sábado, 2 de julho de 2011

CLASSE MÉDIA E A POUPANÇA

Foto RTP - não sei se custam 80 contos!

A partir deste artigo, pensei em reescrever o que nele está escrito, porque realmente me revejo numa classe média que não deve ser a mesma do senhor que o escreveu:

Fazer a mesma vida gastando uma décima quinta parte do que o autor do artigo original gasta para sair de casa:
Não vou aqui discorrer porque devem as empresas ser aliviadas e os pobres poupados aos sacrifícios. As empresas seriam menos aliviadas se os empresários não as aliviassem tanto, através dos stands da Mercedes, e os pobres até poderiam não ser poupados, se não os tivessem fodido já há muito tempo e não tivessem de trabalhar para as empresas aliviadas.
Passemos, pois, às dicas para poupar. Nos restaurantes desperdiça-se comida, é um facto. Muitas doses vão quase intactas para trás, porque são demasiado grandes, e é preciso perceber que quanto mais vier para trás, mais o dono do restaurante ganha. Não acreditam? Acreditem, vocês pagam sempre pela dose inteira, e se for grande, pagam muito mais. Ao dono do restaurante pouco se lhe dá como se lhe deu que não comam, já pagaram e já.
Nos cafés. Nada como poupar como eu faço, que bebo o café sem açúcar, ao contrário do autor do artigo, que ainda por cima, usa apenas uma pequena parte do pacotinho para adoçar o café. Beba sem açúcar, verá que lhe faz melhor à saúde e não vai nada para o lixo. Frequente cafés que levem menos de dois euros por café, e assim não verá açúcar branco, escuro, adoçante e canela no pires (pratinho que vem por baixo da chávena). Já agora, se forem a esses cafés, não metam o que não usaram ao lixo, porque o estabelecimento também não o fará. O ambiente agradece.
Ainda no ramo da alimentação, comprem uma garrafa de água de Luso, bebam-na com moderação, com ou sem medicamentos para o castrol. Depois, em vez de a colocar no lixo, levem-na para casa. No dia seguinte, encham-na na torneira e levem-na para o trabalho. Não procurem consumir águas com nomes sugestivos, como Voss, Vittel, ou Vichy, pois aquilo que não conhecemos não bebemos. Como nunca vi dessas águas à venda nos estabelecimentos que frequento, corro menos esse risco... Quanto a cerveja, é beber mines Sagres e mainada, dantes era a Super Bock mas agora esses venderam a alma ao diabo. Heineken e Carlsberg são cervejas para quem ainda não definiu a sua orientação sexual.
Quanto aos vinhos, a melhor opção, nos restaurantes, é não os beber. Portugueses ou estrangeiros, são sempre caros como o catano e custam mais que o prato. Por muito que custe, não bebam, até porque depois terão de conduzir. No capítulo dos espumantes, bebam Raposeira, porque nunca hão-de ter massa para beber Cristal ou Moet, por isso, é mesmo a solução. Gasosa da Gruta da Lomba é mais doce e também faz espuma e bolinhas.
No que diz respeito aos vícios, no de fumar, diz o senhor autor do artigo, que se pode preferir SG ou Suave ao Marlboro ou Chester. Como eu fumo tabaco de enrolar, consigo poupar um pouco mais. E melhor ainda é ter um cigarro electrónico que nos reduza o vício ao acto de tomar café (sem acúcar, tanto o café como o cigarro). O autor não fala, mas quanto ao vício do fazer o chamado amor, em vez de usarem preservativos em látex fino e transparente, podem usar um dedo de uma luva de cozinha. Têm é de ser rápidos no momento certo, e retirar aquilo antes, porque senão rebentam os colhões.
Comprar, na praça (ou, como os mais pobres fazem, nos hipers), verduras e legumes portugueses é mais barato que comprar os importados. Basta comprar um kg de banana da Madeira a 3 euros. Não precisam de comprar quatro kgs de banana de Porto Rico a 0,99 euros... Mas se encontrarem algum produto português à venda, comprem-no, nem que seja mais caro. Não encontram? Pois, bem me parecia.
No vestuário a poupança pode ser muito significativa. Em vez de comprarem fatos Armani, que vos custariam o ordenado de um ano, podem experimentar ir a uma boa casa de chineses ou aos ciganos na feira. Às vezes, até se encontram Armanis com pequenos defeitos de linguagem – são Garmanis ou Arnami, mas até parecem verdadeiros. Podem poupar nos pólos, isto porque ao fim e ao cabo, não é peça de roupa que um homem a sério use na rua. Quanto aos sapatos, é bem verdade que nunca comprei um par de sapatos de 80 contos. O mais caro que comprei foi o par de sapatos do meu casamento, e acho que andavam pelos 75 euros. Estão em bom estado. E realmente pode comprar-se bons sapatos no chinês ou nos ciganos, e duram tanto como os outros e às vezes até mais. Chegam a dar para uma segunda utilização, e é curioso que nunca tive nenhuma queda aparatosa devido aos sapatos. Foi mais devido à gravidade.
Não fazer férias no estrangeiro é uma excelente opção. Não há razão nenhuma para gastarmos mil euros numas férias no estrangeiro quando podemos gastar dois mil no Algarve, sendo que duzentos e cinquenta são para a viagem... Mas claro que podemos ir de comboio, mas aí não teríamos o conforto de ter o carro à porta do Hotel, coisa que nunca podemos fazer, mas que convém dizer para ficar bem, como o autor do artigo bem sabe.
Audi A4 em vez de um A6. No meu caso, posso sempre preferir um Seat Ibiza de 15 anos, em vez do Seat Ibiza de 13 anos que possuo. Há sempre forma de poupar, como vêem... Voltando às férias, porque não experimentar um parque de campismo, em vez de um hotel de 3 estrelas? Já não falo, como diz o autor do artigo acima linkado, de hotéis de cinco estrelas. Isso apenas e só no estrangeiro não-europeu. Aí, confesso, por mais cem euros por semana, prefiro o 5 a um 3... Ora ir de avião para estas férias é uma realidade, e eu nunca escolho turística. As companhias em que voo não têm separação de categorias. Excepto a Turkish e a Egypt Air. A primeira é de luxo e deve achar-me com cara de classe média... A segunda é muito melhor que a TAP e por isso acha que qualquer português está habituado – mandam-me sempre para turística... Um dia hei-de fazer uma viagem de avião em executiva, só para experimentar. Mas isso quando pertencer à classe média do autor do artigo...
Novas tecnologias. Podemos poupar muito dinheiro se comprarmos um telemóvel por 20 euros nos pontos da Optimus, como eu faço, em vez de Ipads e Ipods. E não ter computador? É uma limpeza. É verdade que este é da companhia, mas a minha mulher tem um há seis anos e ainda funciona!!!! Por falar nisso, tenho de carregar o telemóvel. Não tenho saldo vai para 15 dias e posso precisar de fazer uma chamada para alguém...
Quanto ao ar condicionado, está ligado neste preciso momento. Ao cair da noite, liguei-o, ao abrir os vidros e subir as persianas. Não vejo onde está o grande gasto...
Quando comprei casa, não andei à procura de materiais porque o apartamento já os tinha e não estava para gastar uma fortuna em remodelações, mas se tivesse de fazer isso, como os senhor do artigo, não sei como iria poupar. Mas cimento cru é mais barato que azulejos.
Luxos e extravagâncias!! Ora aí está um item em que posso poupar, segundo o distinto autor do artigo. Quem precisa de after-shaves e desodorizantes? Eu adoro andar a cheirar a cavalo. Aliás, nem sequer tomo banho com água Voss, tomo da torneira (!)... Para aí uma vez ao ano ou quê. Quando chove, tiro a roupa na varanda e a coisa vai-se mantendo... Ir ao cabeleireiro cinco vezes... Ora, vou essas cinco vezes no ano, mais ou menos. E chega. 6 ou 7 euros de cada vez... Mas o autor diz que se formos apenas quatro, poupamos 20%... O autor deve ser injinheiro, pois sabe fazer contas muito complicadas...
E poderíamos falar de muitas mais coisas, como diz o autor. E podíamos!!! Que dizer desse mau hábito que é o de comer??? É que comemos sete dias por semana! Se comêssemos apenas três dias por semana, pouparíamos uma carrada de por centos, que eu agora não estou para fazer a conta e não é certa e coiso. E que tal cortar no sexo? Lembrem-se que fazer o dito amor gasta calorias e a gente tem de comer mais para as repor. Outra coisa que temos de nos convencer que temos de fazer menos vezes é trabalhar. A gente trabalha vezes demais por semana. Além das calorias gastas, há transportes e despesas que poderíamos reduzir a 40% se apenas trabalhássemos dois dias por semana!

Está reescrito. Dedico-o ao autor do original. Como ainda ontem insistia com uma pessoa bem conhecida de todos os que aqui vêm, as pessoas não podem ter valores se não conhecerem a realidade. Podem ser educadas, podem ser esmeradas, boas, trabalhadoras e motivadas. Mas se nunca conhecerem a realidade que os rodeia e não apenas a jaulazinha onde vivem, nunca hão-de criar VALORES. Este senhor autor de artigos insultuosos demonstra-o mais que cabalmente. Demonstra-o definitivamente. E, por mim, e sinceramente porque me falta a pachorra, pode ir andando para a real puta que o pariu. Não se preocupe, com a crise que aí vem, todos nós, os de classe média, irão ter consigo não tarda nada.

15 comentários:

  1. Eu conheci o artigo através do blogue da Sara e tive que o partilhar... é que o homem vive mesmo numa outra dimensão...

    Gosto mais do teu artigo que do dele... este teve duas ou três passagens que me fizeram rir à gargalhada (e isso sabe bem).

    Para se conhecer a realidade que nos rodeia, não temos necessariamente que a viver na pele. Basta andar com os olhos abertos, sem palas e por sítios diferentes daqueles por onde orbitamos normalmente...

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  2. Olha e eu que estava todo contente a pensar que já era classe média e afinal, de acordo com o artigo de JAS sou mais pobre que as pedras da calçada! O homem deve viver num mundo completamente à parte!
    E agora que cai na realidade, explica lá isso de fazer o amor com a luva da cozinha... tenho que poupar e vou começar por aí... é isso e não tomar banho que um HOMEM quer-se feio, porco e a cheirar a cavalo!

    Abraço

    PS excelente o teu texto!

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  3. Pronúncia, mais que tudo isso, é necessário olhar. Olhar e tentar ver para além do nosso umbigo. Mas isso, por incrível que pareça, é extremamente difícil. Aqui tens um senhor, competente, director de um reputado jornal, a escrever barbaridades. Vês o contrasenso? Director de um JORNAL! Não achas que devia conhecer a realidade?

    Não, lamento, mas nós só olhamos quando vivemos. Pelo menos quando nos aproximamos. Sem isso, nada feito. o Mundo é uma ilusão criada por nós. Nós não temos culpa. Nem o Mundo.

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  4. Renato, aí tens aquilo que as pessoas de uma dita classe média que não o é, antes pelo contrário, porque este senhor pertence provavelmente aos 1% de privilegiados deste país, pensam que este país é.
    Pior ainda é que o povaõzinho vai comendo isto e enquanto este se considera de classe média com um ordenado de muitos milhares de euros, o povo considera-se de classe média com um ordenado acima de 500...

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  5. Renato, um homem não tem de andar a cheirar a cavalo. Mas para algumas pessoas, parece que sim, desde que não sejam eles próprios...

    ;)

    Obrigado pelo elogio, enche-me o ego.

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  6. Espero que o José Hermano Saraiva dê um par de estalos no seu sobrinho! Que figurinha!

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  7. Cirrus, olhar e ver são duas coisas que, podendo ser confundidas, são diferentes. E continuo a ser de opinião que podes estar consciente do que te rodeia se souberes olhar, ver e interpretar (obviamente que se viveres por dentro a situação a sentes com todos os sentidos e poderás, melhor que ninguém, opinares sobre a mesma).

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  8. Dylan, o tio não sei se lhe deu um par de estalos, mas este senhor deu-lhe uma valente bofetada de lufa branca:

    http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2011/07/classe-media.html

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  9. Obrigado Pronúncia!
    Gostei do artigo e do blogue. Não conhecia.

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  10. Esse artigo (o original) é de uma podridão atroz.

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  11. Ora bolas! Escreveste tão bem sobre isto e eu fiz um post tão pobrezinho sobre o mesmo!! Raio de homem, pá! ;)

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  12. Pronúncia, olhar e ver são duas coisas diferentes de facto. Mas sentir nunca poderá ser substituído por saber que existe. Não há volta a dar-lhe. Confundir aspectos educacionais com valores não é saudável. Uma pessoa mal educada pode ser um excelente ser humano. Aliás, os maus seres humanos, os piores que conheço, são pessoas muitíssimo bem educadas, muitas nas melhores famílias de tradição romana católica. Por isso, olhar é realmente diferente de ver. O problema é que muitos se recusam até a olhar, quanto mais ver e muito menos sentir.

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  13. Catsone, é esta podridão a que está no poder agora mesmo...

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  14. Malena, não penso dessa forma. As coisas são como são e às vezes estamos bem e outras vezes não. E eu levei este assunto mesmo a sério.

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  15. E não foi isso que eu disse?!...

    E continuo a concordar. Tanto que se há alguém que não confunde aspectos educacionais com valores sou eu. Consigo distingui-los muito bem e senti-los ainda melhor.

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