segunda-feira, 12 de abril de 2010

HOMENAGEM OU REGRESSO?


Foto Google

Parece que o presidente da República fez uma inauguração ontem. Parece que já temos uma Avenida Marechal António de Spínola. Parece que o nosso presidente acha que o acto de inaugurar uma avenida em homenagem ao Marechal é de “inteira justiça”.

Não sei se este acto é mesmo uma homenagem. Talvez não. Talvez seja um regresso. Um regresso a dias idos, de um passado que julgava longínquo. Há quem goste e quem não goste de Spínola. Conheço ex-combatentes que o idolatram, outros que o odeiam e nunca cheguei a conhecer aqueles que pereceram nos famosos massacres na Guiné, actos de loucura de um General tresloucado pelo sentido do dever e pelo amor à Pátria e ao racismo.

Não é todos os dias que se homenageia um homem que lutou ao lado da Legião Condor em Espanha, ao lado dos nazis de Hitler. Um homem que por muito pouco não fez abortar o 25 de Abril. Um homem que foi recebido de braços abertos pelos fascistas franquistas depois do 11 de Março...

Quanto ao nosso presidente, (assim mesmo, com letrinha pequenina, pois mais não merece, por ainda estarmos a colher os frutos da sua desastrosa governação de mais de 10 anos, em que o desbaratamento das verbas comunitárias foi nota dominante, criando um sistema novo na política portuguesa, o tachismo), é o mesmo homem que recusou a pensão de sangue a Salgueiro Maia e a foi dar aos dois Pides que assassinaram Humberto Delgado. É este o homem que agora acha estar a fazer justiça, ao dar o nome de mais um símbolo do fascismo em Portugal a uma avenida portuguesa.

Obviamente, não estou contra esta iniciativa pelo que ela representa politicamente. Pelo menos, não só. Estou muito mais contra aquilo que ela representa para as famílias dos homens que perderam a vida a lutar pela mudança de regime em Portugal, cujo caso mais flagrante é o de Salgueiro Maia.

Penso que o presidente afirma demasiadas vezes que o povo tem de se sacrificar. Para quê? Para, paulatinamente, regressarmos aos tempos de outrora? Para entregarmos de novo o país a fascistas e facínoras, como tem ocorrido desde o 25 de Abril? O que mudou o 25 de Abril? A Nomenclatura do Regime? Que se lixe lá isso...

10 comentários:

  1. No dia 31 de Março disseste que andavas sem inspiração. Não me parece... Este belo texto merece ser lido por todos os quadrantes políticos porque para alguns a memória é curta. Por todas as lavagens cerebrais que se façam, por todas as inaugurações pomposas que se façam, o passado jamais será esquecido e, neste caso, ele é bem negro. Desde logo pela sede do expansionismo ultramarino, do agrilhoar das antigas colónias onde este senhor foi o expoente máximo. Não satisfeito com a "Abrilada", tentou, como bem dizes, e à socapa, fazer uma revolução à sua maneira, em Março de 1975, que não era mais do que estabelecer uma ditadura militar inspirada em tiques salazaristas.

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  2. Daqui a pouco é inaugurada num qualquer ponto deste país a Avenida de Hitler....
    Não é só um desrespeito para quem lutou por valores como a liberdade e a igualdade como a perpetuação de certos ideais que não deveriam nunca ser exaltados...

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  3. Cirrus, e a ditadura ainda nem chegou ao adro... mas já se começam a fazer sentir os preparativos!

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  4. Dylan, racismo, fascismo, tentativa de supressão da liberdade... Mas o que interessa é que tem uma avenida com o seu nome. É a política que temos...

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  5. Anne, é essencialmente isso. Não há nenhum dos envolvidos no 25 de Abril que receba honrarias de uma Estado que lhes deve a existência. Mas os antigos algozes do regime fascista são recordados com saudade... Isso é o mais revoltante.

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  6. Pronúncia, não tenhas dúvidas que, em nome de uma falsa sustentabilidade e segurança, vamos passar por muitas privações de liberdade.

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  7. Mas eu não tenho dúvidas... infelizmente!

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  8. Temo que vamos passar por tribulações em escala bíblica, e estes são apenas sinais do que está para vir. Ainda virão agora os "Salvadores da Pátria". E tenho uma certeza quase absoluta de qual será o próximo... Letra não lhe falta...
    Pode ser que seja como o outro, que abre a boca para dizer muitas "verdades", mas afunda-se como um submarino roto...

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  9. Belissimo texto Cirrus. Parabéns. Eu desconhecia muita coisa, mas sabia que o gajo não prestava.

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  10. Forte, é verdade que muita gente não sabe da missa a metade sobre este personagem absolutamente sinistro da nossa história recente. Mas o Cavaco sabe!

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