sexta-feira, 20 de julho de 2012

URGE FECHAR


Ilustração Marco Joel Santos

Segundo um conjunto de peritos, o governo seria esperto e avisado se fechasse, por esse país fora, uma série de serviços de Urgência. A notícia não é nova e nem sequer espanta muito quem esteve minimamente atento ao que se tem passado, nos últimos anos – e não apenas no último ano – no sector da saúde.
Ora a saúde é um dos quatro pilares, e falo pela minha cabeça, não pela dos peritos (quaisquer que sejam, não necessitam ser estes que elaboraram este estudo), da vida social. Ou seja, é um dos quatro sectores que queremos ver suportados, num estado democrático como o nosso (e salvaguardem-se díspares opiniões), pelo dinheiro dos malfadados impostos que todos pagamos. Os outros três são a educação, as vias de comunicação e a justiça. Muito se poderia efectivamente falar de qualquer destes sectores, mas apenas a saúde me leva a escrever hoje mesmo este texto.
Tudo isto para dizer o quê? Ora, se pagamos impostos, queremos cuidados de saúde? É mais ou menos isso. Mas esta notícia não me deixa ficar por esta análise tão crua e simplista. Portanto, é provavelmente altura da parvalheira.
Primeiro, o grupo de peritos. Quem são estes gajos? Alguém sabe? O que os habilita a retirar conclusões que tão nefastas consequências podem ter na vida de pessoas normais, como eu e o leitor? Será que são utentes do SNS? Longe de mim pôr em causa a propriedade intelectual deste conjunto de peritos que elaborou este estudo. Mas se as suas conclusões a mim me afectam de forma directa, nada melhor que conhecer o seu trabalho, os seus métodos e, se possível, as suas motivações. Porque além de tudo me parece que hoje em dia brotam peritos em tudo e mais alguma coisa do chão como cogumelos.
Dizem estes peritos que, com o fecho destes serviços de Urgência, qualquer utente não fica a mais de uma hora de um serviço de Urgência. Posso concordar com isto, partindo do princípio que todos os utentes possuem viatura própria. Acontece que nem sempre isso se verifica, por um lado, e verifica-se, por outro lado, que uma parte considerável dos necessitados destes serviços não está propriamente em condições óptimas de condução. Estão a ver, por exemplo, um acidente doméstico? Um braço partido, ou uma mão entalada numa porta. Pois, pelo critério dos peritos, o acidentado, numa hora, põe-se a caminho das Urgências mais próximas. Poderão contrapor que um caso destes seria transportado por uma ambulância. É bem verdade. Imaginem que o acidente se deu em Freixo de Espada à Cinta e tentem fazer chegar uma ambulância a Bragança numa hora. Obviamente, toda a gente consegue tal façanha, a começar pelos peritos que a esta conclusão chegaram.
Além do mais, ter acesso, numa hora, a um serviço de urgências, mesmo que se verifique, parece ser condição suficiente para satisfazer os peritos. Não sei se estes peritos já estiveram alguma vez em situações de urgência. É que uma hora é mais que suficiente para que a situação de urgência deixe de ser urgente, não pela cura das maleitas, mas antes pela contratação do cangalheiro mais próximo. E esse não tem apenas uma hora, tem bastante mais tempo para lá chegar…
É certo e sabido que qualquer gripe ou espirro de um infante é o suficiente para fazer os progenitores porem-se a caminho das urgências. Proponho que nestes casos os prevaricadores sejam multados em 10.000€. Os seus rebentos não são flores de estufa nem são especiais, nem são o melhor do mundo. São como os outros e provavelmente, se crescerem com tais progenitores, passarão a ser montes de matéria fecal como eles. Por isso, nem são grande matéria fecal. As Urgências são para casos Urgentes. Há poucos casos urgentes em determinadas áreas do país? Talvez, mas quando ocorrerem, oxalá não ocorram a um qualquer perito armado em “turista ecológico” como agora está na moda, caso contrário as conclusões do estudo poderão mudar num ápice.
Por outro lado, é interessante verificar que, em tempos de corte de despesas, a torto e a direito, como estes em que tristemente vamos existindo, haja dinheiro no Ministério da Saúde para pagar a privados estes estudos. Acho interessante. Podemos até fazer as contas e calcular quantos serviços de urgência poderiam ser mantidos em funcionamento com o montante pago aos peritos. E será, pergunto eu, que sou leigo nestas coisas, que no Ministério da Saúde não trabalha ninguém que seja perito em Urgências? Estranho.

8 comentários:

  1. Eu propunha que no país só houvesse um hospital em Lisboa e outro no Porto. Para tudo. E cedermos toda a área circundante a estas duas cidades oas espanhois. Ou à UE.
    Iss, sim, era poupar dinheiro à grande!

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  2. Os peritos da propaganda e da miséria concluiram que é necessário que exista uma urgência cerca de uma hora para 60 por cento dos portugueses.... Os outros 40 por cento não existem...Vai ser rápida a destruição do SNS. Vejam o documentário do Michel Moore ; SIcKo, de como se destroi um Serviço nacional de Saude em 2 a 3 anos. Resumindo são uns filhos da mãe, que usam a capa "técnica" para fazer o que o Governo quer!

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  3. Se morrerem os doentes e os fracos já não é preciso gastar dinheiro...

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  4. Noya, ceder aos espanhóis seria pernicioso, nesta altura...

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  5. Tripalio, não é necessário... Acho que quem tem um palmo de testa Já se apercebeu do que vai acontecer...

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  6. Malena, estive para escrever isso... Mas depois iam acusar-me de ser catastrofista ou pior...

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  7. Deixa lá! Como fui eu que escrevi a única coisa que me vão chamar é parva!

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  8. Querem mesmo poupar dinheiro? Feche-se o país. Andar anos e anos a ser governado por incompetentes só dá prejuizo.

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