animal, quando muito.
            Será escusado, no entanto, o Estado Islâmico pensar em invadir a Península Ibérica, ou pelo menos Portugal, para instaurar a Sharia e o rebaixamento das mulheres portuguesas à condição de propriedade masculina. A verdade é que Portugal há muito se rendeu a essa condição. A passividade do país inteiro, incluindo movimentos caritativos ou de promoção dos Direitos Humanos à verdadeira tragédia que se desenrola em torno das mulheres portuguesas, ou uma boa parte delas é sinal de que Portugal há muito se rendeu ao fundamentalismo islâmico. Ou hindu, ou cristão, ou judaico. Qualquer fundamentalismo religioso, na realidade, pois todos eles rejeitam a igualdade das mulheres.
            É impressionante o número de fundamentalistas islâmicos que Portugal já comporta. Todos nos relembramos dos fundamentalistas de S. João da Pesqueira e de Carrazeda de Ansiães, aplaudidos à saída do Tribunal depois de aplicarem a Sharia às mulheres da sua própria família. O número de queixas de mulheres sujeitas a violência doméstica em Portugal é assombroso, e este é um daqueles assuntos de que Troika ou OCDE nenhuma fala. É uma vergonha ser português, ao constatar aquilo que se passa neste particular.
            E as que não apresentam queixas? E aquelas mulheres que se dirigem às autoridades para ouvirem que podem ir para casa “lavar a louça”? Não, não é ficção. É o Estado teocrático em que vivemos, o Estado fundamentalista, uma sociedade podre em que podem cair os tomates a qualquer “chefe de família” se não mandar uns berros à sua “mulher”, e não lhe “acertar o passo” de vez em quando, ou de quando em vez e até todos os dias. Como reportar estes abusos, se as autoridades bebem uns copos com o criminoso no café da aldeia? Sim, é que Portugal não é só Lisboa e Porto…
            E que dizer das mulheres que, miraculosamente, conseguem provar a violência doméstica? Vêem os seus agressores castigados com risíveis multas ou penas suspensas, e ainda por cima perdem os filhos, se os houver, porque o “lar não reúne as melhores condições para a co-habitação de menores”...
            Isto não é a Síria nem é o Iraque, nem o Afeganistão. As nossas mulheres não andam de burka nem de nikab. Mas caem nas escadas muitas vezes. Isto é Portugal, e isto é uma vergonha com que nos devíamos preocupar. Muito, mas muito mais do que com o distante Estado Islâmico… 

PS: Parece que só combinando as palavras Islão e Radical se consegue chamar a atenção das pessoas. Acho que o assunto merece o "engano".

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

BACKLASH

Ilustração Marco Joel Santos
Ouvir, dizem, é uma virtude. Por vezes, acredito. A capacidade de ouvir outra pessoa com certeza não será a pior das virtudes. Mas mesmo assim, por vezes saber ouvir não passa de um exercício de masoquismo. Terá, com certeza, a ver com a pessoa que ouvimos. E também, em larga medida, com a coerência do discurso que ouvimos. Ouvir algumas pessoas falar é decerto penoso, ou porque já nada têm para dizer, ou aquilo que dizem entra em conflito directo com aquilo que lhes ouvimos noutras alturas, mais ou menos recentes. Ou seja, aquilo que os anglo- saxónicos referem como sendo backlashes, ou seja, o retorno daquilo que se faz ou diz.
E não é por demais evidente que a sociedade portuguesa está cheia destes fenómenos? Pois bem, é só escolher. Quando a crise no GES estourou, tanto Cavaco Silva como Passos Coelho como ainda uma figura tão obscura como inútil chamada Carlos Costa asseguraram ao povo português que uma coisa era o GES, outra, bem diferente, era o BES. Podia confiar-se na almofada de não sei quantos milhões de euros não sei de onde. Até certos comentadores do Eixo do Mal acreditavam ser assim, como a Clara e o Pedro. A realidade desmentiu-os a todos. Mais grave é o facto de que as três primeiras figurinhas que citei terem tido conhecimento de tudo já quase há um ano.
O endeusamento de algumas figuras, que não tive grande pejo em classificar, no passado, como medíocres e representativas do estado triste a que esta nação chegou, por parte de boa fatia da nossa excelsa bancada de comentadores económicos e políticos, havia de chegar ao ponto BACKLASH. Zeinal Bava, por exemplo, um dos grandes gestores portugueses, que se revelou, afinal, como o coveiro de uma das maiores empresas portuguesas, laboriosamente construída ao longo de décadas pelo Estado português, a PT, ou o senhor mais que tudo e todos Ricardo Salgado mais os primotes, que destruíram o BES. Não é que as pessoas que os bajulavam e endeusavam agora pretendem sempre os terem detestado, e terem sempre avisado para a sua fraca qualidade?
Soares dos Santos afirmou, alto e bom som, que detesta o investimento chinês em Portugal, que não traz coisíssima nenhuma. Não explicou que coisíssima traz a Portugal pagar os impostos sobre os lucros da sociedade a que preside ao estado holandês. Por outro lado, afirma ainda que Portugal tem de deixar de ser uma aldeia fechada para ser uma economia aberta ao mundo. Não explicou como impedir o investimento chinês numa economia aberta. Diz que não consegue transferir pessoas que tem a trabalhar na Polónia para cá porque o corte na qualidade de vida dessas pessoas seria, por via fiscal, incomportável. Não explicou porque razão não os compensaria para evitar esse corte. Afirma que Portugal precisa de mudar a sua estratégica política, mas não explica porque razão gostaria de ver perpetuados no poder os partidos que gerem os destinos do país há mais de 40 anos.
Passos Coelho afirma - com toda a razão, diga-se - que a Constituição revela exactamente quando se devem realizar eleições legislativas, e que por essa razão, não entende os que clamam por eleições antecipadas (eu também não, confesso. Acho que o povo português ainda merece sofrer um pouco mais, pelas escolhas que fez). Mas Passos Coelho esquece que a sua interpretação da Constituição devia ser escrutinada. É que descobrir que este país tem uma Constituição neste momento é descobrir três anos tarde demais.