terça-feira, 30 de março de 2010

VAI DORMIR!


Por cada razão que me faz ter alguma reserva em relação ao facto (não escolhido, é certo, mas assumido com orgulho) de morar neste país, aparecem-me logo coisas destas. Sim, já sei, é a corrupção, é a justiça, é a saúde, é a educação e é um sem fim de problemas que este país atravessa. Mas, no geral, considero que este país é dos mais agradáveis do mundo. E não estou a exagerar por ser português.


A Grã-Bretanha tem por hábito chamar a si o epíteto de país mais civilizado do mundo. Não discuto, são opiniões. Há sítios piores no mundo, como o Afeganistão ou o Iraque. Ou a Coreia do Norte. Ou a China. Ou a Índia. Ou a Espanha. Ou a Grécia… Ou páro ou acabo na América… Ou em Portugal. O facto é que “civismo” pode ter diferentes significados consoante os sítios. Se em Portugal deixar o prato vazio após uma refeição é sinal de boa educação, nos países árabes é sinal para encher de novo o prato, uma vez que não ficamos, obviamente, saciados. Se em Inglaterra o ritual do chá é muito elaborado, mas consiste em deixar folhas de plantas mergulhadas em água quente, os tuaregues perdem meia hora de vida a preparar o (delicioso) “chai” de menta. E se aqui no ocidente a pessoa que entra primeiro numa sala é a mais importante do grupo, já num país do Médio Oriente é a última a entrar (por isso a célebre rábula do “after you” entre Arafat e Sharon – era o Sharon? - em Camp David).


Na Grã-Bretanha, à parte o facto estúpido de 90% dos ingleses considerar que a Rainha não acede a necessidades fisiológicas como um mortal (da célebre mijinha ao arreio do calhau após um condimentado caril indiano), parece que o civismo é total. A fleuma e boa educação “very british” são conhecidas em todo o mundo. A não ser nas escolas e nos supermercados!!! Aha! Apanhei o pessoal de surpresa! Pois a boa educação nos supermercados e escolas britânicos é uma coisa que apelidaríamos de primitiva em Portugal. E em alguma coisa teríamos de ser melhores do que eles, para além de selecções nacionais de futebol.


Elaine Carmody, moradora de Cardiff, considera que a nova regra que o supermercado onde se desloca todas as manhãs está a impor é “ridícula”. Considera ainda que “vão perder a clientela toda!”. A senhora diz que “tenho dois filhos, não tenho tempo de me aperaltar!”. Aperaltar é uma coisa, outra é ir de camisa de dormir ao supermercado, todos os dias, comprar o pequeno-almoço!!! Para já, alguém devia explicar a existência de frigoríficos aos britânicos, pois nem todos os dias será necessário comprar o pequeno-almoço… Além disso, alguém por favor explique à senhora que as roupas com que esteve a dormir e a fazer sabe-se lá mais o quê na cama com o marido não são o mais indicado para sair à rua. Terceiro, “a clientela toda”? Mau…


Em Belfast, o director da Escola Primária (!) de St. Matthews, proibiu que à porta do estabelecimento parassem automóveis conduzidos por mães, deixando os filhos nas aulas, vestindo “camisa de dormir, pijama e até lingerie, o que constitui uma falta de respeito pelo estabelecimento” e um “mau exemplo aos próprios filhos”. Deve ser português.


Fora de brincadeira, o que realmente estranho e é vagamente preocupante, é o exemplo que os britânicos dão aos seus próprios filhos e não o dilema moral ou até higiénico da questão, embora, sinceramente, me queira parecer que este último é altissimamente pertinente. Numa altura em que todos estamos preocupados com as nossas escolas, e em que todos acusam os pais de as usarem como armazéns de filhos (sempre gostava de saber se os professores também não são pais e se levam os filhos para o emprego), como se ninguém fosse obrigado a trabalhar em Portugal, pergunto-me que efeito teria o estabelecimento de subsídios à natalidade que permitissem às mães (ou pais – medo!) simplesmente tomarem conta dos filhos em casa… Fez-me pensar duas vezes… Isto de conduzir em lingerie até acho bem, mas primeiro levem os putos ao infantário, por favor!


sexta-feira, 26 de março de 2010

O ABOMINÁVEL CARREIRA DAS NEVES

É um eminente “biblista”, pelo menos a partir do momento em que disse que Saramago não sabe ler a Bíblia como literatura. É o Padre Carreira das Neves, que, acerca das recentes denúncias de pedofilia por parte de membros do clero, teve estas iluminadas palavras:

Há 30, 40 anos não eram crime (…) A pedofilia não era crime. Não sei se é justo incriminar quem a praticou, porque infelizmente não era crime”.

Alíás, como ele próprio refere, também a escravatura, durante muito tempo, não era crime. Ora, se não era crime, tudo bem! Siga a festa! E está tudo dito!


PS: Foto Google

quarta-feira, 24 de março de 2010

MOMENTO TELEVISIVO


Espantoso o momento televisivo de hoje. Logo após o jantar, a reportagem da RTP 1 denominado Linha da Frente. Uma reportagem magnífica sobre a participação de portugueses na Guerra do Afeganistão, como consultores do Alto Comando do Exército do Afeganistão, que está envolvido na guerra do... Afeganistão, tal como o exército americano, também envolvido na guerra do... Afeganistão!


Abriu com uma mensagem de um oficial americano, que com convicção disse: “Estamos aqui para ajudar o povo do IRAQUE!”. Ou seja, ou muito me engano, ou todos os iraquianos abandonaram o seu país e fugiram para o Afeganistão para escapar à Al Qaeda...

PS: Foto Google



O REGRESSO DA PANTERA

Foto Google

D.António Marto, bispo de Leiria-Fátima. Ontem liguei a TV na SIC enquanto ceava, por volta das duas horas e deparo-me com uma entrevista a este personagem, em pleno Santuário de Fátima. Para dizer a verdade, fiquei agradado com muitas das coisas que ouvi D.António dizer.


Sobre a crise, teme uma explosão social “sem violếncia, mas temos os protestos, não é?”. Concordo inteiramente, vem aí muita contestação social. Sobre o convívio com outras religiões, abre as portas do Santuário a outras confissões, apesar da “matriz obviamente católica”, e até teve um ministro iraquiano, islâmico, com certeza, que “ali, em frente à Capelinha, chorou, lembrando-se certamente da guerra no seu país”.


Sobre a pedofilia, repetiu aquilo que já há muito digo: o celibato nada tem a ver com a tendência pedófila. Até porque muitos pedófilos são casados. Não conhece casos concretos na Igreja portuguesa, mas não pode assegurar que não existam. Até porque a “origem da pedofilia é... é... um mistério, não é?”. Mas, a existirem, condena-os vivamente.


O semblante é afável, o sotaque ligeiramente arrastado, mercê, provavelmente , de origens beirãs e dos estudos na Alemanha e em Roma, onde foi aluno do Cardeal Ratzinger. Gostei do senhor. Sabem bem que sou crítico para com todas e qualquer religião, mas devo confessar que gostei do senhor bispo de Leiria-Fátima.


Mas o mais importante foi ter uma sensação de feliz nostalgia quando olhava para o ecrã e não via D.António Marto, mas sim Peter Sellers. A parecença, penso, é mais que notória. Dado o cenário, cheguei a pensar que seria um novo filme, o Regresso da Pantera Cor-de-Rosa, em “O estranho caso do roubo da imagem de N.S.Fátima". Éramos capazes de ter filme...

PS: E só não digo que podia ser o Dr.Strangelove porque, apesar de se tratar da Igreja, penso que não daria um final apocalíptico...

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terça-feira, 23 de março de 2010

A PROMOÇÃO


Ora bem, isto é assim: confesso que não percebi muito bem. Para já, estou confuso espacialmente. Ou seja, onde estou?? À porta de uma loja de lingerie? Ou à porta de um bordel?


Se estiver à porta de uma loja de lingerie, quer dizer que o produto em promoção é o soutien. No que consiste a promoção? Pois, compramos um soutien e oferecem-nos uma queca. E tudo por 9,90€!! Fantástico! Se bem que, por este preço, não quero imaginar a empregada encarregada de dar a “oferta”.


Se estiver à porta de um bordel, pois... Bem, o produto em promoção é a queca, e ainda oferecem um soutien... Tudo por 9,90€!! Põe-se o mesmo problema, não quero imaginar a aparência da “funcionária” que faz o serviço por 9,90€! Com a agravante de o soutien provavelmente ser usado... por ela...


Não vos escapou nada, pois não??? Suas grandes bestas machistas, é o que vocês são, e isto sou eu a brincar, não quero insultar os clientes masculinos (poucos) que tenho cá no botequim. Pois, mas esqueceram-se do cenário mais provável... Isto ser uma loja de lingerie. Eu até acho giro os homens comprarem lingerie para as senhoras (no fundo, estamos a presentear-nos a nós próprios, não é?), mas a realidade é que são elas que mais vezes entram nestas lojas... Digam agora que a promoção está mal feita!!! Só espero é que, além da queca e do soutien, não tragam ainda os 9,90€. Isso é de mau gosto. Já não basta ser ornamentado, mas também chulo... Porra!


Por outro lado, e se se der a improvável hipótese de ser uma senhora à porta de um bordel... Eh pá, isso é muito complicado, deslindem vocês o caso!!



PS: Imagem Google

segunda-feira, 22 de março de 2010

A ALMA DA GENTE

Como sabem, não costumo falar de bola por cá (embora seja a segunda vez em pouco tempo). Poucos dias depois da melhor vitória da presente época do meu clube, houve hoje uma espécie de final de uma taça com nome de cerveja. Que é igualmente amarela e tudo. O jogo tinha tanta importância que, depois do triunfo de 5ªfeira, nem me lembrei de me sentar em frente à TV antes do intervalo.

Sem grande surpresa, estávamos já a ganhar dois a zero. Nada mais seria de esperar, dado o bom momento da equipa do Benfica perante um adversário de valia muito inferior. Vi a segunda parte desenrolar-se ao ritmo da equipa de reservas do Benfica. Interessante e pouco mais, já que a equipa contrária parecia ter feito falta de comparência. Se não fez, podia ter feito, pois sabiam perfeitamente qual o resultado do jogo, sendo a única incógnita por quantos seriam goleados. É que o Benfica necessita realmente de um adversário à altura, e esse será defrontado para a semana.

Enquanto jogarmos com equipinhas destas, pouco ou nada poderemos aferir sobre a real valia da equipa, e nesse aspecto dou razão aos adeptos contrários, que o afirmam desde a pré-época até agora. Pensei que já estivéssemos adiantados no calendário, mas parece que não, ainda estamos na pré-época, pois ainda não senti que esses adeptos tenham ficado convencidos fosse com que adversário fosse.

Acabou o jogo em três a zero, mas não deixei de ter a sensação que jogar a ritmo de treino não é o melhor. Devíamos, mesmo com quatro reservas no relvado, ter encarado o jogo a sério e não fazer o “frete”. As equipas contrárias merecem o nosso máximo respeito mesmo quando, neste momento, estão uns patamares competitivos abaixo, como o adversário de hoje.

O treinador da equipa adversária achou que o jogo foi muito equilibrado. Também eu, para ser sincero. Se tivéssemos desiquilibrado, teríamos dado uns seis, ficamos pelos três, por isso, para mim, e perante a diferença de valores em campo, foi quase como um empate. O Jesus lá teve de ganhar uma coisa que não era prioritária, devia ter dito aos jogadores para deliberadamente perderem. Podia ser que ficasse apenas dois a zero. Seria mais emocionante. Dedicou a vitória ao pai. Só espero que o senhor seja benfiquista.

Por outro lado, vi um árbitro com medo do capitão da equipa contrária. Ou então era de família. São ambos do Porto, portanto é possível. Parece que o homem já tinha feito das dele na 1ªparte, dizem que foi muito pior. Mas, pior do que quê?! Do que isto?? Cuspir na cara do árbitro, agredir toda a gente, gritar com companheiros e adversários?? Parece que na primeira parte mostrou quatro dedos. Falhou por um, o Benfica só jogou a 50%. Se fosse a 100%, provavelmente teria de usar as duas mãos.

Uma coisa foi interessante. Remates na segunda parte houve poucos. Um do David Luís, outro do Di Maria, e pouco mais até ao golo. Gestão do esforço?? Remates de quem?! Do adversário?! Não, ou rematavam ou agrediam os adversários. Também não se pode querer tudo, a equipa é modesta e não dá para isso tudo...

Aqui há tempos, houve um blog qualquer que chamou filho da puta a jogador do Benfica, por agredir um adversário (foi castigado por isso e fiquei contente). Claro que quem lhe chamou filho da puta nunca o fez frente a frente. Ora, vendo que até alguns comentadores conhecidos meus apoiaram esse post com coisas do tipo “gostaria de ter sido eu a escrever isto!”, pergunto-me onde estará agora a legitimidade desta gente...

Ora eu não chamo filho da puta a ninguém. Lá o Bruno Alves deve ter razões para ser assim, bem como o colega Raúl Meireles, que também agrediu um homem no chão na segunda parte. São bons jogadores, são até da selecção e não vou agora desatar a chamar filho da puta a jogadores da nossa selecção. Só espero que na selecção não façam estas figuras, é que eu tenho vergonha. Como dizia, lá devem ter razões. Podem ser mal educados, podem não saber perder, podem simplesmente deixar-se levar pelas circunstâncias do jogo, sabe-se lá? Mas não são filhos da puta. São aquilo que são.

Seja como for, como não tinha assim nada de especial para escrever, cá está. Gostei do dia, foi interessante. Um bom treino para o Benfica, a pensar no jogo com a equipa que ainda lhe faz sombra em Portugal, o Sporting de Braga, a equipa B do adversário de hoje, que está melhor que a equipa A. Foi jogar com os papás sem ponta de lança, não fosse alguém enganar-se e marcar um golo! Mas com o Benfica será diferente. E esse sim, vai ser um jogo interessante. E depois o jogo com o Liverpool, que quase me divide o coração, como sócio do glorioso e membro da International Board do Liverpool FC. Mas inevitavelmente serei forçado a puxar pela equipa que, de facto, em termos desportivos, foi, é e será a alma desta gente portuguesa!

Quem sabe, nestas próximas duas semanas, a pré-época acaba e começamos a jogar com adversários a sério?? É que joguinhos como os de hoje sabem bem, mas... falta concorrência.


PS: Parece que havia ali para os lados de S.Roque da Lameira um excelente terreno com “quatro frentes”... Mas depois vieram os senhores lá de Lisboa e reduziram o excelente terreno de quatro frentes para um rectângulo 10x10 com uma frente apenas, e para mais mudaram-no para ali para os lados de Vila do Conde, com frente para o rio Ave, que tem andado alterado... É melhor proteger a frente que resta, não vá depois constatar-se que tudo o rio levou... É que com enchentes como as de Londres e as de hoje...

quarta-feira, 17 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

A ESPERANÇA

Imagem Google

Não é novidade para ninguém que a política portuguesa e o seu espectro (gosto de usar esta expressão, dá-me a impressão de que os políticos portugueses são todos fantasmas) está acomodado. Além de velho. É que por vezes aparecem umas caras novas que nos dão esperança, mas abrindo a boca se vê a velhice das suas palavras. E se a velhice, na maior parte dos casos, tem a voz da experiência, na política parece ter a voz da experiência do célebre “expediente” e pouco mais. À Portuguesa, sim senhor. À política portuguesa, pois a nossa sociedade já foi muito mais do desenrasca do que é hoje.

Mas é verdade que de vez em quando surgem umas caras e vozes larocas, novas. Não, não falo das deputadas do BE. Isso essencialmente é marketing (mas o que não é?). Falo dos candidatos a líder do PSD. Ora, Aguiar Branco não conta. É uma espécie de Manuela Ferreira Leite no masculino cujo objectivo é perpetuar o modus operandi que quase levou o maior partido da oposição à extinção. Mas depois temos Paulo Rangel e Passos Coelho. Paulo Rangel não conta. O que disse para Aguiar Branco conta para Rangel, com a agravante de este ainda dever mais favores políticos que o primeiro.

Resta então analisar Passos Coelho. Saído da fornada JSD de finais de 80 e década de 90, foi formado pela ideologia absolutista da social democracia ditatorial do Cavaquistão, que transformou este país numa imensa tecnocracia de méritos pouco firmados, resultantes do mais puro tachismo, seguido depois por todos os governos subsequentes. Sendo assim, tive sempre alguma cautela com os vaticínios que auguravam uma viragem de 180º no rumo político do PSD e do país. Ou seja, a esperança de um jovem competente pegar nos destinos do país e transformá-lo, pondo de lado as actuais políticas socialistas de direita e as tradicionais políticas do PSD ditadas nos escritórios da Sonae. Uma espécie de salvador da Pátria. Coisa que a mim me cai mal, uma vez que o último salvador da Pátria atazanou os portugueses durante 40 anos.

Mas estive atento a algumas das propostas de Passos Coelho. Que foram, como se sabe, zero. Até que surgiu o momento pelo qual esperava e o homem lá anunciou uma medida concreta. E disse que pagaria os subsídios de desemprego às empresas, para estas pagarem os salários aos empregados, de forma a manterem a sua capacidade produtiva, com os mesmos gastos. Ora, Pacheco Pereira não diria melhor, mas nos tempos do PCTP MRPP. Estranhei o facto de Passos Coelho, dizendo ser abertamente de direita e querendo ser líder de um partido de direita, ter uma proposta tão dualmente oposta aos seus valores. Dualmente? Sim, porque se a proposta é fascizante do ponto de vista de preconizar mais uma enorme benesse aos patrões, não deixa de ser comunista, pois pretende manter artificialmente a capacidade produtiva, independentemente do mercado ou da competência da gestão das empresas privadas.

Agora imaginemos esta medida a ser implementada em Portugal. De repente, os patrões portugueses entregam planos de pré-insolvência e candidaturas ao novo programa de Subsídio Pré-Desemprego. Deixam de pagar ordenados e contribuições sociais, bem como impostos sobre remunerações. Sim, porque isto “está muito mau!”… Novidade é esta gente dizer que alguma vez esteve bom… Daí por um ano, o Estado, sem dinheiro dos impostos, deixa de pagar as prestações sociais. Resultado: o mesmo. Tudo para a rua. Por outro lado os trabalhadores já poderiam dizer orgulhosamente aos amigos e familiares que estão oficialmente desempregados, embora mantendo o emprego. Situação sempre aliciante, é o sonho de qualquer trabalhador.

Ora, por esta ordem de ideias, penso que Passos Coelho, ao pretender desta forma dar tanto dinheiro a ganhar a patrões, substituindo-os na responsabilidade social das empresas, tantas e tantas vezes esquecida em prol da responsabilidade financeira, não tardará a propor que os clubes de futebol passem a designar a sua própria equipa de arbitragem para cada jogo. Por outro lado, pode também colocar sob a responsabilidade de todos os réus do país ditarem a sua própria sentença em Tribunal. Talvez fosse interessante distribuir uns aparelhos a cada condutor para mudar os semáforos de cor, sempre que quiserem. Já que se dá mais uns milhões a ganhar aos patrões sem que nada se exija em troca… então cada um faz o que quer e ninguém tem nada a ver com isso.

Mas, olhando o outro lado da questão, assumindo o Estado o pagamento de salários no sector privado, também seríamos livres de ir ao próximo stand de automóveis e trazer o primeiro que nos apetecesse, mandando o vendedor receber do Estado. Ou comprar um telemóvel, uma viagem, fosse o que fosse. O Estado paga, mande a conta para o Ministério do Trabalho e Solidariedade Social… Poderíamos ir ao Continente e mandar que o Belmiro enviasse a conta ao Passos Coelho. No fundo, estado mais comuna não haveria à face da Terra… Mas, pelo menos, o Belmiro já não se poderia queixar de que "pagar ordenados custa tanto!..."...

É a tal esperança que nos alimenta a alma portuguesa. Pena é que a esperança abra a boca e consiga dizer barbaridades destas. Impressionante o nível de desfaçatez e desonestidade política e intelectual (dêem-lhe tempo e aparece a outra, como aconteceu a todos os satélites cavaquistas) que uma pessoa consegue transmitir em nome da demagogia.

segunda-feira, 8 de março de 2010

SOL NA EIRA, CHUVA NO NABAL

Imagem Google

Não sou de extremos, embora por vezes pareça. Só não gosto de incongruências. E quando elas acontecem comigo, porque também as tenho, fico irritado. É que não pretendo ser portador de nenhuma verdade universal, nem tenho pretensões de ser citado seja por quem for, tipo filósofo moderno, que diz as mais completas barbaridades sob laivos de culta e insofismável verdade absoluta. Nesse aspecto, estamos a aproximar-nos, pelo lado contrário, dos dogmas da Igreja, quando não nos apercebemos que aquilo que afirmamos como verdade é apenas uma conjectura ou opinião. É puramente nesse sentido que este blogue existe. Não para dizer verdades, porque não as conheço, embora deseje.

Ah! Sim, perdi-me completamente com esta distinção entre opinião e verdade. Pois isto a propósito das medidas de austeridade anunciadas pelo governo grego e seguidas, em menor escala, pelo governo português, agora que foi anunciado o PEC. Já aqui tinha escrito, por várias vezes, que as pessoas deste e de outros países não se aperceberam ainda da situação para a qual nos dirigimos a passos largos.

Quer-me parecer que ninguém ainda se terá apercebido que nada poderá ser igual ao que antes existia. O clima de consumismo, de crédito fácil, de dinheiro para tudo e para todos, tem os dias contados. Nem poderia ser de outra maneira, num planeta com 7 biliões de seres humanos, com condições para albergar, quando muito, metade disso. Se nunca chegou para todos, agora tudo se torna escasso. A crise internacional não é uma causa em si mesma, é apenas o reflexo dos desequilíbrios de recursos a nível mundial e da própria demografia.

Estamos a pagar pelas políticas expansionistas, quando o que nos espera não é a economia do crescimento, mas sim a economia do salve-se o que se puder e sobreviva quem possa. No meio disto tudo, está o povo. Português e outros. Vamos pagar? Certamente vamos pagar. Temos culpa?? De tudo não temos com certeza, mas de algumas coisas, também. A velha máxima de assegurar a próxima geração é uma das abolições que teremos de praticar. Diminuir a população a nível mundial é mandatório. E não porque não tenhamos todos o direito a ser felizes e de ter os rebentos que entendermos. É que as próximas gerações também têm o direito de ser felizes e não morrerem à fome e sujeitarem-se à mais vil forma de indignidade: a pobreza extrema.

Quanto às medidas para corrigir os défices da Grécia, é evidente que algo tem de ser feito e compreende-se o desespero de um governo que vê cair por terra todas as suas contas. Não interessa de quem é a culpa, agora há que fazer-se algo. Mas vejamos: cortes de 30% nos salários da função pública? Não será, pergunto eu, uma medida contraproducente? Claro que reduz substancialmente a despesa pública, evidentemente parece ser uma medida desesperada, dura, mas necessária. Mas… o privado não vai seguir essa norma, não terá essa liberdade? Se a seguir, não será verdade que tanto a poupança como o consumo descerão a níveis catastróficos? Se tal suceder, qual a receita de impostos directos e indirectos esperada a seguir a uma hecatombe do mercado? E este mercado não é o virtual, o da Bolsa. Falo na vida quotidiana. Então pode presumir-se que se corta na despesa uns 15% para se deixar de receber menos uns 50% da receita em impostos? Sei lá, são números atirados para o ar. Cada um apanhe aquele que quiser.

quinta-feira, 4 de março de 2010

OS DEUSES DESCEM À TERRA


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Ilustração Marco Joel Santos
Uma noite, como qualquer outra. Fria, longa, aclarada pela refulgente lua de Fevereiro, lá em cima, qual moeda de prata aos pés de Judas, que brilha, que resplandece para a todos lembrar a derradeira traição. A noite, fria e clara, longa de Inverno, com uma luz macabra, mortiça, vinda das veredas que circundam a aldeia, cobertas de alva neve.
As árvores sem folhas ganham novas protuberâncias, pingentes de cristal, que mais ainda reflectem e fazem sentir a presença da lua, prenhe de vinte e oito dias. Esta não é terra cristã. As velhas vão à missa, bem cedo amanhã, proclamar uma Fé em que não acreditam. Porque esta terra não é cristã. Esta terra é da noite, desta e das imemoriais noites da história remota, que esquecida seria se a terra fosse cristã. Mas esta terra não é cristã.
Esta lua pressagia a desgraça, enquanto se vai pondo, quase tocando os cumes dos montes. E vai-se tornando vermelha, cada vez mais vermelha, até nos parecer esvair-se em sangue vivo e borbulhante, que cai sobre a terra e a contamina. É nestas noites, dizem as velhas que vão à missa amanhã bem cedinho, que os demónios descem à terra para a assolar, é nestas noites que o gáudio dos deuses substitui a quietude da montanha. É nestas noites, em que as deusas se ocupam dos vinte e oito dias de gestação de sua mãe, que os deuses descem à terra enquanto o seu pai não acorda e não desponta o seu esplendor pelos céus.
Sós, os deuses estão livres para demonstrar o seu poder. Numa noite como aquela, fria, longa de Inverno. Os seus passos ecoam pela neve, ao redor da aldeia. As janelas estão fechadas, as trancas estão postas a todas as portas, o povo jaz nos seus catres, incapaz de dormir, adivinhando a presença dos devastadores filhos do sol. Os lobos aproveitam a quietude geral para assaltar as ruas, espalhando a matilha pelas ruelas estreitas. Os deuses revolteiam agora em redor da igreja, símbolo da Fé que pretendeu substituí-los na memória dos homens. Mas os homens não esquecem. Não podem esquecer. Bastar olhar para cima para ver a mãe prenhe. Os seus filhos andam à solta na noite de fim de ciclo.
O lobo parou. Perscrutou o limite da rua. Elevou o focinho negro e farejou. E farejou. E viu. A figura subia a rua ao seu encontro, com passos lentos e seguros, pesados de confiança. O lobo estava quieto. O lobo não desviou os olhos daquela figura, ainda encoberta pelas sombras do casario alto. Pelas frestas de luar entre telhados, o lobo vislumbrou a figura, e apercebeu-se da sua hedionda compleição. Viu o vulto agigantar-se na rua, ao seu encontro, cada vez mais perto. O lobo sabia que era tarde demais para fugir. O fascínio dominava o medo. O vulto ia recolhendo, nesta e naquela porta, as ofertas que os aldeãos semeavam pelas ruas, tentando aplacar a sua ira. Era pelas ofertas que o lobo ali estava. Tinha-as farejado. Mas agora não, não tinha tempo para desviar o olhar do deus que subia a rua, recolhendo o sacrifício humano.
O deus vestia vermelho vivo, os seus gestos eram elegantes e lentos, majestosos como quem sabe ser aquela a sua noite, como quem sabe que o seu poder até pelos lobos é conhecido. E o lobo, parado, observava os movimentos, tentava estabelecer contacto com os olhos do deus. Quando lhe viu a face, deitou-se em sinal de medo e de respeito. Pois que a face do deus era de vermelho vivo, e seus olhos tão vivos que o lobo temeu o seu olhar. E o sangue que lhe escorria lânguido pela cara.
O deus parou em frente ao lobo. Olhou-o demoradamente. Observou aquela criatura, das mais temidas da terra, a prestar-lhe o seu tributo. Atirou-lhe uma oferenda, afagou-lhe o focinho, sentindo-lhe os caninos com um polegar gélido, e afastou-se.
O lobo esperou pelos primeiros raios de sol para abocanhar a oferenda e rumar aos montes onde a alcateia se reuniria e voltaria a reinar nos próximos vinte e sete dias e noites. Ainda conseguiu aterrorizar as velhas que iam para a missa, bem cedinho.
Porque esta terra não é cristã, esta terra é dos mitos que a povoam. Quase lhes sentimos a presença, quase vislumbramos as suas faces vermelhas e os seus movimentos lânguidos. Porque esta terra não é cristã. É terra de Deuses e Lobos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA!


Feel the force, young Skywalker! Let the force take over! Behold the power of the dark side!

Não resisti. Por falar em rainhas de colmeia…

SERÁ QUE RESULTA?

Quando chegamos à idade adulta, perdemos demasiado. Perdemos a acutilância, a espontaneidade e a sinceridade. Perdemos aquilo que mais nos caracterizava na infância: a honestidade e a enorme capacidade de improviso. Tornámo-nos máquinas calculistas, sempre a medir os riscos desta ou daquela acção. Quando éramos crianças, as coisas pareciam-nos mais simples e bem mais reais. Como adultos, vivemos num mundo artificial, no qual a aparência é mais importante que propriamente aquilo que pensamos ou somos na realidade. Na verdade, perdemos aquilo que nos faz humanos: a capacidade de viver a vida em nosso proveito, para passarmos a viver em função dos outros, sejam-nos ou não queridos.

Por esse motivo, a sinceridade de uma criança serve para demonstrar como perdemos o nosso rumo ao longo da vida. Passamos a viver cheios de medo. Medo dos outros, medo das instituições, medo do estado, medo da natureza, medo da religião. Medo de tudo, porque temos a sensação de que tudo nos pode desabar na cabeça, que o mundo está de olhos postos em nós, quando na realidade, e como dizia John Cleese, “I don’t give a flying fart about you. Don’t even know you”.

O medo da política é bem real. Todos dizemos mal dos políticos, mas sabemos bem que qualquer acção menos própria contra um deles poderá ser o fim dos nossos problemas e o início do fim da nossa vida. Esta menina de nove anos pensa de forma diferente, pois é criança. Não mede as consequências das suas acções porque pensa que não tem de prestar contas a ninguém, apenas o seu bem estar conta, não trabalha na gigantesca colmeia do mundo actual, que fez de nós abelhas operárias, perdendo a individualidade em prol de um colectivo que insiste em sobrepor-se, em espezinhar sentimentos e pensamentos, em desprezar os que efectivamente tomam os seus destinos nas suas próprias mãos. Evidentemente, não estou com isto a afirmar que deveríamos viver nos nossos mundos de criança, mais ou menos autistas, alheios ao mundo. Mas afirmo de viva voz que o mundo poderia infantilizar-se um pouco, e só haveria vantagens nisso.

Hoje, tudo é muito sério. Hoje, ninguém pode brincar com nada. Hoje, não podemos abrir o bico sob pena de sermos imediatamente postos de lado e silenciados, acusados de verborreia e de insulto grátis. Assim, seguimos o nosso caminho caladinhos e amordaçados, porque todos os outros são pessoas de bem e temos de os respeitar. Ainda que pensemos o contrário, não podemos dizê-lo alto, porque então seremos esmagados pelos outros insectos operários que defendem a sua rainha gorda poedeira de milhares de ovos. As crianças são diferentes. As crianças dizem a verdade, mesmo mentindo. O mundo visto pelos olhos de uma criança é muito mais próximo da realidade que aquele que vemos.

Só trocaria uma coisa ao desejo desta criança. Não pediria a demolição de um edifício físico, mas sim da demolição do edifício social abjecto em que sobrevivemos. À falta de melhor, e tendo de ser um edifício físico, então que fosse a Assembleia da República, nos mesmos moldes em que a menina faz o pedido. Arranjar os nomes não deve ser difícil…





Recebida por E-mail, LP

terça-feira, 2 de março de 2010

UM TIQUE BEM PORTUGUÊS #2

Foto Google

A sorte do português perante todos os azares que acontecem está bem patente nesta saga:

O Toni já não via o Zé há uns anitos. Um grande bacalhau, três berros de satisfação e a pergunta que se impunha:

- Então, Zé, e o teu irmão, o Chico?

- Morreu…

- Eh pá Zé, espero que tenha tido a sorte de não sofrer, pá…

- Mais ou menos…

- Mas como é que ele morreu?

- Pá, arranjou um emprego como tratador na piscina da Câmara…

- Sorte a dele pá, grande emprego!!

- Pois… Um dia estava a limpar a última prancha, a de doze metros e caiu…

- Eh pá, estatelou-se de chapa na água!!! Porra, coitado…

- Nada disso, teve sorte! A piscina estava fechada para obras e sem água!

- Eh pá, pelo menos teve a sorte de não se molhar… olha lá, então partiu-se todo no mosaico cá em baixo…

- Nada disso, teve sorte. Enfiou a cabeça num dos ralos da piscina!

- Bem, pelo menos não se partiu todo… Então morreu sufocado?

- Nada disso, morrer sufocado devia ser horrível, mas ele teve sorte… Ninguém deu por nada por dez dias e ali ficou ele, de cu para o ar e com a cabeça entalado no ralo…

- Ah! Bem, então teve sorte. Acabou por morrer de fome, não??

- Eh pá, de fome não, pá, só pensas em merdas dessas???? Nada disso, teve sorte…

- Então como morreu ele???

- As ratazanas comeram-lhe a cabeça! Teve sorte…

- Desculpa lá, ò Zé, mas isso não é sorte pá!!! É mesmo fodido!!!

- Achas??? Pelo menos não sentiu o colega de trabalho dele, o Tibúrcio, a ir-lhe ao pacote quando veio de férias… Já estava morto!

- Eh pá, Zé, que sorte, pá!!! Fico mais descansado! E uns tremoços??

- Bora lá, pá!!!

Isto é pura ficção e de mau gosto, bem sei… é só para demonstrar a “sorte” do português…